Os enteados escrita por Evil Queen 42


Capítulo 18
Saudade


Notas iniciais do capítulo

Sim, demorei, mas estou pedindo desculpas pelo meu bloqueio criativo que durou dias... Enfim, boa leitura.



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    Sarada grudou em Saito feito um carrapato assim que Naomi foi embora, afinal, Saito é dela... Apenas dela, e agora a pequenina precisava de sua cota diária de atenção. 

    Após comer um pouco de bolo, Saito voltou para seu quarto a fim de arrumar a bagunça que fez enquanto estudava com Naomi, e é claro que Sarada foi na cola. 

    - Saito, por que a Saya usa óculos o tempo todo e você usa só de vez em quando ? - Questionou curiosa a garota que está naquela famosa fase dos porquês. 

   Essa fase chega para toda e qualquer criança e infelizmente, muitas vezes, perguntas constrangedoras aparecem do nada. Claro que esse não era o caso no momento. 

   - Porque eu só preciso usar pra ler e pra ver televisão... 

   - Mas eu nunca te vi usando óculos pra ver televisão - Ela interrompeu o irmão. 

   A verdade é que Saito, mesmo que precise, sempre se esquece de pegar o óculos antes de ver televisão e acaba ficando com preguiça de levantar pra pegar depois que senta no sofá. O objeto só é indispensável pra ele na hora de ler mesmo. 

   - Às vezes eu esqueço - Admitiu sem jeito o garoto que guardava os cadernos na mochila - Mas o fato é que a Saya precisa mais do que eu, por isso ela usa o tempo todo. 

   - Nas fotos de quando vocês eram crianças vocês não estavam de óculos - Disse Sarada, colocando os lápis e as canetas de Saito dentro do estojo, afinal, ela é uma menininha muito prestativa.

    - É, a Saya e eu não usávamos na época em que fomos embora - Contou. 

    - Então eu também vou usar quando crescer ? 

   - Não sei - Saito pegou seu estojo que estava na mãozinha de Sarada e guardou na mochila - Provavelmente não. 

    - Então por que você e a Saya usam e eu, que sou irmã de vocês, não vou usar ? - Sentou-se na cama de Saito, cruzou os braços e fez bico. 

    - Porque a minha mãe, que também é mãe da Saya, usava - O rapazinho se sentou ao lado da pequenina - Mas a sua mãe não usa. 

   - Saito, por que você e a Saya têm uma mãe diferente da minha ?

   Ele ficou em silêncio por uns segundos, já que falar de Karin ainda era algo doloroso, principalmente porque ele também acabava se lembrando do acidente. 

   Sarada era apenas uma criança e crianças não têm noção do que estão perguntando, elas apenas perguntam. A pequena Uchiha não sabia que aquela pergunta machucava seu irmão, ela apenas ficou curiosa e resolveu perguntar. 

    - Porque o papai teve outra namorada antes de ficar com a sua mãe - Explicou, colocando uma mecha dos cabelos de Sarada atrás da orelha dela - Aí a Saya e eu nascemos, só que depois o papai ficou com a Sakura, então nasceu você.

   - Então quer dizer que depois o papai vai deixar a minha mamãe pra procurar outra namorada e ter novos filhos ? - A pequenina indagou preocupada e Saito se desesperou. 

    Aquela conversa estava tomando um rumo diferente do que ele imaginava e, pra piorar, estava deixando Sarada totalmente confusa. 

    Explicar essas coisas pra uma criança é realmente difícil. 

   - Sarada, as coisas não são assim - Ele riu - O papai se separou da minha mãe porque... - Saito sabia o motivo. Seus pais eram jovens na época, imaturos, Saya nasceu pouco tempo após eles terem começado a namorar e os dois só foram morar juntos por causa disso. Mas é claro que essa situação é delicada demais pra uma criança entender, sem falar que não há um jeito simples de se explicar - Ora essa, nem eu sei direito o porquê... Mas ele ama a sua mãe e os dois vão continuar juntos, tá ?!

   - Então isso quer dizer que o papai não amava a sua mamãe ?

    O coração do garoto doeu com a pergunta. 

