O Belo e a Fela escrita por Silver Lady


Capítulo 1
Capítulo 1




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Elenco:

Mônica: Princesa/Fera

Cebolinha: Belo

Cascão: Casquiére

Anjinho: Horloginho

Magali: Madame Samogali

Dudu: Dip

Cascuda: Espanadora

Franjinha: Franjinha Moriço

Chico Bento, Rosinha, Louco, Do Contra e Nimbus: Aldeões

O Belo e a "Fela"

Capítulo 1

Uma vez há muito tempo atrás, vivia uma bel...hã, charmosa princesinha no seu lindo castelo. Ela tinha tudo o que queria, mas seu temperamento era terrível, e assustava os criados. É verdade que estes nem sempre a tratavam com o respeito devido a uma princesa, especialmente o malandro Casquiére. Como certo dia, que ela o apanhou falando pelas costas:

_Então, você acha que eu sou gorducha, não é?

_Imagine. Eu só quis dizer que Sua Alteza deveria ir a um spa... 

_Já vou lhe mostrar quem precisa de spa! _ e saiu correndo atrás dele, empunhando seu coelhinho de pelúcia. Por azar, naquele mesmo dia uma idosa florista veio ao castelo. Mal a simpática velhinha havia se aproximado da porta, quando esta se abriu violentamente e Casquiére saiu correndo, seguido por um grito de “VOLTE AQUI!”   

Quase atropelada pelo garoto, a velha só teve tempo de olhá-lo, aturdida, e não viu o coelho que voava na direção deles. BONC! Voaram estrelas para todos os lados.

 Vendo o desastre, a princesinha imediatamente se arrependeu e foi correndo ajudar a velha a se levantar:


_Desculpe, vovó, foi sem querer. A senhora está bem?

Mas a velha estava furiosa demais para perdoar a coelhada. Ela assumiu sua verdadeira aparência, a de uma linda fada, e bateu sua vara de condão na cabeça da princesa com toda a força, transformando-a numa ferazinha peluda e feia:  

_Isso também é por me chamar de vovó!  

A Fada também encantou o castelo, que ganhou um aspecto sombrio, e transformou os criados em objetos falantes. Depois, deu à princesa, digo, à Fera um cacto mágico, cujos espinhos cairiam durante dois meses. Durante esse tempo, ela teria que fazer alguém gostar dela com aquela aparência, até o último espinho cair. Senão...  

_Vou ficar ferinha pra sempre. _ choramingou a princesinha no escuro, olhando o cacto _ Quem vai gostar de mim com essa cara?

E seu choro foi abafado por um trovão, anunciando a chuva que caía pra aumentar o clima depressivo. 

Mas a princesa estava sendo demasiado pessimista. Não muito longe dali, havia uma bonita aldeia francesa, com gentis e cordiais habitantes que todos os dias se cumprimentavam alegremente:


_Bonjour! Bom dia! Bonjour!

Todos ali eram felizes, menos um menino, chamado (com grande exagero) de Belo.

_Que tédio._ resmungava ele, atravessando a praça _Todo dia é a mesma coisa. Bonjour pla lá, bom dia pla cá...  Quelia tanto que acontecesse alguma coisa difelente.

 Um garoto, Nimbus, veio caminhando na direção dele. Como sempre, vinha todo assustado e de olho no céu, mesmo num dia tão bonito.

 _Olá, Belo. Parece que...  

_Vai chover. Eu sei. _ bocejou o outro garoto. Nimbus sempre dizia a mesma coisa, mas não se dava conta disso. Tanto que fitou o amigo, muito espantado:  

_Como sabe o que eu ia dizer? 

Belo deu um sorriso malicioso: 

_Se ficar palado embaixo dessa janela, vai chover mesmo.

 _Como ass... aaahhh!! _ mal o garoto perguntou, jogaram água de uma bacia pela janela acima bem na sua cabeça, como sempre jogavam ali, todas as manhãs. Molhado e boquiaberto, Nimbus ficou olhando o amiguinho ir embora, achando que Belo fosse vidente: 

_Ele é um espanto! 

_É muito isquisito, isso sim. _ contestou Chico, outro garoto. Outros aldeões, que acompanhavam a cena, até mesmo o Louco, concordaram. Só Do Contra achava Belo normal – mas, claro, ele sempre dizia o contrário do que todo mundo falava, e por isso ninguém o levava a sério.  

