CAT

–Eu vou morrer. - Elena anunciou.

Nós estávamos voltando de um dia inteiro de treino de combate.

Revirei os olhos.

–Não vai nada.

–Vou sim!

–Quem manda ficar na internet à noite inteira?

–Você também fez isso!

–Isso não é importante.

–Sem falar que quem descobriu a senha da internet clandestina da academia foi você.

–Isso também não é importante.

Abri a porta do quarto e quase fechei de volta. O quarto estava mais bagunçado que o armário do Evan, e olha que isso é muito difícil.

–Alguém invadiu nosso quarto!

Ah, não brinca!

Espera, se alguém entrou aqui... Não, não, não, não, não...

–Ah, tudo bem, meu estoque ainda tá intacto.

Elena foi conferir se a comida dela estava bem também e eu comecei a tentar descobrir o que estava faltando.

–Vai dar trabalho arrumar isso. - Elena comentou.

–Eu vou esfregar a cara do desgraçado que fez isso no asfalto cheio de vidro quebrado!

–Eu ajudo, mas temos que arrumar tudo e ver se tem alguma coisa faltando primeiro.

–Agora?

–Acho que dá pra dormir um pouco primeiro...

–Daria, se a sua cama não estivesse virada de cabeça pra baixo dentro do banheiro.

Elena, xingando muito quem quer que tenha feito aquilo, começou a arrumar o quarto.

* * *

–Acabamos.

–E eu achei que o treino era cansativo... - Elena reclamou, se jogando na cama. -Agora eu vou morrer mesmo.

–Descobriu o que tá faltando?

–Ao que parece, nada.

–Tem que estar faltando alguma coisa!

–Ou quem fez isso é só filho da puta mesmo. - Elena sugeriu.

Comecei a olhar por aí tentando achar o que estava faltando.

Realmente, parece que nada... AI MEU RAZIEL, NÃO PODE SER! NINGUÉM PODE TER SIDO DESALMADO A ESSE PONTO!

–ELENA!

–Eu to aqui do lado, desgraça, não precisa estourar meus tímpanos.

–O FELISBERTO!

Elena pulou da cama e começou a procurar junto comigo.

–Ele foi levado!

–Quem seria tão cruel?

O Felisberto é um lhamacórnio de pelúcia que nós ganhamos numa queda de braço com um lobisomem (longa história). Ele é a coisa mais fofinha e adorável que já existiu.

–Se esse filho da puta machucar o meu bebê...

–Quem faria uma coisa dessas? - perguntei.

–Pode ter sido qualquer um!- Elena respondeu.

–Deve ser alguém que não gosta da gente.

–De novo: pode ter sido qualquer um!

É, tenho que admitir que a lista seja um pouco grande. [N/Isa: Um POUCO grande? Ela é maior que a lista de sobrenomes do Jace!]. Cale a boca, Isadora!

Elena estava quase tendo um ataque de pânico.

–Calma, vamos achar o Felisberto.

–Como?

Eu ia responder alguma coisa muito inteligente, tipo "Sei lá, estava esperando que você tivesse um plano", quando eu vi um papel ser empurrado por debaixo da porta.

Corri e abri a porta, mas não vi ninguém no corredor. Dei mais uma olhada por aí, mas quem passou o papel já tinha sumido. Voltei para o quarto e encontrei Elena olhando para o papel com uma expressão de choque.

–Lê isso aqui!

Peguei o papel da mão dela. Estava escrito com letras de revista recortadas: "Estou com o Felisberto. Se quiserem vê-lo de novo, me encontrem no pátio de treinamento às quatro da tarde.”.

Embaixo havia uma foto do Felisberto amarrado e amordaçado.

–Que tipo de sequestrador marca o resgate para quatro da tarde? - perguntei.

Elena deu de ombros.

–Um sequestrador que não está a fim de acordar de madrugada para isso.

–Como tem tanta certeza?

–Ele explicou isso no verso.

Virei o papel e vi que ele tinha mesmo explicado no verso.

–Quatro horas não é horário em que a maioria tem aula?

–A gente não tem.

–Ok, quem mais da lista de pessoas que não gosta da gente não tem aula as quatro na sexta?

Elena pulou da cama de novo. Ela devia parar de fazer isso.

–Crystal! Aposto que foi aquela vadia!

Saímos correndo do quarto e esbarramos com alguém. Olha que coincidência, é a Crystal!

Antes que ela se levantasse eu já tinha colocado uma faca no pescoço dela.

–CADÊ O FELISBERTO, SUA PUTA DE ESQUINA?!

–QUEM É FELISBERTO? ME LARGA, SUA VACA GORDA!

–EU SEI QUE FOI VOCÊ QUE PEGOU ELE, VADIA!

–EU NEM SEI DO QUE VOCÊ TÁ FALANDO!

–VOCÊS DUAS PODEM FAZER O FAVOR DE PARAR DE GRITAR? - Elena gritou. -Olha aqui, nós sabemos muito bem que foi você que sequestrou o Felisberto!

–Eu nem sei o que é Felisberto!

–Então está dizendo que não foi você? - perguntei.

–É! Agora me larga!

–Acredita nela? - perguntei para Elena.

–Tanto quanto acredito que Valentim era loiro natural.

Amarramos a Crystal e invadimos o quarto dela. Deixamos o quarto ainda mais bagunçado do que o nosso depois do sequestro do Felisberto, mas não o encontramos.

–Parece que era verdade.

–Eu disse! - Crystal gritou do canto onde estava amarrada

–Cale a boca.

–Então... eu diria que sentimos muito... mas a gente não sente.

–Vocês não podem fazer isso e simplesmente ir embora!

–Ah é? Fica olhando.

–Meu pai vai ficar sabendo disso!

–Aham, senta lá, Malfoy.

Ela fez cara de quem não entendeu a referência e continuou xingando a gente.

–Droga, tinha certeza de que tinha sido ela.

–Eu também.

–Coitado do Felisberto. Sozinho com um psicopata de bichinhos de pelúcia em um lugar estranho. - chorou Elena.

–Não se preocupe. Em breve vamos encontrar quem fez isso e esfolar o desgraçado vivo.

–Sabe, às vezes você me assusta um pouco.