Eu de Letras, ela de Irônicas escrita por Sr Devaneio


Capítulo 10
Capítulo 10 – Intrusa (01)


Notas iniciais do capítulo

*Música tema do Aleluia*
GALERA. Aconteceram algumas coisas na preparação desse capítulo, inclusive um marco sobrenatural.
Antes de tudo, por volta de quinta-feira, meu notebook pifou. Parece que durante a noite, enquanto o pobrezinho atualizava alguma coisa que tinha que ser atualizada, houve um pico de luz bem rápido, mas maldito o suficiente pra bugá-lo todinho. No dia seguinte fui ligar o bebê pra atualizar a história mas quem disse que ele ligava?
Aí eu pensei "não, tudo certo, amanhã vou no meu amigo que manja bastante de PC's e ele vai consertar pra mim".
Acontece que ele tentou. Mas nem acessar o modo de segurança o pobre acessava, de tão maldito que foi o maldito pico de luz.
Resultado: só a formatação salva. :'(
Frisando novamente: era dia de atuliazação.
Esse foi o nosso Pano de Fundo 1.

PANO DE FUNDO 2:
A história chegou às duas MIL e cento e setenta e sete visualizações e noventa e cinco acompanhamentos. Eu me enchi de felicidade. De verdade, cara. Obrigado por isso, amadas ♥
E eu estava assim, e estava mais feliz porque uma "falecida" leitora ressuscitou e deu o ar da graça. Também misturou com o fato de minha outra história (a do Apocalipse Zumbi, que eu já mencionei em uma nota final - quem lembrar ganha um doce) ter chegado às cinco MIL leituras :'). Nesse clima de alegria e paz no coração, surgiu algo para acabar com tudo. Era o
Primeiro Azar (primeiro que já tinha um antepassado, diga-se de passagem):
Postei isso no grupo do Facebook, agradecendo e tal quando uma das leitoras sugeriu que eu atualizasse hoje com um capítulo comemorativo *sugestão cheia de interesse mas que veio a calhar perfeitamente).
Eu já queria e deveria ter feito isso, mas tinha meio que perdido um pouco da motivação. Só que isso não é importante.
A droga da vez é que, lá estava eu, esperto e genial como sempre, pegando o notebook do meu pai para finalmente atualizar a história quando o pendrive (os estão todos os meus projetos, diga-se de passagem) não quis abrir absolutamente nenhum arquivo. Estavam meio que corrompidos, acho que frutos do vírus que tinha no meu bb (R.I.P T.T) e acabou que eu tentei, tentei, e a cada tentativa, o desespero chegava mais perto.
Quando eu já não tinha forças para lutar sozinho, lembrei que eu sou crente (nessas horas a gente lembra rapidinho) e comecei a clamar por socorro. Algo tipo: "Deus, por favor, não deixa eu ter perdido todos os meus projetos. Por favor, eu te rogo!" E fiquei nessa por uns minutos, tentando abrir de novo os arquivos que não abriam.
Eu quase morri.
Quase tive um troço.
Chorei.
E de repente, quando eu já escrevia um pedido de socorro no grupo do FB, Deus moveu minhas mãos em um lugar aí e eu acabei encontrando "uma pasta oculta" chamada "Trash". Nela estavam TODOS os projetos e arquivos do pendrive.
Intactos.
Eu chorei de verdade agora. Mas (aleluia!) era de alegria desta vez.

Segundo: o site removeu a formatação das separações que ocorreram neste capítulo, então tive que fazê-las novamente. Detalhe: eu tinha acabado de formatar.
E aqui estou eu às duas e vinte e três da madrugada, suado, cansado e só o quimba, mas feliz por tudo finalmente ter dado certo e finalmente estar atualizando.
Desculpem por este texto enorme. Já dava um capítulo aqui, mas eu achei justo dar satisfações da demora.
Obs 1: Minha beta está ocupada demais cuidando da própria vida, então capítulo está não-betado. Vocês verão minha escrita pura, sem a ajuda da J (♥). Espero que continue boa!
Obs 2: Não lembro qual era então vou pedir desculpas mais uma vez. Pela demora, pela Biblia, por tudo.
Lembrei!
Obs 2/3: Esse capítulo é um dos meus favoritos também. Nele temos uma "surpresinha" que eu espero sinceramente que vocês gostem.
É com grande alegria que finalmente lhes desejo uma ótima leitura!