Mas, o que havia de tão estranho com Belo? Bom, várias coisas. Além de falar “elado”, ele tinha um irmão considerado meio maluco, o Franjinha Moriço, que passava o tempo todo trabalhando nas suas invenções. Como eles não estavam na miséria era coisa de se estranhar. Mas isso eram apenas detalhes, a “excentricidade” maior, para o povo da aldeia, era outra.   

Para Belo, o único lugar interessante na aldeia era a livraria... bom, oficialmente ainda era uma livraria. Como ninguém mais na aldeia gostava de ler, o livreiro tivera que _nche_ta_a-la em lojinha alternativa, vendendo artesanato e comida pronta.  Acontece que o Moriço melhorara o negócio do homem com suas únicas invenções de sucesso, a pizza e o sanduíche de chouriço (ele também tentara inventar a comida congelada, mas não dera certo porque ninguém queria comprar o forno de microondas para descongelar depois). Agradecido,  o livreiro deixava Belo folhear à vontade e dava um desconto especial. Por isso mesmo, depois de cumprimentar seu “Piele”, o garoto nem olhou para os livros e foi direto na caixa dos saldos:

 _Meus gibis do Plíncipe Valentão! A plimeila fase já está quase completa, só plecisava deste númelo! _ abraçou a revista meio mofada com carinho e contou o dinheiro que havia trazido. Infelizmente, faltava uma moeda no troco.

_Deixa assim, Belo._ disse o livreiro _Só você se interessa por essas revistas, está me fazendo até um favor me livrando delas.

E assim, o garoto saiu radiante, lendo enquanto caminhava, completamente surdo aos cochichos da população (naturalmente, havia se juntando um “bolo” na janela pra acompanhar a cena com detalhes, e depois _nche_t-la bem ao passar adiante).  Se ninguém mais ali gostava de ler, quadrinhos, então, Deus me livre! Era coisa de quem não tinha o que fazer, botava minhoca na cabeça das pessoas. Mas Belo não estava nem aí, e continuou seu caminho – incrivelmente, sem bater em nada ou esbarrar em ninguém. Subiu uma rampa, passou por cima de uma carroça que estava sendo carregada, depois sobre as costas do cavalo, pulou sobre um barril para o chão, desviou-se de uma porta que abria e de outra bacia que jogava água pela janela (era costume, antes do advento dos encanamentos, e dava margem pra muitas piadas) escapou por pouco de ser atropelado por outra carroça e continuou, sem nunca tirar os olhos do livro. É, talvez os aldeões não estivessem exagerando... 

Porém, mesmo com essa fama toda, o garoto ainda tinha quem o admirasse.

_Ai, ai, ele é tão fofinho..._ suspirava Gastônia, ajeitando os cabelos negros de seu rabo de cavalo, ao ver o seu amado passar de longe.

 _Não entendo, Gastoninha._observou sua amiga, a dentuça Lifua _ Você é a menina mais linda da aldeia. Por que perde tempo suspirando esse matusquela?


_Porque ele também é o garoto mais lindo da cidade._ela suspirou, com ar sonhador _E eu só mereço o mais lindo.  

“Merece também um par de óculos” pensou Lifua, observando um grupo de garotos muito mais bonitos que “Belo”, que fitavam sua amiga, apaixonados.   

Mas os olhos azuis de Gastoninha só enxergavam o único garoto que não estava interessado nela. Aproximou-se dele, toda melosa. Belo, é claro, continuava lendo.  

_Oláá, Belinho!

_Oi, Gastoninha. _ o garoto, distraído, nem olhou pra ela. Para a menina mais bonita da cidade, aquilo era um crime.


_Como pode achar esses gibis mais interessantes do que eu?! _ indignada, ela arrancou a revista de suas mãos e jogou-a no meio dos peixes da uma carroça de um pescador que ia passando.  

_Minha levista! _horrorizado, Belo saiu correndo atrás da carroça, sob o olhar de reprovação da garota. Voltou cheirando a peixe e limpando a revista, muito zangado:  

_Plecisava fazer isso, plecisava?

_Fiz pro seu bem! Ler quadrinhos faz mal à cabeça e dá preguiça de pensar! 

