Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 11
Capítulo 11 – Intrusa (02)


Notas iniciais do capítulo

OHAYO! (?) Pessoal!
Como vão vocês? Espero que bem.
Finalmente o ENEM passou, me libertando da "preocupação" e de toda aquela carga de "prova que vai definir o meu futuro". Odeio isso, pra sr sincero.
Enfim, aqui a continuação da história.
Espero que gostem e boa leitura! :)



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Almocei perto do trabalho para não perder muito tempo e cheguei um pouco mais cedo no expediente. Não tinha tido sinal de Anna durante todo o dia, depois que acordei com ela em meu quarto.

À tarde, o horário de trabalho foi bastante rotineiro. Fui notificado de que receberíamos uma remessa grande e cheia de lançamentos em dois dias, para renovar o estoque. Rashley não apareceu na livraria - o que foi muito bom - e eu tive sossego.

Precisava pensar em uma forma de deixar claro que eu não queria nada com ela para não deixa-la cogitando coisas que não tinham nem chance de acontecer, evitando assim iludi-la, e também por que não queria que se apegasse demais para não se machucar muito.

Eu já havia tido uma desilusão amorosa e não desejava isso para ninguém.

No fim de nosso turno, Ellie convidou-me para lanchar consigo. Fomos a um Domino’s que ficava perto do trabalho e, após três fatias para mim, duas para ela, dois copos de refrigerante e uma conversa animada resolvemos passear no parque que havia ali perto para aproveitar um pouco a noite que acabara de chegar.

– Quase não tivemos tempo para conversar direito desde que voltei... como realmente vão as coisas? – perguntei enquanto caminhávamos na orla do pequeno lago.

Estava uma noite bonita, bastante estrelada e a movimentação ali era grande. Casais namoravam ou conversavam sentados nos bancos, caminhando de mãos dadas ou observando as crianças se divertirem no playground de madeira.

– É verdade... Mas isso enquanto você esteve fora ou agora? – ela respondeu com outro questionamento.

– Hum... os dois. – sorri.

– Bem, têm sido tranquilas, para ser sincera. Umas idas a casas noturnas de vez em quando com as meninas, um bom livro no sofá... essas coisas de sempre. E com você?

– Só o tempo com a família mesmo... – falei, tentando encontrar algo que merecesse ser mencionado das últimas férias – Matando a saudade. Agora, depois que cheguei, conheci uma garota na MCU.

Ellie sorriu ao ouvir a menção de alguém:

– Huum, uma garota?! Conte-me mais! – falou bastante interessada, mas com um tom brincalhão.

– Bem... o que quer saber exatamente? – perguntei sem saber por onde começar.

– Como ela é, o que faz, essas coisas. – Ellie respondeu.

– Ela é... surpreendente, em poucas palavras. Um tanto brincalhona demais, mas dá pra ver que é gente boa. Estuda Moda, se me lembro bem... – respondi.

– Nossa. Moda? Quem estuda Moda direto como primeiro curso? – perguntou ela, brincando, mas ao mesmo tempo falando sério.

– Bem... ela. – respondi, e nós dois rimos.

– Enfim, ela é seu novo lance?

– Não, não. Não tem nada rolando entre a gente – sorri –. Só... somos recém-conhecidos mesmo.

– Entendi. Mas não tem nenhuma outra? Alguém que esteja tipo, fazendo esse coração duro de repente bater mais forte? – ela perguntou novamente.

Encarei-a tentando disfarçar o riso:

– Coração duro?

– É. Me refiro ao amor, claro. Ou até mesmo a uma pegaçãozinha qualquer.

– Não tenho coração duro! – afirmei.

– Ah não?! Desde que nos conhecemos, e até onde sei, você não namorou durante um ano inteiro! Nem saiu com ninguém! – ela disse, em tom de brincadeira -. Quero dizer, claro que eu não tenho nada com isso, mas é que é meio estranho, sabe?

– O que é estranho? - perguntei intrigado com o rumo que a conversa estava tomando.

– Você... Tipo, eu achei que era religioso ou algo do tipo por não sair com ninguém, mas depois que nos conhecemos melhor vi que era por opção mesmo. Isso sempre me intrigou. Como é possível um cara como você estar completamente nem aí para relacionamentos? Para garotas?

– Um cara como eu? – perguntei novamente, ainda sem entender com clareza aonde ela queria chegar.

