Night Visions escrita por Isaque Arêas


Capítulo 12
Every Night


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi baseado em "Every Night - Imagine Dragons": https://www.youtube.com/watch?v=kuijhOvKyYg



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Estou voltando para casa por você.

Ainda que você não saiba o momento exato em que vou chegar, sei que sabe que só estou voltando para te ver.

Os voos através daquela floresta pareciam sem fim. Quanto mais eu voava mais longe eu me sentia. A noite caiu, mas decidi que não pararia. Se eu não parasse chegaria a casa o quanto antes e veria o rosto de Samantha. Ela deveria estar no sofá e a casa estaria com o cheiro de café do fim da tarde. Ela estaria me esperando e então correria para me ver. Os braços dela agarrariam o meu pescoço e então o nosso beijo seria um misto de prazer e sorrisos. Eu estava ansioso por aquilo, desejava aquilo mais que tudo.

Voava em busca de uma estrada ou coisa parecida. Se eu a encontrasse, saberia onde eu estava. A floresta era composta por pinheiros também, mas era mais gelada, tudo estranhamente era diferente. Parecia mais sombria e distante. Eu sabia que estava longe de casa, algo me dizia isso. Voei durante a noite e encontrei uma estrada cortando um pedaço da floresta. Resolvi pousar e buscar ajuda, mas a estrada estava completamente deserta. Conseguiria um resultado melhor se sobrevoasse a estrada.

Seattle era uma cidade bastante fria, mas a floresta onde eu estava era cercada por montanhas nevadas. Pensei em seguir o caminho oposto a elas então, talvez nem mesmo na América eu estivesse mais, mas precisava de um padrão para seguir, nem que precisasse refazer meu caminho mais à frente. Foi quando me vi entrando em uma pequena área urbana. Preferi pousar ao invés de assustar as pessoas à minha volta.

Entrei em um pequeno posto de gasolina onde havia uma lanchonete aberta. O posto parecia ser um ponto de encontro de motociclistas, pois havia apenas cinco motos do lado de fora e obviamente havia cinco pessoas ali dentro e todas me olharam quando entrei. Em seus rostos eu podia ver as expressões de dúvida e me dei conta da roupa que estava vestindo: A malha resistente do laboratório. De longe ela parecia bastante com uma roupa de surf e uma cidade nevada não parecia um local onde se praticava esse tipo de esporte.

Entrei pela lanchonete um pouco envergonhado com os olhares, mas me sentei ao balcão.

— Com licença, mas pra que lado fica Seattle? — Perguntei ao atendente, um homem careca um pouco gordinho. Tinha um bigode enorme e trajava uma jaqueta marrom, camisa listrada azul e um crachá onde se podia ler Gerald.

— Você quer ir pra Seattle? — ele ficou ainda mais assustado.

— Sim...

— Ah... Bem, é que é um pouco longe e eu não vi você entrar com um carro no posto...

— Não tem problema. Eu vou viajar.

— Ah, tudo bem. Você vai precisar seguir a rota 1 até Vancouver.

— Então... Aqui é o Canadá?

— Sim... Kamloops, Columbia Britânica, Canadá...

— Uau! Pensei que estaria mais longe! — O homem continuava com a expressão de espanto no rosto.

— Garoto, você não parece muito bem, quer um copo de água? — ele disse tentando ser gentil.

— Não, eu preciso ir.

— Tem certeza? As previsões são de uma tempestade de neve para o fim da tarde. Ninguém consegue sair numa dessas...

— Eu já enfrentei piores — disse sorrindo e me levantando.

Atravessei a porta da lanchonete que bateu em seguida. Deveria seguir pela rota 1 até Vancouver e era isso que faria. Andei alguns metros para tentar despistar qualquer um que pudesse me ver e saltei.

***

Sobrevoei a rota 1 e como Gerald havia me dito a tempestade de neve estava começando. A estrada era bastante relaxante apesar da neve. Ao meu lado esquerdo havia um paredão rochoso com pinheiros por todos os lados, ao meu lado direito havia um rio correndo ao meu lado naquela rota montanhosa e eu me senti muito bem e seguro por me lembrar do antigo rio que me fazia companhia na floresta. A tempestade de neve começou a aumentar e eu me vi obrigado a baixar um pouco mais o voo, com isso pude ver melhor um grupo de motociclistas na estrada. Eram os mesmos que estavam no posto de gasolina.

Eu não conseguia vê-los com clareza, a tempestade estava cada vez mais forte, mas podia ouvir o ronco dos motores de suas motos. Foi quando de repente ouvi um som de zumbido e senti minhas costas em chamas; um disparo. Aquele ataque me desestabilizou e eu caí. Rolei pela rodovia e os motociclistas ao perceberem isso deram a volta.

