Nossa tarefa já não era da mais fáceis: achar um controle remoto extremamente pequeno em um ferro-velho de proporções galácticas não é algo que qualquer um pode fazer. Mas se não bastasse isso, a causadora de toda essa confusão, Lua, estava diante de nós controlando nada menos do que um robô gigante!

— Uau! É enorme! - disse Mabi, espantada diante do projeto de Megazord logo diante de nós.

— Gostaram? - disse Lua sorrindo (graças a um sistema de som avançado ela podia se comunicar conosco de lá) - Está funcionando direitinho!

— Como pode?! - exclamei - Como você conseguiu um robô gigante desses?

— Achei - foi tudo que ela respondeu.

— Como assim você achou? - pois é, eu não estava conformado.

— Mas é verdade - insistia Lua - Vocês foram para esse lado, mas olhando para o outro lado do ferro-velho achei esse robô novinho. Só precisei dar uma força na ignição com meu Portal Gun e agora está novinho em folha.

 É claro. Por um momento esqueci que aquele lugar tinha todo tipo de bugiganga. Achar um robô gigante não devia causar surpresa. De fato, parece que eu era o único realmente desesperado ali. Na verdade, Kevin também estava um pouco preocupado.

— Se ela está usando isso...então ela quer mesmo nos impedir a todo custo - disse ele - Tudo bem! Eu, como um agente da CICE, não vou me render. Se for para morrer, vou morrer lutando!

— Morrer? Corremos risco de morrer? - perguntei.

— É claro - disse Estrela - Lua não vai medir esforços para nos atrapalhar. É assim que ela é.

— Então faça ela parar. Essa doida é sua irmã, não é? - sim, eu realmente estava com medo. Mas Lua não parecia se importar muito com isso.

— Olha só isso, maninha. Com um robô gigante, eu sou a rainha da sucata! - disse ela, de dentro do robô - Ele tem mísseis ultra-mega poderosos! Quer dar uma olhada?

 Estrela assumiu uma pose de guarda. O movimento de Lua foi bastante rápido. Em poucos instantes, dois mísseis enormes estavam vindo em nossa direção, mas Estrela ativou seu Portal Gun, fazendo os mísseis entrarem por buracos de minhoca surgidos milagrosamente na hora certa.

— Para onde você mandou eles? - perguntei.

— Para um lugar bem deserto do espaço, não se preocupe - disse ela.

— Isso! Se não lutar, não tem graça - disse Lua, animada.

— Esse robô não vai nos deixar em paz - falou Estrela - Precisamos impedi-la logo.

— E como vamos fazer isso? - perguntei.

— Primeiro, precisamos de uma distração - disse Estrela, olhando para o lado e vendo Kevin, que não cansava de fitar aquele enorme robô com um ar tenso - É, você mesmo!

— Eu? O que eu fiz? - disse ele.

 Estrela apenas o colocou à frente de seu corpo e gritou para Lua.

— Ei, Lua! Duvido você conseguir atingir esse cara! Ele é o guerreiro mais poderoso da Terra.

— Guerreiro mais poderoso? - repetiu Lua, primeiro intrigada, depois empolgada - Demais! Então ele vai conseguir enfrentar um soco certeiro do meu robô! Aí, Giovana, segura esse forninho!

— Você não devia ter deixado ela assistir tantos vídeos da Terra - comentei.

— Esqueça isso. Venha comigo - disse Estrela, me puxando pelo braço enquanto Kevin desviava de um enorme soco proferido pelo robô gigante. Ele não foi esmagado por pouco.

— Estrela...você queria me matar? - perguntou Kevin.

— Diria que a Lua queria matá-lo - disse Eduardo, por coincidência ali por perto.

— Você é bastante calmo para um terráqueo comum! - disse Kevin, espantado.

— É que isso tudo é muito interessante - disse Eduardo - Já parou para pensar que poucas pessoas da Terra teriam a oportunidade de vivenciar uma aventura como essa? Devo me sentir um privilegiado de passar por essas situações. Você, como um agente envolvido diretamente com criaturas de outro planeta, também deve se sentir assim.

— No começo sim...mas agora meu trabalho já entrou na rotina - respondeu Kevin.

— É uma pena - disse ele - O universo é enorme. Imagino o número de coisas maravilhosas que existem espalhadas por aí.

— Aí, galera. Achei um assento de privada gigante. Deve ser de uma raça alienígena bem grandona - disse Veterano Caio, mostrando uma das maravilhas do universo. Mas, deixando isso de lado, a distração de Kevin foi útil para nos tirar da vista de Lua e Estrela usar o Portal Gun para nos levar direto para a cabine de comando do robô. Estávamos nós dois ali, bem atrás da garota.