– Bem, você é muito bonito, as garotas devem cair em cima. Mas pelo que vejo, você prefere não se envolver. Nem que seja um único beijo. Posso perguntar o motivo disso? Gay eu sei que você não é.

Ah, sim.

– Ah. Sendo sincero... – parei para refletir sobre o que ela disse – Eu só não vejo por que me envolver com alguém agora. Quer dizer, não vejo necessidade de sair beijando por beijar, entende? Aliás, você sabia que cada beijo de 90 segundos reduz nossa expectativa de vida, em média, cerca de um minuto?

Ela balançou a cabeça negativamente.

– Então. Entre perder alguns minutos da minha vida com cada garota que eu tiver a oportunidade e perder com aquela pessoa em especial, prefiro a segunda opção. Mesmo que isso custe ficar sem algo tão bom por tempo indeterminado. – expliquei.

– Ah, entendi. Hum! – ela deu um pequeno sobressalto. Encarei-a e ela me olhava com certa malícia – Então você já beijou alguém antes?! Pelo menos isso... – brincou. E riu. Muito.

Fiquei observando-a rir de mim com o pior olhar que eu poderia fazer no momento.

Ela olhou para meu rosto e riu mais ainda.

– Não... me olhe com essa cara... por favor! Assim... eu não consigo parar! – disse Ellie, entre um acesso e outro de risadas.

Acabei rindo também.

Cerca de dois minutos se passaram até que ela se recompôs.

– Mas falando sério agora... – ela retomou o assunto, secando o rosto das lágrimas que caíram quando estava rindo - É bonita, até.

– O quê? – perguntei novamente curioso.

– Sua atitude. De esperar a pessoa certa e pá...

– Bem, eu chamaria de autopreservação. Talvez até um pouco de egoísmo... – brinquei – E as garotas não “caem em cima de mim”, como você está pensando. Também não há motivos, sou um cara normal.

– Se você diz... perdão pela curiosidade, a propósito. – ela falou.

– Sem problemas. Temos intimidade suficiente para isso, a meu ver. – respondi.

E era verdade. É incrível como apenas um ano de convivência pode te tornar tão próximo das pessoas. Ela balançou a cabeça, refletindo no que eu havia dito.

– Mas e quanto a você? Como tem estado a vida amorosa? – era minha vez de perguntar.

– Rolou uns beijos nessas boates por aí, mas nada além disso. - ela falou.

– Entendi... Mas por que tantas perguntas relacionadas a relacionamento mesmo? - perguntei intrigado.

– Sei lá... Pra conhecermos melhor o lado romântico um do outro, acho. – ela respondeu dando de ombros.

– Ah. Achei que estivesse querendo um beijo. - brinquei.

Ela olhou para mim, fez uma cara de "não era bem isso, mas não tenho nada contra" e falou casualmente:

– Não tem clima rolando, mas se você estiver a fim eu até topo.

Encarei-a surpreso:

– Sério?

– Sim... Mas ah, é, você quer aproveitar cada minuto da vida... - ela respondeu, brincando com a última frase. E recomeçou a rir, devagarzinho.

Acabou que nós dois rimos.

– Confesso que estou surpreso com esse seu lado. – comentei.

– Eu realmente sou uma caixinha de surpresas... Acho que tem muita coisa sobre mim que te surpreenderia. Mas isso é aceitável considerando o seu tipo - ela riu ao dizer isso.

– Meu tipo?

– É. Tipo nerd e tal.

Fingi indignação:

– Você realmente me chamou de nerd?!

– Ah, nem vem! Aquele papo do beijo: que pessoa normal sabe de uma coisa dessas? Por favor né! - respondeu divertindo-se.

– Bem... talvez você tenha um pouco de razão. – concordei.

– Mas é sério isso? De reduzir a expectativa de vida?

– Sim. Um beijo pra valer, durante 90 segundos, eleva a pressão e o nível de hormônios no sangue, o que consequentemente causa aceleração cardíaca e acaba reduzindo a expectativa de vida neste tempo aproximado.

– Nossa... Estou me sentindo burra agora.

– É apenas uma curiosidade. Ninguém tem a obrigação de saber algo assim... – respondi.

Ela considerou.

De alguma forma, pouco depois acabamos por aprofundar o assunto família. Ellie me contou como era a sua, dando detalhes de personalidade, gostos e manias.

Em contrapartida, expliquei como as coisas funcionavam com a minha dando um breve relato de minha mãe e meu pai. Ellie sorriu quando terminei.