Consegui me levantar, foi quando um deles lançou uma bomba de fumaça. Consegui saltar e me afastar da névoa, mas assim que voei começaram a disparar novamente em minha direção. Eles não me parariam, não agora quando eu já estava livre. Disparei um feixe contra eles, não podia acreditar que a Fox havia mandado soldados para me capturar novamente. Decidi ser mais agressivo. Pousei e lancei as rajadas de energia, elas inclusive me deixavam mais aquecido no meio da tempestade.

Um deles me pegou desprevenido e saltou sobre as minhas costas, passando seu braço pelo meu pescoço tentando me derrubar. Então uma onda de energia, quase que por instinto emanou por todo o meu corpo, jogando-o para longe e fazendo o mesmo com os outros que estavam à volta. Um dos que caíram abriu um bolso em seu colete e lançou algo na minha direção. O objeto explodiu me lançando contra a barricada da estrada.

Com isso percebi que eles não estavam ali para me capturar, estavam ali para me matar. Eu não podia deixar que isso acontecesse. A essa altura a energia dentro de mim sobrecarregava e eu estava furioso por conta do último golpe. Voei para longe da fumaça que a granada havia formado. Olhei para baixo e pude ver meus inimigos e então me lancei na direção deles. Atingi o chão com um soco e grande parte da estrada estremeceu. A energia fez com que pedaços do asfalto quebrassem e levantassem os atingindo e fazendo com que mais uma vez eles se afastassem de mim.

Pude ouvir um deles acionando um rádio, provavelmente pedindo reforços. Disparei contra o rádio em suas mãos e consegui impedi-lo. Algo dentro de mim pedia que desse tudo de mim e que os matasse, mas eu não podia.

— Eu não vou matar vocês! — gritei para eles, eles podiam não entender minha reação, mas eu precisava dizer em voz alta antes que fosse corrompido pelos meus pensamentos.

Depois de meu último golpe dois deles permaneceram inconscientes. Restavam três. Disparei contra um até fazê-lo cair no chão, os outros dois continuavam tentando atirar em mim. Consegui voar na direção de um deles e nos arremessei em direção ao paredão rochoso no outro lado da estrada, um pedaço da rocha se quebrou, mas ele finalmente se encontrava inconsciente. Restava um. Também voei em sua direção, mas decidi levá-lo para o céu. Já não aguentava mais a perseguição, precisava tentar outro método.

Voei com ele pelo que pareciam ser trinta metros de distância da estrada. A tempestade de neve continuava forte. Então ele abriu seu capacete e pude ver seu rosto assustado.

— Não, por favor, não faça isso! — ele gritava.

— Eu poderia — disse quase rugindo — e isso mataria você e acabaria com parte da minha dor.

— Por favor, não me deixa cair! Eu tenho u-um filho, por f-favor!

— Eu não sou uma máquina de matar. Eu não sou uma máquina.

— Por favor, por favor... — disse o homem com lágrimas nos olhos.

Eu desci e o joguei ao chão. Pisei sobre o seu peito com força, ele tossiu, me abaixei para que ele pudesse ouvir com clareza e segurei seu braço.

— Você vai enviar um recado para os seus chefes — apertei sua mão — Você vai dizer que eu morri e que não é para me procurarem.

— E-Eles, eles pediram o seu corpo...

Apertei ainda mais sua mão e o homem gemeu. Quebrei seu braço e o soltei.

— Então diga a eles que vocês não me encontraram... Não me force a quebrar todos os seus ossos.

Saltei para longe. Eu não vi aqueles homens outra vez. As lágrimas escorriam pelos meus olhos e voar estava muito complicado, não só pela tempestade, mas pelo peso que eu sentia. Eles nunca iriam parar de me perseguir, eu sabia disso. Eu nunca estaria em paz novamente, essa era a minha história.

***

Cheguei a Abbotsford no início da manhã. Estava exausto, mas não tinha dinheiro algum para ficar em algum hotel ou pousada por ali. Desci do voo em uma praça da cidade. A praça estava coberta por neve, deitei sobre um dos bancos e a energia correndo pelo meu corpo me manteve aquecido. Demorei a dormir pensando no que havia acontecido... Será que eu estava destinado a ser perseguido para sempre? Quanto mais distante eu parecia estar da Fox e dos problemas causados por eles, mais perto eles estavam. Acordei e não havia pessoas à minha volta, sendo assim segui meu caminho em direção à Seattle, peguei um atalho para a rota 5 que me levaria direto para lá. Agora faltava ainda menos para que eu pudesse ver Samantha, mas começava a pensar se deveria vê-la depois do último ataque.

Aqueles pensamentos sombrios não saíam da minha cabeça. Será que essa era a minha vida de agora em diante? Se era eu não deveria estar arriscando a vida de Samantha assim. E caso não fosse, era um risco muito grande a correr, eu viveria com medo de um ataque e ela nunca poderia ter uma vida normal. Eu precisava pensar no que era melhor para nós dois. Sobrevoei toda a rota com cuidado, passando por Bellingham e Everett. Cheguei à Seattle no crepúsculo. O céu estava pintado em tons de rosa e roxo e as ruas estavam começando a se iluminar. Finalmente estava chegando ao lar.