_Nossa... então você deve ler muito! _ Belo e até Lifua riram. Gastoninha, cujo gênio não devia nada ao de uma certa princesa enfeitiçada, deu um cascudo na cabeça de cada um.

_Está vendo como eu tenho razão? Se não fosse por essas revistinhas, você não diria tanta besteira. _ ela disse, num tom mais suave, puxando o garoto para si... e afastando-o em seguida com uma cara de nojo _O que você precisa agora é tomar um banhinho pra tirar esse cheiro de peixe e vir comigo tomar um chazinho de boneca... _ e saiu arrastando o garoto pelo braço.

Fosse pela terrível persectiva de Gastoninha dar banho nele ou do chá de bonecas, Belo ganhou forças pra se livrar.

_Eu... adolalia, mas pleciso ir ver se o meu irmão não plecisa de ajuda. 

_O Franjinha Moriço? _ debochou Lifua _Aquele maluco que faz umas invenções que nunca funcionam?

_Isso É MENTILA! _ Belo estacou na rua, furioso, e voltou até as duas meninas que começaram a caçoar dos antigos fracassos do loiro:

 _Lembra da carroça que andava sozinha, e que destruiu o poço da aldeia? Ou do tal apanhador de galinhas? Foi pena pra todo lado!

 _E o tal de com...computador, que ninguém sabia pra que servia?_Gastoninha acrescentou, entre risos.

_Isso é passado! _ Belo ajeitou a peruca de cabelos castanhos orgulhosamente e ergueu o dedo com convicção _Vocês vão só ver. O invento novo do Flanjinha vai mudar a histólia...

 Neste momento, Moriço apareceu correndo e gritando entusiasmado:  

_Belo! Belo venha depressa! Eu consegui!

 _Vilam só? _ o garoto lançou um olhar vitorioso para as meninas, que se entreolharam surpresas. Os três se aproximaram para ver o invento.

_Depois de meses e meses de pesquisa, finalmente descobri a fórmula para nos deixar ricos...

_Sim, sim, mas o que é? O que é?

Moriço devagarinho botou a mão no bolo e tirou de repente, assustando os três... um baralho de cartas!

 _Os cards do Iuguiou!

   _Um baralho?

_Não é um baralho! São card games.

_Mas... pla que selvem?

_Pra substituir o jogo de bafo, ora! Olha, cada uma destas cartas tem poderes especiais. Você tem que derrotar as cartas do adversário, através da combinação de... _ e prosseguiu animado os detalhes do jogo, sem perceber que ninguém  estava entendendo nada... nem entenderiam, se prestassem atenção, pois Gastoninha e Lifua estavam muito ocupadas lançando olhares debochados para Belo, que não sabia onde meter a cara.

_Mudar a história, é? _ ironizou a bela moreninha. Felizmente, Franjinha arrastou-o dali antes que ficasse pior: 

_Venha comigo, Belo! Quero que me ajude a selar o Filipo, e a preparar minha bagagem. Hoje mesmo, parto para a feira de inventos na cidade de _n Cafundó! Com este meu invento vou ganhar o primeiro prêmio! _ e os dois se afastaram sob as risadas das duas meninas.  

_Me diz uma coisa, Flanjinha..._ disse Belo pouco depois, colocando a sela em Filipo, o cavalo deles _Você me acha esquisito? Seja sincelo!


_Claro que não. Tirando o seu jeito estranho de falar, o seu cabelo espetado e essa peruca ridícula... 

_Não tão sincelo! _cortou o outro _É que não agüento mais viver aqui. Ninguém quer blincar comigo polque todo mundo nos acha malucos! 

_E a Gastoninha? Ela é tão linda, e adora você. Pensei que gostasse dela.

 _Gostava, Flanjinha... gostava. Aí ela quis me ploibir de jogar futebol e ler minhas levistas! Ela só pla eu usar loupinhas de babados, e tomar aquele... argh, chá. Ela é uma mala pesada, sem alça e sem lodinhas!   

_He, he! Entendo. Mas não se preocupe _Franjinha montou no cavalo _Esses inventos vão nos deixar ricos e poderemos ir embora desta aldeia pra sempre!_ concluiu, acenando, enquanto se afastava.

_Boa sorte! _Belo ficou olhando o “irmão” partir, com vontade de ir junto também, mas pensou, meio cético:”Vai plecisar”.


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