– Você parece ser bem ligado a eles. - falou.

– Eu sou, na verdade. Eles são tudo o que tenho. - respondi.

– Que lindo! Sinto muitas saudades dos meus pais, para ser sincera - acrescentou.

Pelo que tinha dito, seus país moravam na Geórgia.

– Combinei com minha mãe que ligaria todos os dias. É o que tenho feito pra matar a saudade - falei.

– Hum... Essa é uma ótima ideia! Farei isso mais tarde. Obrigada pela sugestão involuntária.

– Não há de quê...

Nesse momento, uma mensagem chegou em meu Whatsapp. Ao pegar o celular, acabei vendo a hora automaticamente. Era Dorothy, minha prima mais próxima - e que praticamente morava lá em casa tamanho era o tempo que passava conosco – mas ela podia esperar até eu voltar ao quarto.

– Ih, está ficando tarde. Vou ter que voltar para o campus, Ellie... - falei.

– Ah, claro. Vai lá, depois conversamos mais. Vou nessa também.

– Poso acompanha-la até o ponto de ônibus?

– Claro! Obrigada – ela falou e sorriu.

Cinco minutos depois, estávamos os dois no ponto mais próximo. Ellie não morava muito longe, mas também não tão perto para ir a pé. Esperei mais cinco minutos com ela até que seu ônibus surgiu.

– Nos falamos amanhã - abracei-a - obrigado pela companhia.

– O prazer foi meu, Andrew. Até amanhã! - ela respondeu retribuindo o abraço. Quando voltei para o quarto, enfim respondi às oito mensagens de Dorothy, que se dizia chateada comigo por eu não ter dado notícias por tanto tempo (um mês).

Liguei para mamãe logo em seguida e contei sobre a festa, ocultando a parte do selinho que ganhei de Charloth. Ela ficou em silêncio por um segundo e disse:

– Andrew, querido, fico um tanto triste em saber que você bebeu álcool. Mas grata por você ter falado e, apesar dos acontecimentos desse último mês, confio o suficiente para ter certeza de que nada saiu do controle. – Ela fez uma breve pausa e continuou - Claro que eu não achava que a parte da bebida não fosse acontecer, afinal isso faz parte da experiência, só... não exagere em momento algum. Com nada, meu amor. Por favor.

Na verdade, me surpreendi com o fato de ela não ter feito nenhum drama com as caipirinhas e Cosmopolitans.

– Ah... Obrigado, mãe, pela confiança. Não irei exagerar. Prometo.

Tivemos uma curta conversa depois disso e ela falou:

– Sua prima está aqui morrendo de vontade de falar com você. Vou passar pra ela para me deixar em paz!

– Certo... Eu te amo, mãe!

– Também te amo. Pega, menina! - acrescentou, já falando com Dorothy.

– Oi, Dryw! - disse ela, com sua voz adolescente e seu jeito enérgico.

Dorothy me deu esse apelido quando ainda estava aprendendo a falar. Não conseguia pronunciar meu nome corretamente, então me chamava apenas de "Dryw". E acabou ficando.

– Olá, Dothy! Como você está?

– Com saudade. Quando você volta?

Não pude evitar o sorriso.

– Prima, faz apenas um mês que estou aqui - lembrei-a.

Eu e Dorothy éramos bastante ligados um com o outro. Acho que pelo fato de nenhum dos dois ter irmãos biológicos. Meio que nos adotamos.

– É, mas para mim tem mais tempo. Ainda mais quando fiquei sabendo por terceiros que você foi embora sem se despedir de mim. Fiquei arrasada!

– Eu sei que não ficou. E eu não me despedi porque você estava viajando, lembra?

– Ah, mas custava mandar um Whats? Poxa é de graça! Se ainda estivéssemos na era do SMS ainda ia pela falta de crédito e tal...

– Dothy, desculpe. Mesmo. Só que eu estava com tanta coisa na cabeça que acabei esquecendo. Mas logo, logo já estarei aí, se serve de consolo...

– Sério?

– Uhum.

– Quando, então?

– No Natal.

Ela soltou um palavrão. Pude ouvir minha mãe repreendendo-a.

– Andrew! São cinco meses até lá! Não acredito...

– Desculpe, é só quando da pra ir.

– Hum... Tá. Mas heim, a tia disse que você foi roubado! Como que foi isso?

Revirei os olhos. Dona Margoth e sua língua enorme. Que mania de ficar contando minha vida pra todo mundo!