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Ela acordou com o ruído distante de um chuveiro próximo. Espreguiçou-se e sentou na cama, retirando o cobertor de cima de si. Observou o quarto que Andrew dividia com Chad, sonolentamente.

Era até arrumado, apesar de quase não ter diferença nenhuma do seu: paralelamente ao lado da cama onde estava, a uma distância não muito grande nem muito pequena, estava a cama dele. Com lençol estendido com zelo e a coberta dobrada debaixo do travesseiro. Ao lado das camas, tanto da dele como da de Chad (onde ela estava) havia dois criados-mudos pequenos com duas gavetas cada. Ao pé das camas tinha escrivaninhas com livros empilhados em cada uma, ao lado de duas cômodas pequenas, uma para cada estudante. Na cabeceira exatamente atrás de si, estavam as janelas cobertas por cortinas de um aspecto pesado.

Mas ela já sabia disso. Este não era o único quarto masculino em que ela havia entrado em toda a sua história na MCU.

As únicas coisas que diferenciavam ali era que as paredes do quarto feminino eram pintadas com um rosa suave (opção dela e de Anabeth) e este azul. E a bagunça, claro, que não havia ali - e foi um detalhe que chamou bastante sua atenção: Andrew era organizado, Chad também. Isso de fato a impressionou.

O som do chuveiro acabou no instante em que ela tirou uma lixa de sua bolsinha de festa. A garota ajustou-se em uma posição confortável, escorada à parede, e começou a lixar suas unhas calmamente; pouco depois, a porta do banheiro se abriu e após uma série de curtos passos um Andrew coberto só por uma toalha verde amarrada à cintura surgiu do pequeno corredor.

Ela ergueu os olhos e fez questão de ter a primeira frase:

– Então é aqui que você dorme todos os dias... – observou com um tom tranquilo, ainda lixando as unhas.

Neste momento ele a viu e pareceu ter levado um susto, pois parou onde estava e manteve uma expressão de confusão e incompreensão.

– Estou surpresa, admito – continuou -. Este quarto é organizado. E vejam só! Não tem cheiro de pinto. – ela fez um gesto mostrado o quarto como um todo e agitando a lixa no ar.

~ ♥ ~

Acordei com uma leve dor de cabeça e ligeiramente cansado devido ao horário em que fui me deitar ontem.

Levantei-me devagar coçando os olhos e olhei ao redor, observando o corpo de Chad dormindo embrulhado com um lençol azul dos pés à cabeça. Eu não me lembrava que horas ele tinha chegado devido ao fato de ter praticamente caído direto na cama, mas ele parecia ter trocado o lençol também, tirando a fronha do travesseiro e substituindo o lençol em que estava deitado por um bastante parecido com um que eu havia trago. Na verdade, o lençol que o cobria também parecia com outro que eu tinha.

Franzi a testa, mas convenci-me de que deveria ser o sono.

É mais que óbvio que ele não pegaria minhas coisas por três motivos: 1- não éramos amigos; 2- mesmo que fôssemos, Chad era do tipo formal demais para algo sequer parecido e 3- simplesmente não tinha nenhuma razão para aquilo. Sinceramente...

Logo, calcei meus chinelos, peguei meus itens de higiene matinal juntamente com minha toalha e uma cueca limpa, depois fui para o banheiro decidido a despertar meu corpo e mente.

A água morna estava particularmente incrível aquela manhã. A sensação maravilhosa de água quente em meu corpo às seis horas parecia me convidar a fechar os olhos novamente e dormir em pé, ali no box mesmo. Obviamente resisti ao impulso. Estava ali para acordar, e não ficar com mais sono ainda, então lavei meu rosto e tratei de agilizar o processo.

Passei a mão no espelho para o desembaçar e poder observar meu reflexo: havia um começo de olheiras debaixo de meus olhos azuis, e minhas pálpebras estavam ligeiramente mais baixas. Meus cabelos estavam bagunçados e, molhados, pareciam ainda mais negros do que eram - se é que é possível o preto ficar ainda mais escuro - e, aliados aos fios de barba que começavam a renascer em meu rosto, davam o toque final ao "rosto do Andrew cansado".

Céus! Como era possível ficar com uma aparência tão sonolenta dormindo apenas duas horas a menos que o habitual?

Tirei minha toalha dos ombros, prendendo-a à cintura e escovei os dentes. Ao sair do banheiro e percorrer o corredorzinho que separava o quarto em si da porta de saída, tive uma surpresa e tanto (do tipo que você nunca espera que vai ter e por isso é tão terrível):

Sobre a cama de Chad, recostada à parede usando a blusa social azul com listras brancas que eu tinha, sentada com as pernas à mostra juntas e lixando as unhas calmamente, havia uma Anna com cara de quem tinha acabado de acordar.

