O aniversário de Harry escrita por magalud


Capítulo 12
Capítulo 12 – Cochichos em família




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Um ronco mais alto de Neville fez Severus perceber que tinha cochilado no quarto com os três meninos. Seu olhar instintivamente se voltou para Harry, e ele ficou surpreso ao ver o menino acordado, sentado na cama, olhando-o. Há quanto tempo estaria ali?

– Harry? – ele indagou, baixinho para não acordar os outros meninos. – Tudo bem?

– Aham. Por que você tá dormindo na cadeira, papai?

– Shhh. Fale baixo para não acordar os outros. – Severus deu de ombros e confessou: – Achei que você poderia ter um sonho ruim. Sabe, depois do que aconteceu.

– Eu tive medo, papai – admitiu o garoto, baixinho. – Era um cachorro grande, e eu me lembrei do cachorro da Tia Marge, que correu atrás de mim e aí eu tive que subir na árvore.

– Deve ter sido horrível.

O menino se encolheu, tristonho:

– Eu também tive medo porque você não tava lá. Nem você nem o Papai Remus. Eu não gosto de ficar longe de vocês.

– Nós também não, Harry. – Severus sentou-se na cama dele e o abraçou. – Mas e o homem, Harry? Ele assustou você?

– Ele me assustou porque ele me roubou. Era um estranho, e eu não devo falar com estranho. Além disso, ele era todo sujo e fedido, que nem as pessoas que a tia Petúnia chamava de vagabundo imprestável. Mas depois ele começou a falar e aí ele não me assustou tanto. Ele não queria me fazer mal. Ele falou um monte de coisas.

– Você tinha dito isso antes.

– Papai, quem era aquele homem? Por que ele queria me roubar? Ele era mesmo um vagabundo? Tia Petúnia diz que vagabundos de rua roubam meninos malvados.

– Você não é um menino malvado, Harry. E aquele homem não era vagabundo. Ele conheceu seus pais, James e Lily Potter.

– Ele disse que conhecia. Disse que eu era o garoto dele quando eu era pequeno. Mas agora eu sou seu garoto, né, Papai? Seu e do Papai Remus.

– Isso mesmo.

– O homem pareceu triste. Acho que ele não tem ninguém, papai. Não tem um garoto dele.

Severus olhou seu filho, imaginando quando ele poderia contar a verdade sobre Sirius Black. Seu próprio padrinho. Traidor daqueles que o amavam, incluindo Harry. Responsável pela morte dos seus pais, de 13 Muggles e de um jovem apagado, Peter Pettigrew. Quando o menino estaria pronto para enfrentar uma traição dessa magnitude? Severus, que nunca tinha ficado feliz ao descobrir o lado negro de Black, só podia imaginar o que se passava na cabeça de um homem que tinha feito tudo aquilo e ainda aguentara todos aqueles anos em Azkaban.

– Não se preocupe com isso, Harry. Aquele homem foi embora e não vai mais voltar. E você não está triste, está?

– Não.

– E está assustado?

– Não, papai. – Harry olhou para ele. – Sabe, eu sei...

– Você sabe alguma coisa?

O garoto deu um sorriso tímido e olhou direto no rosto do pai, confiante e tranquilo:

– Eu sei que você vai sempre me achar, se alguém me levar. Você e Papai Remus.

Severus beijou o topo da cabeça dele:

– Sempre. Agora vamos dormir para amanhã brincar bastante.

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Um raio de sol atingiu-o em cheio, acordando-o sem cerimônia devido ao ineditismo da situação. Raios de sol não chegavam às masmorras, e Severus Snape olhou em volta para se lembrar de que tinha adormecido na Sala Comunal de Gryffindor. Mas ele não se lembrava de ter a companhia de um lobisomem. Um particularmente ansioso, que estava sentado na poltrona oposta ao sofá onde o Mestre de Poções dormia.

– Bom-dia.

Severus sentou-se no sofá, ainda sonolento.

– Parece que todo mundo está fascinando em me ver cochilar.

– Um cochilo é melhor do que passar a noite em claro.

– Estava esperando eu acordar?

– Esperava uma chance de conversarmos, de preferência antes que os garotos acordassem.