    Sasuke amava Karin ? 

    Bem, não há dúvidas de que ele a amou muito por um tempo, teve dois filhos e, por mais que as diferenças tenham falado mais alto e cada um tenha seguido seu caminho, o respeito continuou entre ambos. 

    - Sim, ele a amou - Assentiu - Mas as coisas mudam, não é mesmo ?! 

    - E não ama mais ?

    - Amar, não. Não da mesma forma que era antes - Ele soltou um longo suspiro - Mas acredito que ele ainda tivesse um carinho por ela... Respeito... Afinal, ela é minha mãe e de Saya.

    - Era - Corrigiu a pequenina, deixando Saito um pouco confuso. 

     - Era ? - Indagou o garoto. 

     - Sim, era, porque ela já morreu, então não é mais - Sarada afirmou com a maior convicção do mundo e Saito abaixou o olhar - Eu ouvi o papai falando com a mamãe que a sua mãe não está mais viva, por isso você e a Saya estão aqui. 

     Mesmo que já não estivesse mais viva, Karin continuaria sendo sempre sua mãe e ele continuaria amando-a da mesma forma que sempre amou. Ninguém jamais a substituiria, mesmo que Sakura estivesse assumindo tal papel. 

    - Ora essa, quem disse que ela não está viva ? - Questionou com um sorriso de canto e Sarada o olhou confusa.

     - Está ? - A menina perguntou e Saito assentiu - Então, se a sua mãe está viva, cadê ela ?

    - Minha mãe está bem aqui - Saito levou a mão até o peito, sobre o coração - Não importa se uma pessoa morre, Sarada, pois ela sempre estará viva no coração de quem a ama. 

   - Eu pensei que virava estrelinha ou anjo da guarda - A menina, pensativa, levou o dedo indicador até o queixo.

   - Pode ser isso também - Riu o Uchiha - Como você preferir. 

     Nesse momento a porta do quarto foi aberta, revelando uma figura dos cabelos ruivos que tinha um sorriso pra lá de malicioso nos lábios. 

    Por mais que sua madrasta tenha dito para Saya não tocar no assunto do beijo com Saito, a adolescente não poderia perder essa oportunidade espetacular de zoar um pouco o irmãozinho. 

    Ela entrou no quarto e fechou a porta atrás de si, depois caminhou até a cama do irmão, onde se sentou ao lado da pequena Sarada. 

   - O que você quer ? - Saito perguntou desconfiado, uma vez que conhece sua irmã mais velha o suficiente para decifrar aquele olhar de "Eu sei que você aprontou alguma coisa e vou usar isso contra você". 

    - O que você estava fazendo com a sua amiguinha do cabelo loiro ? - Indagou maliciosa e Saito teve um mau pressentimento... Um péssimo pressentimento, diga-se de passagem. 

    - Estudando, ué - Respondeu como se fosse óbvio, tentando parecer o mais indiferente possível. 

    - Tem certeza de que estavam fazendo só isso ? - A ruiva não aguentou e começou a rir, o que fez as mãos de Saito começarem a suar frio. 

    Mas é claro que o garoto tentava ao máximo disfarçar o nervosismo, caso contrário seria como se ele estivesse se denunciando para sua irmã. 

   Enquanto isso Sarada olhava para os dois com a carinha mais confusa do mundo, mas só o fato de Saya ter mencionado Naomi já foi o suficiente para a pequenina ficar desconfiada e com ainda mais raiva daquela garota...  Afinal, Saito é dela, não de Naomi. 

   - Sim, nós estávamos apenas estudando, por quê ? - Questionou num tom de voz sério, deixando claro para Saya que ele não estava gostando daquele assunto. 

    - Estudando o que, anatomia do beijo ? - Saya caiu na gargalhada, Sarada quase teve um troço e Saito ficou vermelho feito os cabelos de sua irmã mais velha. 

    - De onde você tirou isso ? - O rapazinho quase engasgou com a própria saliva, isso sem falar no esforço que ele fez pra não gaguejar. 

     - Ué, a Sakura veio aqui chamar vocês para lanchar e flagrou o maior beijão aqui no quarto - A resposta de Saya não colaborou nadinha para que Saito tentasse manter sua cor natural... Na verdade só piorou. 