— Mãos para cima, Lua - disse Estrela.

— De onde vocês apareceram? - estranhou ela.

— Distraímos você e nos teletransportamos para cá. Chega de brincadeira. Saia desse robô agora e desista. Nós vencemos - disse ela.

— Ah, não. Não acaba enquanto não termina - disse ela - Eu ainda tenho uma carta na manga.

— Por que não se rende logo?

— Nada disso - continuou Lua - Se vamos decidir isso, faremos ao melhor estilo das irmãs Valente.

— E no que está pensando?

— É hora de lutar! Empunhe seu Portal Gun em modo Espada de Luz - disse Lua, transformando seu Portal Gun em uma...espada de luz! Ah, vocês já deviam imaginar que era isso no momento em que ela terminou de falar. Um brilho extenso e vermelho saía do Portal Gun de Lua, agora adaptado para algo mais...espadachim (Na falta de uma palavra melhor).

— Como ela fez isso? - perguntei.

— É só uma das funções do Portal Gun. O meu também tem uma - disse Estrela, fazendo o mesmo que Lua e exibindo uma espada de iluminação roxa - Está bem. Que seja como você quer, Lua. Vamos decidir isso em uma batalha de espadas.

— Exatamente! Uma batalha mortal de espadas! - repetiu Lua - Do mesmo jeito que decidíamos quem ia ficar com o último pedaço do pudim da vovó na geladeira!

 Pelo visto, não era a primeira vez que elas se enfrentavam desse jeito.

— V-Você vai ficar bem? - perguntei.

— Sim - respondeu Estrela prontamente - Essa luz tem uma frequência inofensiva. Só preciso desarmá-la e venço.

— Isso é mesmo necessário? - questionei - Aliás...por que eu também tenho que estar aqui em cima?

— Achei que fosse bom ter outra pessoa comigo. Com a Lua, não dá para relaxar. E além disso, já disse uma vez, não disse, Vitor?

— O quê?

— Você é a pessoa que posso confiar - ela falou com um sorriso, antes de partir para cima de Lua. A luta entre as duas foi bem equilibrada. Eram golpes de espada de luz por todos os lados, mas Estrela parecia ter uma vantagem. Enfim, Estrela acabou desarmando Lua após longos...trinta segundos de batalha. É, nem tudo é como nos filmes. O problema é que a luz de frequência inofensiva da espada de Estrela não parecia tão inofensiva assim...ao ser desarmada, Lua simplesmente teve sua mão cortada.

— O quê? - disse Estrela, levemente surpresa - Acho que regulei para uma frequência perigosa sem querer.

— Já acabou, Jéssica? - perguntou Lua, ainda mantendo um ar de durona. É, ela não devia ter assistido tantos vídeos da Terra mesmo..

— Lua, você perdeu sua mão - lembrou Estrela.

— AAAH! MINHA MÃO! O QUE VOCÊ FEZ COM A MINHA MÃO?! - exclamou Lua, em prantos. Estrela apenas suspirou.

— Vai demorar? - disse Estrela, com ar entediado.

— Qual é? Tenho direito de fazer um pouco de drama, não tenho? - respondeu Lua, regenerando sua mão facilmente. Lembro que w-anos tem um poder de regeneração absurdo. Além disso, depois que uma parte se desprende do corpo, ela se deteriora rapidamente. A mão decepada de Lua simplesmente sumiu, após poucos instantes de cair no chão. Provavelmente as células morrem e se espalham pelo ambiente em tempo recorde.

— Agora eu que pergunto, já acabou?

— Por que não acabou comigo? - perguntou Lua - Não sou sua inimiga?

— Do que está falando? Você é minha irmã antes de qualquer coisa - lembrou Estrela.

— E o que você é de mim mesmo? - perguntou Lua.

— De novo? Eu sou sua irmã! - exclamou Estrela.

— Pode falar isso de novo com uma voz mais grossa? - pediu Lua.

— Eu sou sua irmã! - disse Estrela, engrossando a voz como Lua pediu.

— Nãããoooo! Não pode ser! - berrou Lua, caindo de joelhos no chão, enquanto se agarrava na poltrona em que estava sentada no robô gigante.

— É claro que sou, Lua. Você sabe disso - retrucou Estrela.

— É, eu sei. Só não queria perder a oportunidade de reproduzir essa cena clássica do cinema terráqueo - explicou Lua, com um ar alegre. Estrela apenas suspirou. Como as duas podiam ser tão diferentes?

— E então? Você se rende? - perguntou Estrela.

