Luffy, o rei do cangaço escrita por Malk


Capítulo 1
O verdadeiro rei do cangaço


Notas iniciais do capítulo

Há de dois anos que eu estou prometendo escrever uma fanfic sobre cangaço, e quando vi o tema do desafio desse mês, pensei comigo “se não escrever agora, não escrevo mais “, e aqui está.
Durante a escrita, usei alguns termos típicos do nordeste, não muitos pra não ficar estereotipado demais. Muitos deles eu aprendi com os meus avós, que eram cearenses, e outros na TV ou em filmes, caso algum leitor nordestino identificar algum deles mal empregado, fico feliz se me avisar.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/646569/chapter/1

Eram três horas da tarde e o Sol castigava o chão já tão seco do sertão sergipano. Em um tradicional botequim, uns homens conversavam alegremente enquanto bebiam suas doses de pinga, quando um moço de uns vinte e poucos anos, com cabelos pretos pixains, um nariz realmente muito grande e com um estilingue no bolso entrou no estabelecimento.

– Seu Zé, bota uma cachaça fiado, semana que vem eu te pago – disse o rapaz, batendo no balcão cheio de machesa.

– Nem adianta Usopp, eu considerava muito o seu pai, mas você tá me devendo mais de dez cruzeiros e nunca me pagou, se eu continuar te vendendo fiado vou acabar falindo – negou o dono do bar, um senhor moreno e baixo que aparentava ter uns sessenta anos de idade, enquanto lavava uns copos em uma pia atrás do balcão.

Usopp ficou desolado, então olhou para um quadro que o seu Zé tinha pendurado na parede do seu boteco há alguns anos. O quadro era um retrato do lampião, imponente, trajando suas tradicionais roupas de couro, chapéu, canga e exibindo sua espingarda.

– Esse Lampião não passa de um farsante – resmungou Usopp.

– Tu é besta é, não sabe que ele foi o rei do cangaço, o cabra mais macho que já viveu nesse Brasil e quem sabe, no nordeste todo? – Seu Zé ficou indignado.

– Ele até pode ter sido cabra macho, mas o verdadeiro rei do cangaço era conhecido apenas como Luffy e ele era tão arretado que apagou seu próprio rastro pra não acabar com a cabeça pendurada num poste – falou Usopp, com grande empolgação.

– Vixe, e como você sabe de tudo isso? – perguntou Seu Zé, ainda desconfiado.

– Eu vou te contar, mas a história é longa e vou precisar de uma pinga pra molhar a goela antes de começar.

O dono do bar não queria perder mais da sua preciosa bebida, mas por outro lado estava extremamente curioso sobre o que o rapaz tinha para dizer, então cedeu à sua exigência e serviu uma dose. Usopp tomou um gole, sentou e começou a contar.

Essa história começa há muito tempo atrás, logo depois que despediram o Dom Pedro Segundo e foi proclamada a dita república. Nessa época viveu um tal de Severino da Silva, vulgo Severino Ranca Tripa, que era considerado por todos como o rei do cangaço. Ele e seu bando eram tão arretados que roubaram bancos, saquearam fazendas e dizem os antigos que teve uma vez eles assaltaram um quartel da polícia com mais de cinquenta soldados e levaram todas as armas que tinha lá dentro.

– Tá certo Usopp, mas o causo é sobre um tal de Luffy ou sobre esse Severino Ranca Tripa? – interrompeu Seu Zé.

– É sobre Luffy, o verdadeiro rei dos cangaceiros, mas antes eu tenho que falar sobre o Severino Ranca Tripa. Desce mais uma branquinha que agora eu vou continuar – Usopp então prosseguiu.

O bando do Severino roubou muita coisa valiosa e pisou no calo dos coronéis por muitas décadas, mas teve um dia que por obra de um disgramado do seu próprio bando que traiu o chefe por um conto de réis, o famoso Ranca Tripa acabou sendo preso pelo exército. Por ordem direta do presidente da República em pessoa, ele foi fuzilado em praça pública e sua cabeça pendurada pra servir de exemplo.

