Vivemos verdadeiros apuros no planeta das máquinas ontem. Mas, apesar do cansaço e do excesso de amendoim, a vida continuava. O dia seguinte era mais um dia de aula e lá estava eu, caminhando tranquilamente em direção à escola. No meio do caminho encontro minha vizinha, colega de sala e alienígena: Estrela. Ela também estava indo para à aula.

— Estrela! - chamei, correndo até ela - Está indo para a escola?

— Sim - respondeu ela, seriamente como sempre - Preciso manter meu disfarce, já que ficarei aqui por mais algum tempo.

— Fico feliz que ainda passaremos mais tempos juntos - falei. Ela me olhou e (acho) deu um leve sorriso.

— Também acho isso positivo - completou ela - Afinal, se novos problemas com alienígenas aparecerem, é bom ter um ajudante confiável.

— Espero que isso não aconteça - repliquei.

— Considerando que as invasões alienígenas eram causadas pelos buracos de minhoca gerados pelo uso do Eternium por conta da armação do robô que estava a serviço de Kaldi, acho que é bem difícil de acontecer - respondeu ela. Demorei um pouco para acompanhar o raciocínio, mas, de fato, era uma história longa (mas você já sabe, afinal, leu até aqui, não é?)

— Então estamos seguros, né? - perguntei inocentemente.

— Não - respondeu ela, secamente - Tudo que podemos dizer é que chances de novas invasões diminuem. Mas isso não significa que não existem diversos alienígenas mal intencionados vivendo irregularmente neste planeta. Não verificamos todas as distorções que acontecerem durante os últimos meses.

— Ai, então as ameaças não acabaram - reagi, meio nervoso - Mas...eles não vão necessariamente nos atacar, vão?

— Quem sabe? - respondeu ela - Há muitas raças no universo. Algumas podem ser perigosas o bastante para causarem um desequilíbrio ecológico.

 É verdade. Estrela era ecologista. Para ela, nós éramos como uma reserva de animais a ser estudada. Mesmo assim, ainda acredito que ela tenha alguma carinho pela raça humana. Ao chegarmos na escola, somos recebidos imediatamente por Kevin, nosso colega agente secreto de uma organização que investiga alienígenas, a CICE, ou Central de Investigação para Casos Extraterrestres.

— E aí? Como vão? - disse ele - Finalmente voltou a vir para escola, Estrela?

— Estava investigando a origem daquele androide. Desculpe se não sou tão desocupada quanto você - retrucou ela.

— Ora, para o seu governo também estava muito ocupado - respondeu ele.

— Mesmo? - disse Estrela, não acreditando muito.

— A CICE continua estudando aquele mineral esquisito, o Eternium - prosseguiu Kevin - Ele realmente consegue produzir energia sem custo. Usá-lo acabaria com nossas crises energéticas. Avançaríamos esse planeta absurdamente.

— Você está pensando em ficar com ele? - perguntei.

— Tem um monte de burocracia envolvida nisso - respondeu ele - Precisamos enviar vários relatórios para nossos superiores antes de tomarmos alguma decisão. A conservação de energia ainda é uma lei física muito forte. Nós ainda não acreditamos que seja possível produzir tanta energia assim, de graça. Mas estamos aproveitando os resultados o máximo que a gente pode.

— Então não tiveram avanço nenhum - disse Estrela, secamente.

— E você? Teve algum avanço por acaso? - retrucou ele.

— Não apenas descobrirmos a origem dos androides, como viajamos até o planeta dele e acabamos com uma ameaça ao universo inteiro. Esse problema já está resolvido - disse a alienígena, sem nenhuma cerimônia.

— É..é verdade - falei, mais modestamente - Eu sou testemunha.

 Kevin arregalou os olhos, como se não acreditasse muito. Mas depois da minha palavra, ele acabou aceitando.

— Deve ser uma longa história - disse ele - Se é assim, dou o braço a torcer. Quero saber mais detalhes disso.