    - Saito ! - Sarada foi pra cima do irmão como se quisesse bater nele, mas é claro que o garoto segurou nos braços dela e não deixou. 

    - Sarada, não pode - Repreendeu o garoto - É feio bater nos outros. 

     Percebendo então que Saito era mais forte, Sarada desistiu de castigá-lo por ter beijado Naomi. A menina bufou de raiva, cruzou os braços em frente ao corpo e fez bico. 

    - Eu não acredito que você tá namorando com aquela galatixa loira - A garotinha falou com a voz chorosa e Saito e Saya se olharam confusos. 

    - Aquela o quê ? - Questionou Saito.

    - Aquela galatixa loira - Repetiu a pequenina, ainda mais manhosa dessa vez.

    - Acho que a Sarada quis dizer lagartixa - Saya falou não contendo o riso e, assim como ela, Saito também não conseguiu ficar sério. 

     - Sarada - Saito até tentou brigar com a irmãzinha, mas não conseguiu manter-se sério, então não teve moral nenhuma - É feio chamar as pessoas de lagartixa... Não pode colocar esses apelidos nos outros. 

   - Mas ela é - Respondeu a menina. 

   - Enfim - Suspirou a ruiva - Meu irmãozinho tá virando homenzinho... Que orgulho !

    - Para com isso - Envergonhado, ele cobriu o rosto com ambas as mãos para disfarçar a vermelhidão em suas bochechas. 

     Ele não sabia com que cara iria olhar para sua madrasta, uma vez que ela viu o que não era pra ver.

   Bem, talvez uma boa forma de lidar com isso fosse agir como se nada tivesse acontecido, esse plano seria ótimo se Saito não fosse tímido, ou seja, na frente de Sakura, ele não iria conseguir disfarçar que ficou constrangido por ela ter visto seu primeiro beijo com Naomi. 

    Ah, claro, ele rezava para que ninguém abrisse o bico para Sasuke. 

    Sakura não fazia o tipo fofoqueira, Saito não estava se preocupando muito com ela. Saya, por mais que implicasse com o irmão às vezes, jamais o entregaria para o pai se ele pedisse... O grande perigo era Sarada. 

    - Deixa de ser besta ! - A adolescente jogou um travesseiro no irmão, então o garoto olhou para ela - Tá com vergonha de que, Saito ?

    - É que a Sakura viu...

    - E daí ? - Interrompeu a ruiva - Como se ela nunca tivesse feito isso com o nosso pai - Revirou os olhos. 

     - Eu sei, mas mesmo assim é constrangedor - Suspirou - O papai também pode achar ruim.

    - Acredite, a Sakura não vai falar nada - Saya respondeu e então Saito se sentiu aliviado. Ele sabia que sua madrasta não o entregaria - E eu também não vou falar, até mesmo porque eu não tenho motivos pra isso.

    - Que bom - O rapazinho olhou para a irmã caçula - E a senhorita - Sarada cruzou os braços em frente ao corpo. Ainda não tinha digerido essa história do "namoro" de seu irmão. Sim, pois na cabecinha de Sarada, se ele beijou Naomi é porque está namorando com ela - Boquinha de siri, ok ? Nem uma palavra para o papai. 

    - Vou pensar no seu caso.

    - Sarada ! - Exclamou o moreno - Eu tô te pedindo, por favor, não conta pro papai. 

    Sarada encarou seu irmão, estava pensativa... Ele brincava de cavalinho com ela, assistia Frozen, fazia desenhos com tinta guache e até mesmo já ajudou com suas tarefinhas de casa; afinal, não basta ser irmão mais velho, tem que participar.

     Saito merecia seu silêncio ? 

    - Tá bom - Sarada concordou e seu irmão suspirou aliviado - Eu não conto nadinha pro papai. 

    Embora Sarada tenha concordado em não contar nada para Sasuke, Saito ainda estava um pouco preocupado, pois, como toda e qualquer criança, sua irmãzinha poderia acabar dando com a língua nos dentes sem ao menos perceber. 

