Nico conseguira pegar a bola e começou a correr, quicando-a. Não era marcado por ninguém e a cesta estava à sua frente, mas ele não se atreveria a arremessa-la, considerando a péssima mira, e continuou avançando para marcar dois pontos.

É claro que ele sabia sobre a péssima mira de Nico. Jogavam juntos há tantos anos que não saber disso seria um crime, até porque o italiano não escondia aquilo de ninguém. Com uma rapidez incrível, o loiro conseguiu roubar a bola e correr em direção à outra cesta, fazendo um arremesso perfeito de quase da metade da quadra e marcando três pontos, vencendo o jogo. Não que ele precisasse realmente dos três pontos, eram os últimos segundos de jogo e seu time estava com a vantagem, bastaria apenas ter tirado a bola de Nico, mas ele sempre gostara de se exibir.

Com um sorriso gigante, o mesmo que estava lá no fim de cada partida que vencia, mesmo que, como era o caso, fosse apenas um treino, ele secou o suor que escorria de sua testa. Percy, que estava no time do loiro, passou o braço pelo seu pescoço, comemorando.

O treinador Hedge sorriu também. Com os três, eles ganhariam a temporada de inverno com toda a certeza.

~^~

Megan estava mais do que maravilhada. Mais cedo, Nico a levara até a escola de música, para que ele pudesse dizer aos seus alunos que voltara, e para que ela pudesse conhecer. Bianca estava lá também. Era tudo tão grande e os alunos eram tão fofos!

De alguma forma, eles a envolveram na peça também. Uma das alunas teve que faltar e não tinha ninguém para substituir. Um dos alunos de Nico, que disse se chamar David e era responsável pelo figurino, tirou as medidas de Megan e descobriu que suas medidas eram quase iguais às da outra garota, então entrou correndo em uma salinha e ficou lá por quase quarenta minutos.

E ali estava ela, com um vestido digno de princesa e um coque complicado, ouvindo a música mais uma vez. A peça seria dividida em duas partes: a da Idade Média e a dos tempos atuais. Megan seria a rainha tirana da Idade Média, que separaria o casal principal por ciúmes. Para sua sorte, ela tinha apenas uma música e poucas falas, e ela não precisaria cantar.

Nico perguntara mil vezes se ela se sentia incomodada por ter que participar. Para ser sincera, a ruiva era, provavelmente, a pessoa que mais estava se divertindo ali. Já trabalhara com inúmeras coisas desde seus quinze anos, mas nunca tinha sido atriz. Lhe parecia tão emocionante!

Todos iam de um lado para o outro enquanto ela mantinha a concentração na letra da música que tocava em seus fones. Alguns lhe perguntavam se queria água ou alguma coisa mais, ou paravam para arrumar seu cabelo ou a maquiagem. Nico sumira no meio da confusão, assim como Bianca. Mas ela não estava nervosa, só animada demais.

~^~

Seu primeiro contato com basquete foi quando tinha apenas cinco anos e estava na casa de seu pai. Passava um jogo na televisão e Jason ficou hipnotizado pela rapidez dos jogadores. Para ele parecia ser a coisa mais divertida do mundo.

Começou a procurar sobre o esporte depois disso. Sempre que passava um jogo na televisão ou uma simples notícia a respeito ele parava para assistir, aprendera as regras bem rápido e o nome das jogadas também, perguntava sobre baquete para todo mundo que parecia saber um pouco.

Depois de alguns meses decidiu que não estava satisfeito apenas olhando os jogos. Fez seu pai comprar uma cesta portátil e uma bola de basquete para si e começou a praticar as jogadas que tinha visto. Pedia para que os amigos de sua irmã e até mesmo para seu pai para que eles jogassem consigo, e em pouco tempo ficou muito melhor do que eles.

Com sete anos entrou no clube de basquete júnior da cidade. Em menos de um ano era titular do time e um dos que mais se destacava. Aprendeu como era incrível ganhar e como odiava perder, então tentava sempre melhorar para que nunca mais tivesse que se sentir triste novamente.

Entrou no time da escola do fundamental e fez Percy e Nico entrarem com ele. Os dois não eram ruins, e depois de um tempo melhoraram consideravelmente. Além do basquete, ele se destacava em suas notas também, conseguiu pular um ano de seu fundamental, indo para o colegial junto com os outros dois.

Agora ele tinha tudo o que poderia querer: era lindo, inteligente e o ás do time de basquete. Começou a ficar um pouco arrogante, mas não era algo proposital, ele só sabia que era bom e não escondia isso de ninguém.

