Dear God, I'm Alone escrita por Joke


Capítulo 3
Trigésima Noite


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos, tudo bem?
Desculpem-me pelo atraso, mas sabem como é... Final de ano é osso.
Bom, aqui está o último capítulo! Boa leitura!
Gostaria de dedicar essa parte final aos meus leitores ativos: Letter, Menta, Helena, Blake, Amber Black, emmsfrost, Kokelushi e Bruna Deschanel! Obrigada por todos os comentários maravilhosos!!



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Um mês depois

Ele não vai vir.

Era a quarta semana de Harley Quinn como paciente do Arkham Asylum. O tempo começou a passar mais rápido conforme ela e Harleen conversavam, conseguindo fazer a realidade ser um pouco mais suportável enquanto estavam confinadas naquele horrendo lugar.

A cela de Harley também estava mais aconchegante, com pequenos detalhes que a palhaça acrescentara a fim de quebrar a seriedade de seu novo lar. Pendurava alguns recortes que fizera de jornais e revistas nas paredes, mesclando-os com garranchos e frases aleatórias.

— Você tinha razão, doc! – Admitiu Harley, observando com orgulho a nova decoração do cubículo. Imagens de Gotham, seriados de TV e videogames infestavam o fundo cinzento, poluindo visualmente o local. – Sinto-me melhor com essas mudanças!

Eu disse que ia funcionar! Você até que fez um bom trabalho. Algumas imagens são muito boas...

Quinn fez uma careta.

— Nem vem! Todas elas estão boas! – Harley bateu o pé e cruzou os braços sobre o peito, assumindo uma típica postura de birra infantil.

Seria melhor se ele não estivesse no nosso mural.

Era mais que óbvio que Quinzel se referia a foto do Príncipe Palhaço do Crime; a única foto que Harley colocou de seu amado. Pensara que a doutora não iria notá-la com a quantidade de recortes que colou, contudo, Quinn percebeu que não deveria subestimar a análise crítica de Harleen Quinzel.

— Ah, doc, eu juro que estou tentando esquecê-lo! Mas... Não consigo deletá-lo de uma hora pra outra, entende? Eu o amo.

Amava, Harley, amava.

— É... Amava – a loira abaixou a cabeça, infeliz. Por mais que lutasse, por mais que quisesse tirar Joker da cabeça, a tarefa mostrava-se como algo extremamente difícil. O amor que sentia pelo palhaço era mais forte que sua força de vontade, e mais resistente também.

Era sua razão de existir.

Não se preocupe, nós vamos superá-lo. Você já fez um grande progresso ao aceitar a realidade, Harley. Deveria se orgulhar disso.

— Mesmo? – Indagou a paciente, um pouco mais animada.

Mesmo.

— Doc? Posso perguntar uma coisa?

Claro. O que você quer saber?

— O que vai acontecer comigo quando formos declaradas sãs? – A pergunta de Quinn era algo que a deixava curiosa. Como não entendia nada do ramo de psiquiatria, achou melhor passar a questão para Harleen. Ela com certeza saberia responder.

Mas Harley Quinn foi deixada no silêncio, algo deveras inesperado.

— Doc? Tá aí? – A loira deu uns tapinhas na cabeça, tentando contatar a consciência de sua “colega de cérebro”. – Harleen?

Oi, e-eu... Estou aqui.

— Por que o silêncio? Tá tudo bem aí dentro?

Está sim, Harley.

A voz desanimada de Quinzel despertou um sentimento esquisito em Harley; algo mesclado com tristeza e ansiedade.

— O que é isso...? – Ela questionou, porém, obteve a respostas quase que no mesmo instante.

A familiar sucção durou pouco, mas foi mais que o suficiente para jogar Harley Quinn no subconsciente, dando o controle para Harleen Quinzel.

Doc... Eu não quero deixar de existir...

Harleen escutou as lamúrias de Quinn com um grande aperto no peito. Toda a raiva e todo o desprezo que sentira pela palhaça desapareceram aos poucos, conforme a convivência entre ambas foi transformando-se em algo harmônico e até mesmo prazeroso.

— Vamos dar um jeito nisso, Harley, você não vai ser apagada – A Dra. Quinzel tentou colocar o máximo de confiança em cada palavra, esperando ser o suficiente para apaziguar o pânico que sentia emanar da consciência da paciente.

E-eu me sinto diferente... A cada dia que passa, percebo que um vazio dentro de mim cresce. Em cada sessão, um pedaço meu é destruído. Entende?