    Ou seja, a situação ainda era preocupante para o rapazinho. 

    - Obrigado, princesa ! - Ele deu vários beijinhos no rosto de Sarada de forma que a fizeram rir. 

   - Ainda tenho a impressão de que ela não vai cumprir com o combinado - Saya falou baixinho e risonha, de modo que seus irmãos não ouviram. 

    - Meu Deus ! - A garotinha exclamou espantada e deu um pulo da cama - Já deve tá passando o filme que eu queria ver !

    Desesperada, a pequena Sarada saiu correndo para a sala e sequer lembrou de fechar a porta do quarto. 

    Claro que seus irmãos riram de tamanho desespero por causa de um filme, que provavelmente era Frozen ou qualquer outro que ela já assistiu milhões de vezes e que já sabe até todas as falas.   

     - Essa Sarada é uma figura ! - Riu o garoto, deitando-se de barriga pra cima sobre sua cama.

    - Confesso que ela é engraçadinha - Concordou a ruiva que se deitou ao lado do irmão, fitando o teto como ele fazia - Acho que tô começando a me acostumar com essa pirralha.

    - Eu sempre gostei tanto da Sarada... Não sei como você não considera ela como irmã. 

    - Ela não é minha irmã - Falou curta e grossa.

    - Ela é filha do nosso pai - Corrigiu o rapaz - Ou seja, é nossa irmã. 

    - Meio irmã - Enfatizou a ruiva - Ela é filha da Sakura, não da nossa mãe. 

    - Ah, encontramos o X da questão - Saito riu de forma irônica - Tá aí o seu problema, a Sakura. 

    - Dane-se - Deu de ombros - E não vá achando que nós somos amiguinhas só porque fizemos um acordo de paz. 

    - Pelo menos já é meio caminho andado - Saito sorriu - Eu gosto da Sakura... Gosto muito dela.

   - Daqui a pouco tá chamando ela de mamãe - Bufou.

    - Não é assim, Saya - Explicou o Uchiha -Eu gosto muito da Sakura, mas ela não é a mamãe e nem nunca vai ser. Por mais que eu goste da nossa madrasta, ela não vai ocupar o lugar da nossa mãe. 

     - Se você diz - Deu de ombros - Eu não gosto dela - Sua expressão ficou triste - Sinto falta da mamãe. 

     - Eu também sinto falta da mamãe, Saya - Assim como sua irmã, uma expressão triste também se formou no rosto de Saito - Mas ela não volta mais.

    - Eu sei disso, não precisa me lembrar - Resmungou ainda triste - Mas eu lembro dela todos os dias - Suspirou - Lembro de quando ela nos levava pra escola, de quando passava a tarde conosco assistindo filmes, de quando brigava com a gente - Os irmãos acabaram rindo dessa última parte - Sinto falta disso tudo. 

     - Eu também - Ele concordou - Até das broncas eu sinto falta - Saito acabou rindo novamente - Lembra daquela minha peça da escola que ela queria fazer uma barba em mim com lápis de olho ? - Indagou de maneira retórica e, assim como ele, Saya começou a rir - Só que eu fiz um escândalo, dizendo que lápis de olho é coisa de menina. 

    - Você começou a chorar, a mamãe ficou com raiva e disse "Então você não vai !" - A ruiva imitou o jeito de sua mãe falar e ambos caíram na gargalhada - Sério, até eu já estava com raiva de você por causa daquela birra. 

    - Pelo menos ela não me bateu - O moreno pareceu agradecer mentalmente por isso - Ah, mas você lembra daquele aniversário da amiga da mamãe que você, antes de sair de casa, derramou suco no seu vestido ?

    - Nossa ! - Saya voltou a rir com a lembrança - Você ainda lembra disso ?

    - Sim, eu lembro.

    - A mamãe virou uma arara nesse dia - Suspirou, ajeitando o óculos de armação vermelha - Que nem naquele dia que você sumiu e estava no guarda roupa. 

    Saito caiu na gargalhada. Ele não tinha muitas lembranças daquela época, mas já tinha escutado a história do que aconteceu. 