Pois agora é a parte da história que eu quero chegar. O governo queria por que queria saber onde o Severino escondeu tudo o que tinha roubado a vida toda, mas ele era cabra macho e não falou. Antes de morrer ele disse pra quem quisesse ouvir que todo o seu tesouro estava escondido num lugar só e por isso ele o chamou de “One Piece”, é um nome em inglês, uma língua muito falada lá nos estrangeiros, e significa “lugar onde eu guardei todos os meus tesouros”. Enfim, todo homem ou mulher que sabia usar uma garrucha ou mesmo uma peixeira virou cangaceiro pra poder encontrar o tesouro, virar o rei do cangaço e ficar podre de rico.

Pois bem, muita gente viu a morte do Severino, e entre esse povo todo estava um garoto chamado Luffy, que naquele dia ele prometeu que ia encontrar o One Piece, dividir o tesouro com os pobres e virar o eterno rei dos cangaceiros. Ele era só um moleque e ninguém acreditava que um dia ele poderia achar o tesouro e virar o rei, então quando fez quatorze anos ele pegou uma peixeira e se embrenhou na caatinga pra reunir um bando e encontrar o tesouro.

Logo que começou suas andanças, Luffy ouviu falar de um cabra chamado Zoro, que todos diziam que caçava cangaceiros pra ganhar as recompensas que a polícia oferecia. Ao saber dessa fama, Luffy foi logo atrás dele não pra lutar, mas pra ele ser o primeiro companheiro do seu bando. Enfim, ele andou muito e finalmente encontrou quem ele procurava lá nas bandas de Fortaleza, o problema é que ele acabou descobrindo que o Zoro estava preso na base do exército onde os soldados americanos ficavam na Primeira Guerra Mundial e que poderia morrer a qualquer momento.

Sabendo disso, Luffy imediatamente foi resgatar o tal sujeito, entrou na base, matou mais de cinquenta soldados e libertou o futuro parceiro. Depois de acabar com a raça do capitão, Zoro aceitou se unir ao Luffy e virou o segundo em comando do bando.

– Mas espera aí, como esse tal matou cinquenta soldados gringos só com uma peixeira? – perguntou um homem que havia acabado de se sentar ao lado de Usopp para ouvir a história.

– É que eu ainda não falei a melhor parte. O Zoro era o maior esfaqueador que existia e retalhava qualquer um com suas três peixeiras, e o Luffy era conhecido como o homem borracha, as balas batiam nele e voltavam nos soldados, e como seu braço esticava, ele conseguia furar gente que tava a mais de dez metros dele – explicou Usopp.

– Eu nunca vi homem borracha, isso parece história de pescador – retrucou o homem.

– É que ele comeu um caju gomu gomu, uma fruta do demo que fez ele virar borracha – explicou o rapaz.

– Deixa ele terminar a história antes que dê mais derrame na minha cachaça – ralhou Seu Zé.

Depois disso, o bando de dois começou a perambular, procurando por alguma pista que os levasse ao tal do One Piece. Nessas andanças eles conheceram Nami, que era uma ladra que odiava cangaceiros, mas como o Luffy era muito, mas muuuuito arretado mesmo, acabou convencendo a moça a entrar pro seu grupo. Ela sabia atirar tão bem que era capaz de acertar uma mosca voando ao redor de um boi magro a cem metros de distância e, além disso, era a única que sabia se orientar pelas estrelas e por um aparelho chamado bússola. Sabia que antes dela aparecer o Luffy e Zoro queriam ir pro Juazeiro e foram parar no Rio de Janeiro? Mas eu ainda não falei a melhor parte, ela era a mulé mais linda que já passou por essas bandas e não fazia a menor questão de cobrir as pernas. Mas se engana quem pensa que ela era fácil, teve uma vez que um cabra foi falar que ela tava vestida igual a uma rapariga e ela cortou os documentos dele fora e depois ainda fez ele engolir.

