Night Visions escrita por Isaque Arêas


Capítulo 2
Tiptoe


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo foi baseado em: Tiptoe - Imagine Dragons (https://www.youtube.com/watch?v=ajjj4pLnjz8)



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O vento soprava devagar. Vi os raios de sol através da copa das árvores. Era um sonho e eu lentamente acordava. O verde da floresta me fez sentir em um lar. Me sentei. Havia passado a noite numa pilha de folhas secas. A grama cheirava ao orvalho que ainda pairava nas folhas. Eu podia ouvi-lo escorrendo. Na verdade eu podia ouvir muitas coisas. Os pássaros voando, um coelho acabava de sair da toca ao leste, um esquilo pulava de uma árvore a outra há dez metros de mim. Eu podia ouvir e sentir demais.

Acordei como se minha vida sempre houvesse sido aquilo. Como se a floresta sempre houvesse sido a minha casa e o verde a minha família e apenas quando olhei à minha volta e contemplei as ruínas do que antes parecia ser um laboratório me lembrei do que havia acontecido. Não havia sido um sonho.

A floresta já não parecia mais familiar. Eu já não parecia mais pertencer a ela. Era um estranho em seu território. As perguntas voltaram a minha mente e eu precisava fazer algo. Precisava parar de me perguntar e começar a me dar respostas. Andei pela floresta em busca de uma saída; uma fuga daquele verde que outrora havia sido minha fortaleza. As ruínas não responderam minhas questões ontem, mas hoje eu saberia com certeza.

Tentei procurar por uma estrada ou qualquer sinal de civilização há um pequeno raio de distância de onde estava até que senti minhas pernas tremerem. O calor, aquele calor. Lembrei então de que as ruínas estavam ali por minha causa e por essa nova habilidade que eu possuía. Me arrastei em direção a um toco de madeira onde me sentei. Massageei minha perna para que o calor passasse, mas ele parecia irradiar para o restante do meu corpo. Quanto mais calor eu sentia mais irritado eu ficava. Senti o queimar então se esvair do meu corpo em forma de ondas direcionadas às ruínas. Pude ver algumas rochas saltando ao serem irradiadas e novamente a poeira subindo no ar.

O barulho. Talvez se eu causasse um estrondo em breve viriam pessoas atraídas por ele e me encontrariam aqui. Eles viriam à minha procura. Então mais uma vez caí em mim:

“Por que não fui procurado?”

Uma nova questão pairava em minha mente. Será que alguém em algum desses anos havia se perguntado onde eu estava? Será que vieram me procurar? Quem teria sido? As perguntas me corroíam a mente. A energia me corroia o corpo. Eu senti que enlouqueceria caso não tomasse alguma providência sobre o que eu estava sentindo e pensando. Ainda sentado no toco de madeira respirei mais uma vez. Me dei conta de que meu coração palpitava rapidamente. Inspirei e expirei. Repeti o processo por mais algumas vezes. Voltei a relaxar.

Estava com fome. Estava nu. Precisava fazer algo a respeito.

Andei pela floresta tentando encontrar alguma fruta. Estava decidido a não matar animal algum, eram inocentes. Percebi que por mais que me encontrasse em um lugar com mais árvores do que qualquer outro lugar do mundo que eu me lembrava, era bem mais difícil do que parecia achar comida vegetal. Depois de andar pelo que pareceram horas, não sei se por conta da fome ou se fora realmente o tempo que passara, encontrei um arbusto com framboesas. Aquelas framboesas seriam a minha salvação para aquele dia e pareceram muito mais deliciosas do que realmente eram, mas em minha atual condição não havia como reclamar.

A fome agora havia passado, mas eu continuava com meus dilemas: quem eu era? O que eu era? Por que não vieram me buscar? A fome física foi embora, mas deixou em seu lugar a fome da minha alma. Continuava só entre as folhas caídas das árvores e suas copas. Para onde olhava via árvores e no fundo sabia que no momento em que elas começassem a falar eu haveria me perdido.