    Karin ainda morava com Sasuke na época, Saya já estudava, mas Saito ainda nem estava com três anos completos. A ruiva foi levar a filha para a escola, mas antes foi até a cozinha, onde Mikoto fazia alguns biscoitos, e pediu para que  a sogra desse uma olhada em Saito, que estava brincando no quarto. 

    Mikoto colocou os biscoitos no forno logo que Karin saiu com Saya, logo depois foi até o quarto, cuja porta estava aberta, mas não encontrou seu neto ali.

    Logo o desespero tomou conta da mulher. Ela olhou em baixo da cama, atrás da porta, dentro do banheiro, mas não encontrou o garoto. 

    Chamou seu nome, mas ele não respondeu. Procurou pela casa toda, mas Saito não estava em lugar nenhum e Mikoto já não sabia mais o que fazer. 

   Ao chegar em casa após deixar sua primogênita na escola, Karin encontrou uma Mikoto desesperada e em prantos. Perguntou o que havia acontecido e a mulher disse que Saito havia sumido. 

   Karin levou um susto, claro, mas se lembrou que Saito estava brincando perto do guarda roupa, então foi até o quarto e, assim que abriu o guarda roupa, um garotinho levado exclamou um "Achou !" todo alegre e pulou nos braços de sua progenitora. 

    Teria sido uma cena bonitinha se não fosse o desespero de Mikoto. 

    Claro que Saito não tinha noção de que sua avó estava desesperada, na cabecinha dele aquilo não passou de uma brincadeira de esconde-esconde. 

    - Nossa, ela e a vovó Mikoto devem ter ficado loucas - Comentou o garoto - E você, quando estávamos num restaurante na praia, daí você começou com frescura porque não queria ir ao banheiro sozinha e fez xixi na roupa. 

    Saya se lembrava desse dia, ela estava na praia com a mãe e o irmão caçula, isso foi pouco tempo após a separação de Sasuke e Karin; a menina estava apertada e insistia para que a mãe fosse levá-la até o banheiro, mas Karin não queria deixar Saito sozinho na mesa, então mandou que a filha fosse sozinha. 

    As manhas começaram e Saya deixou Karin irritada com a insistência, uma vez que estava com medo de ir ao banheiro sozinha, pois estavam num restaurante à beira mar durante a noite e Saya não foi muito com a cara daquela decoração rústica. 

    Karin então disse para a filha parar de frescura e ir sozinha para o banheiro, pois até Saito que era menor tinha ido sozinho a alguns minutos antes. Acontece que a menina não aguentou segurar por muito tempo e acabou fazendo xixi na roupa, para o desespero de sua mãe. 

     - Eu nem sabia que você ainda se lembrava disso - Saya falou com um sorriso no rosto - Mas eu lembro de uma história sua que é ainda pior. 

    - Qual ? - Saito sabia que poderia ser constrangedor, mas ficou curioso pra saber.

    - Você se lembra da última viagem que fizemos com o papai e a mamãe ? - Ela indagou e seu irmão negou com a cabeça - Não me lembro exatamente pra onde nós fomos, acho que foi pra casa de uma irmã da vovó Mikoto, enfim... - Ela deu uma risadinha - Você comeu muito bolo de chocolate antes de sair de casa e começou a sentir dor de barriga no caminho, só que a estrada estava deserta e não tinha lugar pra parar. Quando o papai finalmente parou num posto e a mamãe ia te pegar pra poder te levar até o banheiro, você virou pra ela com a cara mais sonsa do mundo e falou "Não precisa mais não, mamãe".

    Saya caiu na gargalhada e Saito não sabia se ria ou se procurava um buraco pra enfiar a própria cabeça.  

    - Isso é mentira, Saya !

    - É verdade - A adolescente falou em meio a risadas - Pode perguntar pro papai, com certeza ele vai confirmar a história. 

    - Quantos anos eu tinha na época ? - Indagou.

     - Acho que uns três anos - Respondeu com um pouco de dúvida, pois ela não se lembrava com exatidão a idade que Saito tinha na época desse pequeno incidente - Nossa, o papai ficou morrendo de raiva e a mamãe teve que jogar sua cueca fora. 

