Night Visions escrita por Isaque Arêas


Capítulo 13
Underdog


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi baseado em "Underdog - Imagine Dragons": https://www.youtube.com/watch?v=JCUV43T7HZ0



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Um ano se passou desde que eu vi Samantha pela última vez. Os últimos meses não foram fáceis. Hoje não tem sido um dia fácil. Nesse último ano eu enfrentei todo tipo de força que existia dentro da Fox Entreprises, eles não deixam de enviar soldados atrás de mim... Meu recado parece não ter funcionado.

***

Quando voei para longe de Samantha naquele dia eu retornei à floresta, provavelmente porque era o único lugar que eu conhecia e que me trazia algum tipo de paz. Voei por sobre a copa das árvores e encontrei o rio onde eu costumava nadar e pescar. Um pouco acima dele estava a caverna onde eu costumava dormir. Pousei e senti a grama sob os meus pés mais uma vez, mas naquele momento eu não estava bem. Me ajoelhei e só conseguia chorar e gritar. Havia perdido tudo o que construí durante esses meses com Samantha. A dor era mais intensa do que da outra vez em que estive na floresta, pois antes eu não houvera perdido nada, estava apenas confuso... Agora eu havia perdido tudo. Perdi Samantha, perdi meu lar, meu emprego e toda a vida que planejei construir com ela. Fora isso ainda estava sozinho novamente.

Entrei na caverna e ali fiquei encolhido por algum tempo. A noite caiu e eu não dormi. A manhã chegou e eu não comi. Assim fiquei por algum tempo, até me acostumar com a ideia de que havia voltado definitivamente para a floresta. Voltei à estaca zero. Não podia deixar isso acontecer! Não podia viver com medo do que poderia me acontecer. Um feixe de energia percorreu meu corpo nesse momento, me lembrando do meu poder e de que eu não deveria desistir de ter uma vida significativa. Poderia não prejudicar Sam, mas não iria me esconder do mundo. Me lembrei do que a mulher na sala de batalha havia me dito, sobre não ser o momento de buscar a minha vingança e era isso: se não era o momento, eu me prepararia até ser a hora exata.

***

Eu permaneci na floresta por duas semanas. Caminhando, correndo, voando, fazendo qualquer tipo de coisa que me tirasse Sam do pensamento. Impossível. Então decidi que meu tempo ali havia realmente acabado. Não mudaria nada permanecer ali, era hora de me despedir definitivamente daquela floresta.

De lá voei em direção ao sul do país. Conheci alguns lugares interessantes como Portland e São Francisco. Em Portland trabalhei como carpinteiro por algumas semanas e consegui dinheiro suficiente para comprar roupas novas.  Em São Francisco um grupo de soldados da Fox tentou me matar. Me cercaram em uma das ruas, mas eu consegui fugir a tempo. Era incrível como grandes ataques aconteciam e nenhum veículo da mídia denunciava-os. Comecei então a entender o que a mulher quis dizer com “seu problema não é com eles”. Os cientistas não eram nada, os soldados não eram nada. Cada vez mais eu entendia que todo aquele jogo era algo muito maior e que da maneira como eu estava eu não conseguiria.

Voei ainda mais para o sul. Deixei os Estados Unidos. Atravessei o México e toda a América do Sul. Tentaram me matar novamente no Brasil. Dessa vez estava em um campo aberto. Estava realmente quente quando um jipe militar veio em minha direção, acharia que era algo do governo, mas os símbolos e capacetes de raposa não me enganaram. Atacaram com granadas e as armas de sempre. Eu consegui atirar meus raios em cada um deles. Um deles atirou contra a minha perna e acertou, aquilo me feriu profundamente, mas despertou a ira da energia dentro de mim. Liberei uma descarga maior e foi suficiente para explodir o jipe e deixá-los inconscientes. Manquei até um hospital e fui socorrido após uma longa espera. Saí rapidamente, pois tive medo de estar sendo perseguido. Então entendi que além de eles dominarem grande parte da mídia eles também não estavam só nos Estados Unidos ou na América do Norte, eles estavam em outros países. Eles eram como areia movediça, quanto mais eu tentava sair mais fundo entrava na situação.

Naquela noite eu dormi no campo. Olhava para o céu e via as estrelas, continuava a pensar em Samantha e em tudo o que vivemos. Me perguntava onde ela estava, o que estaria fazendo e se ainda pensava em mim. Quando acordei decidi partir. Fui até São Paulo. Depois do ataque eu precisava deixar o país, pensei em ir até a África ou Europa, pareciam ser bons lugares para visitar. Daria prioridade para a África pois haviam lugares mais isolados onde poderia me esconder com facilidade, mas como faria para sair dali? Pensei em voar, mas era algo muito cansativo e não era rápido o suficiente. Levaria pelo menos uma semana para cruzar o oceano voando. O dinheiro que tinha daria para uma passagem apenas.

Após pensar, decidi que iria de qualquer forma, precisava sair dali. O avião decolou após alguns minutos de espera. O voo iria primeiro para a Itália e de lá eu conseguiria ir até o Egito, meu ponto final. Me sentei na janela e podia ver o céu nublado da cidade. Ao meu lado se sentou uma senhora idosa e uma adolescente no corredor. A senhora fechou seus olhos e rezava antes de o avião finalmente alçar voo, já a menina ouvia música com seus fones de ouvido. Eu pensava no que Samantha estaria fazendo naquele momento.