Congelei por um segundo. Tempo que ela usou para falar alguma coisa.

– [...] e vejam só! Não tem cheiro de pinto. – ela falou, agitando as mãos.

Eu tentava processar o que ela dizia ao mesmo tempo em que tentava arrumar meus pensamentos e me recuperar do susto que havia levado.

– Hã? – perguntei, voltando aos poucos à órbita.

– Estou elogiando o seu quarto. – ela respondeu, finalmente desviando o olhar de sua superinteressante lixa para olhar para mim.

*

Anna dava total atenção à sua lixa para deixar o momento ainda mais confuso para Andrew, mesmo que nenhum dos dois tivesse noção disso (ela apenas obedeceu ao que sua intuição feminina disse para fazer). Mas quando olhou para ele, parado bem no vão da entrada do quarto, seus olhos foram dos olhos dele para um pouco mais embaixo.

– Nossa! – exclamou com sinceridade, observando o corpo do rapaz.

“Eu já imaginava que ele tinha um corpo legal, mas isso... Parece que o homem teve cada parte esculpida à mão!” – pensou.

Obviamente, ela disfarçou todas as expressões possíveis enquanto tal pensamento lhe vinha à mente.

– O que você está fazendo aqui? – ele perguntou ainda confuso.

– No momento? Apenas observando o seu físico que, apesar de tudo devo admitir: é lindo! - ela respondeu meio distraída, ainda alternando o olhar para o abdômen, peito e braços de Andrew atentamente.

– Você entendeu o que eu quis dizer. – ele rebateu, franzindo levemente as sobrancelhas e cruzando os braços na altura do peito, recuperando-se do susto e confusão - O que está fazendo aqui neste bloco, a esse horário e o pior: dentro deste quarto?

Anna viu que era melhor contar toda a história, sem rodeiros. Não, era até justo:

– Acabei saindo muito tarde da festa ontem à noite, ou seria hoje de manhã?! Enfim, de qualquer forma, quando voltei para o alojamento ele já estava trancado. E bem... eu precisava de um lugar para dormir, né?! - ela respondeu com certo tom de obviedade.

– E veio dormir aqui, em um bloco masculino?! Você sabe o que vai acontecer a nos dois se te pegam?! – ele aumentou um pouco o tom de voz, inconscientemente.

– Relaxa! Não há necessidade de desespero. Até porque todos os seus colegas masculinos que aqui estão - e os do outro bloco também - vivem trazendo garotas para... festas do pijama. – ela deu de ombros e voltou a lixar as unhas.

Andrew lançou a Anna um olhar incrédulo.

– Festas do pijam... Quantos anos acha que eu tenho? Eu sei o que eles fazem com essas garotas... – falou.

– E realmente nunca sequer as ouviu aqui?! Uau! Vocês até que se comportam então... Ou você é um tanto surdo... - ela comentou – Por que, quando conseguem levar um cara pro bloco feminino (e acredite, isso ocorre com frequência), é uma barulheira só!

Andrew a encarava sério.

– Não mude de assunto – replicou.

– Certo – ela finalmente parou de lixar as unhas e depositou a lixa sobre a cama -. Olha, cheguei tarde e não havia como ir para meu bloco, então cá estou: recém-acordada e maravilhosa como sempre! – falou, olhando bem nos olhos dele e acrescentou casualmente - Pare de fazer tanto alarme, até parece que nunca viu uma mulher de pijama...

– Não uma que me surpreendesse dessa forma. Você me assustou! E definitivamente não uma que dormiu com as minhas roupas de sair para logo depois chama-las de “pijama”. Onde está Chad, aliás?! - pela primeira vez a ficha de que fora Anna quem dormira na cama de Chad, e não o próprio, parecia ter caído sobre Andrew.

– Teve de voltar para casa, ora! Surgiu algum imprevisto lá e ele realmente teve que ir. Bettie comentou a respeito ontem, você não ouviu?! - ela respondeu como se ele devesse saber disso. E talvez devesse mesmo.

– Ela disse que sentiria saudades dele - corrigiu-a -. Mas achei que estivesse se referindo a ficar sem ele durante a noite ou coisa do tipo.

– Credo! Eles teriam que ser muito grudentos pra algo assim. Não, não formam esse tipo de casal mesmo! – Anna replicou.

