Hermione abriu a porta da casa e eles se depararam com o lugar completamente bagunçado. Todos os porta-retratos estavam quebrados e alguns móveis revirados. Potter e Malfoy entraram no lugar e o auror parou para observar, enquanto o outro decidiu que daria atenção aquilo depois. Estava cego de raiva e tudo o que queria era encontrar aquele ruivo que havia acabado com sua vida.

Procurou em todos os cômodos da casa, mas não o encontrou em lugar nenhum, então voltou para a sala, onde Hermione estava sentada com um pedaço de pergaminho em mãos. Ela não disse nada, apenas o estendeu para ele e quando o pegou se deparou apenas com uma palavra: “Desculpa” e algumas manchas de tinta.

—Ele sabia. –A morena murmurou. –Sabia que Zender havia acordado e que descobriríamos tudo.

—Filho da...

—Agora tudo faz sentido. –Ela se levantou e começou a andar de um lado para o outro. –Rony não apareceu ontem porque estava no St. Mungus e quando Zender acordou ele ficou desesperado. Quando voltou pra casa ele terminou tudo porque sabia que eu não ficaria na casa e isso lhe daria tempo suficiente para fugir sem que ninguém percebesse.

—Eu não entendo... –Harry murmurou, ainda sem acreditar que o melhor amigo fosse capaz de tal coisa.

—Mas eu entendo. Desde o início evitamos a pergunta mais importante que deveríamos estar fazendo com medo da resposta: Quem ganharia mais com toda a situação? Ele me tirou do caminho e ficou com a garota, não é? Maldito! –Gritou a última parte, jogando tudo o que estava em cima da mesa no chão.

—Eu não acredito que ele... Como Rony pode fazer isso comigo? –Hermione questionou, se sentando. Não queria acreditar que seu melhor amigo, aquele que esteve com ela nos últimos anos, que a consolou em vários momentos, era o responsável por toda aquela dor.

—Espero que ele tenha encontrado um bom esconderijo, porque eu juro que vou matá-lo se eu o encontrar.

—Não. –Harry se levantou. –Vou reunir os aurores. Rony vai responder pelo que fez, eu prometo.

O menino que sobreviveu saiu, deixando os dois sozinhos. Hermione se levantou e andou até Draco, parando na frente dele. Sabia que ele estava irritado, principalmente porque quando finalmente descobriu a verdade era tarde demais e Rony já havia sumido. Ela também estava. Não esperava que ele fosse capaz de jogar tão baixo.

—É minha culpa. –Murmurou, olhando bem em seus olhos acinzentados. Estavam cheios de tormento, raiva, frios de uma maneira que ela nunca havia visto. –Mas não se preocupe, nós vamos pegá-lo nem que seja a última coisa que eu faça.

—Não, isso é entre nós dois. Não quero que se culpe pelo que houve, Hermione. –Draco suspirou, bagunçando os cabelos. –Pensei que quando resolvêssemos isso tudo acabaria. Sem pesadelos, sem arrependimentos, que eu estaria livre para viver a minha vida finalmente.

—Ainda pensa no tempo que passou em Azkaban?

—Às vezes sinto que ainda estou lá, esperando pelo próximo dementador. Aquele lugar é o verdadeiro inferno, planejado de um jeito que fica cravado para sempre na cabeça de qualquer um que coloque os pés lá dentro. Mas isso não importa, não agora, nós temos que achar o Weasley.

...

Após dar uma passada na empresa, Draco foi direto para casa. Aquele havia sido um longo dia e ele tinha a impressão de que sua cabeça estava prestes a explodir. Quando chegou, encontrou Astória sentada na calçada parecendo entediada. Não sabia há quanto tempo ela estava lá, mas pela expressão da loira ela não parecia muito feliz.

—Até que enfim. –Ela suspirou, se levantando.

—Está aí a muito tempo? –Ele questionou, abrindo a porta e fazendo sinal para que ela entrasse primeiro.

—Não muito. Por favor, me diz que tem whisky de fogo.

—Acho que as coisas com o seu pai não foram boas, então. –Draco murmurou, pegando a garrafa e dois copos e entregando para a mulher.

—Como eu esperava. –Ela revirou os olhos, servindo para os dois. –Vamos ter um jantar essa noite e vou conhecer o meu futuro marido. É só convencer o idiota e a família dele que não sou boa o suficiente para o cara que não consegue nem arrumar uma noiva sem um acordo e pronto. Se eles não me quiserem não há nada que meu pai possa fazer.

—Parece um bom plano. Já sabe o que vai fazer? –Malfoy questionou, sentando-se ao lado dela, que se aconchegou em seus braços.

—Tenho algumas ideias. Agora me diz, por que está com essa cara?

—Descobriram quem é o responsável por toda a confusão de quando acharam que eu estava morto.

—Sério? –Astória sorriu. –Espera, você não parece feliz.

—Foi o Weasley. Ele fugiu.

—Aquele filho da puta! –Ela gritou, visivelmente irritada. –Eu sabia! Sabia que tinha alguma coisa muito errada com ele!

—Potter disse que vão pegá-lo, mas eu duvido muito. –Murmurou, servindo-se novamente após esvaziar seu copo. –Ele não vai ser estúpido o suficiente para voltar aqui.

