Ronald havia acordado um pouco mais cedo para ter um tempo a mais com sua esposa. Queria saber o motivo da demora na noite passada, desejando que a resposta fosse algo diferente do nome que parecia perseguí-lo nas últimas semanas: Draco.

Desceu as escadas encontrando a morena na cozinha tomando um pouco de café enquanto lia seu amado livro. Não reparou que os olhos dela estavam inchados e vermelhos pelas lágrimas que derramara na noite anterior, Hermione nunca apreciara tanto o fato de que ele não se apegava a detalhes.

—Bom dia Mione! –Disse surpreendendo-a e tirando sua concentração com um selinho.

—Bom dia. –Ela sorriu marcando a página em que estava. –Harry pediu que fosse mais cedo desta vez?

—Não, eu só queria passar um tempo com você antes de ir para o trabalho. Quero conversar.

—Sobre ontem? –Ela perguntou e um flash do beijo passou por sua mente. Já esperava que o marido perguntasse o motivo de ter chegado tão tarde.

—Você demorou e Gina disse que já havia saído então fiquei preocupado... Onde esteve?

—Com Draco. –Ela respondeu direta, sabia que enrolar só o deixaria mais irritado e mentir não era uma opção.

—Sempre ele... –Murmurou baixo o suficiente para a mulher ouvir.

—Acabamos Rony, de vez. –Sentenciou sentindo um pequeno aperto no peito. –Conversamos e concordamos que era o fim.

—Ele concordou mesmo com isso?

—Ele foi o primeiro a dizer adeus.

Não conseguindo esconder a felicidade o ruivo deixou um pequeno sorriso escapar. Hermione não estava surpresa por isso, na verdade estava surpresa por ele ainda não ter dado uma festa. Ele se aproximou da mulher e lhe deu um selinho, colocando as mãos em sua cintura.

—Vamos ao baile?

—Mesmo que eu não quisesse Pansy e Gina me obrigariam. Sua irmã está enlouquecendo.

—Harry me disse que ela não para de perguntar se ficará melhor com cores escuras ou claras.

—Ela só não está mais animada que o Scorp. –Hermione riu.

Depois de algum tempo em silêncio admirando o rosto dela, Rony resolveu que talvez aquele seria um bom momento para tocar no assunto delicado mais uma vez. Respirou fundo e disse logo:

—Ainda não me disse o que acha da minha ideia. –Murmurou acariciando seu rosto. –Sobre o bebê.

—Rony... –Ela começou, mas não conseguiu formular frase alguma.

—Mione você sempre soube que eu queria ter filhos. Digo isso desde que nos casamos.

—Eu sei, mas...

—Você não quer?

—Tenho medo de que seja como da última vez. –Confessou. –Todos me dizendo que era errado ter o bebê, jornalistas por toda parte, e eu sozinha.

—Vai ser diferente querida, eu prometo! Não vou deixá-la sozinha e ninguém vai julgá-la.

—Eu posso pensar na ideia okay?

—Já é o bastante pra mim. –Sorriu puxando-a e beijando-a de um jeito intenso. As mãos apertando o quadril da esposa para trazê-la mais para perto enquanto ela passava seus braços em torno de seu pescoço.

Quando Rony desceu os beijos pelo pescoço dela, Hermione finalmente percebeu que eles não estavam sozinhos. Os cabelos loiros inconfundíveis fez com que ela empurrasse o marido para longe o mais rápido possível, fazendo com que ele a lançasse um olhar estranhando a situação.

—O que houve? –Perguntou e a senhora Weasley indicou a mesa, onde ele estava sentado. –Ah... Bom dia criança.

—Bom dia. –Cumprimentou como se não se importasse com o que viu.  –Bom dia mamãe.

—B-bom dia querido, está com fome? –Ele assentiu dando uma olhada rápida para ela e logo notando suas bochechas vermelhas. Revirou os olhos e se debruçou sobre a mesa para pegar algumas torradas que ali havia enquanto o padrasto se sentava ao seu lado.

—Não muita.

—Eu estava pensando e o que acha de ir comigo experimentar a vassoura nova? –A pergunta fez Scorpius finalmente levantar os olhos.

—Meu papai pode ir também? –O Weasley ficou calado e Scorpius entendeu que aquele silêncio queria dizer “não”. –Me desculpe, mas quero subir quando meu pai estiver comigo.