Antes que um silêncio caísse no ambiente, a menina reparou (mais uma vez) em algo nele e sorriu marotamente.

~ ♥ ~

– Você está só de toalha?! – ela perguntou com um sorrisinho e um brilho diferente no olhar.

Nesse momento, minha segunda ficha caiu – a de que eu realmente estava só de cueca e toalha na frente dela.

– Claro que nã... Por quê? – perguntei franzindo o cenho, mas recuando um passo instintivamente.

– Nada, calma! – ela respondeu, levantando as mãos em sinal de inocência e o brilho safado deu lugar à curiosidade – Só seria estranho se eu fosse o Chad agora. Tipo: seria muito estranho mesmo. Vocês se trocam um na frente do outro?

– Certamente que não. Por que está me perguntando isso? – perguntei já um tanto quanto irritado com aquilo.

– Nada, nada. É melhor eu me apressar, o tempo não para. – ela respondeu, levantando-se da cama e vindo até mim - Preciso que você me ajude com uma coisa...

– O que é? – perguntei já me preparando para o pior.

– Você não tem vergonha?! Digo, de ficar seminu na minha frente? – ela enrolou, me secando descaradamente.

– Você já viu. Do que adiantaria eu me envergonhar agora? – respondi sério, observando seu olhar tornar a encontrar o meu – Diga o que você quer.

– Tem razão. Não dá para “desver” nada... Bem, vou precisar que você me empreste uma calça e uma camisa... – respondeu.

Minha camisa ficava paradoxalmente pequena e grande nela. Grande porque ia até um pouco acima da metade das coxas, e pequena porque não cobria nem metade delas. Algumas partes de seu busto ficavam marcadas pelo sutiã -foi quando vi que ela ao menos usava um -.

– Para que, exatamente? – perguntei, olhando a linha que a peça formava em contato com minha roupa.

Ela cobriu o busto com os braços.

– Pare de olhar para cá! Na verdade, pare de olhar para mim, pervertido!

– Não é minha culpa se você está seminua em uma camisa social, muito menos se ela é curta demais para você. – Respondi casualmente. – Além do mais, é justo e eu sei que você não está nua.

– Justo? – ela perguntou me lançando um olhar falsamente indignado.

– Você já me secou duas vezes. Acabou de fazê-lo, na verdade, e vamos combinar que estou em desvantagem aqui. – Respondi sumariamente.

Ela ficou em silêncio por um momento, provavelmente procurando algum argumento.

– Como pode estar tão certo disso? De que não estou nua, na verdade. – ela mudou de assunto, um tanto desafiadora e de forma leviana.

Ergui uma sobrancelha e ela enrubesceu.

– Digo... Argh! Vai poder me ajudar ou não?! - Anna respondeu desconcertada.

– Ora, ora, ora. Achei que você fosse incapaz de sentir vergonha... – comentei, sorrindo e me divertindo com aquilo.

– O quê?! Eu sou humana também, sabia? Enfim, pare de mudar de assunto!

– Você quem começou. Mas acho que sim. A propósito, se eu não a ajudasse, o que você faria? – perguntei com um tom propositalmente maldoso.

– Eu perderia aula, pois teria que esperar todos irem para o bloco principal para sair correndo em direção ao meu alojamento torcendo para ninguém me ver – o que seria um feito bem difícil.

Uma luz se acendeu na minha mente. Era do que eu precisava para descontar as vezes que ela me fizera de bobo.

– P-por que está sorrindo de forma malvada assim? – ela perguntou, com a voz um tanto vacilante.

– Nada... só achei que esta seria a oportunidade perfeita para, digamos, descontar umas vezes em que você me enganou... – comentei usando um tom casual para deixar o momento pior – para ela.

– Não faria isso! – respondeu com um o mesmo tom desafiador.

– Talvez eu faça. Vou decidir enquanto me visto... – comentei indo em direção à cômoda com minhas roupas.

– Certo, então. Enquanto você decide, vou tomar banho. Estou cheirando a você. – Ela respondeu tentando sair por cima.

– Então está com um cheiro ótimo. – Comentei de costas para ela, me divertindo mais ainda ao relembrar suas expressões recentes.

Ouvi-a pisando duro até chegar ao banheiro, onde fechou a porta de forma um tanto bruta. Tirei a toalha e vesti uma calça jeans azul escura. Mal terminei de abotoá-la, ouvi a porta sendo aberta novamente.

– Ah... Andrew? – ela chamou.