Vocês devem estar se perguntando como eu sei disso tudo não é verdade? Eu vou contar um segredo que fica só entre a gente, eu sei dessa história toda fiz parte do bando do Luffy.

– Essa é boa – riu um terceiro homem, que também estava ao lado do Usopp ouvindo o que ele contava – quer dizer que tu era cangaceiro? Cada lorota que se ouve por aí...

– Me vendo hoje realmente não parece que eu já fui cangaceiro, mas isso é um disfarce que eu todos os outros sobreviventes do bando combinamos de usar. Agora eu vou contar como eu conheci o Luffy e entrei pro maior bando de heróis do sertão que já existiu – Usopp sentou, tomou o resto de cachaça que ainda havia no copo e voltou a contar a fantástica história.

Quando eu tinha treze andos, o meu pai foi trabalhar na capital e me deixou tomando conta da casa, da minha mãe e dos meus irmãos menores, mas pouco tempo depois a mãe veio até mim e falou... como ela falou mesmo? Ah é, ela disse que eu era um vagabundo que não prestava pra nada e mandou eu caçar meu rumo e voltar só depois que eu tivesse virado homem.

Como eu era um filho obediente eu fiz o que a mãe mandou, saí de casa e fui arrumar trabalho numa plantação de cana lá em Pernambuco. Eu comecei a trabalhar cortando cana, mas dois dias depois o coronel me despediu porque eu ficava mais tempo contando causos do que trabalhando, mas pra minha sorte, as crianças da fazenda gostavam das minhas histórias e das brincadeiras que eu inventava, incluindo a filha coronel, uma menina de oito anos chamada Açucena. Por causa disso, a mulé do coronel convenceu ele a me contratar pra tomar conta dela.

Quatro anos se passaram e o coronel e sua senhora foram a uma festa a convite do governador lá em Recife, deixando Açucena na fazendo comigo, com as empregadas e mais uns jagunços que cuidavam da sua segurança, ainda mais que agora ela já era uma mocinha formosa que só, alva, magra, com cabelos cor de rapadura e olhos verdes que nem folha. Dias depois recebemos a notícia de que o casal foi atacado por um bando de assaltantes e mortos, mesmo antes de chegar na capital. Foi o velório mais triste que aquela cidade já viu, o povo todo foi lá chorar a morte dos fazendeiros, mas depois do enterro surgiu outro problema, quem ia cuidar da fazenda e da menina Açucena? Ela ainda não tava na idade de casar e nem noivo tinha ainda.

Dias depois do enterro, um homem estranho montado em um mangalarga branco todo vistoso chegou lá na fazenda. Ele chegou se apresentando como Francisco, irmão do falecido coronel e tio da menina. Todo mundo ficou desconfiado, porém o sujeito apresentou todos os documentos carimbados, timbrados e autenticados pelo juiz da comarca seja lá o que for isso, então tivemos que aceitar que ele seria o tutor oficial da Açucena.

Seu Francisco era muito um poço de simpatia e serenidade e rapidamente conquistou a confiança de todos, até da menina Açucena. Mas esse cabra esperto aqui ele nunca enganou, o tempo ia passando e cada vez eu ficava mais desconfiado, onde já se viu um irmão de um fazendeiro rico que ninguém nunca ouviu falar aparecer de repente, tomar conta da fazenda toda e ainda dizer que faz isso pra proteger a riqueza da sobrinha que nem conhecia ele? Pra tirar a prova de que o que eu já sabia era verdade, eu fiquei seguindo o Seu Francisco escondido, tentando ouvir suas conversas pra quem sabe descobrir o que ele estava tramando.