—Tem medo de cair? Posso pegá-lo caso aconteça.

—Eu sei, mas não acho que devo subir sem ele.

—Entendo. –Respondeu se levantando. –Vou me arrumar para o trabalho.

—Tão cedo? –Hermione perguntou. O marido não fez mais que um aceno de cabeça, saindo rapidamente da cozinha. Ela lançou um olhar de censura ao filho, que ainda se esticava para pegar mais torradas.

—O quê? Eu realmente não vou subir sem o meu pai.

—Meu Merlin por que tão parecidos? –Ela perguntou baixo, respirando fundo. –Decidimos ir ao baile.

—Sério? E você também vai? –Os olhos acinzentados do menino brilharam e um sorriso surgiu em seus lábios.

—Sim, então, por favor, se comporte e não fale com nenhum estranho okay?

O garoto não respondeu, já tinha ouvido todo aquele sermão mais de mil vezes, o conhecia de trás pra frente. Se levantou e abraçou a mãe apertado. Ela sabia que era importante pra ele, mas talvez não imaginasse o quanto.

No andar de cima, Rony, irritado deu um chute na cama se perguntando se Draco era mesmo melhor. Se Scorpius preferiu um Comensal que conheceu há pouco tempo porque Hermione também não o escolheria se ela já o conhecia há anos?

O ruivo se trocou e após se despedir rapidamente da esposa e do enteado foi para o trabalho, não se importando em chegar mais cedo. Pelo menos poderia adiantar a papelada sobre um antigo caso reaberto que o esperava.

A movimentação estranha na sala onde faziam as reuniões o chamou atenção. Não havia nenhuma reunião marcada, não naquele dia. Abriu a porta e sentiu sua raiva crescer ao perceber vários aurores, muitos que até já tinham se aposentado, sentados ali diante de Harry e Draco Malfoy. Sempre Draco Malfoy.

Querendo explicações ele não se importou em se aproximar do melhor amigo, que desejava poder desaparecer dali por ter uma ideia do que o amigo era capaz de fazer quando estava movido pela raiva.

—O que diabos está acontecendo aqui?

—Estamos reunindo todos os aurores que trabalharam no ano em que Draco “morreu”. Quero encontrar o responsável por toda essa mentira o mais rápido possível.

—Abaffiato. –Draco fez o feitiço antes que todos percebessem a alteração do ruivo.

—E não pensou em me dizer nada?

—Se ele contasse eu não iria colaborar. –Draco se intrometeu.

—E por que concordou com isso Harry?

—Como eu disse, quero encontrar o responsável pela confusão.

—Me deixou de fora por causa da Hermione? –Perguntou ao loiro com um sorriso sínico no rosto.

—Ronald, por favor, não começa. –O moreno pediu vendo a irritação crescer nos olhos acinzentados ao seu lado.

—Não Potter, eu cansei! Ele volta do nada, invade minha casa, vem ao meu trabalho e eu não devo fazer nada?! Vou te dizer uma coisa Malfoy, ela não vai voltar pra você, e mesmo que Scorpius seja o seu filho, quem esteve presente quando ele precisou fui eu! –Aumentou o tom de voz colocando o dedo no peito dele. –Você não sabe nada a respeito dessa criança, porque enquanto eu o vi crescer, você estava em Azkaban pagando por tudo o que fez de ruim durante a guerra!

—Do que adianta estar lá se você só sabe culpá-lo pelas coisas que eu fiz? –Gritou pegando-o pela gola da blusa. –Eu tenho pena de você Weasley, realmente não percebe que Hermione só está com você por achar que lhe deve algo?

—Se fosse por isso não estaríamos pensando em ter filhos seu idiota! Hermione me ama!

—Tem certeza que ela está pensando nisso? Aposto que a ideia foi sua. –Disse lançando um breve olhar a Harry e saindo logo em seguida.

—Estou decepcionado com você Potter. –Rony disse saindo em direção a sua sala.

~Pov Hermione

—Não Gina. –Falei com a ruiva no telefone. –Logo, logo estarei aí.

—Não demora. –A ruiva respondeu mandona e a campainha tocou.

—Só um minuto. –Pedi indo em direção à porta.

—Hermione!!!

—Não vou me atrasar, prometo.

—Pansy já chegou, só... –Mas tudo o que Gina dizia parou de fazer sentido no momento em que vi quem estava na porta.

