Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 7
Crise 07 - Eduardo




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Crise 07 - Eduardo

Certas coisas tem chances muito baixas de acontecer. Mas acabam acontecendo. Estrela havia conseguido mandar um alienígena mal-intencionado de volta para o seu planeta, mas os estragos causados por ele ainda não haviam sido consertados...pelo menos não a tempo do Eduardo, o namorado da garota que eu gosto (sempre faço questão de deixar isso claro), aparecer bem no meio de nossa conversa.

– Então você viu.. - disse Estrela, sem mostrar muita preocupação.

– Bem, apenas vim aqui devolver o DVD que aluguei na semana passada. Essa locadora é recente e moro perto daqui. Gosto de cinema e sempre acho interessante ter locais onde posso ter acesso a filmes. Essa versão remasterizada de um raro filme italiano dos anos 50 não se encontra em qualquer lugar - disse ele, mostrando a capa do filme que havia alugado (não que eu estivesse interessado, mas...) - Mas acabo encontrando com vocês aqui e a Estrela com um tipo de arma ou pistola nas mãos que depois se transformou em um smartphone ou algo assim. Não gostaria de acreditar que vocês sejam criminosos, então imagino que deva ter alguma explicação para isso.

– Claro que não somos criminosos! - fiz questão de enfatizar, quase deixando meus óculos caírem - Acontece que é uma situação muito complicada!

Ele olhava em volta da locadora.

– Bem, o local está uma bagunça. Isso aí parece...chiclete? Pelo menos tem cheiro de chiclete.

– Olha, é que... - mas Estrela interrompeu minhas desculpas.

– Não se preocupe. Só preciso apagar a memória dele.

– Apagar...minha memória? - Eduardo estranha, mas Estrela já estava agindo, fazendo seu celular se transformar em uma pistola novamente e tentando atirar em Eduardo (com a intenção de apagar a memória dele, é claro). Ele fez um olhar de estranhamento, mas não parecia muito assustado. Se fosse eu, estaria quase que implorando pela minha vida se alguém apontasse uma arma estranha na minha cara.

– O que houve? - estranhou Estrela - Não...está funcionando...

– O que exatamente você queria fazer? - perguntou Eduardo.

– Eu preciso apagar sua memória - disse ela - Mas..eu acho que...

Estrela olha sua Portal Gun mais de perto. Parece que ela detectou o problema.

– É isso. Acabou a bateria. Esse aparelho suporta até 300 horas com uma carga, mas devo ter usado muita energia ao criar tantos portais. Eu devia ter carregado ontem.

– Espera. Quer dizer que isso aí tem carga?

– É claro. As coisas não funcionam sem energia - respondeu Estrela, da forma "delicada" de sempre - E criar buracos de minhoca para pontos distantes do universo gasta uma energia considerável.

Fiquei assustado ao ouvir aquilo. E ela estava usando tanta energia ali? No nosso planeta, que está sofrendo crises de energia tão drásticas?

– Ah, não se preocupe - disse ela, de certa forma adivinhando minha preocupação - Trouxe minhas próprias fontes de energia na viagem. Sei que o planeta de vocês é extremamente atrasado nessa área.

Ainda não me acostumei com a consideração que ela tem pela Terra ou por esse jeito dela em falar tudo sem nem considerar os sentimentos alheios, mas o fato é que sem energia, sem Portal Gun. E sem Portal Gun, o Eduardo ainda teria todas as memórias dele. E agora?

– Desculpe interromper - ele disse - Mas do que exatamente você está falando?

– Se não podemos apagar sua memória, o que podemos fazer? - ela continuou falando, pensativa, com a mão no queixo, como se o fato de Eduardo ouvi-la não significasse muita coisa - Não podemos simplesmente eliminá-lo, embora seja possível em último caso, mas isso iria complicar muito na hora de fazer o relatório...o comitê de ética do Setor W iria encher minha paciência!

Sério que essa foi a primeira coisa que te veio na cabeça?

– Realmente não estou entendendo nada dessa conversa - lamentou Eduardo, em tom paciente e compreensivo. Como aquele cara consegue ser tão calmo assim? Eu era o único nervoso naquele lugar!

– Acho que não temos muita escolha. Melhor contar toda a situação para ele, não é, Estrela? - sugeri.

Ela pensou por alguns instantes.

– Tudo bem - respondeu por fim - Ele parece ser um humano com um nível mental alto. Acho até que ele me preocuparia menos do que você.

