CAT

–Espera! Eu esqueci...

–Catherine passa logo na porcaria do portal, já faz meia hora que você está enrolando!

Droga, não era pra ela perceber.

–Tá bom. Tchau.

–Amamos você! - meu pai disse.

–Não parece...

–Até as férias! Se for sair leva um casaco. E passa filtro solar. E coloca um símbolo de agilidade. E...

–Já chega, mãe!

–Desculpe.

Passei pelo portal e encontrei a consulesa no Gard, e ela me disse que ia me acompanhar até a escola, então peguei minhas malas e fui atrás dela. Agora, o que custava colocar um carrinho de bagagem do lado do portal? EU TIVE QUE ANDAR TODO O CAMINHO DO GARD ATÉ A ACADEMIA COM ESSE MONTE DE MALA!

Ok. O meu quarto é o 53. 45... 68... CADÊ O 53? Ah, é ali. Quem foi que numerou esses quartos?

Puxei a estela e abri a porta. Até que o quarto não é tão ruim quanto eu achei que ia ser. Ei, já tem as coisas de alguém aqui. Será que eu entrei no quarto errado? Espera... tem duas camas. Ah, não. Eu vou ter que dividir o quarto com uma estranha aleatória? O que eu te fiz, Raziel?

Uma garota abriu a porta e entrou.

–Oi? Quem é você é o que faz no meu quarto?

–Sou Cat Nighthunter e, pelo o que parece, sou sua colega de quarto.

Ela ficou um tempinho me encarando com cara de "o que tá acontecendo?”.

–Como assim colega de quarto? Eu não quero uma colega de quarto!

Dei de ombros.

–Eu também não, mas pelo que parece ninguém liga.

Ela murmurou um palavrão e se jogou na cama.

–Já viu a academia?

–Não.

–Posso te mostrar o que já vi, se você quiser. Mas a única coisa que eu vi foi o refeitório.

–Não precisa um amigo já se ofereceu. Mas obrigada mesmo assim...

–Elena. - ela disse - Elena Blackgold.

–Certo.

Comecei a arrumar minhas coisas. Entrei no banheiro, prendi o cabelo e fui encontrar a criatura encarregada de me mostrar isso aqui. Afinal, se os seus pais querem te mandar pra um internato em um lugar sem internet, você é obrigado a arrastar seu melhor amigo junto.

Um vulto passou correndo por mim e quase deu de cara na parede. Esse vulto tem cabelo preto, olhos castanhos, se chama Evan Blackthorn e é a pessoa que eu arrastei pra cá.

–Blackthorn, o que você...? Já fez merda?

–Foi sem querer!

Levantei uma sobrancelha.

–Dessa vez foi mesmo!

–O que aconteceu?

–Eu estava no refeitório...

–Novidade.

–E acidentalmente esbarrei em uma menina e caiu um pouco de café nela.

–Entendo. Bom, parece que ela já foi.

–Que ótimo. Espero que ela não tenha me visto direito. Vem, você chegou tarde, então só tenho tempo de te mostrar um lugar.

–Pode ser...

–Sim, vai ser o refeitório.

–Que bom!

Encontramos o parabatai do Evan lá. Thomas é loiro e um pouco mais alto que eu. Eu ainda não tenho parabatai (fato que o Evan faz questão de jogar na minha cara sempre que eu preciso de ajuda em alguma coisa). Passamos o pouco tempo que ainda tínhamos antes de ter que voltar para os quartos no refeitório.

Quando voltei para o meu quarto, Elena estava lançando um olhar triste pro seu celular.

–Fale com Magnus. Ele vai fazer funcionar aqui. Vai continuar sem internet e sem sinal, mas pelo menos vai ligar.

Ela murmurou alguma coisa que eu não entendi sobre o celular e me avisou que o jantar ia ser daqui a pouco.

–Ei, Cat?

–O que foi?

–Não mexa nos meus doritos.

–Querida, já viu o tamanho do meu estoque de doritos? Se alguém tem que dizer isso sou eu.

Ela deu um sorriso.

–Talvez você seja legal...

* * *

O primeiro dia de aula começou muito mal. Não porque aconteceu alguma coisa comigo. Começou mal porque eu acordei às 7 horas da madrugada pra assistir aula. Porque a aula não podia começar onze e meia? Demônios só saem de noite mesmo, não faz sentido nos obrigar a acordar cedo! Gente, como eu reclamo. É porque acordei cedo.

Como o horário da Elena é o mesmo que o meu, nós duas descemos para tomar café e depois fomos para o pátio encontrar um bando de gente com cara de sono para a primeira aula do dia.

Uma mulher baixinha e ruiva com o uniforme de caçadora de sombras chegou ao pátio e mandou todo mundo ficar quieto.

–Sou a... professora – ela parecia não gostar muito do termo - Ravenwood. Vou ensinar combate pra vocês. Todos vocês já sabem o que é isso, porque é importante e tudo o mais. Também imagino que todos já saibam o básico e já tenham escolhido suas armas. Mesmo assim, a academia quer ter uma ideia do que sabem fazer.

–Isso não parece bom... – alguém resmungou perto de mim.

–Como vocês já devem ter percebido, os alunos que já tem parabatai foram colocados como colegas de quarto. Os outros foram separados do jeito que o diretor achou melhor. No exercício de hoje, vocês vão trabalhar em dupla com seu colega de quarto. Vocês vão ter que trabalhar juntos em uma missão determinada por mim. Não vai ser nada grande, mas quero que deem seu melhor. Estejam no Gard às duas da tarde para receber sua missão e passar pelo portal. Quero deixar bem claro que isso não vai acontecer com frequência, e que qualquer desvio da tarefa da qual vocês foram encarregados vai resultar em punição.

Ela saiu do pátio deixando um bando de adolescentes de boca aberta pra trás.

Isso vai ser interessante...