— Sim, entendo – a psiquiatra soltou um longo e pesado suspiro. Preferiu não continuar no assunto, dando inicio a uma conversa menos tensa. – Nunca pensei que diria isso, mas você deixou a minha vida mais divertida, sabia?

A confissão pareceu animar um pouco o clima pesado dentro do subconsciente onde Harley estava; podia sentir um pouco de felicidade tomar conta da palhaça.

Tá falando sério? Eu fiz isso?!

As perguntas mais pareciam afirmações.

Há, sabia que conseguiria colocar um sorriso no seu rosto, doc! Mr. J tinha razão, todos podem sorr...

Harleen pigarreou, fazendo a empolgação de Harley ser imediatamente contida.

Desculpa.

— Tudo bem... Tente apenas não se preocupar, ok? Vamos dar um jeito.

Espero que sim, doc.

— Como está se sentindo hoje, Harleen? – A ex-colega de trabalho, Dra. Cassidy, questionou, observando a paciente com sincera preocupação.

Harleen estava pálida, com enormes círculos arroxeados embaixo dos olhos cansados. O cabelo da jovem estava solto e todo emaranhado, caindo irregularmente pelos ombros delgados. Alguns machucados podiam ser vistos no pescoço e na base do colo, explicitando que a paciente estava se automutilando, causando cortes feios na pele feitos pelas unhas arrancadas.

— Sozinha. – Respondeu sem emoção alguma.

“Harley? Onde você está?”

— Sozinha? Por quê? Harley não está ai com você? – Voltou a perguntar Sarah Cassidy, já tomando algumas notas no pequeno bloco de folhas amarelas.

— Faz três dias que não a escuto – declarou Quinzel com a voz pesada. – Ela sempre falava tanto...

— Mas, então isso é um bom sinal, não? – Ao contrário de Harleen, a Dra. Cassidy esboçava verdadeira excitação com a notícia. – Harleen! Sabe o que isso significa?!

Mais do que nunca Harleen gostaria de socar a cara da antiga colega, sendo provável que esta se calasse depois da agressão. Antigamente, Quinzel suportava a animação e os comentários desnecessários que a colega costumava fazer, contudo, depois de tudo o que passara, sua paciência para com a médica foi drasticamente reduzida.

Ainda assim, achou melhor ficar quieta, e deixar Sarah aproveitar sozinha sua empolgação.

— Você está curada! Pode sair daqui assim que eu tiver certeza e...

Harleen acolheu o antigo plano, esmurrando com gosto o nariz da mulher e o quebrando com facilidade. Ver o sangue no punho ainda fechado a fez sorrir.

“Vamos, Harley, eu sei que você gosta de violência. Ela está sangrando! Não é engraçado?!”

— Da próxima vez, sugiro que me amarre, pois só assim é possível aguentar essa sessão estúpida sem te agredir de novo.

Harleen voltou para a solitária no mesmo instante.

“Você está curada!”

A estúpida voz da Dra. Cassidy ficava ecoando em seu subconsciente, rebobinando sem parar a cena onde ouvira a notícia. Agitada e, principalmente, irritada, Harleen andava de um lado para o outro, procurado alguma explicação para o sumiço misterioso de Harley.

— Por que está tão quieta? Isso é algum tipo de birra, Quinn? – Questionou à voz muda em sua cabeça, sem receber qualquer vestígio de resposta.

Era algo deveras esquisito. Não fazia o menor sentido, ainda mais depois que as duas estavam se dando cada vez melhor. A convivência mostrou que Harley e Harleen eram extremos complementares, uma sendo fundamental para a construção total da outra. Todo o jeito brincalhão e infantil de Harley despertava o apetite por diversão de Harleen, assim como a inteligência e o raciocínio da psiquiatra instigava o senso crítico de Quinn, que ficava fascinada com os conteúdos inéditos apresentados.

“Você está curada!”

— Então por que não estou feliz? – Confusa, a psiquiatra olhou para ambas as mãos. – Tenho meu corpo de volta, assim como a minha voz. Era o que eu queria... Não era?

Novamente, nenhuma resposta.

“Meu deus, estou sozinha.”

Um barulho incomum vindo de fora da cela despertou a atenção de Harleen. Não era o eco dos passos rápidos dos guardas, ou o andar mais tranquilo de um psiquiatra, mas sim passadas calmas e leves. Quinzel parou de andar, atenta ao som que parecia se aproximar cada vez mais.