Sentimentos, para quê levá-los em conta? De qualquer modo, Estrela e eu contamos toda a situação para Eduardo. Tudo que ocorreu nesses dois dias turbulentos, a missão de Estrela e o problema dos buracos de minhoca para várias regiões do universo se concentrarem tanto em nossa cidade.

– Sei que é difícil de acreditar - comentei - Mas é isso.

– Não, nem tanto - ele respondeu - A julgar por essa quantidade de chiclete que está na locadora, aliás, o próprio aparecimento repentino da locadora e agora o desaparecimento do Seu Marco, as coisas parecem fazer sentido.

– Fazer sentido? - estranhei - Mas estamos falando de alienígenas!

– Bem, nunca duvidei da existência de vida fora da Terra, ou mesmo vida inteligente fora dela - ele respondeu.

– Mesmo? - falei, embora rapidamente tenha me arrependido de ter dado corda para isso. Aposto que agora ele iria começar a...

– Você já parou para pensar...

Começar a falar. Sim, sente-se. Isso pode demorar.

– ...no quanto o universo é grande? - continuou ele.

– Mais do que vocês imaginam - confirmou Estrela - Mesmo conhecendo um número absurdo galáxias, o Setor W diz que só tem acesso a uma porção ínfima do universo.

– Justamente - prosseguiu Eduardo - Em uma imensidão desse tipo, por que apenas em nosso planeta deveria existir vida inteligente como a nossa? Por que só aqui? Seria perfeitamente possível que outros locais conseguissem abrigar vida ou até tenham evoluído mais do que nós. A nossa Terra não é nada mais do que um pequeno pontinho na Via Láctea e a própria Via Láctea é um ponto perto de outras galáxias. Nossa percepção do restante do universo é muito pequena para afirmarmos que somos os únicos seres inteligentes vivendo aqui.

– Exatamente. Na verdade, não é muito difícil encontrar locais mais evoluídos do que a Terra - completou Estrela. Novamente, não deixando de expressar sua opinião sobre nós - Sendo sincera, vocês estão bem longe do topo da lista de planetas desenvolvidos.

Sinceridade é mesmo o forte daquela garota.

– Não duvido - disse Eduardo, sorrindo gentilmente - Na verdade, eu me sinto honrado em ter o primeiro contato com um ser de outro planeta. Poucos teriam uma oportunidade como essa na vida.

– Bem, já tive contato com vários seres de outro planeta, então para mim não é grande coisa. Mas imagino a sua satisfação. Aliás, é interessante notar que você não está com medo...esse aqui tremeu com várias coisas do que eu disse - falou Estrela, apontando para mim. Eduardo apenas sorriu, novamente.

– Ei! - reclamei - Não me culpe por ter medo de coisas que não conheço!

– Sua reação foi apenas normal - disse ela para mim - Mas a reação de Eduardo foi bem pouco usual. Acho que tivemos sorte dele ter sido a pessoa que nos viu.

– Você...vai guardar segredo disso, não é, Eduardo? - perguntei - Quer dizer, seria muito difícil para a Estrela se todos ficassem sabendo sobre ela ser uma alienígena e..

– Não se preocupe, não pretendo contar nada - respondeu ele. Estrela não disse nada, mas Eduardo continuou - Vivemos em um mundo onde as pessoas estão sempre interessadas em um espetáculo. Um evento tão inédito quanto uma visitante extraterrestre atrairia uma quantidade imensa de curiosos e sensacionalistas. Não acho que a humanidade ainda esteja pronta para compreender o verdadeiro significado dessa ocorrência.

Sim, ele fala exatamente desse jeito. Difícil de acreditar que ele ainda está no nono ano, não é?

– Exato. Do ponto de vista de vocês é algo muito fora do comum...mas do meu ponto de vista só estou fazendo o meu trabalho - respondeu Estrela - Só não quero que atrapalhem o que devo fazer, só isso.

– E você não vai contar nada para ninguém? Nem para a Mabi? Ela é a sua namorada, não? Quer dizer...namorados não deveriam manter segredos uns para os outros...

– Eu concordo, mas manter isso em segredo dela significa protegê-la, não acha?

– Bem... - fiquei meio em dúvida.

– Pense comigo. Ao contrário de mim, Mabi não parece ter nenhum interesse relevante em ufologia ou ciência. Ter conhecimento disso não acrescentaria em nada na vida dela, na verdade, só a deixaria mais ansiosa ou preocupada por saber que sua cidade está correndo riscos. Nesse caso, a ignorância seria uma bênção.

