Crise 82 – O Sequestro de Bruna

Nossa tentativa de investigar o servidor do colégio se revelou fracassado ao descobrirmos que a informação que precisávamos não estava lá. O arquivo de áudio que Bruna tinha posse para humilhar Priscila e poderia afetar todo o nosso futuro não foi encontrado e, segundo Estrela, o local mais provável seria no celular da Bruna.

—E como vamos acessar o celular da Bruna? - perguntei.

—Esse é o ponto – disse Estrela desanimada – Vai ser muito difícil apagar o arquivo desse aparelho sem que a Bruna perceba. Mesmo que a gente apague, bastaria ela criar um arquivo novo.

—Então o que podemos fazer? - questionei.

—Calma, calma – disse Estrela, andando de um lado para o outro e pensativa – Qual é o nosso problema, no fim das contas? Precisamos impedir a Bruna de revelar ao colégio todo o segredo da Priscila.

—Pelo menos revelar do jeito que foi revelado, né? - completei

—Sim – concordou Estrela – Mesmo que o arquivo seja apagado, ela pode gravar novamente ou publicar na Internet, enfim, há vários meios. Acho que estávamos pensando errado o tempo todo. Destruir um único arquivo não vai nos ajudar em nada, na verdade...nem impedir que chegue a esse servidor adiantaria muita coisa.

—Então o que podemos fazer? O futuro está condenado para sempre? - indaguei.

—Espero que não...ainda tenho muito o que estudar nesse planeta – lembrou Estrela, embora as razões dela não fossem lá muito sentimentais, ela também não queria que o futuro fosse impedido.

—Precisamos pensar em alguma coisa – falei – Mas não consigo pensar em nada...o único jeito que vejo seria fazer a Bruna esquecer o segredo da Priscila!

Estrela arregalou os olhos e depois deu um leve sorriso de aprovação (era raro vê-la sorrir).

—Isso! Exatamente isso! - disse Estrela.

—Isso o quê? - falei, não percebendo minha própria ideia.

—Vamos apagar o segredo da memória da Bruna – confirmou Estrela – Se ela não tiver uma chantagem contra a Priscila, ela nunca causará uma humilhação capaz de destruir a Terra.

—Apagar o segredo da memória dela? - perguntei.

—Sim – disse Estrela – O Portal Gun pode manipular as memórias, lembra? Só precisamos fazê-la esquecer do segredo da Priscila e pronto, nunca mais vamos precisar nos preocupar com isso.

—Apagar a memória dela de novo? Já fizemos isso várias vezes...não vai ter problema – perguntei.

—Bem, a amnésia forçada pode deixar ela meio lesada, mas...é melhor do que o futuro da humanidade ir por água abaixo, não acha? Precisamos fazer isso o quanto antes. A Bruna pode usar esse trunfo a qualquer momento que Priscila irritá-la.

Utilitarista como sempre. De qualquer maneira, parecia uma solução definitiva. O problema é: como iríamos fazer isso com a Bruna?

—Onde a Bruna está agora?

—Assistindo a sua palestra – falei, olhando para o horário no meu celular – Já deve estar na metade agora.

—Sim...podemos fazer isso agora – disse Estrela – Só precisamos, passar na sala de artes.

—O quê?

É, Estrela não queria perder tempo. Em poucos instantes, nossa próxima ação seria na nossa sala, decorada com temas de astronomia e com a Estrela do futuro ministrando sua palestra sobre astronomia. Lembro que sugeri à Estrela fazer essa apresentação de modo básico, mas acho que o básico dela não era mesmo que o meu básico.

—Então – dizia a Estrela do futuro, prosseguindo em sua apresentação – Encontrando as soluções dessas equações diferenciais podemos examinar um buraco negro em uma topologia de cinco dimensões e...

—Não acha que está muito avançado? - cochichou Mabi para Eduardo, os dois estavam lá assistindo a palestra, juntamente com outros visitantes.

—Estou achando bem interessante – disse Eduardo.