O lado bom de estar preso em um lugar, sem hora para sair e sem perspectiva do que fazer ou do que encontrar é que agora estava livre para fazer o que eu bem entendesse sem esperar por nada. Decidi andar pela floresta pelo simples prazer de andar. Poderia encontrar uma cidade na melhor das hipóteses consideradas ou mais árvores, mas minhas opções eram limitadas no momento, então valia a pena pagar para ver.

A floresta era montanhosa. Não era como se fosse um plano perfeito, não era como um bosque. Haviam muitas rochas, as quais eu, ora pulava, ora deslizava. Cortei meu pé em uma delas, mas isso não me desanimou. No momento em que eu senti a dor do corte o calor voltou aos meus ossos. Tentei me acalmar e respirar fundo para que não despertasse a fera e após conseguir controlar o impulso voltei a andar.

Sempre descendo, sabia como que por intuição que mais para baixo havia um rio e nele eu poderia lavar o corte e beber água. A floresta tinha seus encantos. Enquanto eu descia pude ver um revoar de aves para além das copas. A liberdade que elas possuíam me inspirava. E se eu em algum momento da vida fui como elas, hoje estava caído, provavelmente com as asas feridas. Eu sairia daquela floresta custe o que custasse. Encontraria os que estavam à minha procura e então poderia sanar minhas dúvidas. “Continue descendo”, disse para mim.

Quando do alto de uma rocha avistei o riacho sorri, na verdade gargalhei, não apenas pela sede que mataria, mas como meu instinto de que ali havia um rio estava certo, talvez houvesse esperança de que um dia recuperasse minhas memórias. Um dia voltaria a ser completo. Entrei no rio e senti meu corpo ser totalmente resfriado. O senti totalmente renovado. Já não sentia mais meus pés doendo ou a ferida que se abrira, tampouco sentia sede agora que havia me saciado. Permaneci nas águas do rio por algum tempo, confesso que não queria que o tempo passasse.

Me sentei em uma rocha de maneira que apenas meus pés tocavam a corrente do rio. A água levava meus pés com a pequena força que fazia e a tranquilidade que ela passava me fez muito bem. Eu e o rio éramos um, até que um barulho rasgou o céu e meu corpo se incomodou. Senti meus pelos arrepiarem. Um trovão. Quando olhei para cima via algumas nuvens cinzas se formando. Havia perdido tempo brincando na água e não percebi que o céu fora se escurecendo aos poucos. Era hora de procurar um abrigo.

Continuei meu caminho na direção da correnteza. Alguma hora encontraria um local seguro, mesmo que demorasse horas, “não tenho nada a perder”, pensei comigo, e a chuva era apenas água. Uma leve gota então atingiu minha pele, seguida de outra e outra e outra. A chuva aumentava rapidamente e eu ainda não havia encontrado abrigo. Tentei não pensar nisso e simplesmente deixei que a água da chuva me molhasse ainda mais. Se eu e o rio éramos um, eu e a chuva seríamos também. Se eu estava só naquela floresta, a floresta seria minha companhia mais preciosa.

Encontrei uma pequena gruta seguindo rio abaixo. Era bem escura e úmida, porém pequena e me abrigaria bem. Ali permaneci até o anoitecer. A chuva continuava a cair.

***

Acordei ofegante. Eram eles. Os homens que tentaram me matar. Os homens que injetaram o fogo nos meus ossos. Estavam atrás de mim. Sabia que estavam. Eles não conseguiriam. Eu não podia deixar. Eu... havia sonhado. Havia tido um pesadelo, o primeiro de muitos, e acordara na gruta úmida e pedregosa. O calor voltava a percorrer meus membros, provavelmente por conta do sonho. Uma defesa pessoal talvez.

Senti a água do meu corpo e à minha volta ferver e evaporar criando uma atmosfera quente no local e por isso já não sentia mais frio e acredite, estava muito frio. Da minha boca saía vapor enquanto respirava. A água me traíra por mais que houvesse mostrado ser minha amiga horas atrás também me fazia sentir frio. Porém, ao mesmo tempo em que ela havia me abandonado, o calor que emanava do meu corpo conquistara o espaço deixado.