Um dia eu estava ouvindo atrás da porta do escritório que ele sempre ficava escrevendo uns papéis e tendo umas conversas misteriosas com uns capangas, e ouvi ele falando pra um deles “Entrega essa carta pro Zóio de Onça, ele tá lá na venda do Seu Dejair te esperando”. Eu achei aquilo muito esquisito, por que alguém ia mandar uma carta pra um cabra que estava só a uma légua dali, não era mais fácil falar em pessoa? Eu me escondi e esperei o mensageiro sair, então eu segui ele. Quando ele tava quase chegando no lugar combinado, eu atirei uma pedra na mão dele, que fez a carta cair, e daí eu corri e peguei a carta do chão e depois corri como um raio pra bem longe, cheguei a quase levar um tiro dele.

Quando eu já tinha despistado, abri o envelope e fui ler a tal carta, onde tava escrito “Hoje a menina Açucena vai assinar a procuração e passar todos os bens da família dela pro meu nome, amanhã você já pode dar cabo da vida dela”. Depois de ler isso eu fiquei desesperado, tive que ir correndo até ela e quando cheguei na casa grande, entrei que nem um desembestado no quarto dela.

– Oi Usopp – disse Açucena, surpresa, mas também assustada – sabe que eu gosto muito de você, mas lembre-se que não fica bem um moço entrar no quarto de uma garota, eu não sou mais criança que nem quando você me conheceu.

– Me desculpa senhorinha, mas o assunto é urgente. Lê essa carta, o seu tio Francisco mandou um capanga dele entregar pra um jagunço.

Ela pegou a carta e leu bem ligeiro, depois amassou e jogou no lixo.

– Desde criança eu sabia que tu era um contador de mentiras e até me divertia com isso, mas agora tá brincando com coisa séria! Eu vou passar a fazenda e tudo mais pro meu tio pra evitar que no futuro algum aproveitador se apodere de tudo que meu falecido pai conquistou – ela foi até um criado mudo, pegou um maço de notas e me entregou – pegue esse dinheiro pra tu não passar necessidade e saia da fazenda.

Eu fiquei deveras aborrecido com a atitude da moçoila, então devolvi as notas, falei que eu não queria o dinheiro e quer iria embora da fazenda naquele exato momento. Eu saí da casa e rumei pro puxadinho de pau a pique que eu tinha na fazenda, arrumei minhas trouxas e fui andando sei lá pra onde. Meio dia, quando já tinha saído da fazenda, eu parei pra comer meu almoço, quando o mensageiro que eu tinha roubado a carta junto com mais dois jagunços apareceram na minha frente e me cercaram.

– É ele que roubou a carta que o chefe mandou entregar pra tu – disse o mensageiro.

Os outros não disseram nada, apenas sacaram suas armas e já tavam prontos pra acabar com a minha vida, então de repente um soco vindo lá de longe acertou a cabeça e de um deles, estourando o crânio todo. Depois, um cabra pulou pra cima do outro com três peixeiras e picotou ele em um monte de pedacinhos e, por último, uma moça de cabelo acobreado pegou uma pistola e deu um tiro certeiro naquele mensageiro do cão.

– O...obrigado! – eu agradeci ainda assustado, mas aliviado por estar vivo.

– Por nada, nós não gostamos de ver covardia, três contra um desarmado já é demais – falou um cabra de roupa vermelha e chapéu de palha que parecia mais um pescador, que mais tarde descobri que era o poderoso Luffy.

– Você deve ter se metido em uma baita encrenca pra ter dois pistoleiros querendo teu couro – comentou o das peixeiras, o grande Zoro.

– Não quero saber qual é a tua história, mas se quer agradecer é só nos contar onde fica a casa do coronel Azevedo, dono da fazendo de cana dessa região – falou a mulé, cujo nome era Maria Namicolina, porém preferia ser chamada de Nami.

Profundamente agradecido, eu apontei pra onde eles tinham que rumar pra chegar na casa grande. Eu poderia ter seguido meu rumo e voltado pra casa da minha mãe ou qualquer outro lugar, mas fiquei pensando na Açucena e que ela ia acabar morrendo nas mãos daquele miserável, então corri até os três valentes que me salvaram e contei toda história a eles.

