O Belo e a Fela escrita por Silver Lady
Capítulo 2
Belo tinha razão. Pois, mal Moriço entrou na floresta , dois minutos depois já estava perdido.
_Eu não entendo._olhava muito desconsolado seu super-mapa _ Com o meu supermapa indicador já deveríamos ter chegado... Ah, já sei o que deu errado. Esqueci de botar pilha nele.
Filipo deu um bufo, como quem diz “haja paciência”. Mas o cavalo descobriu logo em seguida que aquele era o menor dos seus problemas, pois alguns pares de olhos brilhantes os espiavam por trás das árvores. Que só poderiam ser de...
_Veja, pessoal! Carne na mesa! _gritou o lobo que parecia ser o chefe. Um dos lobos, que vinha atrás de garfo e faca na mão, cantarolou:
_Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau...
_Não se preocupe, Filipo! O meu repelente de feras vai cuidar disso!
Mas Filipo, que não era bobo, já havia partido. E apesar de ser um ato covarde, foi até bom que o fizesse, porque o spray que Franjinha passou nos lobos não obteve o efeito desejado.
_Cof! Cof! O que é isso?
_Sei lá. Mas agora fiquei com mais fome do que antes.
_Nham, nham...
_Eu pego as criancinhas pra fazer mingau...
Fome? Não podia ser! Moriço olhou o spray e constatou uma terrível verdade:
_Oh, não! Usei o abridor de apetite por engano! FILIIIIPOOOOO!!!! Espere por miiiiimmm!!!
Por azar (ou, talvez, sorte), o distraído inventor não olhou para onde ia, e quando se deu conta estava descendo lomba abaixo. BBBAAAAAAAAAAANNNNNNGGGGG!!!! Bateu com a cara num imenso portão de metal. Felizmente, se recobrou rápido da pancada e estendeu a mão para abri-lo, torcendo para que não estivesse trancado. Mas nem precisou tentar, porque uma mordida em sua retaguarda o fez voar por cima do portão.
_Idiota! _ berrou o lobo chefe _ Olha o que você fez!
_Não pude evitar, eu estou com muita fome...
Enquanto os lobos brigavam, começou a chover de repente. Os lobos desistiram e foram embora, enquanto Maurice corria para se abrigar no lugar mais próximo, que, por acaso, era um certo castelo encantado.
Aparentemente, lá dentro não havia ninguém. A única luz era a de um castiçal, numa mesinha perto da porta. Ele quis pegar o castiçal, mas este recuou:
_Aaargh! Não se aproxime de mim! Você está todo molhado!
_Um castiçal que fala?
_Claro! Você queria que eu relinchasse?
_Não seja grosseiro. _ censurou um relógio que estava perto deles.
_Oba! E um relógio que fala também!_ Moriço tentou agarrar o relógio, que fugiu, batendo suas asinhas de madeira _Ei, volte aqui! Eu não vou lhe fazer mal. Só quero _nche_ta-lo pra ver como funcionaaaa... aaa... ATCHIIIMMM! _ seu espirro fez o relógio bater contra parede.
_Sniff... droga... acho que peguei um resfriado.
_Ei, psit. _ fez o castiçal. _Que tal, se em vez de desmontar meu amigo, eu te levo para um lugar quentinho junto do fogo?
_Boa idéia! _ Horloginho aprovou depressa, já empurrando o Franjinha na direção da sala. Casquiére até estranhou:
_Ué? No filme original o relógio tentava impedir a todo custo o inventor de ficar no castelo.
_O relógio do filme não era um anjinho.
A sala, apesar de escura, era agradável. Franjinha foi recebido por um amável banquinho azul que pulou em seu colo e olambeu, e logo em seguida apareceu um carrinho de chá, com um bule e uma xícara muito simpáticos.
_Como vai? Meu nome é Madame Samogali, e este é o meu amiguinho Dip. Aceita um lanchinho?
_Oba! _ Moriço levantou o lenço que cobria o prato no carrinho, só para constatar que estava vazio.
_Ué?
_Achei melhor provar a comida pra ver se estava boa... _ sorriu a chaleira, passando a língua pelos lábios.