Relatei o caso outra vez, porém fui bastante sumário nesta e contei que havia achado tanto a ladra como a carteira (obviamente escondi muitos detalhes do encontro).

– Caramba... Então o nome verdadeiro da dela é Anna?

– Sim.

– Já a odeio. Quem ela pensa que é pra roubar o melhor primo de todos? Deixa eu conhecê-la um dia... Ela me paga!

Precisei lembra-la de que a situação já tinha sido resolvida e que nada demais havia acontecido.

– Mesmo assim! Roubar por um hambúrguer do McDonnalds? Faça-me o favor! Essa tal Anna deve ser uma gorda nojenta e enorme de gorda... Uma gorda horrorosa e sebosa e...

– Prima, você é muito rancorosa, sabia? - cortei-a - Relaxa! Está tudo bem e ela não é gorda... - acabei me lembrando da atraente silhueta de Anna no dia em que fomos ao shopping e quando a flagrei vestindo uma camisa minha no meu quarto ao acordar - Nem um pouco, na verdade...

– Ah não... - disse ela com um tom de voz preocupado.

– O que foi?

– Você ficou com a voz um tanto vaga quando falou dela...

– Fiquei? – perguntei franzindo o cenho.

– AH MEU DEUS! VOCÊ ESTÁ GOSTANDO DA GAROTA QUE TE ROUBOU?! – gritou, deveras dramaticamente.

Ouvi o rebuliço de minha mãe do outro lado da linha.

– O quê?! Claro que não! Ficou doida, menina? - espantei-me com aquela dedução irracional - Eu nem a conheço direito!

– Andrew? Que história é essa, meu filho? - Minha mãe já tomara o telefone da mão de Dorothy, provavelmente após ouvir o grito da desbocada.

– Ah, meu Deus! - suspirei exasperado.

Só piorava.

– Andrew, me explica isso agora! - exigiu.

– Mãe, não está acontecendo nada. Dothy que deduziu algo completamente nada a ver e aleatório, o.k.?

– Você não está gostando da menina, então?

– Certamente que não. Nem a conheço direito, pra começo de conversa.

Ouvi um suspiro um tanto aliviado.

– Ainda bem, meu filho. Por um momento eu achei que visse estivesse de ressaca ou por algum motivo ainda bêbado. Você não chegou a ficar bêbado não, não é?! - desviou de assunto. Completamente.

– Hã? Não, mãe! Claro que não. Escuta... Eu vou ter que desligar. Amanhã ainda é terça e eu tenho que acordar cedo.

– Certo. Por favor, tome cuidado com tudo! Principalmente com as más companhias. Valentões, patricinhas nojentas, esse tipo de gente do mau caminho.

– Claro, mãe, claro. Por algum motivo minha mãe achava que na universidade ainda tinha dessas coisas. Eu realmente não sabia de onde ela tirava essas paranoias, já que nem no Ensino Médio eu havia sequer chegado perto de sofrer bullying ou qualquer tipo de agressão. Com certeza eram os filmes de colegiais que ela certamente vinha assistindo.

– E, meu filho...?

– Diga, flor.

– Lembra da nossa conversa no aeroporto. Nada de noites de alegria sem proteção.

– Noites de aleg...? Mãe! Por favor! Não vou discutir isso de novo com a senhora mesmo!

– Certo, desculpe. É que eu me preocupo com você, filho.

– Eu não vou fazer burrada nenhuma, o.k.? Fique tranquila. Agora eu preciso mesmo ir... Amo vocês todos. Diga isso ao pai, por favor.

– Direi. Também te amamos! - pausa rápida, vozes no fundo. Dorothy. - Dorothy quer se despedir de você. - acrescentou.

– Certo, certo.

– Oi de novo, Dryw! Mas já vai desligar?

– É... Tenho aula amanhã cedo, Dothy. E a conversa teria rendido muito mais se você não tivesse feito todo esse escândalo desnecessário.

– Foi mal... Acabei exagerando um pouco e me deixei levar.

– Você tem a quem puxar. Continuamos a conversa depois, pode ser?

– Claro, claro. Tchau, “primormão”!

“Primormão” e “primarmã” eram os apelidos carinhosos que demos um para o outro. Era a mistura das palavras “primo/prima” com “irmão/irmã”.

– Tchau, “primarmã”!