– Vixe, temos que ir logo acabar com a raça desse cabra safado e salvar a donzela – Luffy ficou indignado.

– Vá lá, ainda temos que saber se essa história é verdade mesmo – disse Nami – mas de toda forma o mapa da Grand Line está na casa, então podemos conferir se o que ele contou confere.

– Mas que diabos é esse Grand Line? – perguntou mais um que parou pra ouvir o conto do Usopp.

– É outra palavra em inglês e significa “Lugar onde o One Piece está escondido”. Agora deixa eu continuar com a história.

No meio do caminho fomos proseando e descobri que eles eram um bando de cangaceiros, na verdade o menor bando que eu já vi. O chefe deles, o Luffy, adorava falar de tudo que nem eu, e acabou falando que procurava esse tal One Piece e que precisava de um mapa pra Grand Line, que pelas informações que eles tinham estava na casa da Açucena.

Andamos até o anoitecer, e conseguimos voltar pra Casa Grande. Entramos nós quatro escondidos na casa, e quando a gente tava perto do quarto de Açucena, ouvimos um grito de mulher e corremos pra acudir. Arrombamos a porta e vimos o safado do Seu Francisco ameaçando a menina com duas pistolas.

– Socorro Usopp! – gritava Açucena.

– Sai de perto dela seu desgraçado, se não vou te dar uma pedrada – eu preparei minha atiradeira.

– Até parece que um molecote que nem tu vai me deter. Açucena já me nomeou como tutor dela, se ela morrer antes de completar dezoito anos tudo que é dela fica pra mim – falou o Francisco.

– Isso é covardia, fazer isso com a própria sobrinha – Nami interveio, já preparando sua arma.

– E quem são vocês para me impedir? Saibam que eu nem sou seu tio verdadeiro, eu paguei um “adevogado” pra fazer uns documentos falsos.

– O quê? – eu gritei – seu nome nem deve ser Francisco seu dissimulado!

– Errado, meu nome é Francisco, mas sou mais conhecido como Chico Mirolha.

– Então você é o Chico Mirolha – Zoro pegou suas três peixeiras – pensei que você tinha sido morto pela polícia.

– Foi o que eu fiz todos pensarem. O corpo que foi enterrado foi de um cabra que eu matei, mudei de nome e não quero mais essa vida de cangaço. Depois de dar cabo dessa moça eu vou ser um grande fazendeiro e passar o resto da vida usufruindo de luxo e riqueza – contou Chico.

– Tu não tem nenhuma honra, como pode largar o cangaço pra roubar a fortuna de uma menina? Vamos pelejar! – gritou Luffy.

A batalha começou. Minha primeira preocupação foi proteger Açucena, eu pulei em cima dela e caímos nós dois no chão, nos machucamos mas nada grave. O Seu Francisco, ou melhor, o Chico Mirolha, começou a trocar tiros com a Namy. Ela era boa, mas como ele tinha uma arma a mais acabou acertando o ombro da mulé, e quando viram ela baleada, Zoro e Luffy partiram que nem touro bravo pra cima dele, e no fim, as balas do Chico acabaram e o Luffy estourou o crânio dele com um baita soco com seu braço de borracha.

Todos os empregados da casa vieram ver que confusão foi aquela e viram o falso tio da Açucena morto, Nami machucada e mais dois cabras desconhecidos suspeitos. Antes que alguém acabasse querendo fazer algo contra nós, a menina explicou todo o ocorrido, então chamaram a polícia apenas pra tirar o corpo do Chico e levar a Nami prum médico pra tirar a bala.

Eu passei aquela noite junto com o Luffy e o Zoro lá no meu puxadinho, e no dia seguinte a Nami voltou já curada, oh mulé arretada de forte... Antes de partirem, Luffy veio me fazer uma proposta.