— Tá, eu me rendo - disse Lua - Mas isso não muda nada. Ainda terão que achar o controle que joguei ou não poderão salvar o planeta de vocês tão facilmente.

— Bem, na pior das hipóteses podemos consertar o ímã e tentar fazer a bola de metal de novo - comentei.

— Gente! - a voz era de Mabi - Eu achei. Achei o controle! Era esse aqui, não era?

 É isso mesmo? Ela conseguiu encontrar o controle que ativará os reatores que ativarão o portal gigante que levará o asteroide para bem longe do nosso planeta? Por isso que eu amo aquela menina! Mas claro que minha reação externa foi bem mais modesta.

— Mabi! Você conseguiu! - falei pelo microfone.

— Tive sorte. Nem estava prestando atenção direito quando vi ele naquele canto ali - disse ela - Estamos salvos!

— Aperta logo esse botão! Com isso o asteroide vai ser jogado numa estrela bem longe pelo portal!

 Mabi sorriu para mim e apertou o botão. Agora sim. A Terra havia sido salva.

— Feliz agora, Lua? - disse Estrela, cruzando os braços com o ar entediado de sempre - Podemos parar com essa palhaçada?

— Eu só...eu só queria ir ao parque com você! - disse Lua, chorando e abraçando a irmã - Só queria que a gente passasse um tempinho juntas, maninha.

— Eu disse que ia ao parque com você, não disse? Que remédio...vai ser uma droga ter que aguentar aquela Bruna, mas..

— Ei, espera aí - Lua mexeu em seu Portal Gun (agora de volta ao modo smartphone) e recebeu uma notícia que mudaria todo o rumo da história - Olha, que coisa, parece que vão adiar a inauguração do parque novamente.

— Como? - perguntou Estrela.

— É...como posso explicar...disseram que o parque foi atingido por uma pedra gigante. Não tinha ninguém lá, mas terão que reconstruir tudo de novo.

Inacreditável. Depois de tudo, o motivo da confusão acabou destruído!

— E como isso aconteceu? - perguntei.

— Ah, parece que dois mísseis surgiram do nada em uma região deserta próxima, daí um asteroide gigante também surgiu do nada, os mísseis explodiram ele e um pedaço do asteroide voou de modo a colidir exatamente no local onde estava o parque. Que coisa, né? - disse Lua, meio sem-graça - Falaram que o asteroide era bem grande, mas não tinha perigo de colidir com o planeta deles porque estava indo em direção a um sol enorme que iria destruí-lo. Nossa, onde já ouvi um negócio assim antes?

Quais as chances disso acontecer, não é verdade? Bem, de fato, os mísseis que Estrela desviou foram para um lugar deserto, mas um lugar deserto nas proximidades de um parque que, por sinal, também estava nas proximidades da nova trajetória do asteroide que desviamos! Estrela apenas suspirou.

— Mas pelo menos passamos por um bom tempo juntas, não é, maninha? - disse Lua, animada - E então? Vamos voltar para casa? Vamos comer aqueles doces gostosos lá da Terra, heim? Heim?

— Acho que já passamos por um bom tempo juntas, não acha, Lua? - disse Estrela - Vem comigo.

 Estrela abre um portal, pega Lua pelo braço e a leva através dele. Após alguns instantes, ela volta.

— Onde você foi? - perguntei.

— Deixei minha irmã no manicômio de novo, o que mais? - disse ela, mostrando o Portal Gun de Lua - Agora só preciso devolver o Portal Gun que ela pegou do meu departamento e finalmente teremos paz.

— Paz...como é bom ouvir essa palavra - sentei no chão e respirei aliviado - Mas, espera. Sua irmã não vai ficar brava por isso?

— Ela só queria ter um tempo comigo - disse Estrela - Só essa confusão toda já matou a saudade dela. Até lutamos com espadas juntas, coisa que faz tempo que não fazíamos. Enfim, chega de aventuras para a Lua. Além disso...

— Além disso?

— Ela reencontrou o amigo de manicômio dela que pensa ser um cantor famoso e foi levada para o karaokê de lá. Em poucos minutos é como se ela nem lembrasse que saiu de lá algum dia. 

 Mais uma aventura terminada. Que irmã era aquela, heim?

 Todos voltamos para a Terra depois disso (após Estrela pagar os prejuízos para Gutter) e a vida seguiu normalmente. Dali a poucos dias, teríamos nosso festival escolar. Bem, vamos torcer para que tudo corra bem. Espero que sim. Afinal, quais as chances de alguma coisa estranha acontecer lá? Não é? Não ééé? Tá, vamos apenas esperar...