– Hã? - estranhei.

– Sabe, a maioria das pessoas ficaria em pânico se soubessem o risco que correm a todo momento. Se você soubesse a quantidade de bactérias que existem nas coisas mais simples que você segura ou toca ficaria espantado.

– Olhando por esse lado - falei, pensando na resposta dele e tirando imediatamente a minha mão que encostou levemente no balcão.

– Você diz isso, mas parece muito satisfeito em saber sobre o que está acontecendo - reparou Estrela - A ignorância é mesmo uma bênção?

– Veja, não quero parecer egoísta ou hipócrita. Apenas conheço minha namorada o suficiente para saber que ela encararia essa situação de um modo muito diferente. Consigo prever claramente que a reação dela não seria tão tranquila quanto a minha, afinal, ela possui um lado emocional muito mais forte do que o meu. Por outro lado, sou uma pessoa muito mais concentrada em meu lado racional, o bastante para perceber que uma oportunidade como essa não pode ser perdida.

Ainda bem que ele fala devagar ou eu teria me perdido completamente só nesse monólogo.

– E no que você está pensando exatamente? - indagou Estrela.

– Falo sobre sua missão, obviamente - disse ele - Se existem tantos buracos de minhoca concentrados nessa cidade, os ataques alienígenas serão cada vez mais frequentes. Gostaria muito de conhecer os tipos de espécies que circulam por aí. Deve ser algo muito além do que imagino.

– Onde está querendo chegar? - perguntei. Para variar, ele sempre demorava para expressar onde queria chegar.

– Apenas que gostaria de ajudar no que for necessário - respondeu ele - Caso ocorram mais fenômenos estranhos, não hesitem em me pedir ajuda.

Ele quer mesmo ajudar? Não, na verdade ele só quer saber como são os alienígenas que aparecem. Sim, dá para sentir que essa é a verdadeira motivação dele. Enquanto eu rezaria toda noite para que casos bizarros como o do Markov e os chicletes mastigados ficassem longe da cidade, ele queria justamente o contrário: que mais alienígenas aparecessem.

– Já tem mais pessoas do que deveria haver nessa missão - falou Estrela - Quero evitar o número de vítimas.

– Mas Vitor está te ajudando, não está? - Eduardo comentou sorrindo - Se quisesse mesmo evitar tantas vítimas, por que o trouxe para cá? Ou será que foi o Vitor quem quis te acompanhar?

– Bem, é diferente - disse Estrela, sem entrar em muitos detalhes.

– Diferente em que sentido? - Eduardo continuou perguntando.

– Você faz perguntas demais. Sim, eu acho importante ter um consultor para assuntos terráqueos. Mas conheci o Vitor há mais tempo e não quero retirá-lo dessa função.

– Consultor? - repeti.

– Sim. Você é meu consultor. Apenas lide.

Eduardo não ficaria satisfeito com essa resposta, mas, por enquanto, preferiu deixar as coisas como estavam.

– Entendo - disse ele, coçando a cabeça - Bem, você deve ter suas razões para suas preferências. Da minha parte, fiquem tranquilos, não irei revelar nada do que vi aqui ou da história que me contaram. Mas eu me pergunto se conseguiremos manter esse segredo por muito tempo.

– Como assim? - perguntei.

– Se é verdade que nossa cidade está tão infestada de buracos de minhoca ligados a outros pontos do universo, então não será impossível que novas espécies nos ameacem, certo? Como Estrela pode garantir que fenômenos de grande proporção não irão ocorrer?

– Não tenho garantia nenhuma - disse ela - Mas os próprios alienígenas compreendem que estão fora de seu habitat e tendem a se esconder. Markov foi um exemplo, poucos iriam desconfiar o que ele era. A maioria está só se escondendo, mas nada impede que aconteça algo grande.

– Será que a Terra está preparada para isso? - Eduardo continuou perguntando - O que vai fazer se isso acontecer?

– Bem, nenhuma tempestade se forma sem antes formar um céu cinzento. Estou atenta a todas as atividades incomuns nesse cidade. Não precisa se preocupar.

– Tudo bem - aceitou Eduardo - Comunicarei qualquer atividade suspeita que eu encontrar. Irei ajudar, mesmo que você não concorde muito com isso agora. Não se preocupe, eu assumo a responsabilidade pelos meus atos.

