Uma semana para deletar escrita por Bkun


Capítulo 1
Deletar...


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, aqui está a primeira parte da história, ela poderia ser marcada como terminada, mas ainda não acabou, é tudo muito recente então por favor, leiam e desfrutem da realidade.



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Não esperava que ele estivesse no portão do prédio escolar me aguardando, era quinta de manhã, eu não deveria estar tão agitado, mas minha respiração se aqueceu e acelerou com aquela visão, ele estava lá me aguardando. Mal tive tempo de dizer oi e ele já estava me puxando para o banheiro masculino, normalmente todos preferiam usar o banheiro do outro lado do corredor, e a nossa sala ficava o mais longe o possível, ninguém do 1º ano iria nos ver, então aquele lugar era especial para nós, dois garotos de 15 anos aproveitando a vida, no mínimo foi naquela semana, fechada por beijos e abraços, caricias escondidas, ninguém sabia que eu namorava ele, ninguém nunca nos viu juntos.

Nem meu suéter nem o uniforme que por baixo dele marcava minha escola serviam de barreiras contra suas mãos, que por baixo deles se enfiava mexendo em meu abdome, eu poderia ficar ofegante, se não fosse pela boca que tapava a minha naquele beijo. Sentir suas coxas nas minhas contra a parede era um deleite, enquanto durava é claro, não podíamos demorar, a aula já iria começar, como sempre sentávamos um ao lado do outro, e conversávamos pelo celular para não falar nada de nosso namoro a ninguém; não nos leve a mal, era nosso primeiro namoro, e quem diria que justo aquele que ficou lá ao meu lado todos esses meses se tornaria aquele que eu amo, muita coisa mudou naquela semana... e tudo começou naquela sexta.

Sim, eu não pude evitar a vontade de beija-lo, mas não precisei o fazer, foi ele que me beijou naquele dia, e num laço selado por nossos lábios fomos levados até minha cama, e nos deitamos, num único e longo beijo; enfim paramos, olhamos um para o outro e, como se procurássemos um sinal de verdade em meio a tudo aquilo, falamos os nomes um do outro, foi um momento magico, em uma semana incrível, tudo mudou...

Nossas idas variadas ao banheiro entre os horários para garantir os momentos de diversão, os papos entre namorados que tínhamos durante as aulas, era tudo tão maravilhoso, e mais maravilhoso era seu rosto e sua voz, que faziam meu corpo estremecer com simples palavras

- Eu te amo... – foi o que ele sussurrou um dia, em meio a aula, bem baixinho, me fazendo ficar vermelho, sabíamos que haviam pessoas que desconfiassem de uma relação, e quem sou eu para culpa-los de nossa perfeição unidos? Cada duplo sentido atribuído a cada frase era entendida um pelo outro de forma a constituir um código interno, e sempre foi assim, as referências a acontecimentos eram piadas internas aos nossos ouvidos e frases sem sentido aos dos outros, mas chegava a passar disso.

Ainda me lembro de quando vi aquela frase naquele filme, que assistimos em minha casa ainda no dia em que ele me beijou pela primeira vez, e nela dizia: “Então prefere ficar apegada a alguém distante a ficar com aqueles que estão próximos? ”... O sentido daquelas palavras não podia se fazer mais puro na minha mente, não havia alguém mais próximo a mim que ele, e foi assim desde a primeira semana de aula, não eu não o amava naquela época, mas tudo mudou no decorrer daqueles longos meses que se prosseguiam, e a imagem de seu rosto quando eu finalmente chegava na sala, feliz por me ver novamente bem foi se tornando diferente, foi ficando mais bela a cada dia, até que me vi completamente apaixonado.

Mas tudo mudou naquele dia. Fazia uma semana, eu estava feliz, uma semana, uma semana feliz, uma semana de felicidade, e uma semana para nós dois, tratei de chegar mais cedo na escola, lhe fazer uma surpresa, mas ele não chegou... bem isso era normal, um atraso, mas um atraso para quem ama, pode ser doloroso com o tempo, a cada segundo pensamentos surgiam, “o que podia ter acontecido de ruim? Bobagem eu me preocupar? ”... Eu não devia ter pensado assim, me apeguei a lembranças das nossas conversas online, a rede social nos mantinha unidos quando não estávamos na escola, falávamos de tudo, planejávamos o próximo dia, fazíamos planos até para futuro de longo prazo, o clássico de adolescente, não é? Sempre achar que tudo vai dar certo para sempre, eu fui tão tolo levando aquela linha de pensamento, sem ver que ela já estava enrolando em minhas pernas, prontas para me derrubar na hora mais inoportuna!