Tentei atingir uma pequena pilha de folhas com minhas ondas de energia na tentativa de me esquentar, mas por algum motivo as ondas não vazavam pelos meus dedos. Por mais que eu estendesse os braços não funcionavam. Estalei os dedos, estiquei os braços, bati palmas. Nada. Ao passo em que sentia a frustração, sentia meu corpo esquentar mais. Me lembrei que toda vez que sentia meu corpo esquentando dessa forma o ambiente à minha volta sofria com os golpes das ondas e para não destruir o único abrigo que eu tinha tentei me controlar. Respirei fundo. “Tenho a noite inteira para tentar”, me desafiei.

Após inúmeras tentativas uma leve faísca de energia saiu de meus dedos. Estourou as folhas que se encontravam na minha frente formando uma pequena fogueira. Tentei juntar mais algumas folhas para que ela tomasse vigor, mas antes que eu conseguisse, ela se apagara. Azar... Mas talvez eu estivesse no vendo as coisas pelo ângulo errado. Talvez eu estivesse querendo que as chamas externas me aquecessem quando as chamas em mim poderiam fazer isso. Talvez meu corpo soubesse disso e por isso não deixava que o calor se esvaísse pelos meus dedos. Confiando em mim, simplesmente deixei que a energia me incendiasse e no momento em que a deixei dominar me senti completo, mesmo que por um instante.

Ali, sozinho, no escuro, olhei para fora da gruta e apenas via a floresta e o rio iluminados pela lua. Comecei a pensar novamente em quem poderia ter me deixado para trás. Como disse, me senti completo por apenas um instante, ao pensar nisso voltei a me sentir vazio e lágrimas escorreram pelo meu rosto. A esperança que as aves me deram pela tarde deu lugar ao desespero que a falta das pessoas me causava. Eu não era um animal. Eu não era um experimento. Eu não sou descartável. Eu precisava acreditar nisso.

***

Aquele dia se transformou em outro dia, outro dia e outro dia. Os dias se passavam até que eu deixei de contar a passagem das manhãs. Todos os dias eu me levantava de seja lá onde havia parado e continuava seguindo o rio. Todos os dias eu acendia uma nova esperança de que eu encontraria pessoas procurando por mim, mas a cada dia parecia que eles não viriam me ver. A cada dia parecia mais que eu não existia e que minha ausência não era notada.

Todos os dias eu me alimentava de frutas novas que encontrava. Desde pequenos frutos em arbustos a nozes e avelãs. Um dia, porém, as frutas deixaram de chamar minha atenção. Não que não amasse seu sabor, mas precisava de algo mais. Enquanto eu caminhava pelo rio vi peixes atravessando as águas cristalinas. Me senti mal pelo que estava prestes a fazer, mas a fome era tamanha que antes mesmo de ponderar sobre a atitude os jatos de energia saíram de minhas mãos. A água do rio saltou e três peixes com ela. Consegui pegá-los. Antes de comê-los pedi perdão àqueles seres que nada tinham a ver com a minha atual condição.

Foi após comer que percebi que com o passar dos dias o calor de meus ossos tornava-se cada vez menos frequente. As dores musculares causadas pelo calor também. A cada dia que passava eu me adaptava mais à nova energia. Nos primeiros dias a pilha de folhas que eu queimava para esquentar nozes ou simplesmente para ver o fogo dançar quase passou a algo maior, mas apaguei a tempo. Outras vezes em que não encontrava algo para me distrair costumava fazer uma pilha com pequenas pedras que encontrava no lago e tentava acertá-las com os jatos de energia. Nas primeiras vezes era difícil, pois inúmeras vezes meu corpo não reagia como eu queria e a energia não saía do meu corpo. Com o tempo percebi que eu precisava focar em mim quando quisesse invocar o calor. Eu podia ouvir e sentir tudo ao meu redor como nunca antes, mas quando todos se calavam à minha volta e eu conseguia ficar a sós com a energia, ela atendia ao meu pedido. Hoje eu já acertava as pedras de base da pilha a distâncias maiores.