Draco.

Os lindos olhos azuis brilhavam devido às lágrimas que ele não havia derramado ainda. Preocupada e querendo saber o que havia acontecido eu me aproximei, mas ele recuou.

—Aconteceu alguma coisa?

—Scorpius está?

—Quem é? –A ruiva perguntou. –É o Draco?

—Lá em cima, no quarto.

—Eu... Vejo que está atrasada, prometo que não vou demorar, só me deixe vê-lo por um minuto. -Balancei a cabeça assentindo e ele subiu as escadas rapidamente.

—O que houve aí? –Gina disse me lembrando que ela ainda estava ali.

—Eu não sei, mas ele parece péssimo.

—Tenta descobrir o que houve, Pansy e eu esperamos.

—Ele não vai me dizer, Ginny.

—Talvez diga ao Scorp.

—Você sabe que não. –Ela soltou um suspiro frustrada. –Vejo vocês daqui a pouco.

Desliguei e subi as escadas indo até o quarto do meu filho. Encostei-me na porta para olhar bem o que estava acontecendo não tendo a certeza de que eles haviam me visto. Draco estava dando um abraço apertado no pequeno que apenas retribuía sem entender.

—Papai... –Ele chamou sem receber resposta. –Está tudo bem?

—Está sim. –Murmurou sem soltá-lo.

—Você tá chorando? –Perguntou separando-se dele e segurando seu rosto para olhá-lo atentamente.

—Não, eu estou bem. –Murmurou forçando um sorriso e acariciando os cabelos do garoto.

—Não parece bem.

—Eu sei, mas não é nada. –Disse encerrando o assunto com um beijo no rosto de Scorp. –Está se arrumando para ir para a escola? –O loiro assentiu e Draco o colocou de pé. –Deixe-me ajudá-lo.

—Na verdade eu... –Comecei fazendo-os perceber que eu estava ali, me perdendo um pouco quando os olhos acinzentados pousaram sobre mim. –Eu estava pensando em deixá-lo faltar hoje. Se quiser pode passar o dia com ele já que tenho que sair com Gina e Pansy.

—Obrigado. –Malfoy disse dando um pequeno sorriso e eu balancei a cabeça.

—Sério mamãe? –Scorpius perguntou e eu balancei a cabeça.

—Se prometer se comportar...

—Eu sempre me comporto.

—Vamos ver se é verdade então.

—Pode vir comigo enquanto ele termina de se arrumar? –Pedi e ele balançou a cabeça, me acompanhando até a sala. –O que aconteceu?

—Nada de mais.

—Por favor, eu me preocupo com você.

—Não tem motivos pra isso. –Suspirei impaciente por não saber o que estava acontecendo e ele logo mudou de assunto. -Obrigado mais uma vez por me deixar ficar com ele esta tarde.

—Sabe que pode vir sempre que quiser não é? –O loiro balançou a cabeça assentindo e depois de um tempo em silêncio ele resolveu falar algo:

—Soube que você e o Weasley estão pensando em ter um bebê.

—É, Rony sempre quis ter filhos, mas eu... Nós não decidimos ainda. –Falei um pouco sem jeito e ele deu um sorriso tímido, olhando para o jarro de flores que estava ao seu lado como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

—Entendi... –O silêncio constrangedor voltou e ao mesmo tempo que eu o loiro resolveu falar. –Hermione eu...

—Draco eu... –Nós rimos e os olhos dele voltaram a mim. –Pode falar.

—Estou feliz por ir ao baile. –Balancei a cabeça dando um pequeno sorriso, com a impressão de que não era aquilo que ele queria dizer. Foi quando uma criança animada desceu as escadas correndo, só parando quando alcançou o pai. –Tudo pronto?

—Uhum. –Scorp sorriu.

—Então se despeça de sua mãe para podermos ir. –Scorp então veio até mim e me abraçou. Eu me abaixei e beijei sua bochecha. Acenando o pequeno saiu de mãos dadas com Draco e antes de ir me encontrar com Gina e Pansy parei para normalizar a respiração que eu não percebi, mas estava falhando desde o momento em que eu o vi.

Eu achei que tinha sido machucado antes
Mas ninguém jamais me deixou tão dolorido
Suas palavras fizeram um corte mais fundo do que uma faca
...
E agora que estou sem seus beijos
Eu precisarei de pontos