Mas pensamentos assim machucavam, isso era o que eu não precisava, sabia que se me machucasse ele também iria sofrer por mim, ele sempre o fez, isso era uma das coisas que eu admirava nele, em cada palavra eu sentia sua empatia, seu sentimento compartilhado a mim, até mesmo nas mensagens online, naqueles singelos textos:

- Amor estou indo dormir, boa noite! Até amanha

- Até! Fique bem, e não se esqueça do link que eu te mandei!

- Eu o salvei nos favoritos, eu apago as conversas lembra? Meus pais não podem saber de nada!

- Ok! Boa noite!

- Amanha espero ver você de novo... Te Amo!

“Também te amo”... essa era a resposta que sempre dávamos um ao outro, sempre, era ótimo ouvir a retribuição, firmar que nosso amor era reciproco, chegava a ser um ritual, uma forte ligação, que eu achava que nunca seria rompida, como fui ser tolo, eu já me chamava disso em meio as preocupações, a aula primeira aula estava para terminar e ele ainda não havia chegado, eu não presenciei a visão de seu rosto como no dia anterior, ele não estava ali, mal prestei atenção nas equações que o professor de física passava no quadro, formulas sem sentido em meio ao meu amor ardente congelando sobre o atraso, o que poderia ter acontecido? Eu não fazia a menor ideia. Minha mente estava turva e densa, o sinal para mudança de classes quase passou despercebido, apenas reparei no que acontecia quando um “colega” de sala esbarrou em minha mesa, e notei a turma indo para o laboratório de informática, não tive outro pensamento mais forte a não ser correr e olhar as mensagens, procurar algum sinal dele, era o que eu queria naquele momento, mais que tudo esperava revê-lo, no mínimo ver sua foto e conversar, deslizei meu dedo sobre o botão de ligar e entrei no navegador rapidamente, acessei a rede, e por mais que o destino pudesse reservar piores coisas para aquele dia, provavelmente elas seriam pequenas próximas a sensação que tive, vazio.

Vazio apenas ao comparável que senti na quarta, quarta eu adoeci, quarta feira eu passei por uma enxaqueca terrível, e eu não fui a aula, dormi até mais tarde, mas não demorei a entrar em meu computador e ver as várias mensagens dele, que iam do “Por que diabos você não veio? Seu idiota! ” Ao “ Estou morrendo de preocupações, fale alguma coisa ou entre! Te amo! ”, bem essa mensagem foi a última que ele mandou, e como sempre minha resposta incluiu a nossa frase tradicional e ritualística: “também te amo! ”, Quarta foi um dia pesado, um dia em que eu fiquei sem seus beijos alucinantes nem seu toque macio e agradável, mas não nos faltou conversas, as nossas conversas de sempre que se tornaram mais agradáveis com a liberdade de poder expressar verdadeiramente qualquer sentimento entre os dois, eram momentos de pura alegria, afinal esse é o amor não? O clássico romance! Calmo em tons pastéis, cercado de cores quentes mostrado em cenas estáticas de pouco movimento. Era o que sentíamos quando tínhamos nossos momentos privados, principalmente ao fim de semana, onde dormimos em casa, e pude desfrutar de uma única noite juntos.

A imagem na tela do computador chegou somente para me arrancar daquela realidade linda e destruir tudo, não podia ser o que estava acontecendo, em seu perfil, não havia nada, na verdade não havia perfil, apenas as nossas conversas, em estático, dizendo “Esse perfil foi excluído”. Não parecia ser real, o mundo exterior se tornou mais turvo, se fechando apenas a mim e a tela a frente iluminando meu rosto com a calma e livre de culpa luz, que exibia palavras tão assustadoras, isso era o que eu sentia naquele momento, medo, medo do que pudesse acontecer, checar meus e-mails foi a minha decisão automática, mas nada, não havia nada lá, apenas o vazio duvidoso da incerteza, a tela branca de infinitas possibilidades para ser preenchida com os mais diversos tons de sofrimento, as mais variadas texturas de tristeza diluídas me lagrimas. A dúvida permanecia, duvida que me ocorreu na noite anterior, nas conversas da rede social com o perfil agora vazio:

- Amanha fazemos uma semana, comprei uma surpresa!

- Comprou? – Respondi alegre – não quero nada caro, também tenho uma surpresa!

- Nos vemos amanhã então!

- Você vai amar a surpresa!

- Eu já amo... você!

- Também te amo!