Depois da ligação, acabei relembrando o acontecido da manhã por não ter mais o que pensar enquanto o sono não chegava. Agora, a situação me parecia bastante engraçada, do tanto que chegava a ser inesperada. Ri internamente ao imaginar minha expressão dando de cara com Anna na cama de Chad e vestindo minhas roupas; ri do diálogo que se seguiu e também da cara que ela fez quando falei que iria atrás dela se algo sumisse de novo.

Agora que estava tudo calmo, lembrei dela dizendo sobre as muitas garotas que passaram a noite no bloco masculino e realmente me recordei de ter ouvido vários ruídos vindos dos quartos ao redor.

Alguns universitários realmente não tinham limites. Talvez até entendesse um pouco melhor minha mãe agora...

*

No dia seguinte, quase acordei atrasado e tive de fazer tudo rápido, desde me levantar até ir tomar café da manhã. Durante a noite havia recebido um Whatsapp de Dothy pedindo uma foto de Anna. Ela queria comprovar se a moça era de fato "não gorda" e julgá-la (usara estas palavras) em feia/bonita, estilosa/brega.

Revirei os olhos com tamanha petulância e decidi que resolveria isso mais tarde, depois da aula de Serviços Domésticos.

As Matérias Opcionais, como o próprio nome já dizia, eram os únicos cursos semestrais que tínhamos o direito de escolher livremente. Atividades extracurriculares, serviam para aliviar a tensão ocasionada pela própria universidade. Os cursos iam das mais variadas áreas de hobby, como Jardinagem ou Degustação de Vinhos.

As MO’s eram uma ideia que eu, particularmente, achava genial, pois realmente aliviavam a tensão (principalmente nas semanas de prova) e ainda nos proporcionavam um aprendizado diferente e interessante, já que podíamos escolher qual área e semestre faríamos os hobbys que mais nos agradassem.

Peguei Serviços Domésticos no primeiro semestre letivo por duas razões: 1- para começar com algo leve, mas útil e 2- é meio que algo indispensável quando se está a um estado de distância de casa e por conta própria. Fora o fato de que é algo realmente necessário para a vida inteira! – como a maioria das MO’s, por sinal.

Para mim, Serviços Domésticos era a classe mais divertida já que mexíamos diretamente com água, ingredientes, comida e diversas texturas e cheiros. Aulas totalmente sensitivas.

Havíamos começado a aprender os diferentes tipos de produtos de limpeza que serviam para chãos, louças e móveis, bem como os que não poderiam ser usados em cada caso. Quando a aula de hoje estava prestes a começar, alguém bateu à porta.

A sra. Granma, nossa professora (uma mulher por volta dos 58/60, um pouco gordinha, de cabelos e olhos castanhos) foi atender. Provavelmente era algum atrasado que quase havia perdido o horário.

Nesse momento, minha colega ao lado me chamou e eu me deparei com uma das líderes de torcida da Primadona. Era a asiática, uma das garotas com quem dancei na festa de anteontem (e cujo nome eu não lembrava).

– Olá! - ela saudou - Você é o novato que foi à festa domingo, né? Amigo da Anna?

– Oi. Sou sim, e você é uma membro da Primadona. Estou certo?

Ela sorriu - ato que fechou seus olhos puxados – e respondeu:

– Isso mesmo. Quer dizer que estamos na mesma turma de Serviços Domésticos?! Incrível! Acho que será um semestre interessante... O que acha, Vivian? - ela perguntou para a garota ao lado.

Vivian virou o rosto e eu também a reconheci: ela era a bela negra dos cabelos lisos e pretos, olhos um pouco puxados (que lhe conferiam um charme único) e nariz afilado. Seu corpo escultural de líder de torcida lhe conferia o toque final para ela ser uma das garotas mais lindas que eu tinha visto na festa. Dançamos juntos também, mas foi uma dança em trio com ela e uma loira, e ela logo saiu.

– Se não é o rapaz da festa! Olá! - ela falou ao me ver.

Fiquei surpreso com o fato de ela ter se lembrado de mim, havia tanta gente naquela casa aquela noite...

– Olá! Se não é a moça que mal dançou comigo e se mandou... - respondi brincando e ela riu - Fico surpreso que tenha se lembrado de mim - acrescentei.

– É óbvio que eu lembro. Você tem um rosto bastante... - ela olhou para a amiga, como que pedindo um adjetivo.

– Memorável - completou a chinesinha.

– Isso. Acho que não fomos apresentados direito, sou Vivian - ela estendeu a mão.