Andei até a terceira avenida, número 205, o local onde o loft de Samantha estava localizado. Quando cheguei à porta do pequeno prédio me dei conta de que estava de volta. Não podia acreditar que havia vencido tantos desafios e finalmente voltei à minha casa e veria Sam outra vez... Mas ao invés de me lembrar dela, só conseguia pensar no que faríamos... Como seria nosso futuro? Que futuro haveria com Samantha depois de tudo o que eu vinha enfrentando? Percebi o erro que eu havia cometido vindo aqui. Precisava partir rapidamente.

Antes que eu pudesse pensar um pouco mais olhei à minha direita e há apenas alguns metros estava Samantha, pálida e em choque como se estivesse vendo um fantasma. Eu senti minha respiração diminuir e meu coração acelerar. Ela estava bem à minha frente. Ficamos nos encarando por alguns segundos até que ela correu em minha direção. Eu corri na direção dela e ela saltou contra o meu peito. O beijo, que saudades do seu beijo. Minhas mãos tocaram seus cabelos e ela me abraçou forte. As lágrimas escorriam por nossas bochechas e aqueciam o momento. Nossos corações pareciam em chamas. Ela parou de me beijar e continuamos abraçados na rua.

— E-Eu senti tanto a sua falta... — ela disse chorando.

— Eu também senti a sua falta.

— Quanto tempo se passou?

— Faz um mês desde que você desapareceu... Achei que estivesse morto... Eu ainda não acredito que você está bem e que está aqui! Vamos amor, vamos entrar! — disse Sam correndo para a porta da frente e procurando as chaves no bolso do casaco.

Eu continuei parado e olhando para ela. Os cabelos alaranjados, seu casaco verde escuro e seu suéter lilás. Tudo o que eu mais queria era estar ali com ela. Era poder acordar olhando seu rosto todos os dias. Ela finalmente abriu a porta e entrou. Ela percebeu que eu não me movi e saiu do prédio. Ficou parada na porta. Eu olhei para baixo.

— Não. Não faça isso comigo. Não pela terceira vez David! — ela começou a chorar.

— Eu não posso Sam... — eu agora chorava também — eu preciso pensar em...

— Não! Eu já disse que não! Vai ficar tudo bem! — ela veio a mim e me abraçou.

— Você não sabe o quanto eu quero que fique tudo bem... Mas não vai...

— Mas...

— Eles não vão parar Sam. Eles querem me matar. Eu fui perseguido e só de estar aqui eu já estou colocando você e sua casa em risco. Eu não quero te ver com medo e não quero viver com medo de te perder.

— Mas David, isso é uma escolha minha também! Eu quero viver com você, não importa se vamos enfrentar setenta deles todos os dias!

Eu acariciei seu rosto.

— Sim importa... — sussurrei — Você sabe que importa.

Ela respirou fundo.

— E o que você quer fazer? Vai simplesmente me abandonar aqui mais uma vez?

— Eu não te abandonei porque eu quis Sam.

— Mas está fazendo isso agora.

— Eu não quero isso!

— Então não faça! — disse ela se afastando — eu não entendo David! Isso é tudo que sempre quisemos! Estar juntos! Agora estamos, porque não podemos aceitar isso como está?! Não podemos aproveitar essa chance?!

— Sam, eu sei que você está emotiva — ela desdenhou — mas... Já estragaram a minha vida, eu não vou ser responsável por estragar a sua. Eu já me decidi, você não vai conseguir mudar isso, nada vai.

— David...

— Eu sinto muito — disse com dureza.

Ficamos em silêncio. Eu podia ouvir a respiração dela. Ela se sentou na calçada.

— Talvez essa seja a última chance de ficarmos juntos... Você sabe que está jogando isso no lixo, não sabe? — disse ela.

— Sim, eu sei...

— Por que?

— Porque eu te amo...

Voltamos a ficar em silêncio. Ela apoiou a cabeça sob as mãos.

— Não se esqueça de...

— David... Vai embora.

— Sam...

— SAI DAQUI!... Só vai embora.

Eu não podia culpá-la por isso. Estava sendo duro demais com ela, também estava sofrendo, mas imagino que ela tenha se sentido ainda pior do que eu. Não deve ser fácil perder quem você ama por três anos, quando ele reaparece, ficam juntos por quatro meses, novamente ele desaparece e quando volta após um mês, tudo acaba em uma noite. Tudo o que eu queria era dizer para Sam é “estou voltando para casa por você essa noite e todas as outras”, mas não posso fazer isso... Depois de nossa conversa e do pedido de Sam para que eu ficasse longe eu me virei e parti.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ter lido mais um capítulo e bem, esse foi o penúltimo capítulo, isso significa que semana que vem sai o último capítulo da história! õ/ Não vou atrasá-lo, prometo hahaha

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