Alguém bateu na porta e o loiro se levantou para atender. Devia ser Theo, contando sobre o que quer que fosse a novidade que sua mãe tinha para contar e também para saber o que o Potter queria. Ele abriu a porta, se deparando com Hermione e Scorpius.

—Papai! –O menino gritou, pulando no colo dele.

—E aí, garoto? –Perguntou, sorrindo com a surpresa.

—Imaginei que precisasse disso. –A castanha deu um leve sorriso.

—Você não faz ideia. –Draco respondeu, colocando-o no chão.

—Eu preciso falar com você, é importante.

—Okay, entre.

—Mãe, a namorada do papai tá aqui! –Scorpius gritou e Hermione finalmente viu Astória no sofá.

—É um prazer conhecê-lo, mas não sou namorada do seu pai. –A loira sorriu e ele se sentou ao lado dela, olhando-a com expectativa.

—É o quê, então?

—Ela é minha amiga. –Draco disse.

—Não parece.

—Me desculpe, eu deveria ter avisado antes. –A castanha começou. –Se quiser podemos voltar mais tarde.

—Não, por favor. –A loira se levantou, com um sorriso. –Só passei pelo Whisky mesmo. Vou jantar com o meu noivo e preciso me arrumar, mas foi um prazer.

—Noivo? –Hermione questionou, arqueando as sobrancelhas.

—Pois é, louco né? –Ela riu, bagunçando os cabelos de Scorpius, que fez uma careta, e em seguida caminhando até Draco. Astória sorriu para Hermione e deu um beijo na bochecha do loiro. –Depois conto como foi.

—Boa sorte.

A mulher acenou e então saiu da casa. Por um momento houve apenas o silêncio, já que Draco não sabia o que dizer e Hermione não fazia ideia de como começar. Eles se encararam e então Scorpius resolveu o problema.

—Posso ver tv? –O menino perguntou.

—Claro. –Draco respondeu, sorrindo e ligando o aparelho para o filho. –Aceita Whisky?

—Não, obrigada. –Hermione murmurou e depois parou por um minuto. –Quer saber? Eu aceito sim. -Ele riu e os dois seguiram juntos para a cozinha, aonde o loiro serviu mais dois copos da bebida e eles se sentaram. -Como você está?

—Furioso e você?

—Péssima.

—Um brinde, então. –Malfoy murmurou, levantando o copo e virando de uma vez.

—Não consigo acreditar que ele foi capaz de fazer isso. Ele me consolou quando você... –Hermione se calou por um momento e, ao terminar sua bebida, serviu outro copo. –Não quero falar sobre isso.

—O que queria falar comigo?

—Estou procurando uma casa nova. Não quero ficar lá nem mais por um segundo, então conversei com Harry e ele me convidou para ficar com ele e Gina até encontrar um lugar. Eu não sei se soube, mas ela está grávida e as notícias realmente a abalaram, então não acho que seja uma boa ideia para Scorp vê-la assim. Pensei em deixá-lo com você, se não se importar.

—É, eu fiquei sabendo sim. Acho uma ideia ótima. –Ele sorriu. –Sabe que se quiser pode ficar aqui também, não é?

—Imaginei que diria isso, mas Gina precisa de mim e eu acho que também preciso dela.

—Entendo. –A mulher bebeu o que restava em seu copo e serviu um pouco mais. –Então, Astória vai se casar?

—Famílias tradicionais, sabe como é. O pai dela está tentando arranjar um casamento com o irmão do noivo da irmã e agora ela tem que convencer o noivo de que ela não é o que ele procura.

—Sinto muito, sei que vocês eram próximos. Vocês não ficam incomodados? Quero dizer, como podem aceitar que seus pais decidam com quem vão passar o resto da vida?

—Nós odiamos, mas as coisas sempre foram assim e sabemos que vai ser pior se nos recusarmos.

—Não deveria ser assim, parece que estamos no século passado.

—Eu não poderia concordar mais. –Murmurou, rindo. –O que acha de fazermos pipoca e nos juntarmos a Scorpius? Quem sabe esse dia passe mais rápido.

—É uma ótima ideia. –Hermione sorriu.

Os dois então fizeram pipoca enquanto bebiam juntos e conversavam sobre o menino. Não queriam voltar no assunto “Ronald Weasley”, apenas fugir daquela realidade por alguns segundos. Quando ficou pronto, os dois voltaram para a sala, sendo recebidos com palmas e um enorme sorriso da criança. Ambos se sentaram, deixando Scorpius no meio e fizeram maratona de todos os filmes da Disney que encontraram. Continuaram assistindo até mesmo depois que Scorpius dormiu. Continuaram até pegarem no sono, os três abraçados.

É como se isso acontecesse o tempo todo
Eles levam o seu coração e roubam a sua vida
E é como se você sentisse que tivesse morrido,
Porque você foi morto por dentro
Mas ainda assim você está vivo
O que significa que você vai sobreviver
...
É como assistir as paredes derreterem na cela da sua prisão
Mas você já superou este inferno na terra
Ainda tem um pedaço de você morto quando você grita