Quando seus amigos foram embora, ele não tinha ninguém que pudesse concorrer com ele ali. Os outros não eram bons, ou não eram competitivos o suficiente para tentar ganhar dele. Então, alguns meses depois, ele decidiu que também não iria mais ficar ali. Conversou com a mãe e entrou em um avião em Los Angeles, para morar com seu pai.

~^~

Havia algum tempo desde a última vez que Luke e Thalia saíram juntos. Para compensar isso, tiraram aquela noite apenas para eles, e iam, como um casal de adolescentes, até um parque de diversões.

Nenhum dos dois estava realmente pensando sobre o namoro. Thalia se sentia culpada sobre ter beijado Nico, sobre sentir o que sentia por ele, e queria convencer a si mesma que nada havia mudado sobre Luke. Já o homem apenas precisava se distrair sobre Megan e seu irmão, sobre tudo o que estava acontecendo.

Andavam de mãos dadas entre os brinquedos coloridos e com luzes que piscavam, tentando decidir em qual iriam primeiro. Thalia tinha um medo enorme de altura, então eles teriam que se focar apenas na diversão que não envolvia ir para o alto rápido demais, ou qualquer coisa com mais de um metro em relação ao chão.

Com as mãos entrelaçadas nas de Thalia, ele pensou um pouco sobre o futuro que planejara com ela. Luke sabia que ele estava mais distante do que antes, mas não o largaria tão fácil. Decidido, a puxou para uma barraca de tiro ao alvo onde os prêmios eram bichinhos de pelúcia. Se iam ser clichê àquele ponto, teriam que fazê-lo certo.

~^~

Já passava das nove da noite quando Annabeth ouviu a campainha tocar. Ela estava de pijama, jogada em seu sofá com uma xícara de chocolate quente na mão, passando pelos canais, procurando algo para assistir.

Estranhando o horário, se levantou, deixando a xícara na mesa de centro, e andou até a porta. Se surpreendeu ao ver o loiro parado com as mãos nos bolsos, as bochechas levemente coradas e o nariz vermelho por causa do frio. Fazia algum tempo desde a última vez que se viram, porque ele quase nunca voltava de Los Angeles, e vê-lo daquele jeito quase vulnerável lhe fazia lembrar de quando eram pequenos.

— Olá! – Deu um meio sorriso para ela. Annabeth era, provavelmente, a única pessoa do mundo que via aquele sorriso puro com frequência. No geral, quando ele sorria era sarcasmo ou arrogância. – Posso entrar?

— Claro! – Ela lhe deu passagem, mas ele parou para abraça-la antes de continuar, o que a surpreendeu. É claro que eles sempre foram amigos muito próximos, mas nos últimos anos quase não tem se falado. – A Thalia não está aqui.

— Mas você está, isso já é alguma coisa! – Ele sorriu e a loira não pôde deixar de rir. É claro que ele estava ali para ver a irmã, mas era bom que ele estivesse de volta, de qualquer forma. -  Vou dormir aqui hoje, tá?

— Jason Grace, você já passou da idade de ter medo de dormir sozinho! – Annabeth riu, se sentando ao lado dele no sofá. Jason já tinha o controle da televisão em mãos e bebia seu chocolate quente.

— Não estou com medo! – Resmungou levemente, antes de afastar a xícara de sua boca porque estava muito quente e ele queimara a língua. – Eu só estou solitário, você parece estar também, olha que combinação boa!

Annabeth revirou os olhos, pegando a xícara de volta e se aninhando no colo do mais alto. Desde quando conheceu a família Grace, quando era bem pequena, ela e Jason foram bons amigos. Muitos diziam que se pareciam mais com irmãos do que ele e Thalia.

Era uma amizade muito estranha, na verdade. Annabeth sempre foi controladora e ciumenta, e Jason nunca foi de seguir ordens ou grudar em uma pessoa só, mas de alguma formaa amizade funcionava perfeitamente bem entre eles. Quando Jason foi embora, a loira se sentiu extremamente sozinha, principalmente porque Thalia estava em uma situação nem um pouco melhor e não podia dar-lhe atenção.

— Você é muito ridículo sabia? – Disse depois de algum tempo. O loiro a olhou surpreso e levemente ofendido. – Não vem me ver há quanto tempo? Um ano? E então só chega aqui, senta no meu sofá, muda de canal e toma meu chocolate quente?

— É, tipo isso! – Murmurou, levando um tapa logo em seguida. Apesar de tudo, os dois tinham um pequeno sorriso no rosto. – Achei que nossa amizade não precisasse de ligações todo dia!

Annabeth resmungou alguma coisa, mas voltou a se aninhar no outro. Ficaram por mais alguns segundos em silêncio, prestando atenção no que passava na televisão. Jason passou a fazer um leve carinho no braço da amiga.