Outro costume que eu tinha era de saltar. Durante uma leve escalada eu tropecei em uma pedra com musgos. Quando estava prestes a cair, a energia como por instinto me fez saltar para o lado oposto. Num primeiro momento pensei estar voando, mas depois percebi que minha carga de calor diminuíra e agora eu me encontrava são e salvo no chão. Fiquei maravilhado com o que acabara de acontecer. Apalpei meu rosto, meu peito e pernas. Estava de fato seguro. Comemorei minha acrobacia de segurança com um grito e um sorriso. Ao longo de todo aquele dia eu tentei saltar outras vezes. Na maioria delas eu não conseguia. Caía, me levantava e tentava novamente, parecia uma ave que não estava contente de estar presa ao chão, mas que mesmo caindo parecia viciada em tentar novamente. Me erguia, pulava de uma rocha menor, caía e repetia todo o processo. Lá pela vigésima vez um relance de energia saltou do meu corpo, foi muito menor que o anterior, mas mesmo assim comemorei tal qual fiz com meu antigo movimento. Hoje eu já saltava com maior facilidade. Uma vez ou outra conseguia dominar tão bem meus saltos que antes de tocar o chão eu sentia meu corpo flutuando – e a sensação era maravilhosa. A cada salto eu ia mais alto e alcançava uma distância maior, mas por algum motivo me policiava para nunca passar da copa das árvores. Era como se as copas fossem grades as quais eu não podia atravessar, mas ao mesmo tempo como se o chão fosse meu lar. Um lar que eu tinha medo de trair me entregando à superfície.

Com o passar dos dias aceitei melhor a condição em que me encontrava. Não era tão ruim estar na floresta. Confesso que as noites eram frias e sombrias, o chão não era o melhor lugar para dormir, muitas vezes sentia fome e já não poderia sair para caçar ou para colher frutas com medo de que ursos ou qualquer outro predador me encontrassem, mas me sentia bem ali. Era meu novo habitat. Ou pelo menos eu me iludia dizendo que era, pois toda a noite, quando a escuridão chegava e na floresta eu só tinha as mesmas visões noturnas eu conseguia sentir a solidão. Todo meu questionamento voltava. Era meu ciclo infernal. Até que um dia eu decidi não me importar mais. As pessoas não me veriam chegar, não me veriam de volta... Já que minha ausência não havia sido notada por elas, eu também não queria saber o porquê de não a sentirem, simplesmente aceitei o fato. Já não as culpava mais; não podia mais. Haviam me esquecido, mas eu decidira não fazer questão da presença deles.

Naquele dia eu decidi ser quem eu era naquele momento. Decidi ser um homem que tinha sua liberdade na floresta. Ninguém poderia me controlar novamente na floresta e essa seria minha realidade a partir dali. Me lembrei novamente das aves, elas voavam sem que ninguém as julgasse, por isso não precisavam parar de voar. Era isso que eu faria. Talvez se me encontrassem eu poderia ir parar em outro laboratório como o de onde vim. Talvez me aprisionassem novamente. Eu não abriria mão de um presente ideal por um futuro incerto e inseguro. Me levantei da pilha de folhas em que eu estava deitado e decidi que meu salto para a liberdade seria também o salto mais potente que eu já dera.

Fui para fora da gruta vencendo o medo da noite. Dei alguns passos para trás para conseguir impulso suficiente. Saltei uma vez sem sucesso. Segunda vez, idem. Terceira vez, também. Eu não pararia de tentar. Até que na sétima vez me deixei dominar pela energia que acumulara em meu corpo e me lancei em direção ao rio. Saltei até a outra margem sem dificuldade. Continuei tomando impulso e me lançando. Meu alvo era a copa das árvores; essa noite, nenhuma outra, eu alcançaria pela primeira vez a floresta pelo seu topo.

Cada vez eu ia mais alto. E mais alto. “Faça com que eles se arrependam de não terem te procurado” disse pra mim mesmo “Eles nunca verão seus maiores saltos”. No último salto havia tocado em folhas mais altas nas árvores, com certeza nos próximos eu estaria acima delas. Toquei novamente o chão com relativa suavidade. Tomei o maior impulso que havia tomado até então naquela noite e me lancei. No caminho vi as folhas e galhos se aproximando e aproximando, até que ultrapassei a barreira que me aprisionava e... Era lindo.