Severus o encarou. Sim, talvez fosse bom encerrar o assunto o quanto antes.

– Está bem. Vamos tentar, antes que eles acordem.

Remus parecia cansado, notou Severus. Mais do que isso, estava tão nervoso e exausto que os olhos pareciam opacos e sem vida:

– Na verdade, Severus, não acho que essa conversa vá demorar tanto tempo assim. Tenho algo muito simples a dizer. Eu sinto muito. Desculpe-me, mas eu jamais imaginei que a habilidade de Sirius ainda fosse um segredo. Após quase seis anos, eu achei que a prisão estava farta de saber que estava lidando com um animago. Simplesmente não me ocorreu contar porque eu achava que todos sabiam.

– Isso é fácil para dizer, Remus. Mas há todo o passado.

– Eu sou o primeiro a reconhecer o passado. Eu já fiz isso. Arrependi-me amargamente, pedi desculpas a você. Mas talvez isso ajude você a entender por que, para mim, era tão difícil censurar Sirius, James e Peter. Eles se tornaram animagos por minha causa, Severus. Todos os três. Você sabia disso?

Severus ergueu uma sobrancelha:

– Como assim?

– Eles sabiam que eu passava toda Lua Cheia sozinho naquela cabana, mordendo a mim mesmo sem poder morder ninguém. Então eles acharam que o lobo poderia ser menos agressivo com companhia de outros animais. Então eles se esforçaram. E conseguiram, tudo em segredo, por amizade. Eles eram mais novos que o filho de Molly, Bill. Ainda assim, eles conseguiram ser animagos, todos eles. Pode imaginar o quanto isso mexeu comigo, o quanto me tocou?

Severus ia dar uma resposta automática, mas o fato é que ele não tinha ideia do quanto aquilo podia emocionar uma pessoa. Jamais alguém tinha feito algo daquela magnitude por ele. Os amigos que ele tivera... Bom, ele nem queria pensar naquilo. Lucius Malfoy era apenas um exemplo de seus antigos amigos.

– Não – confessou Severus, em voz suave. – Não faço ideia.

– Sei que muitas vezes fiquei cego de gratidão pelo que eles fizeram por mim – admitiu Remus. – Mas ponha-se no meu lugar. Na época, eu fiquei embevecido. Minha condição não me permitiu construir lá uma grande autoestima. Mas isso foi antes de tudo acontecer. Precisa acreditar em mim, Severus. Nem preciso dizer que eu nem sabia que Sirius podia ser um traidor. Eu jamais facilitaria sua fuga.

Severus fechou os olhos. Ele tinha que tomar uma decisão. Se decidisse acreditar em Remus, como queria, ele teria que fazê-lo completamente, ou não seria capaz de confiar nele. Era tão difícil confiar em alguém, por isso doía tanto.

– Remus – ele disse, em tom grave –, desde que estamos juntos, eu nunca menti a você. Contei-lhe praticamente todos os meus segredos, o que jamais fiz em minha vida com qualquer alma viva.

– Eu sei disso. Por isso eu quero tanto que acredite em mim, Severus. Precisa saber que não traí sua confiança.

Severus continuou, quase como se não o tivesse ouvido:

– Você sabe, por exemplo, que eu domino uma arte mágica chamada Legilimência. Eu posso entrar em sua mente e buscar a resposta que preciso para acreditar em você.

– Sim! Eu deixo que faça isso. Pode penetrar minha mente.

A voz de Severus tornou-se ainda mais grave, e ele baixou a cabeça:

– Se eu fizer isso, certamente obterei a resposta. Mas se eu fizer isso, o que isso revela a nosso respeito? A *meu* respeito? Como seremos daqui por diante, se eu basear minha confiança não no que você me disser, mas no que eu vir que você esconde?

Remus o encarou, os olhos cheios d’água. Ele ergueu-se do sofá no Salão Comunal de Gryffindor e sentou-se ao lado de Severus. O mestre de Poções esticou a mão. Remus a pegou entre as suas.

– Eu sei – disse Severus baixinho – que você jamais fará ou deixará fazerem alguma coisa que remotamente possa machucar Harry. Você o ama com uma dedicação iniludível, e isso me diz muito sobre essa situação toda, sobre nós.