– Usopp, tu é um cabra muito corajoso, enfrentou um baita bandido pra salvar a garota, quer se juntar ao meu bando?

Eu pensei um bocadinho, e então aceitei. Logo que saímos da minha casa vimos a Açucena chegando perto de nós.

– Usopp, amigos...obrigada por tudo, vocês salvaram minha vida e o principal, a fazenda. Tem algo que eu possa fazer por vocês?

– Comida, muita comida pra levar – pediu Luffy, salivando.

– Também uns cavalos pra carregar tudo, e se tiver umas cachaças fico agradecido – completou Zoro.

– Vocês não estão esquecendo de uma coisa? Viemos aqui por causa do mapa da Grand Line, por acaso você sabe o que é isso Açucena? – perguntou Nami.

– Não, mas meu pai tinha uns papéis estranhos no escritório dele, podemos procurar.

Açucena mandou uns empregados trazerem quatro cavalos, muita comida e um barril da melhor cachaça do nordeste para mim e pros outros, enquanto ela e a Nami foram ver os tais papéis. Horas depois elas voltaram, e a Nami começou a comemorar, balançando um pedaço de papel velho.

– Isso é... – Zoro ficou espantado.

– O mapa pra Grand Line – Nami completou.

– Então o que estamos esperando? Temos cavalos, comida e o mapa, vamos logo encontrar o One Piece! – Luffy estava animado.

Eu me despedi da Açucena e parti com meus novos companheiros, mesmo com a Açucena chorando pedindo preu ficar. E foi assim que eu me juntei ao bando do Luffy e me tornei um cangaceiro.

Depois disso tivemos muitas aventuras e aos poucos, mais e mais companheiros foram se juntando ao bando. Chegamos na Grand Line, que fica lá na Bahia, e era a terra mais sem lei que esse mundo já viu. Se eu for contar tudo que aconteceu vou ficar mais de uma semana sem parar nem pra dormir falando e falando, então digo apenas que juntamos mais de quarenta cangaceiros e ficamos muito tempo procurando o tesouro, fazendo aliados e principalmente, inimigos nessa jornada. O governo e também coronéis ofereciam ricas recompensas pelas nossas cabeças, mas nunca conseguiram nos pegar.

Depois de dez anos procurando, finalmente encontramos o mapa pro One Piece, desenhado pelo próprio Severino Ranca Tripa em pessoa. Descobrimos que o tesouro estava enterrado num velho cemitério abandonado, e um monte de companheiros do bando ficaram com medo de ter assombração, mas o Luffy fez um discurso que convenceu todos de que seja lá o que tivéssemos que enfrentar no cemitério, venceríamos como os machos que somos...inclusive as mulheres do bando eram mais machas que muito homem que tem por aí.

Finalmente entramos no cemitério, que era só um monte de túmulos velhos cobertos de mato, mas mesmo assim tava cheio de cangaceiro se cagando de medo. Fomos seguindo o mapa, e pelo que estava desenhado, o tesouro estava enterrado no alto de um morro no terreno do cemitério. Chegamos no início da subida, quando eu senti alguma coisa segurando minha perna.

– Vixe, to sentindo uma coisa segurando minha perna, olha o que é pra mim – falei pra Nami, que estava bem do meu lado.

– Deixa de ser frouxo, seu pé deve ter agarrado numa trepadeira – ela parou pra olhar, e logo fez uma cara de espanto – Tem uma mão de esqueleto te segurando!

Todos olharam e quando viram que o que a Nami dizia era verdade, muitos começaram a fugir desembestados com medo. Eu puxei a perna com força e consegui me livrar, mas logo depois as tumbas começaram a tremer, e vários mortos-vivos saíram lá de dentro, uns eram puro esqueleto e outros ainda estavam com as carnes podres agarradas nos ossos, e foi aí que quase o bando todo fugiu, só sobrando eu, o Luffy, o Zoro, a Nami e mais alguns que eu ainda não falei nada sobre, seus nomes eram... ah é, Sanji, Chopper, Franky, Robin e Brook.

