O Belo e a Fela escrita por Silver Lady


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo 3

Belo não teve muito trabalho para achar seu irmão. Na verdade, foi este que o encontrou. Logo que entrou no castelo, o garoto de azul ouviu uma gritaria e um barulhão como se estivessem mudando os móveis, vindo de um corredor. Curioso, dirigiu-se até a entrada quando literalmente deu de cara com Moriço, Horloginho e Casquiére, que fugiam a toda pressa. Foi uma trombada daquelas!

_AAAAAAAHHHHHH!!!!!!!! _gritaram todos.

Levou um tempo até que se recuperassem do choque.

_Nossa, que batida!

_Ai... acho que eu teria sofrido menos se tivesse ficado lá fora com os lobos... _Franjinha se sentou em alguma coisa macia, depois percebeu o que era _B-Belo? Que está fazendo aqui?

_Eu é que te pelgunto! Sai de cima de mim!

_Ah, é... Eu fui perseguido por lobos, e vim me esconder aqui, no castelo de uma Fera horrível.

_Fela? _ o irmão dele olhou em torno, assustado _É por isso que estava fugindo? Ela quelia comer você?

_Tá louco? _ se meteu Casquiére _ A minha patroa ficaria com dor de barriga. Só que... ela ficou uma fera mesmo porque seu amigo aí tentou vender pra ela um aparelho de dentes.

_Mas ela está precisando!

_Nem todo mundo quer o que precisa, ô sabidão.

_Mas onde está essa telível Fela, afinal?

_Ué... é mesmo, sumiu... _ disse Horloginho_Acho que ela ficou envergonhada quando viu você. A ama não gosta muito de ser vista por estranhos... bem, vocês entendem._ explicou bondosamente.

Os dois irmãos poderiam muito bem Ter aproveitado a ocasião pra fugir – mas aí, é claro, acabava a história. Assim, foram procurar aquela fera que tinha medo de estranhos, junto com Horloginho e Casquiére. Foi o castiçal que achou o rabinho peludo por baixo de uma cortina. Bastou uma chamuscadinha de leve e...

_UAAAAAIIIIIII! _ a Fera pulou pra fora das cortinas _Quem foi que me queimou?

_Nossa! _disse o Cebola _Palece o meu cacholo Floquinho!

Esquecendo a raiva por causa da queimadura, Fera se virou e escondeu o rosto nas patinhas:

_Por favor, não olhe pra mim!_implorou com voz de choro.

Mesmo não sendo um garoto dos mais sensíveis, Belo se sentiu mal com a reação da menina.

_Ei... _tocou de leve no ombro dela _também não plecisa ficar assim. Desculpa, eu estava blincando. Você não palece com o Floquinho não. (ele é muito mais fofinho, acrescentou em pensamento)

Encorajada, a ex-princesa olhou pra ele:

_Você... não está assustado com a minha aparência?

_Clalo que não! Os dentões da Lifua são muito mais feios.

Pra quê. A Fera imediatamente deixou de parecer uma menina envergonhada e avançou pra ele de coelhinho em punho:

_Ora, seu... vou lhe mostrar quem tem dentões!


_Agola estou com medo! _o garotou se encolheu. Felizmente, Casquiére teve uma idéia e deu um puxão no vestido da patroa:


_Ei, alteza, espera um pouco.

Chamou-a bem pra perto, e ficaram cochichando_ junto com Horloginho, que se meteu junto pra escutar:

_Bzzz....bzzz... e você só... bzzz...


A Fera ainda estava em dúvida:


_Mas será que isso é direito?

_Eu não acho! _ disse Horloginho.

_E acha direito ficarmos assim para sempre? _ retrucou o castiçal.

_Claro que não, mas...

_Parem de discutir. Já decidi. _Fera dirigiu-se para os dois garotos, que já iam procurando a saída:


_Bom, eu não vou bater em vocês, apesar de terem me insultado...

_Que bom, então tchau.

_É, a gente se vê...

_Mas tem uma condição: um de vocês fica aqui pra brincar comigo!

_O QUÊ?!

_É pegar ou largar.

_Tudo bem... eu fico.

 _BELO! 

_É tliste, mas alguém tem de fazer o saclifício. É melhor que seja eu.

Franjinha puxou o irmão para perto:

_Você quer mesmo ficar aqui com esta... fera?

_ A Gastoninha tá uma fela comigo. Qual é a difelença? E depois, com o meu chalme e a minha lábia, não vou ficar pleso aqui muito tempo.