– Sim? – perguntei, sem me virar, escolhendo uma camisa.

– Pode me emprestar uma toalha?!

– Para quê?

– Como assim “para quê”? Para eu me secar, ué.

Peguei uma toalha limpa e meu pente e fui até onde ela estava. Entreguei a toalha e, empurrei Anna levemente com o antebraço para tirá-la do meu caminho ao mesmo tempo em que dizia:

– Com licença.

Anna chegou para o lado me dando passagem, com uma expressão franzida, mas curiosa, após pegar a toalha. Fui até o espelho e penteei meus cabelos.

– Essa toalha está limpa, né?! – ela perguntou, atrás de mim.

– Como estou? – perguntei, virando-me para finalmente olhar em seus olhos e ignorando a pergunta propositadamente.

– Preferia sem camisa. – Ela respondeu séria e eu quase esqueci que estava brincando.

– Pena que nossa moral social não permite – rebati já saindo do banheiro.

Ela me deu passagem novamente, voltei apenas para pegar minha carteira, meu celular e minha mochila com meu notebook e os livros. Quando passei novamente pelo corredor, ela me encarava, encostada à madeira da porta com a mesma aberta.

– Você ainda não me respondeu se a toalha está limpa. – Falou.

Olhei-a um tanto aborrecido.

– O que você acha? – perguntei.

– Não acho nada. – ela respondeu.

– Ótimo. – falei, retomando meu caminho quando me lembrei de quem estava deixando sozinha no meu quarto.

Olhei fixamente em seus olhos, me aproximando. Ao ficar bem em frente para si, falei:

– Eu sei onde fica cada coisa nesse quarto! Não ouse roubar, tocar ou simplesmente chegar perto de nada. Sei onde é o seu e conheço suas amigas, aliás.

Dito isto, me virei e saí.

*

"- Não ouse roubar, tocar ou simplesmente chegar perto de nada!", foi o que ele dissera antes de sair.

Anna estava injuriada. Como ele se atrevia a falar daquela forma consigo? Daquela maneira, colocava-a na mesma posição que uma ladra qualquer, alguém em quem não se pode confiar de maneira alguma!

Sentia o chão frio sob os pés.

"Bem, ele não está de todo errado. Também ficaria com um pé atrás se fosse eu a roubada da história..." - refletiu por um instante - "ele até está confiando demais em mim, deixando-me sozinha nesse quarto... Ah! Quer saber? Que se dane! Peguei a carteira dele, sim, mas foi uma vez e porque estava faminta. Obviamente, não vai acontecer de novo." - ela pensou, confortando a si mesma.

Na verdade, tinha coisas mais importantes a tratar no momento, como o fato de que, se não se apressasse, iria se atrasar para o café e, consequentemente, para sua primeira aula do dia. Ou até mesmo, o fato de estar descalça num banheiro compartilhado por dois homens.

Um leve tremor percorreu seu corpo ao se dar conta disso, e a garota esboçou uma expressão de nojo.

Abrindo a porta, andou até a cama de Andrew e calçou os chinelos já molhados dele que estavam por ali -. Chinelos que ficaram extremamente grandes em seus próprios pés, por sinal.

Desabotoou a camisa social que usara como pijama, largando-a no chão frio do banheiro junto com sua lingerie (a camisa por baixo, obviamente), e deixou a água quente cair sobre si após entrar no box. Como não havia trago sabonete em sua pequena bolsa de festa, teve de se contentar em um banho constituído pura e totalmente de água.

"Pelo menos dá para tirar o suor."

Ela perdeu mais dez minutos, no mínimo - já havia aceitado o fato de que ficaria sem café da manhã -, apenas tentando escolher uma peça de roupa para usar até chegar a seu respectivo bloco e quarto. Mas as roupas dele pareciam conspirar contra si: ou ficavam simplesmente grandes demais ou ficavam simplesmente grandes demais e sem nenhuma conexão entre si, tornando seu uso obviamente inviável a uma estudante de Moda.

Estava ficando sem tempo de verdade, visto que além da demora em escolher uma roupa, tinha se disposto a arrumar a cama de Chad, retirando os lençóis "emprestados" de Andrew e deixando-os dobrados sobre a cama do mesmo.
Por isso acabou optando por levar a calça mais relativamente gasta dele (que custou a encontrar) e a própria camisa com que dormira, já que tinha ao menos bom senso. Dobrando o vestido e socando-o ao máximo na bolsinha (que nem em sonho iria comportar o vestido inteiro se estivesse vazia, preenchida por um batom, rímel, lápis de olho, blush e a lixa que já estavam dentro, aí que não entraria mesmo!).