– Andrew. É um prazer conhecê-la! - respondi educadamente apertando sua mão delicada.

– Digo o mesmo, Andrew. Digo o mesmo... - ela rebateu com certa malícia na voz e a asiática ao seu lado riu - Está é a Liu.

Liu! Esse era o nome.

– Já nos conhecemos, Viv. Dançamos juntos na festa.

Vivian ia responder, mas nesse momento a sra. Granma voltou a falar:

– Pessoal, quero que conheçam as novas colegas de classe de vocês...

– Nos falamos depois, Andrew! - sussurrou Vivian, virando-se para a frente junto com a amiga. Assenti e me virei também.

Quando olhei para a frente, tomei um susto interno que me deixou sem reação por alguns instantes.

– Que surpresa! – Liu cochichou alto o suficiente para eu poder escutar.

– [...] as duas tiveram um pequeno probleminha e acabaram não podendo vir às aulas - continuou a sra. Granma -.

Só podia ser uma piada.

– Mas aqui estão elas. Por favor, recebam calorosamente... – continuou a sra. Granma.

Era uma brincadeira. Com certeza.

– [...] as senhoritas...

Sério? Eu simplesmente não acreditava naquilo. Qual era a dessa garota?

– [...] Charloth Ferris e Anna Goldson! Sejam bem vindas, meninas! - finalizou a professora.

Ambas deram tchauzinhos ou sorrisos nas respectivas direções em que surgiam saudações. Eu ainda achava que tudo não passava de uma pegadinha do destino, da vida, chame lá do que quiser.

Mas alguém estava se divertindo às minhas custas nesse momento. Se divertindo muito.

Anna passou os olhos pela sala rapidamente e seus olhos acabaram por encontrar os meus, onde estagnaram. Ela fez uma breve expressão de incredulidade acompanhada de olhos semicerrados e cenho franzido, como se não estivesse acreditando no que via, e então esboçou um sorrisinho.

– Por favor, sentem-se nas duas carteiras vazias. Todas são organizadas por ordem de chamada, então procurem seus parceiros.

Espera! Agora que Granma falara, eu havia me dado conta de que a sala era de fato organizada em ordem alfabética. E... havia uma carteira vazia ao meu lado.

LISTA DE ALUNOS 1º SEMESTRE - PROFESSORA GRANMA - SERVIÇOS DOMÉSTICOS, SEGUNDA-FEIRA, 07h-09h30

Aaron Daves

Ashanti Ahalya

Andrew Campbell

Anna Goldson

Bea Morgan

Brandon Parker

Charloth Ferris

Christian Lerman

[...]

Apesar de não estarmos organizados necessariamente em ordem de chamada, todos estavam sentados com seus respectivos antecessores na lista. Exceto eu e outro cara, sentado no fundo da sala.

Quero dizer, exceto eu... até agora.

Anna falou alguma coisa para Charloth e começou a vir em minha direção. Sua mochila estava presa apenas por uma das alças em um de seus ombros e ela agitava um papel na mão enquanto caminhava.

Usava uma blusa azul-escura de mangas curtas, uma bermuda jeans dégradé de azul escuro para claro e os All-Star azuis de cano médio.

E ela não olhou para nenhum outro lugar enquanto se aproximava cada vez mais com um sorrisinho amigável e infantil e um brilho nos olhos. Com aquela expressão, poderia muito bem se passar por boa-moça para quem não a conhecia.

– Licencinha coleguinha! - foram suas primeiras palavras quando estava bem de frente para mim.

– Toda. - respondi um tanto seco, mas despropositadamente, enquanto ela se sentava.

Primeiro intrusa no meu quarto.

Agora uma intrusa nas minhas aulas também.

Eu estava tentando achar uma forma de processar isso enquanto excluía a voz que cochichava “é de propósito” na minha mente.

Afinal, não tinha por que ser, não?!

Cogitar isso nem fazia sentido, na verdade...


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Eu fiquei rindo sozinho em algumas partes, então creio que foi divertido... xD
Comentem, ok?! :)
Ah! Estou retomando meu canal no YouTube. Não vou falar de algo em especial, mas o meio literário já tem o lugar garantido nele.
Se vocês puderem dar uma olhada, se inscreverem e tudo o mais, agradeço ^^
Obrigado gente! Fiquem bem e até logo!
Canal: https://www.youtube.com/c/SenhorDevaneio :>