— Não importa muito - falou Estrela - O mistério atual é mesmo descobrir o que está por trás desse Eternium. Energia sem custo parece muito bom para ser verdade.

— Sim - concordou Kevin - Não sei que tipo de efeito colateral pode haver no uso do Eternium. Nós o isolamos o máximo possível para evitar distorções espaciais, mas não sabemos se há outras variáveis em jogo.

— Acho que vocês precisam de um conhecimento mais avançado - falou Estrela - Gostaria de dar uma olhada nesse cristal.

— Você? 

— Venho do Setor W. Meu conhecimento científico deve ser de ajuda comparado com o de vocês, não acha? - retrucou ela, diante da leve dúvida de Kevin.

— Não nos subestime tanto assim - falou ele, em um tom mais sério - Temos bons conhecimentos que adquirimos de raças alienígenas que não revelamos para o público. Podemos saber coisas que nem vocês do Setor W sabem.

— Acho difícil - rebateu Estrela. Os dois já estavam trocando faíscas no olhar, quando eu resolvi interferir.

— Calma, calma - disse timidamente - Acho que seria de uma boa ajuda para todos se Estrela desse uma olhadinha no cristal, não seria?

— Bem...se é assim. Acho que posso abrir uma exceção. Afinal, nossos superiores sabem que você foi de ajuda na resolução do caso - falou Kevin.

— Eu estava investigando por minha conta. Você que se meteu onde não foi chamado - respondeu ela.

— Eu é que devia dizer isso - reclamou.

— Ei, parem de brigar - falei - Tenho certeza de que a Estrela pode ajudar.

— Você também vai? - perguntou ele.

— Posso mesmo?

— Mas é claro - disse Kevin - Tenho certeza de que você nos dará informações sobre o caso dos androides com muito mais boa vontade do que essa w-ana metida.

 Eu? Conhecer uma base secreta de pesquisa alienígena? É o sonho de qualquer garoto! Se bem que já conheci alienígenas demais para um garoto no primeiro ano do ensino médio. Acabou que, no final da aula. nos encontramos com Kevin e fomos para lá. Até pensamos em chamar Eduardo e Mabi para ir conosco, mas eles saíram correndo assim que a aula terminou. Parece que a avó da Mabi faria aniversário e ela queria escolher um presente junto com Eduardo. Como Eduardo também iria na festa na posição de namorado, ele também ia junto para dar opinião. É, acho que eles vão demorar. Estrela e eu seríamos os convidados.

— Estão prontos? - disse Kevin, enquanto nos guiava até uma rua sem saída, sem muito movimento, nas proximidades da escola.

— Sim, mas...é tão perto assim?-  perguntei.

— Mais do que você imagina - disse ele - Estão vendo aquela lata de lixo?

 Nos aproximamos da lata e não vimos nada demais.

— O que tem? - voltei a perguntar.

— Essa é a nossa entrada - disse ele.

 Kevin apertou um botão no relógio e a lata de lixo praticamente nos sugou para dentro. Era uma passagem secreta, funcionando como se fosse um aspirador de pó para seres mais...macroscópicos. Agora estávamos caindo em um grande escorregador. Eu gritava de pavor, mas Estrela não parecia abalada. Caímos em um grande corredor cheio de luzes nas laterais e um design futurista. Kevin caiu bem atrás de nós.

— E aí? Curtiram? - falou ele.

— Seria mais prático nos mandar para cá com um buraco de minhoca - disse Estrela - Mas, é verdade, vocês ainda não dominam isso. Meu Portal Gun faria isso bem fácil.

— É difícil te impressionar - comentou Kevin - Mas é isso. Sigam-me. Levarei vocês até o Eternium e mostrarei os nossos dados.

 Era impressionante. Apesar de já ter visitado um mercado intergaláctico e um planeta cheio de máquinas, era impressionante ver aquilo em plena Terra. Como serão os outros detalhes da CICE? Vamos ver o que vem por aí...