O resto da plateia não estava acompanhando muita coisa, mas Estrela continuava. Bruna estava sentada na frente, para garantir que tudo desse certo, mas a cara dela não estava das melhores. É...acho que ela também esperava algo mais básico. Mas, assim que a localizamos ao olhar pela janelinha da sala de aula, Estrela (do presente) e eu, devidamente disfarçados com roupas que pegamos emprestadas da sala do grupo de teatro da nossa escola, estávamos prontos para iniciar nosso plano.

—Vamos mesmo fazer isso? - perguntei.

—Só precisamos entrar e raptar a Bruna – disse ela – Não tem o que temer. Estamos bem disfarçados.

—Você usando uma roupa de coelho rosa e eu uma fantasia de palhaço? - falei – Chama isso de bem disfarçado?

—Ninguém vai nos reconhecer – continuou ela – Lembre-se: já estamos na sala.

—É..isso é verdade – falei – Mas eu nunca raptei ninguém antes.

—Para tudo tem uma primeira vez, não é? - disse Estrela, arrombando a porta. Todos se assustam com a invasão.

—O que é isso? - perguntou alguém.

—Ah, deve fazer parte da apresentação – disse outra pessoa da plateia – Essa palestra não estaria tão chata de propósito. Vamos ver o que eles vão fazer.

—Muito bem. Silêncio todos – disse Estrela – Fiquem quietinhos e ninguém vai se machucar! Só queremos que a representante do nono ano venha conosco.

—O que está acontecendo? Ninguém me avisou nada disso? - disse Bruna.

—Isso é bem interessante – comentou Eduardo.

—O que está havendo? - falou meu eu do futuro.

—Pela voz – disse a Estrela do futuro – São nossas versões do passado.

—Aquele cara não é você, Vitor? - perguntou Veterano Caio, que estava ali perto de mim, comendo um pacotinho de amendoins.

—Como posso ser eu se estou aqui? - meu eu do futuro disse, justificando.

—Você aqui...e ali...ao mesmo tempo... - disse o veterano com o olhar do meme da Nazaré calculando – Cara! Você tá me deixando confuso!

—O que vamos fazer? - perguntou meu eu do futuro.

—O que ele estão fazendo? - disse a Estrela do futuro.

—Não sei quem são vocês – disse Bruna – Mas estão estragando nossa apresentação. Como representante de sala não vou ficar calada e...

Mas Estrela foi rápida o bastante para pegar Bruna, jogá-la por cima de seus ombros e sair correndo.

—Ei! O que pensam que estão fazendo?! - falou Bruna – Me coloquem no chão agora! Vou denunciá-los para a coordenação, não, vou processá-los, não, vou mandar prendê-los e...

Para garantir a certeza de que o público pensasse ser uma encenação, fiz uma reverência antes de sair e soltei um monte de serpentinas. O resultado foram vários aplausos da plateia.

—Ai, ai, ai...a Bruna foi raptada – disse Priscila, desesperada.

—Caraca, sequestraram nossa representante – disse um dos alunos – O que vamos fazer agora?

—Coitados – disse outro aluno – Se forem pedir um resgate vão ter é que pagar a gente para aceitá-la de volta.

—Devo continuar a palestra? - perguntou a Estrela do futuro.

—O que eles vão fazer?! - exclamou meu eu do presente – Melhor irmos atrás deles.

—Acho...que tenho uma ideia do que eles farão – disse a Estrela do futuro.

—Socorrooooo!!!! - gritava Bruna, enquanto Estrela (disfarçada) corria pelos corredores da escola – Estão me sequestrando!

Mas ninguém levaria muito a sério um sequestro realizado por um coelho rosa e um palhaço.

—Precisamos achar um lugar seguro – falou Estrela.

—Mas ninguém vai fazer nada?! - exclamou Bruna.

—E-Eu sinto muito – tentei acalmá-la, mas parece que isso só deixou ela mais brava.

—Se eu descobrir quem vocês são, vocês estarão perdidos, ouviram?!

Espero que o plano de Estrela dê certo...