      - Eu não me lembro, e se eu não me lembro significa que sou inocente de todas as acusações. 

     - Não senhor ! - Exclamou a ruiva - Tem testemunhas, então você não é inocente. 

     - Pior foi você, que matou um gato. 

     Ah, o pobre felino que foi morto por uma garotinha inocente de apenas oito anos... 

    Saya e Saito haviam encontrado um gatinho na calçada da casa de Karin, então a mulher disse que os filhos poderiam criá-lo. As crianças ficaram contentes, claro, e também é claro que travaram uma batalha para decidir qual seria o nome do bichano que, no fim, foi batizado de Senhor Bigodes. 

    A pequena ruiva queria colocar uma coleira no Senhor Bigodes para ela e Saito passearem com ele como se fosse um cachorrinho, mas Karin disse que não se passeava cm gatos na coleira da mesma forma que se faz com cachorros. 

    As crianças insistiram, dizendo que queriam colocar uma coleira no coitado do gato e Karin sugeriu comprarem uma correntinha bonita com um pingente onde mandaria gravar o nome do gato, mas eles queriam porque queriam passear com o Senhor Bigodes como se ele fosse um cachorro. 

    Foi quando Saya decidiu improvisar uma coleira, então pegou uma corda e amarrou no pescoço do gato... Infelizmente ela apertou demais e acabou enforcando o bichano.

    As duas crianças ficaram de luto e choraram muito por mais de uma semana, colocam o Senhor Bigodes numa caixa de sapatos, enterraram no pequeno jardim gramado que tinha na casa de Karin e fizeram uma cruz com gravetos para colocar no túmulo, assim como jogaram flores no local. 

     - Saito, eu não sabia que aquilo iria matá-lo - Defendeu-se a menina - Eu me senti culpada por muito tempo. 

    - Eu sei, era só ver um gatinho na rua que já começava a chorar - Riu o garoto - Aí você falava "Mamãe, eu quero um bichinho de estimação" e ela respondia "Pra quê ? Pra enforcar de novo ?". 

     - Ela jogou isso na minha cara por muito tempo - Suspirou - Mas depois eu aprendi que não se pode amarrar cordas no pescoço de animais. 

     - Depois de matar o Senhor Bigodes... Ele era tão fofinho. 

     - Não precisamos ficar lembrando disso - Bufou, cruzando os braços em frente ao corpo.

    - Essa época faz falta... - Comentou o mais novo - Quando a mamãe ainda estava aqui e nós morávamos perto do nosso pai - Suspirou - Maldita hora a que ela inventou de sair do país com aquele cara. Nos afastou do papai, e ainda por cima... - Saito ficou triste novamente - A mamãe morreu.

    - Você odiava o Suiguetsu, né ? - A garota perguntou e Saito assentiu - Eu gostava dele, mas ainda assim preferia mil vezes estar perto do nosso pai. Bem, agora estamos perto dele, mas infelizmente a mamãe tá morta. 

    - Não adianta ficar remoendo essas coisas agora, Saya - Suspirou, sentando-se sobre a cama, e encarou a irmã que continuava deitada - Não dá pra mudar o passado.

     - Pois é - Saya se sentou ao lado do irmão e apoiou a cabeça em seu ombro - A única coisa que temos agora são as lembranças de quando a mamãe era viva. 

    - É - Assentiu - É o que temos para poder matar a saudade de vez em quando.

    - Ou pra ficarmos mais tristes ainda - Falou desanimada. 

    - A mamãe não iria gostar de nos ver tristes, sabia ? 

     - Sabia... Mas é difícil, Saito. 

     - Eu sei - O moreno então puxou sua irmã mais velha para um abraço - Mas a gente tem que se acostumar com isso. 

     É verdade que não é fácil se acostumar com a morte de um ente querido, Saito e Saya estavam aprendendo isso da pior forma e, por mais que algumas lembranças ainda machucassem, eles sentiam que aquela ferida aberta estava cicatrizando aos poucos. 

    

     

    


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Notas finais do capítulo

Sei que ainda não respondi os comentários, mas tô indo fazer isso agora rsrs.
Beijos e até o próximo ♡
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