— Como você acabou assim, Annie? – Perguntou para ela, olhando-a carinhosamente. Annabeth o olhou de volta confusa. – Sozinha em uma noite de quarta-feira assistindo um programa de culinária?

Annabeth suspirou, o apertando mais contra si em um abraço desajeitado. Sua vida estava uma verdadeira confusão se o Jason, em menos de meia hora, percebeu que tinha alguma coisa errada.

— Ah, só muita coisa ao mesmo tempo! – Apoiou a testa em seu peito. – Nico, Bianca e Percy voltaram, eu levei um pé na bunda, estou confusa sobre tudo, e meu chefe parece querer me matar a cada vez que me vê!

— Vamos por partes. – Ele voltou a fazer carinho nela, agora em seu cabelo. – Me apresente seu chefe! Acredite, quando se joga basquete você aprende uma coisa ou outra sobre o que não deve fazer no corpo humano, e eu adoraria testar nele!

Annabeth riu. Ele estava certo afinal, a amizade deles não precisava de ligações todos os dias para se manter firme.

— Eles voltaram mesmo? – Perguntou. – Que estranho. Onde estavam?

— Na Inglaterra. – Respondeu, sem nem um pouco de vontade de falar sobre o assunto. – Parece que o Nico ganhou uma bolsa para uma escola lá, e o pai dele pagou a parte da Bianca.

— Minha irmã deve estar uma bagunça! – Comentou e recebeu um “você nem imagina” como resposta, o que o fez rir. – E sobre o pé na bunda? Finalmente falou para Percy o que sente sobre ele?

— Não, ele sabia. – Finalmente olhou para o amigo. – E me disse que não quer relacionamento sério com ninguém. Depois Nico veio me procurar para explicar, parece que ele se apaixonou e a garota morreu, então agora ele está com medo que aconteça de novo!

Jason suspirou e a abraçou forte, continuando a fazer perguntas para ela. Continuaram conversando sobre a vida dela, sobre a vida dele. A televisão foi esquecida rapidamente.

~^~

Nico se surpreendeu durante a peça inteira. Seus alunos, mesmo que nunca tivessem atuado antes, eram incríveis, e Megan também. Estava tudo tão impecável e incrível que ele mal conseguiu segurar as lágrimas durante o espetáculo.

Mas, nada o surpreendeu mais do que quando, no fim, as cortinas se fecharam e nenhum deles apareceu para agradecer. Pelo contrário, em poucos minutos Megan estava sentada no assento ao seu lado e as luzes abaixaram.

Ele olhou para a mulher ao seu lado, perguntando silenciosamente o que aquilo significava, mas ela apenas sorriu para ele. Bianca parecia saber o que estava acontecendo, porque ela segurou sua mão com força e sorriu também.

Logo, as cortinas se abriram novamente e um foco de luz numa de suas alunas que estava no centro, com um microfone.

— Absolutamente nada disso teria sido possível sem o nosso professor. – Ela disse. – Nico, nós queríamos fazer alguma coisa por você, agradecendo tudo o que fez por nós. Então, aqui estamos, fazendo o que sabemos de melhor!

E a luz sumiu, agora surgindo uma luz azul e iluminando o palco inteiro, onde todos os seus alunos estavam juntos, alguns com instrumentos, alguns com trajes de balé. E, quando a música começou, a primeira lágrima caiu dos olhos do italiano.

Eu descobri que talvez eu estivesse errada

Que eu caí e, não posso fazer isso sozinha

Em um vídeo projetado atrás do palco, algumas fotos e vídeos dos anos que passaram juntos eram mostradas, enquanto seus alunos cantavam, tocavam e tocavam. Era tão lindo que Nico nem tentava mais segurar suas lágrimas.

Fique comigo, isto é o que eu preciso, por favor?

Cante-nos uma música, e a cantaremos de volta pra você.

Nós poderíamos cantar sozinhos, mas o que isto seria sem você?

Aquela vez no aniversário de Nico, quando seus alunos fizeram uma festa surpresa para ele, e o balão cheio de água estourou em cima do jovem professor era o momento que passava agora. Ele riu levemente, lembrando-se de ter se sacudido perto dos alunos para molhá-los também.

Eu nem sou nada agora e faz muito tempo

Desde que eu escutei o som, o som da minha única esperança.

Desta vez eu estarei escutando.

Bianca chorava também. Ela participou de tudo aquilo tanto quanto o irmão, ela viu como aquela classe o fez bem. Leo, Reyna e Phoebe, em algum lugar da plateia, choravam como bebês também.