_Comida... blargh! _ a _nche_ta fez uma careta de nojo.
Nesse momento, a porta da sala se abriu. Entrou uma rajada de vento que apagou a lareira. A sala toda ficou no escuro. Moriço e os objetos se encolheram de susto.
Um vulto assustador entrou de quatro escada abaixo, só se podia perceber que ele tinha chifres, uma juba peluda e dois olhos brilhantes e furiosos.
_Grrrr.... Grrrrrrrrrr...
Franjiha tremeu todo encolhido atrás da cadeira. Então a criatura falou:
_Se eu pego quem deixou essas bolinhas de gude espalhadas e apagou a luz... _ perguntou, numa voz de menina, enquanto se levantava.
_Hihihi.... _ fez o inventor. A risada atraiu a atenção da Fera (com essa descrição, não podia ser outra pessoa, né?):
_Quem está aí?
_Glup!
****
Enquanto isso na aldeia...
Belo estava, naturalmente, lendo em sua casa, quando bateram na porta. Era a Gastoninha, linda como sempre, apesar do véu e do espalhafatoso vestido branco, tão enfeitados de rendas, flores e fitinhas que ela mais parecia um bolo:
_Oláá, Belinho!
_Olá, Gastoninha. Por que está vestida de noiva? A época de festas juninas já passou.
_Engraçadinho! Vim te convidar pro meu casamento.
_Legal. _ Belo folheou uns gibis com indiferença _E quem vai ser a vítim..., isso é, o noivo?
_Você.
_EEEUU?! _ ele ficou pálido de horror. Sem perder mais tempo, Gastônia estendeu-lhe um terno vermelho meio brega:
_Vista isto rápido. O pessoal já está esperando lá fora.
Belo sempre achara Gastoninha maluca, mas a ponto de arrumar seu casamento com ele e convidar todo mundo, sem _nche_ta-lo primeiro... O garoto recuou.
_E- espele aí... você não vai queler casar comigo...
_Claro que vou! _ela avançou na direção dele, os lábios vermelhos de batom fazendo “mmm, mmm, mmm” num apavorante movimento de desentumpidor de pia.
_Estou falando sélio. Você é bonitinha, mas não é o meu tipo! Olha, e eu nem sou tão bonito assim, ó tá vendo? _ele tirou a peruca, mostrando seus cinco fios de cabelos espetados _Eu sou quase caleca, só tenho cinco fios...
_RIIIINCHH! _ um cavalo chamou lá fora.
_Filipo?! _ esquecendo o apuro em que estava, Belo abriu a porta pra olhar, bem na hora que Gastoninha se precipitava sobre ele para _nche-lo de beijinhos. A noiva rolou e foi cair numa poça de lama, pagando o maior mico na frente do padre e dos convidados. Mas Belo nem chegou a rir, porque estava surpreso demais com a chegada do cavalo:
_Filipo, o que você está fazendo aqui?_ ele correu para fora _Cadê o Flanjinha?
_Riiinch! _ o cavalo, é claro, não podia falar, mas apontou com a pata na direção da floresta.
_Puxa, ele deve ter se peldido de novo.
_Oops!
Ele mal teve tempo de subir em cima do cavalo e fugir, porque Gastoninha vinha atrás furiosa, tão enlameada que parecia um monstro de filme trash:
_Seu miserável! Eu vou te pegar! Volte aqui!
_Bligadão, Filipo! Você me tilou de uma flia! Agola, vamos plocular o Flanjinha.
Custaram, mas conseguiram achar o rastro de Moriço e das pegadas dos lobos, e acabaram chegando ao castelo da Fera.
_Nossa, que lugar holível. Palece o castelo do Dlácula! _ele sorriu amarelo _ Bom, não acho que o Flanjinha esteja aqui. Vamos plocular em outlo lugar...
Mas o cavalo segurou a roupa dele com os dentes, chamando a atenção para um objeto do outro lado do portão.
_O chapéu do Flanjinha! Dloga! Digo, então ele entlou mesmo aí... _suspirando, Belo conduziu Filipo para dentro.
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