Essa foi uma das últimas vezes que ele falou aquela frase, parecia tudo tão perfeito naquele momento, eu me deitei despreocupado com o que poderia acontecer, as cobertas estavam lá, mas eu ainda sentia falta do calor do corpo dele colado ao meu, como da última vez, a vez em que nós dormimos juntos, abraçados e enrolados em uma mesma coberta, como era desejoso que isso fosse em todas as noites ocorrer, e que em todas elas sentiria sua pele, mas não me ocorreu que poderia acontecer apenas aquela vez.

Meu coração se fez parar por alguns segundos ao ver que a mensagem que enviei ao e-mail dele não havia chegado, o endereço estava certo, não fazia ideia do que havia acontecido, mas o que aconteceu apagou todos os perfis que eu conseguia encontrar, toda forma de contato, não fazia ideia do porquê? O que podia ter acontecido, minha mente parou, eu fiquei apenas a observar o professor passar as instruções no quadro, eu não conseguia sequer ler, enfim alguém encostou as mãos em minhas costas e disse

- Você está bem?

- Não... estou horrível, eu tenho que ir!

Minha maior idiotice foi esquecer aquele celular maldito em casa, sobre a cama, sai da sala e corri pelos gramados do campus, por sorte não perdi meu ônibus, o caminho para casa foi pesado, cada passo que dava sentia minhas pernas falharem, tremulas, eram 45 minutos de duração da escola até meu quarto, e assim que cheguei peguei meu telefona, na capa, a foto de nós dois, meu rosto colado ao dele, era nossa foto mais intima que podia ser revelada, pois não iria instigar nenhuma ideia, coloquei a senha e disquei seu número, e tocou...

O segundo som mais angustiante daquele dia foi o barulho intermitente do telefone enquanto chamava, minhas mãos suavam, eu não fazia nenhuma ideia do que havia acontecido; enfim o som acabou e a voz saiu do telefone, era a mãe dele, com sua voz disse simplesmente “o que você quer”, engoli seco e tremulei, quase me derrubando, então respirei e disse o que queria, perguntei sobre a falta de meu amado, o que aconteceu com seus perfis, mas o pior não esperou para chegar, ainda na voz dele

- Oi... olha, aconteceu algo, meus pais leram minha conversa com você ontem. Agora então... acabou tudo.

O retumbo daquela palavra em minha mente me obrigou a sentar: “acabou”, isso não parecia certo, afinal, ele sempre deletava as conversas

- Mas... olha... eu não... o que vai acontecer com VOCÊ!

- Eu? Meus pais vão me mudar de estado, e falaram que é para eu nunca mais procurar você... olha eu quero continuar a ser seu amigo! Mas... eu quero ficar com você!

- Olha você quer que eu vá aí? E converso com seus pais? Eu não vou deixar isso acontecer!

- Não dá! Eles falaram que vão chamar a polícia se você vier! Olha, eu quero ficar com você também..., mas não dá você entendeu? Eu sinto muito.

- Eu... eu te amo.

Repentinamente a voz cessou, aquela linda voz, e novamente lá estava a voz da mãe dele falando

- Olha, você acaba de destruir tudo que eu sempre planejei para o meu filho, os sonhos dele, a vida dele, agora fique longe, adeus.

O som mais angustiante que eu ouvi naquele dia foi o som intermitente do telefone, a ligação encerrada, sem eu poder me despedir, ou qualquer outra coisa. Mas o pior foi não poder ouvi ele falar, ele retribuir, o que eu sinto por ele.

Desliguei o telefone e me deitei, sem reação alguma, sem nem mesmo chorar por isso, apenas respirava com dificuldade, ouvia meu coração bater despedaçado, levantei novamente o celular, não na tentativa de ligar, mas sim de olhar para a foto novamente, entrei na galeria, e selecionei a foto, friamente apertei o botão de deletar, eu não chorava, o que eu sentia mesmo? Não sei mais o que eu fazia naquele momento, na tela as letras mostravam “tem certeza? ”, certeza... isso me faltava aos montes, não tinha mais certeza de nada, apenas regredi, deixando o celular de lado, e finalmente desabei as lagrimas, mas há algo que eu tinha a mais que absoluta certeza, eu não vou deletar essa semana.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, desejemos boa sorte para que as coisas possam dar certo para o casal acima, e o casal da vida real que passoupor isso, eis aqui uma mensagem dada pelo "narrador" da história, na vida real é claro:

I'll never move on, it'll always be you!
Every guy that I'm with, I'll be thinking of you
Even if I get married, he'll always be second to you
He'll always be second to you
I'll always be waiting for you!

P.S. I love you

—Robin Daggers : P.S. I Love You

I'll always be waiting for you...