— Duzentos e dois, duzentos e três, duzentos e quatro... – Uma voz masculina se mesclou ao som dos passos, fazendo as pernas de Harleen Quinzel tremerem ao ponto de fazê-la cair no chão.

Não podia ser; não era possível! Já estava lá há um mês, completamente abandonada! Estaria delirando?

De repente, o barulho de fora da cela cessou, introduzindo um novo som que gelou a coluna da ex-psiquiatra: o barulho do trinco sendo destrancado. Sem conseguir se mover direito, Harleen se arrastou para o canto mais distante da porta, sentindo seu coração martelar no peito.

— Duzentos e seis – a porta se abriu devagar, introduzindo a figura do Príncipe Palhaço do Crime com seu famoso sorriso estampado na face. Os olhos verdes turbulentos, quando identificaram a figura de Harleen encolhida no chão, ficaram ainda mais endiabrados. – Aí está você, querida, sentiu minha falta?

— Não! Fique longe de mim! – Quinzel ordenou, tentando em vão se afastar ainda mais do palhaço que se aproximava devagar. Sua maquiagem estava borrada, manchando de vermelho alguns pontos da pele pálida próxima à boca. O sombreado negro que envolvia seu olhar irrequieto o deixava com uma aparência sinistra. Ele nunca parecera tão assustador como naquele momento.

A aversão da loira arrancou um riso baixo dos lábios carmim de Joker.

— “Não”? Harley, Harley... O que fizeram com você? Só a deixei aqui por um mês pra aprender uma lição e, quando volto para buscá-la, parece outra pessoa! – Quando estavam praticamente dividindo o mesmo espaço, Joker se abaixou e, distraidamente, começou a brincar com uma mecha do cabelo loiro e desgrenhado de Harleen. – Não é mesmo, doc?

Por mais que quisesse reagir, Quinzel estava trêmula demais para conseguir fazer seu corpo obedecer a algum comando. Sua respiração era pesada, tornando a tarefa de respirar algo cada vez mais difícil de ser realizada. Observou a porta fechada da cela com tristeza; ninguém a escutaria gritar se assim o fizesse.

— O-o que está fazendo a-aqui? – Tartamudeou, sentindo espasmos no peito cada vez que a pele gelada dos dedos do palhaço tocava em seu rosto.

— Oras, eu vim buscar o que é meu – o toque gentil subitamente se transformou num dolorido puxão de cabelo. Fora tão forte que Harleen sentia o couro cabeludo latejar. – Não gosto que peguem minhas coisas sem permissão.

Por mais que quisesse chorar, Quinzel segurou com grande esforço as lágrimas. Não queria dar ao palhaço a satisfação de vê-la fraquejar como uma criancinha. Ela era uma psiquiatra, e não se assustava facilmente.

— Ela não é um objeto, seu maníaco de merda! – A loira cuspiu as palavras com ódio, esperando que fizessem o mesmo efeito que um soco no meio da cara. – Nenhuma de nós! E quer saber? Estamos cansadas de ser um dos seus brinquedinhos! Harley não está mais aqui, sua piadinha de mau gosto acabou.

Joker arqueou as sobrancelhas verdes, estudando as feições sérias de Harleen Quinzel com evidente divertimento. Nenhuma daquelas palavras parecia tê-lo afetado, o que deixou a médica ainda mais irritada.

— Foi um belo discurso, doc, muito nostálgico inclusive – o tom zombeteiro desenterrou a época das primeiras consultas da carreira da Dra. Harleen Quinzel com o tétrico palhaço. – Mas tenho que perguntar, docinho: o que a faz pensar que obrigo a Harley a ficar ao meu lado?

Logo em seguida, Joker segurou a cabeça de Harleen com seus dedos longos e firmes, aproximando seu rosto da orelha esquerda da médica. Sem conseguir reagir, Quinzel fechou os olhos e mordeu fortemente os lábios inferiores.

— Acha que entende a Harley como eu? Esqueceu que fui eu quem a criou, Harleen? Ela é minha por direitos autorais... – Sentia o hálito quente em seu ouvido, com a voz vacilando entre risinhos maliciosos. –... Não é mesmo, meu amor?

Pudinzinho?

“Harley! Onde você esteve esse tempo todo?!”

Hã? Do que você está falando?

“Você sumiu por quase três dias!”

É mesmo?

“Sim!”

