Elena

— Alguém aí quer brócolis?

Elo, automaticamente, atacou meu prato. Teria colocado seu garfo em meu braço também se não fosse por seu Parabatai.

— Calma aí. – disse J-Hope, puxando Elo para longe de mim.

Sim, J-Hope e Elo eram Parabatai, embora eu às vezes esquecesse disso.

— Como você pôde desperdiçar brócolis? – perguntou Elo, arrastando a comida para o prato dela.

— Simples: tá estragado. – dei de ombros.

Assim que minha irmã mastigou o primeiro pedaço, cuspiu. Então, ela percebeu que ninguém mais estava com brócolis no prato.

— Que gosto ruim. – ela fez careta. – Colocaram o que aqui?

— Além de mofo? – disse Cat, analisando o vegetal, mas por fim deu de ombros. – Magnus nos convidou para uma festa.

— Quando? – indaguei, empurrando o meu prato vazio para longe. 

— Hoje à noite. Ele mandou uma mensagem de fogo pro nosso dormitório de manhã.

— Eu não vi. – comentei franzindo a testa. 

— Era quando você 'tava hibernando, sabe? – Cat esclareceu e eu assenti lentamente. 

É, eu dormi demais. 

— Certo, a gente vai? – falei. – Ou melhor, quem foi convidado?

— Todos nós, ué. – disse Cat.

— Tá. – dei de ombros, levantando-me da mesa e me dirigindo para fora do refeitório.

Logo, Cat, Julie, Isa e Astrid estavam comigo.

— É errado eu estar com fome mesmo depois do almoço? – reclamou Julie, chegando à porta do meu quarto.

— Sim. – brincou Isadora, dando uma cotovelada nela.

Julie pareceu rosnar para ela, porém sorriu em seguida. Entramos no dormitório e elas se jogaram no tapete enquanto Cat abria seu cofre cheio de salgadinhos e pegava um pacote de Doritos.  Jogou para Julie, que rasgou e enfiou a mão dentro, tirando um punhado de salgadinho. O resto de nós também pegou.

— Então, vocês vão com seus lindos namorados na festa, certo? – fiz uma voz estranhamente fina. – Vão deixar eu e a Astrid de vela!

As meninas deram de ombros.

— Mas você tem uma opção. – disse Astrid.

— Ah, é?– ironizei, colocando um Doritos na boca. – Vou com o quê? Umm unicórnio?

— Elerick! – exclamou Cat.

Olhei para ela.

— O que, pelo Anjo, é Elerick? – disse com a testa franzida.

— O shipp de você mais Erick, duh. – falou Julie como se fosse óbvio. – Ainda estamos trabalhando nisso. Tem esse e Erina, tamb...

— Que ridículo. – enfiei a minha mão no pacote de Doritos.

— Que pose de durona quando se trata de relacionamentos, Le. – comentou Isa.

Revirei os olhos.

— Não sou durona quanto a isso, é só que em todos que eu estive nunca deram certos.

— Isso porque você saia com seres do submundo. Ou Caçadores de Sombras babacas. – disse Cat. – Além disso, você fala que é você quem termina com todos, então nada de heartbreak.

Novamente, revirei os olhos. Era a mais pura verdade, mas eu não gostava de ouvir muito porque achava que o problema era comigo.

— É, tá, tanto faz. – bufei. – A maioria dos meus relacionamentos sérios foram complicados.

— Relacionamentos sérios? – debochou Astrid. – Você chama aquelas coisas de relacionamentos sérios?

Fiz uma cara de indignada.

— Sim! Só porque todas vocês estão relacionamentos mais sérios, não quer dizer que eu...

Cat estava com Evan, Julie com Thomas e Isa com Joey (é, eles ficaram juntos na semana passada). A Elo tinha o Dan, J-Hope tinha alguém aí e até Elissa ‘tava com alguém no Instituto, um tal de Liam. Astrid era a única de quem eu não sabia.

— Você é mais rodada do que pratinho de micro-ondas! – Cat apontou para mim, interrompendo minha linha de raciocínio.

— O quê?! – falei, completamente ultrajada.

— É. – concordou Isa, rapidamente. – Você já namorou um vampiro, um lobisomem, um cavaleiro fada e um caçador de sombras!

— E? – balancei os ombros. – Quatro pessoas, não é muito! Rodada é a Crystal!

Elas tiveram que concordar.

***

Já na festa de Magnus, Cat, Isa e Julie me deixaram sozinha com Astrid para dançar. Dando de ombros, nós duas começamos a dançar juntas. A música alta demais fazia meus ouvidos doerem e a purpurina que Magnus jogava nas pessoas fazia meus olhos coçarem. Eu não podia comer alguma comida de lá já que tinha o risco de eu virar uma mosca e eu (e todos os Caçadores de Sombras lá) não podia andar direito sem ser encarada por membros do Submundo. Ou seja, o único ponto alto de estar lá era que eu estava com meus amigos.

Em um determinado tempo, Astrid me abandonou para ir ao banheiro (eu dei as devidas instruções para ela não ser capturada lá). Eu fiquei mais um tempo sozinha, até que fui abordada por Erick.

Aquele clima estranho ficou entre a gente, mas ele sorriu e quebrou o gelo.

— Você ficou com ciúme. – disse vitorioso.

Encarei-o como se ele fosse louco.

— Hein? – minha voz saiu esganiçada.

— Cat me contou que você ficou com ciúme de mim quando eu estava com a Astrid.

— Como você é convencido! – lhe dei um soquinho no ombro.

— AHA! Você não disse que era mentira!

Vish, pior que eu não disse mesmo. Bem, mas eu estaria mentindo se eu dissesse que era mentira. Eu até que tinha ficado com UM POUCO de ciúmes. Mas só um pouco.

Todos que nos encarassem no cinco segundos seguintes pensariam: “Por que esses loucos tão se beijando?”.

— Isso nos forma um casal agora? – murmurou Erick, começando a balançar o corpo no ritmo da música lenta que tocava.

— Acho que sim. – o acompanhei.

Meu Anjo, isso foi estranho. Mas eu gostei.

Sorri, abraçando-o e continuando a dançar. Mas, depois de um tempo, fui procurar minhas amigas. Assim que encontrei Cat, contei a ela, que pronunciou um “Aleluia!”.

Queria poder dizer que estava tudo bem, que eu contei para as outras, que deram pulinhos histéricos. Mas não.

Quando eu e Cat íamos procurar Isa, Julie e Astrid, ouvimos uns gritos irritados. Nos encaramos e fomos até o local dos barulhos. Ao chegar lá, arregalei os olhos diante da cena, assim como Cat.

— Me tornar sua Parabatai foi a pior coisa que eu poderia ter feito!

— Não, Isadora, me tornar a sua Parabatai foi a pior decisão da minha vida!

Julie e Isadora estavam de cabelos bagunçados e roupas sujas. Será que tinham saído no tapa?

— Eu te odeio! – disseram em uníssono.

E, assim, cada uma seguiu por um caminho diferente, irritadas e batendo o pé.

Olhei para Cat, que me encarava de volta. Ela pronunciou o que eu estava pensando:

— O que aconteceu aqui?