Pela primeira vez eu notava apenas o céu estrelado. Os pontos luminosos que pareciam manchar a imensidão negra. Estava apaixonado pelas estrelas. Olhei em volta e vi o restante da floresta iluminado pela lua. As árvores ganhavam um tom cinzento para suas folhas escuras. Ao longe ouvi o uivo de um lobo. Que cena! Estava maravilhado com tudo aquilo. Maravilhado demais para perceber que eu continuava no ar. Achei o tempo de permanência no ar estranho e olhei para os meus pés. Podia ver as pontas dos meus pés. Eu estava suspenso no ar. Fiquei sem reação.

Antes eu apenas saltava. Agora eu estava voando como os pássaros que eu vi no primeiro dia da floresta. Minhas correntes estavam soltas. Eu estava livre. Tentei me acalmar, mas a excitação era tanta que eu não podia me conter. Olhei em volta mais uma vez e contemplei uma alta montanha que se estendia um pouco mais à frente. E como se estivesse nadando pelo céu me dirigi a ela. A montanha inconscientemente me desafiara e meu último desafio da noite seria escalá-la. Eu subiria até o topo mais alto. Eu me declararia para a floresta o homem que eu era.

Continuei meu voo cada vez mais acima. Cada vez mais acima. Eu não tinha um alvo certo. Meus alvos eram sempre atingir as próximas árvores adiante. Hesitei por um momento, o que me fez pousar numa rocha, provavelmente no meio da subida. Estava exausto. O voo consumira não apenas o calor dos meus ossos, mas também minha integridade física. “Descanse, amanhã de manhã você pode tentar novamente” minha mente disse por um instante, mas não sei se era minha determinação ou a teimosia que falava mais alto naquele momento. Decidi não pensar no amanhã. Eu faria aquilo hoje. Eu provaria para mim mesmo quem eu era. Provaria que estava acima de dúvidas.

Tirei um momento para baixar minha cabeça, respirar e me acalmar. Eu não vou dormir, eu não vou dormir. Dei outro impulso e me lancei. A energia não falhou comigo. Me levou cada vez mais alto. Eu não vou dormir agora, não vou dormir agora. Vi as árvores e as nuvens pareciam ficar cada vez mais palpáveis. O frio também aumentava. Eu não posso desistir, não agora. Não posso parar agora. Não vou dormir. Continuei subindo, cada vez mais alto e cada vez mais rápido. Até que lá estava eu alcançando o topo de uma das árvores mais altas do alto daquela montanha. Estiquei minha mão para alcançar aquele pinheiro e então meus dedos sentiram as folhas espetadas e a palma da minha mão tocou a madeira.

Minha respiração estava ofegante. Eu estava muito cansado e ali flutuando eu respirei para assimilar o que estava acontecendo. Quando olhei à minha volta pude ver a floresta em sua totalidade, foi a visão noturna mais bela de todos esses dias. Outrora eu via apenas as raízes, mas agora minhas raízes voavam; meus pés não eram mais do solo, agora eles tocavam as nuvens. Aquele era meu lar. Ninguém em nenhum outro lugar me levaria mais alto do que onde eu mesmo me levaria. Ninguém poderia me levar mais alto. Eu provei para mim que era capaz de deixar aquele passado de sofrimento, dor e culpa para trás. Eu havia vencido meus limites.

Minhas dúvidas eu também havia deixado para trás durante a subida. Por que não me procuraram? Porque ninguém poderia me levar mais alto; simplesmente não precisava deles, assim como não precisei para chegar aqui. Por que fizeram isso comigo? Porque ninguém poderia me levar mais alto; era ali que eu precisava estar e só estava ali graças ao que fizeram. O que eu era? Eu era livre, como os pássaros. Olhei para os meus pés e ao balançá-los no ar foi como se neles estivesse estampada a minha liberdade. Quem eu era? Eu era mais hoje do que havia sido ontem. Eu havia sido alguém. Outrora eu fora um esquecido. Eu fora radioativo. Eu era dor e sofrimento. Hoje sou, não apenas todos os anteriores, mas também livre. Hoje eu sou.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado por ter lido esse capítulo espero que estejam curtindo tanto quanto eu tenho amado escrever essa história :3
Não esqueça de deixar um comentário, são muito importantes para todos os autores, mesmo que seja só um "nossa! Ficou legal" ou "Não gostei muito" HAHAHAHAH

Abraços!