Aquele papo de "Belo" tinha subido à cabeça dele, pensou o inventor. Como não havia outro jeito, aceitaram o trato, e a Fera conduziu os dois até uma carruagem com pernas, que levaria Franjinha de volta à aldeia. O garoto nem ficou muito triste com a despedida, pois estava fascinado com o veículo, e já tinha idéia pra mais umas invenções. Ia chamá-la de... automóvel!

O Belo e a Fera ficaram olhando a caranguejola... digo, a carruagem sumir na poeira.

_Bom, e o que a gente vai fazer agola?

_Vou te mostrar o seu quarto.

Fera conduziu seu hóspede por corredores escuros.

_Nossa! Pelo jeito o apagão já chegou aqui._ comentava ele, olhando como podia os corredores cheios de gárgulas e armaduras.

Na mão da Fera, o candelabro ia cochichando dicas:

_Você tem que fazer amizade com ele.

_Como? _subitamente a Fera sentia-se muito tímida.

_Convide-o pra brincar.

_Brincar de quê?

_Ai, pelamordedeus! Será que eu tenho que pensar em tudo? Use a imaginação!

Fera decidiu esperar até chegassem ao quarto de Belo. Um quarto claro, cheio de brinquedos, e muito maior do que o que ele tinha lá na aldeia, então não admira que o menino tenha ficado entusiasmado.

_Eu... hã... eu estava pensando...

_Sim? _ Belo nem olhou pra ela.

_Se você não gostaria de brincar de casinha comigo.

Casquiére deu um tapa na cabeça. Isso era usar a imaginação?

_O QUÊ?! Você deve estar blincando!

_Não estou brincando, eu quero brincar com você.

_Não pode ser de bolinha de gude, bafo, futebol, esconde-esconde?

_Não. Estou com vontade de brincar de casinha.

_Pois então fica com vontade! Se nem a Gastoninha conseguiu me fazer de casinha com ela, não é uma Felinha de meia-tigela que nem você que vai! _ e bateu a porta na cara dela.

_ORA SEU!_ Fera preparou-se para quebrar a porta, mas Horloginho e Madame Samogali, que também viera atraída pelo barulho, se postaram na frente.

_Alteza, nunca vai conseguir a amizade desse menino assim._ avisou a chaleira.

_Vocês ouviram o que ele disse de mim! Me chamou de ferazinha de meia-tigela!

_É verdade.Mas retribuir a má-educação dele com mais má-educação...

_Não enrola, Horloginho!_reclamou Casquiére_O que ele quer dizer é que não vai conseguir fazer o moleque brincar de casinha com você quebrando a cara dele.

_Tá bom... eu vou tentar._ bateu suavemente na porta _B-Belo? É... o seu nome não é?

_O que você quer.

_Por favor... eu peço desculpas.

_Mais alto, por favor.

_Grrrrrrrrr!!!!!!_ Fera contou até dez _Por favor, me desculpe. Eu não quis ser malcriada com você.

Ouviu-se uma risadinha abafada lá dentro. Depois do que pareceu um mês para os de fora, veio a resposta:

_Tá bom. Eu aceito as suas desculpas.

Todos soltaram o ar, aliviados.

_Agora vai brincar comigo?

_Nem molto, sua fela golducha e dentuça!

Instantes depois, a Fera se retirava furiosa e bastante sentida para o quarto, depois de deixar uma porta quebrada e um Belo desmaiado e cheio de galos.

_Bom, ele mereceu.

_É, mas isso não vai nos ajudar em nada.

_Espere..._ fez a chaleira _Tive uma idéia!

Passaram-se as horas, Belo ficou com fome e resolveu arriscar um pulinho até a cozinha. O pulinho quase se tornou um pesadelo, pois sem saber onde a cozinha ficava, ele se perdeu por algum tempo naqueles corredores escuros e parecidíssimos uns com os outros. Felizmente, começou a sentir um cheiro delicioso . Guiado pelo aroma, finalmente chegou até a sala de jantar.

A mesa estava posta, com frango assado, pizza, pastel e tudo o que havia de bom. Os olhos de Belo brilharam.

_Uau! Nossa, nem no meu anivelsálio eu nunca vi tanta comida junta!

_Nem eu... _ fez Dip, visivelmente se sentindo mal _ Já estou até enjoado.