– Severus, eu sei que Sirius não é mais meu antigo colega de escola. Depois do que ele fez a Peter, a Lily e James, ele é outra pessoa. Talvez ele tenha enlouquecido em Azkaban e felizmente ele deve ter raptado Harry numa fase não-violenta. Eu não sei o que pensar. Só o que eu sei é que todos os meus amigos de escola estão mortos, e ele é o culpado por isso. O Sirius que eu amava morreu. Ou melhor, foi morto por Voldemort, seduzido por alguma promessa de fama ou glória. Chorei a morte de nossa amizade, e isso foi mais dolorido do que se ele tivesse morrido fisicamente.

– E se ele voltar...

– Eu o entregarei aos Dementadores pessoalmente. O velho Sirius Black está morto, Severus. Eu chorei a morte de meu amigo há seis anos e não vou deixar esse novo Sirius chegar perto de Harry. Ou de nós.

– Harry me perguntou quem é Moony.

– Oh, Merlin. Pensei que nunca mais alguém me chamaria de Moony de novo.

– Você prefere ser chamado assim?

– Não. – Remus sorriu para ele. – Papai Remus é o meu nome preferido.

Severus devolveu o sorriso, e Remus se aninhou junto a ele. Os dois se recostaram no sofá e ficaram juntos, abraçados, acariciando-se suavemente.

– Acha que devemos acordar os meninos?

A sugestão de Remus não entusiasmou Severus:

– Deixe que durmam um pouco mais. Daqui a pouco eles vão descer as escadas correndo, Harry chamando por todos nós.

– Certo, que durmam, então. – Remus beijou as mãos de Severus. – Então estamos bem agora?

– Estamos bem. Somos uma família. Não tem nenhum maldito cachorro ou animago capaz de mudar isso. – Olhou para seu marido. – Certo?

Remus sorriu, os olhos dançando:

– Certo, meu amor.

Eles se beijaram e se aninharam ainda mais próximos, calados. O silêncio parecia agir como um bálsamo sobre as suas angústias e tensões, reparador e calmante.

No alto da escada, olhando por entre os vãos do corrimão, três pares de olhinhos curiosos – verdes, azuis e castanhos – observavam a cena de longe, escondidos. De repente, Neville cochichou:

– Não deveríamos avisar que já acordamos?

– Só mais um pouco – pediu Harry. – Eles têm que fazer as pazes e depois namorar.

– Mas eles já se beijaram – observou Ron, também cochichando. – É assim que eles fazem as pazes. Não estão mais brigando.

– Não? Então eu não vou perder meus pais?

– Não. Por que você achou isso?

– Porque eles podiam brigar tanto que não quisessem ser mais meus pais. Aí eu não ia ter mais família.

Ron franziu o cenho:

– Não, famílias não são assim. Olhe, lá em casa, sempre tem gente brigando um com os outros, mas a gente não perde ninguém. Família é para sempre, Harry.

– Desculpe. Eu sou bobo. Mas é que faz pouco tempo que eu tenho papais. Antes eu não tinha ninguém.

– Pode ficar tranquilo – garantiu Ron. – Eu tenho os meus pais há muito tempo, e eles não desistem assim tão fácil. Agora eles já fizeram as pazes.

– Tá. Mas vamos voltar para brincar no quarto e deixar eles fazerem as pazes mais um pouco. Só para garantir.

Neville achou aquilo bem lógico:

– Tem razão, Harry. Melhor não arriscar.

Pé ante pé, com cuidado para não fazer barulho nenhum, os três garotos voltaram para o dormitório, para garantir que a família de Harry não seria desfeita com a briga devido ao homem-cachorro. Afinal, família era uma coisa que tinha que durar bastante. Isso só era possível se as brigas fossem todas bem resolvidas.

Harry teria algumas outras brigas para resolver adiante, mas no momento, ele devia crescer um pouco mais, cercado de amor, construindo uma confiança que seria crucial para as batalhas que o aguardariam dali a alguns anos. A família daria todo esse apoio, com certeza.

The End


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