Diante de um exército de criaturas do cão, a única coisa que podíamos fazer era lutar. Aí foi tiro, facada e gomu gomu foguete pra tudo que é lado, e por mais que a gente acertasse os bichos, eles não morriam. Todos nós fomos feridos quase mortalmente, e quando eu já tava vendo a Nossa Senhora me chamando pro céu, eu tirei do bolso um terço que a minha falecida avó me deu e comecei a rezar, então na mesma hora os zumbis começaram a gritar e depois viraram pó.

– É isso aí Usopp, só mesmo você pra perceber que os morto vivo não iam agüentar um objeto sagrado – elogiou Luffy.

– Agora, vamos buscar o One Piece – chamou Nami.

Depois disso nos recuperamos, fomos subindo o morro nos apoiando uns nos outros e finalmente, chegamos no lugar que o mapa apontava. Cavamos por horas, até que finalmente, encontramos um baú. Estava trancado, mas um tiro foi suficiente pra arrebentar o cadeado, e fomos rapidamente ver o que tinha dentro, e pra nossa surpresa, era apenas um pedaço de papel.

– Será um mapa pra algum outro lugar? – supôs o Zoro.

– Vamos ver! – Luffy pegou o papel e começou a ler em voz alta para todos ouvirem.

“ Finalmente, vocês acharam o One Piece. Vieram atrás de um grande tesouro, e tenho que dizer que já encontraram os maiores tesouros que qualquer um poderia ter, as experiências que viveram, os amigos que fizeram, os amores que sentiram. Qualquer um que chegou até aqui pode ser chamado de Rei dos Cangaceiros. Assinado, Severino Ranca Tripa.”

Todo mundo começou a reclamar, xingar e chorar, até que o Luffy acalmou o povo.

– Por que procuramos o One Piece? Riqueza? Riqueza é fácil, qualquer bando de cangaceiros de quinta pode assaltar um banco e enricar, o que buscamos por mais de dez anos foi nos tornar os reis do Cangaço, e podemos dizer que todos nós somos os reis.

Assim, recuperamos a alegria e saímos daquele lugar. No dia seguinte descobrimos que todos os nossos ex-companheiros que fugiram foram mortos pela polícia, então resolvemos acabar com o bando, já que nossa missão tava cumprida. Cada um seguiu seu rumo, e eu voltei pra casa da minha mãe, já tendo tomado grossura de homem como ela mandou. Uns anos depois inventaram esse tal de Lampião pra acabar com toda lembrança de Luffy da memória do povo.

Usopp tomou o último gole de cachaça, secando o terceiro copo. Já estava de noite, e então ele percebeu que havia mais de dez pessoas ouvindo o causo que ele contou.

– Mas que história linda, esse Luffy foi o rei do Cangaço mesmo – disse uma das pessoas que ouviram a história.

– Peraí Usopp, eu te conheço desde que tu nasceu e sua mãe nunca te expulsou de casa – disse Seu Zé.

– Tu disse que tu tinha treze anos quando saiu de casa e entrou pro bando do Luffy quatro anos depois – um homem começou a fazer contas com os dedos – e encontrou o Uam Pice depois de dez anos, e cê ainda disse que isso foi antes do Lampião que morreu na década passada, pelas minhas contas tu era pra ter mais de quarenta anos.

– Outra coisa, cê falou que os soldados gringos ficaram em Fortaleza na Primeira Guerra Mundial, mas o filho do meu patrão que é doutor já me falou que eles ficaram em Natal e na Segunda Guerra, que começou depois da morte do lampião e que acabou de acabar, como tu explica isso? – completou um terceiro.

– Não sei, só sei que foi assim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Me diverti bastante escrevendo essa história, espero que também tenham se divertindo lendo. Abraço a todos e obrigado por lerem.