Aquelas pessoas não eram apenas seus alunos. Eles passaram mais de dois anos juntos, o que era muito. Era sua primeira turma, e tiveram paciência com o recém-professor, assim como ele teve paciência com cada um deles.

Quando tinham algum problema, geralmente era para Nico que falavam, esperando que ele lhes ajudasse, ou apenas querendo um ombro amigo. E ele nunca decepcionava. Eles conheciam cada amigo do homem, passaram natais e festas de ano-novo juntos, choraram e riram, e como riram!

Nico não se lembrava quando sua vida foi voltada para seu trabalho, mas não era algo estressante para ele. Porque aquelas pessoas faziam ser o melhor trabalho do mundo. E aquela dedicatória era só uma das coisas maravilhosas que eles fizeram por ele.

Este coração, bate, bate apenas por você, meu coração é seu.

(Por favor não vá, por favor não desapareça)

Um pouco antes de a música acabar, um deles o puxou para o palco e então, quando a última nota foi tocada, todos correram para dar um abraço coletivo em Nico, já não se importando com a plateia, que nesse momento, emocionada, aplaudia de pé o amor dos alunos pelo professor.

~^~

Megan estava na varanda da casa dos irmãos di Ângelo, pensando na dedicatória dos alunos. Qualquer um perceberia o quanto Nico era querido ali. A mulher começou a entender o porquê de ele ter deixado sua antiga vida para trás, e o porquê de ele não querer voltar.

Nico era mais parecido com ela do que Megan jamais imaginou. Isso a fazia rir um pouco, e ela pensava sobre sua família em Nova Iorque. Talvez ela devesse tirar mais tempo para eles, mas não parecia que precisavam tanto dela assim. Travis iria se casar, Luke estava em um relacionamento estável e feliz com sua rotina, e Connor parecia estar bem cuidando de Brianna e agora com Bianca.

Pensou em seu pai. Ele nunca realmente precisou dela, nunca a quis. Por que então ela perdera tanto tempo de sua vida tentando agradá-lo? Por que ela ainda não sentia que era boa o suficiente para ninguém?

Sentia falta de sua mãe também. Apesar de ter Travis, Connor, Luke e Hermes, ela nunca realmente teve uma figura materna além de sua falecida mãe. May, a mãe de Luke, a tratava bem, mas ainda não era a mesma coisa.

Suspirou, olhando para as estrelas. Com seu modo de vida, algum dia ela conseguiria construir uma família? Ou estava fadada a ver cada uma de suas pessoas amadas criando uma em que ela não estava incluída?

Estava tão distraída que só percebeu Nico quando ele parou ao seu lado.

— Perdida nas estrelas? – Perguntou. Seu olho ainda estava vermelho por causa das lágrimas, mas ele tinha um sorriso bobo no rosto. – A noite está linda.

— Está mesmo! – Concordou. Ficaram um tempo em silencio, cada um perdido dentro de suas próprias mentes. – Eu achei fofo como seus alunos te amam!

— É. – Seu sorriso aumentou. – É recíproco. Eles são parte da minha família.

Megan sorriu também, abaixando o olhar para as mãos. Suas unhas delicadamente pintadas de vermelho, seus dedos finos.

— Você parece triste! – Nico se virou totalmente para ela. – Aconteceu alguma coisa?

— Não, eu só... Só estou pensando sobre família. – Respondeu com um leve sorriso, apesar de se sentir triste. – Eu não acho que algum dia eu vá conseguir  construir uma. Não viajando do jeito que eu viajo. Mas... Isso é a minha vida, eu não consigo me imaginar confortável em uma casinha para sempre!

Nico sorriu para ela, tocando suas mãos.

— Você é incrível, Megan. Eu tenho certeza que algum dia você vai conseguir alguém que te ame o suficiente para largar tudo! – Ele colocou uma mexa de cabelo dela para trás da orelha. – E quando for a hora, você vai sentir que precisa parar em algum lugar. Não precisa ser para sempre, só o suficiente.

Megan sorriu para ele. Não sabem ao certo o porquê, mas se sentiram atraídos um pelo outro. Não foi uma coisa demorada, foi mais como um selar de lábios duradouro. E, quando se separaram, riram de si mesmos, porque aqueles não eram eles. Porque era como beijar um irmão e os dois sabiam disso.

Megan passou os braços em volta do homem e apoiou a cabeça em seu peito, se deixando descansar ali. Nico a abraçou de volta, pensando que agora sim parecia certo.

Era o começo de uma nova amizade, uma daquelas onde se pode confiar sem dúvidas nenhuma um no outro.