Segurando os saltos pretos em uma mão e tentando esconder a bolsa dentro da camisa com a outra, deu uma última olhada no quarto antes de sair.
Em um cantinho ao lado da cama, quase escondido, ela viu uma ponta rosa que reconheceu imediatamente como sendo o plug que dera a Andrew. Ficou feliz em saber que ele o usava de fato e, quando fechou a porta atrás de si, Anna estava sorrindo discretamente.

Feito isto, ela disparou rumo ao quarto 125 do Bloco B, rezando para que ninguém a visse naquele estado.

~ ♥ ~

Quando voltei ao quarto para escovar os dentes e conferir se Anna ainda estava lá (o que eu duvidava muito), me deparei apenas com o quarto vazio. E não haveria sinal nenhum de sua estadia no bloco proibido se não fossem os lençóis dobrados sobre minha cama. Só por precaução, chequei minhas coisas. Estava tudo em seu devido lugar.

Sorri internamente.

– Sem gracinhas hoje, Alicia? – pensei alto, consciente do ato mas ignorando o fato de estar falando sozinho.

*

A aula de gramática aquele dia foi bastante produtiva. Após a matéria dada pela professora, tivemos nosso primeiro trabalho em dupla (apenas nesse momento, fiquei surpreso ao constatar que eu havia socializado muito pouco durante as aulas. Quase não conversava e não sabia o nome de nenhum dos meus colegas de cor).

O trabalho consistia em escrever uma breve crônica e deixá-la sem final. Depois trocaríamos com nossa dupla e terminaríamos da nossa maneira, desde que fizesse sentido.

Pensei um pouco. Escrevi sobre o dia em que Anna caiu em cima de mim, pois era o fato mais fora do comum que eu havia tido em 21 anos de existência. Parei logo depois de sua “queda”.

Eu e minha colega – seu nome era Beatrice. Era uma gordinha bastante simpática e tinha feições muito bonitas como lábios bastante chamativos, olhos castanho-claros e um cabelo loiro ondulado e relativamente longo que combinava perfeitamente com seu rosto – trocamos nossas redações e vi que a dela se passou no supermercado, quando viu uma criança chorar por um produto que a mãe se recusava a comprar. Acabei por terminar seu texto com uma breve lição de moral sobre o perigo de se mimar os filhos.

Trocamos novamente os textos, no fim da aula. Li rapidamente a forma que o meu foi terminado e fiquei surpreso.

– História bonitinha! – ela falou sorrindo.

– Obrigado... – respondi, quase sem reação.

Ela sorriu ainda mais.

– Eu realmente gostei. Daria uma ótima história de amor, se fosse escrita em um livro ou algo do tipo... – Ela tinha uma expressão sonhadora. Então olhou para mim e acrescentou – Desculpe. Sou um tanto romântica.

Olhei em seus olhos e sorri:

– Obrigado. Confesso que o seu final me surpreendeu um pouco.

Seu sorriso se desfez:

– Oh, o encontro não acabou bem, se me permite perguntar?

Pensei por um momento.

– Na verdade – respondi após minha breve reflexão – ainda estou tentando descobrir, para ser sincero.

– Entendi. – ela respondeu simplesmente.

O sinal tocou. Ela levantou e se despediu.

– Até semana que vem! – falou.

– Até!

Enquanto ela saía, voltei minha atenção ao pedaço de folha de caderno, na parte onde a letra trabalhada de Beatrice começava e reli o final que ela me dera.

– Que coisa... – comentei baixinho.

Depois o dobrei no meio com rapidez para guarda-lo dentro do caderno. Quase todo mundo já havia saído e a professora parecia estar com pressa.

Após a leitura senti um desconforto no corpo. Um calor breve e acolhedor, mas que eu não gostava nem um pouco. Por isso ignorei a sensação e continuei meu caminho.

*


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Gostaram da surpresa?
Depois de tudo isso, acho sinceramente que mereço reviews, né não?!
Comentem ;)
*Pode ser que os próximos demorem mais, visto que semana que vem entra em vigor a regra do "PC apenas aos Finais de Semana" (consegui adiar).
**Quando minha beta betar o capítulo, vou atualizar :)
Lembrando que eu estou já estou selecionando e imprimindo os reviews mais maneiros para irem para a parede! Então não economize nas palavras e caprichem, o.k.? xD
Beijos lindas!