Elena

Eu estava no banheiro pela milésima vez desde quarta-feira. Tinha acabado de me trocar, já que eu saíra do banho, e agora meu cabelo não cheirava mais a ovo estragado. 

Alguém bateu na porta e, pelo espelho, vi a cabeça de Cat. Ela me lançou um sorrisinho sínico ao ver que eu penteava meus cabelos lindos e maravilhosos – que não cheiravam mais a ovo. Ainda encarando-a pelo espelho, lhe lancei um olhar fulminante. 

— Pensei que, de todas as pessoas do mundo, você seria a última a tacar ovos podres em mim. 

Na verdade, era mentira. Eu sabia que Cat iria fazer isso, só torcia que não fosse verdadeira essa sensação. Eu a vira com ovos algumas semanas antes e, quando eu perguntara para o que era, ela desconversou e disse que eu estava precisando comer. Bem, deu certo. 

— Mentira. Você sabe que eu faria isso sendo ou não seu aniversário. 

Pois é, quarta-feira havia sido meu aniversário. Eu estava um ano mais velha e a um ano de não poder ter um Parabatai. Triste.

Eu havia acordado com a sensação de alguma coisa sendo quebrada em minha cabeça. Quando acordei, vi a Cat saindo do quarto e senti algo quente e de cheiro ruim escorrer pela minha testa. Era ovo. Estragado. Cat adotara uma das tradições mais ridículas dos mundanos. Nem preciso falar que eu fiquei furiosa e, quando abri a porta do quarto, meus amigos estavam ali, todos com as mãos cheias de ovos. Tudo foi parar em mim. 

De novo, triste. 

De volta ao presente, Cat agora olhava pra mim com um sorrisinho torto. 

— Tem razão. Você é uma chata. – meu comentário fez com que o sorriso de Catherine se alargasse.

— Sei que você me ama. 

Revirei os olhos enquanto saíamos do banheiro. Passei os dedos entre os fios de meu cabelo, vendo que ele mão estava com mais nenhuma consistência e nem com cheiro de ovo. Aguarde, Cat, apenas aguarde.

— Agora, me diga: qual é o motivo de você ter acordado antes das duas da tarde em um sábado? 

— O quê? Uma garota como eu não pode acordar cedo? 

— A menos que você tenha levado ovadas no cabelo, não. 

Cat deu de ombros com um leve sorriso. Minha raiva ainda inacabada divertia a todos.

— Magnus solicitou o elenco de "Entre Caçadas e Sombras" no pátio. 

Bufei. Eu até tinha esquecido da "novela" que Magnus iria dirigir. Teria eu e meus amiguitos como o elenco principal e mais os figurantes da vida real como figurantes. Pobres figurantes que eram sempre atacados por demônios ou outras coisas. 

Encarei Cat um pouco cética. 

— Como se você fosse sem ter algum interesse pessoal. 

Cat, novamente, deu de ombros. 

— Ele disse que teria chocolate. 

Parei de fazer nada e a encarei. 

— Mon amour, o que ainda estamos fazendo aqui? 

Cat revirou os olhos diante do meu francês básico (que ela agradecesse por eu não ter falado coreano) e nós corremos mais do que imediatamente para o pátio. Pelo jeito, nós éramos as únicas que faltavam aparecer. 

— Cadê os chocolates? – perguntei. 

O que foi? Podia até ser dez horas, mas chocolate não tem hora para ser apreciado.

Magnus, que estava no centro do pátio, me olhou. 

— Não tem chocolate algum. 

Cat pôs a mão no peito e se inclinou para trás. 

— Eu confiei em você. – ela soltou um muxoxo. 

Magnus revirou os olhos. 

— Bem, estamos reunidos aqui para começarmos a gravar o primeiro episódio da novela. – Magnus disse e, ao estralar dos dedos, roteiros apareceram em nossas mãos. – Decorem isso e, em uma hora, me encontrem aqui de novo.

Evan levantou a mão e Magnus apontou para ele.

— E quanto ao chocolate?

Magnus suspirou.

— Se saiam bem no primeiro episódio e aí ganharão chocolate.

Mais do que rapidamente, nos separamos para decorar o roteiro.

***

— Maria Antonie, pare de enrolar!

Fiz careta ao assistir o resultado. Na verdade, todos fizemos. Para ser honesta (e nem um pouco modesta), nossa atuação foi ótima. Mas... Os nomes, figurinos e a história eram um pouco... Estranhos.

Eu era uma caçadora francesa chamada Maria Antonie e Cat era uma polonesa chamada Criane. Julie era Jessiane, uma londrina, e Isadora era Kimly, uma brasileira. Astrid era Annelixa, uma ucraniana, e Crystal (que tinha dado um jeito de entrar) era uma italiana chamada Monamu. Eu poderia citar os personagens dos meninos, mas estava com preguiça demais para pensar em alguma coisa.

— E então, o que acharam?

— Me deu vontade de vomitar. – respondeu Isa.

— Tem tanta purpurina que eu acho que fiquei com labirintite. – falou Julie.

— Cadê o chocolate? – eu e Cat indagamos em uníssono.

Revirando os olhos, Magnus nos deu algumas barras de chocolate. Pegamos felizes e fomos para dentro da academia tentar tirar a imagem dos figurinos berrantes de nossas cabeças lindas e modestas.