— Harley, querida, eu voltei pra você – Joker persistiu num tom calmo, mordendo delicadamente a orelha da médica, que, mesmo não querendo aceitar, sentiu um enorme prazer tomar conta de seu corpo. – Venha me ver, Pooh.

Harleen não conseguia mais se controlar. Aos poucos, todo o corpo ficou dormente, até que a familiar sucção começava a querer sugá-la para o subconsciente.

— Não... – ela gemeu, dando tudo de si para permanecer no comando, contudo, Harley Quinn estava bem mais forte, e a médica acabou perdendo a disputa.

Harley demorou um pouco para recuperar os movimentos do corpo. Sua visão estava turva e o mundo parecia girar sem parar.

Harley! Por favor, deixe-me voltar ao comando!

Os gritos da Dra. Quinzel não ajudavam a recuperação de Quinn. Fechou os olhos numa tentativa de acelerar algum tipo de melhora. Se ao menos conseguisse fazer Harleen calar a boca por alguns segundos...

— Harls? Consegue me ouvir? – A voz do seu amado palhaço fez Harley abrir os olhos quase que de imediato. Ela virou para o lado, a fim de encarar novamente aquelas orbes verde que a fitavam com enorme interesse.

— Pudinzinho, você veio! – Quinn entrelaçou o pescoço de Joker, trazendo seus lábios vermelhos para os dela com evidente desespero. Ela o beijou com vontade, explorando de maneira ávida a boca do palhaço, que retribuía com voracidade.

Não faça isso, Harley! Não se entregue a ele de novo!

Harley não conseguia raciocinar. As mãos de Joker eram firmes e a agarravam violentamente, apertando suas coxas e puxando o corpo da palhaça para si. Ela também o segurava, encravando com força as unhas nas costas do Príncipe Palhaço do Crime, conseguindo rasgar um pouco da camisa roxa que ele trajava.

Ele está usando você! Não vê isso? Ainda dá tempo de parar com essa loucura, Harley!

Quando as mãos ágeis de Joker estavam começando a desabotoar o colarinho do uniforme de Harley, o ensurdecedor alarme de emergência disparou, chamando a atenção de ambos.

— Parece que teremos que continuar isso depois, docinho – ele se levantou e, casualmente, andou para a porta. – Hm, vai dar um pouco mais de trabalho pra sairmos... Sabia que deveria ter matado aquele outro guarda...

Agora! Ataque ele! Grite! Faça alguma coisa antes que seja tarde demais!

“Por que eu faria isso, doc? Eu o amo!”

Não seja estúpida, Harley! Já se esqueceu de todo esse mês que passamos aqui no Arkham?! De todo o sofrimento que ele nos fez passar? Merecemos alguém melhor! Não foi isso que tínhamos concordado?

“Não, Harleen, foi o que VOCÊ concordou.”

Não diga isso, Harley... Você o superou, lembra-se?

“Entenda uma coisa, Quinzel: eu não quero superá-lo! Não quero alguém melhor, pois pra mim não há ninguém nesse mundo que possa me fazer feliz como ele!”

Feliz? Como pode gostar de alguém que te maltrata? Que te larga pra apodrecer nesse lugar?

“Ele está aqui, não é mesmo?”

E você quer voltar pra quê? Pra apanhar de novo? Pra se sentir um lixo? Vamos, Harley, não faz mal se arrepender de escolhas ruins e começar de novo. Acredite em mim! Juntas, nós vamos construir uma nova vida.

“Ah, doc, você ainda não entendeu, não é mesmo?”

Joker estendeu a mão para Harley Quinn.

— Pronta para abater alguns porquinhos hoje, Harley? Será uma noite e tanto! – Ele questionou animado, exibindo um sorriso maligno para a palhaça.

“A única arrependida aqui é você, Harleen! Agora cale a boca, porque este corpo é meu!”

— Logo depois de você, Pudinzinho! – E segurou a mão de Joker, deixando um pervertido sorriso tomar conta de seu rosto.


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Notas finais do capítulo

E é isso, puddin's! Espero que tenham gostado dessa short! Foi uma ideia que eu tive enquanto jogava a DLC da Harley Quinn de Arkham Knight. Quando você ativa o "psycho mode" dela, a frase "Dear God, I'm Alone" aparece destacada entre um bando de pensamentos aleatórios (e eis o mistério por detrás do nome da fic kk).
Enfim, é isso! Foi um prazer tê-los aqui! E espero vê-los em futuras histórias sobre o Mad Love