Algumas horas de voo se passaram e lá estava eu ao lado da senhora que parecia ter adormecido e da jovem que continuava a ouvir sua música. Estava entediado, resolvi tentar ouvir o som dos fones da garota. Meus sentidos eram mais aguçados que o normal, talvez eu conseguisse ouvir algo interessante já que eu não tinha celular. Até hoje não sei se o que se segue foi completamente bom ou uma catástrofe para mim, pois ouvi mais do que deveria. Ouvi seu coração pulsando e ele estava acelerado. A princípio achei que fosse medo do voo, mas não parava, ela estava nervosa.

Olhei em sua direção na tentativa de acalmá-la, mas quando ela percebeu que eu a olhava seu coração bateu ainda mais rápido e eu pude vê-la fechar e abrir um aplicativo no celular. Agora eu continuava olhando para ela, mas todos à nossa volta nos olhavam também. Eles haviam me cercado no voo, estavam rastreando meus passos onde quer que fosse. A garota se levantou e eu me levantei em seguida, ao que todos também se levantaram e como num movimento instintivo sacaram armas e as apontaram em minha direção. A senhora ao meu lado agora apontava uma pistola na direção do meu abdome.

Respirei.

Era isso, essa era a minha sorte.

O calor fluiu pelas minhas mãos e abriu um buraco atrás de mim, na lateral do avião, mas antes que eu fosse puxado para fora eu senti uma leve picada na barriga. A senhora ao meu lado havia conseguido acertar o tiro. Fui puxado para fora do avião e agora estava caindo. Meus sentidos estavam confusos, mas podia ver o avião em chamas e algumas daquelas pessoas saltando com seus paraquedas. A imagem começava a embaçar e embaçar até que de repente tudo ficou negro. Eu continuava acordado, mas tudo à minha volta havia se tornado escuridão.

***

                A manhã me levanta e me mostra uma saleta. Era uma saleta de madeira. O chão era de madeira, as paredes também. No centro da sala estava um colchão, alguns lençóis e sobre eles o meu corpo descamisado. No resto da sala havia apenas uma janela com uma cortina fina amarela, uma cadeira e o lustre pendurado e pela porta entrava o cheiro do que parecia ser uma sopa ou guisado.

                Me levantei e ao olhar para minha barriga notei que não havia ferida alguma. Acredito que a senhora havia apenas me injetado um tranquilizante e por isso não houve grande dano, mas jurava que acordaria em um laboratório novamente e não em uma cabana. Antes de ir até a cozinha checar o cheiro olhei pela janela. Levantei a cortina e percebi que estava no meio de uma floresta. “Mais uma floresta, como se em minha vida não bastassem florestas”, pensei comigo. Baixei a cortina e andei em direção à cozinha e sentada à mesa estava ela, a mesma mulher que havia me salvado no laboratório.

                Ela estava usando um suéter negro e os cabelos novamente totalmente jogados para trás e agora os traços do seu rosto pareciam ainda mais finos. Tinha a aparência de um passarinho, mas seu olhar era penetrante como o de uma águia. Ela acabava de tomar um gole da sopa em uma caneca e apenas me observava com os cantos dos olhos. Com um gracioso gesto de suas mãos, pediu que eu tomasse meu lugar à mesa.

                Eu me sentei e ela se levantou. Ainda quieta pegou uma caneca e me serviu uma concha da sopa. Voltou a se sentar na minha frente e me olhava com as mãos cruzadas sobre a mesa. O olhar sério, paciente e um tanto quanto sem vida me fez beber a sopa depressa e queimar a língua. Baixei a caneca.

— Obrigado.

— Sobre?

— Salvar minha vida.

— Qual o seu nome?

— David.

— Dresch?

— Sim.

                Seu olhar me fitava até a alma.

— Quem é você?

— Eu já te disse.

— Não... Me disse seu nome... Quem você é?

— Eu não entendo. — disse após pensar um pouco.

— Eles não lhe contaram... Quem você é...

— Eles quem?

— Você sabe... Eles... Quem fez isso com você...

— Eles fizeram isso com você?

— Não. O que eu faço não tem nada a ver com a Fox.

— Como você consegue fazer... Bem, você sabe... Voar e estar em vários lugares ao mesmo tempo?

— Não vem ao caso ainda. Você é um dos cães.

— Um dos cães?

— Sim, um dos cães é o que você é. Cães é como a Fox se refere aos experimentos.

— Isso responde sua pergunta?

— Uma coisa é seu nome, outra é o que você é e ainda outra é quem você é. David, eu senti você correndo desde o Canadá até São Paulo e ainda há muito que você não sabe, mas eu pretendo te contar. Há muito que eu não sabia também, mas descobri e acredito que sei quem você é. Você gostaria de saber quem você é?

***

Nota do autor: A história continuará na fanfic "1000 Forms of Fear", você pode encontrá-la clicando aqui


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ter lido o capítulo final da história que AINDA não acabou. Ela continua na próxima fanfic que estou escrevendo "1000 Forms of Fear" inspirada pelo CD da Sia. Você pode encontrá-la pelo link: https://fanfiction.com.br/historia/704741/1000_Forms_of_Fear/

Obrigado por ter acompanhado até o fim, espero que tenha gostado e também que goste do que vem pela frente para o David, Samantha e os futuros personagens que serão inseridos na história.

Abração!! E se quiser, deixe um comentário, favorite e indique a história :D