Como Madame Samogali conseguiu se conter (à custa de um esforço danado), Belo comeu até a barriga fazer bico, e adorou os números de mágica e malabarismos apresentados pela criadagem.

_O que gostei mais foi daquele número dos pudins que desapaleciam!

_Número? Não tinha nenhum pudim desaparecendo... _ Casquiére e Horloginho olharam feio para a Samogali. A chaleirinha procurou mudar de assunto:

_Belo, a gente queria um favorzinho de você.

_Clalo! Manda ver.

_A gente precisa que você vá no quarto da patroa pedir desculpas por ter chamado ela de gorducha.

_O quê?_ o camponesinho até se engasgou. Horloginho deu-lhe uns tapas nas costas e ele retrucou, indignado:

_Nem vem! Ela quelia me obligar a blincar de casinha! E ainda me bateu com aquele coelho encaldido!

_Ai, que pena... _ fez Madame Samogali _Ainda tinha sorvete de sobremesa. Mas parece que vou ter que comer tudo sozinha...

_Solvete? Humm, hã... eu... onde é o qualto dela?

Muito de má vontade, foi conduzido pelo castiçal e pelo relógio até o quarto da Fera.

O lugar era uma bagunça só, tudo revirado de ponta cabeça, roupas e brinquedos jogados pelos cantos. Belo até se sentiu em casa:

_Nossa. Palece o meu qualto... só faltam os gibis.

No fundo do quarto, perto da sacada, havia um cacto luminoso, protegido por uma redoma. Como se precisasse. Mas do lado da mesa estava o já famoso coelho de pelúcia azul. Belo olhou em torno, depois deu uma risadinha. Apanhou o coelho e começou a dar um nó nas orelhas do brinquedo. Nisso, uma sombra caiu sobre ele.

_Ei!

Belo se voltou assustado. A Fera estava olhando pra ele, da sacada:

_O que está fazendo aq... MEU COELHINHO!!

_Ops!

Com o grito da patroa, os dois objetos lá fora só tiveram tempo de se abaixar, antes que a porta viesse abaixo e Belo saísse por ela feito um foguete e com um enorme olho roxo.

_Essa não...

_Agora o "Belo" já não está mais tão belo. _ debochou o castiçal.

Furioso da vida, o garoto correu para fora, onde Filipo o esperava:

_Pla mim chega! Vou embola deste lugar maluco! _montou e saiu galopando. Mas a sua liberdade não durou muito, porque mal chegou na entrada da floresta, deu de cara com o mesmo grupo de lobos que havia perseguido Franjinha.

_Vejam, pessoal! Perdemos um, mas achamos outro mais gordinho!

_Oba! Hoje vamos ter bife de cavalo acebolado pro jantar!

_Eu sou lobo mau, lobo mau... eu pego as criancinhas pra fazer mingau...

Os dois fugitivos deram meia volta e dispararam com a alcatéia atrás.

_Hahaha! Quelo só ver se me alcançam!

Pra que foi falar... nesse exato momento, Filipo tropeçou num tronco de árvore que apareceu bem na frente dele. Belo foi cuspido da sela e caiu de cara na neve. A peruca voou de sua cabeça. O garoto encolheu-se e cobriu o rosto com as mãos:

_Estou peldido! Adeus, mundo cluel!

_IIIÁÁÁÁÁ\'!!!!_ A Fera saltou por cima dele, brandindo seu coelhinho. Só se viu uma fumaça e depois os lobos debandavam, ganindo.

Belo apanhou a peruca agora um tanto descabelada e ajeitou-a na cabeça.

_Ufa! Foi por um tliz. Vamos embola antes que ela acolde.

_Huunf! _ o cavalo cruzou os... braços e virou o focinho.

_Por que não?

_Riinch! _ Filipo apontou com o casco para a Fera, que jazia toda machucada no chão.

_Tá maluco? Se eu a levar de volta, vou ter de blincar de casinha plo lesto da vida! _ ele pensou um pouco _Mas também... se não fosse por ela, selíamos bife de cavalo acebolado, agola. Acho que você tem lazão.

Assim, Belo colocou a Fera na sela com ele (com muito custo, porque ela era pesada) e levou-a de volta ao castelo.

_Solte sua que eu estou acostumado a fazer culativos no Moliço. _ resmungou mais tarde, _Pála de se mexer! Se você não tivesse me dado aquela coelhada, eu não telia fugido!

_Se você não tivesse dado um nó no meu coelhinho, eu não teria batido em você!

_Dá pla mudar de assunto?


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