Incrível como ele conseguiu compreender a situação em tão pouco tempo. E mais: ele se interessou tanto pelo assunto a ponto de querer encontrar mais aliens! Bem, pelo menos ele não entrou em pânico e saiu gritando aos quatro ventos que alienígenas invadiram a Terra. Só isso já era uma excelente notícia.

– Além disso, todos sabemos que há um mistério ainda maior por trás de tudo isso, não sabemos? - disse ele, para variar, levantando mais uma questão - A origem desses buracos de minhoca. Por que estão aparecendo tantos e por que só aqui? Deve haver uma causa por trás disso.

– Também faz parte da minha investigação - respondeu Estrela - Mas, de fato, isso ainda é um mistério.

– Se isso não for um fenômeno natural, então talvez tenha sido preparado. Fico pensando que tipo de mente poderia criar algo assim - disse ele, com sua postura costumeira de colocar a mão no queixo enquanto pensava.

– Não é impossível - respondeu Estrela - Tem muitas espécies de alienígenas que não conhecemos.

Todos ficam em silêncio. Eu ainda estava tentando ligar os raciocínios, mas fui interrompido de maneira abrupta. Ainda bem que você está lendo isso e pode rever as falas quando necessário. Eu sempre sofro com as conversas do Eduardo!

– Bem - disse Eduardo - Vou deixar o DVD aqui. Se o Sr. Marcos realmente era um alienígena e foi mandado para longe, então ele não voltará mais...só que não quero ficar com algo que não é meu.

– Já está indo? - perguntei.

– Sim. Gostaria de conversar mais, mas marquei de me encontrar com a Mabi.

Ah, é. Ele era o namorado dela. Como eu queria esquecer disso!

– Até mais - disse ele, saindo tão naturalmente quanto entrou. Depois disso, olhei para Estrela por alguns segundos.

– O que foi? - ela perguntou.

– Nada - falei, coçando a cabeça - Só achei legal...você me considerar o seu consultor oficial ou algo assim.

– Ah - ela desviou o olhar, como se estivesse encabulada, mas sem tirar a expressão séria - Só achei que o mais correto fosse dar prioridade para você, afinal, nos conhecemos primeiro.

Não sei bem no que ela está pensando. Mas parece que, no fim, nos tornamos mesmo amigos, mesmo Estrela ainda não tendo muitas habilidades sociais coerentes com a Terra. Depois de dizer isso, ela começa a andar na direção da saída.

– Hã? Já vamos sair?

– Sim - respondeu ela.

– E vamos deixar esse lugar assim?

Ela olhou para todo o chiclete grudado em praticamente todos os cantos da locadora. Deu um suspiro e disse:

– Olha, eu sou ecologista e não faxineira. Não é meu dever limpar esse negócio.

– E se alguém entrar aqui e ver isso aqui? - perguntei.

– Relaxe - disse ela, abrindo um tipo de compartimento encostado na parede (que parecia um quadro de energia) e apertando alguns botões.

– O que você fez?

– O sistema é parecido com o da minha casa, só que em uma versão mais antiga. Apenas liguei o Sistema de Disfarce desse prédio em relação ao ambiente. Com isso, nenhum ser vivo vai reparar que esse prédio existe e podemos deixar tudo como está.

– E as pessoas que alugaram os filmes? Como elas vão devolver?

– Não é problema meu! Elas que fiquem com os vídeos como indenização pelo Markov - exclamou ela, já saindo sem olhar para trás - Bem, vou para casa. Estou morrendo de fome. Ah, é, e preciso carregar minha Portal Gun.

Fico imaginando que tipo de fonte de energia ela deve usar (certamente, algo do setor dela). E já que ela falou em fome, nessa hora, meu estômago também começou a roncar. É, acho que já tive emoções demais por hoje. Sei que o Eduardo guardará o segredo, mas, ao mesmo tempo, estou meio preocupado com o resto. E se os alienígenas causarem maiores confusões? E se houver mesmo uma mente por trás dos buracos de minhoca? O resultado seria: pânico! O título dessa história não seria mais conveniente...mas, sei lá, é melhor rezar para que não aconteça nada de muito anormal...


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Notas finais do capítulo

"melhor rezar para que não aconteça nada de muito anormal..."

Vitor não conhece minhas histórias. Hehahau.

Bem, no próximo capítulo espero apresentar mais personagens e, claro, colocar esses caras em novas confusões. Pelo menos agora o Eduardo pode ajudá-los (ou atrapalhá-los, dependendo do ponto de vista)

Até :)