Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 4
Crise 04 - Socialização


Notas iniciais do capítulo

Consegui escrever mais um cap, pessoal. Agradeço a todos que estão acompanhando. Muito obrigado =)



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Crise 04 - Socialização

Apesar de todos os pesares, o restante do meu dia foi relativamente normal. Depois do almoço fiz minha lição de casa (embora não tenha entendido bem algumas questões), assisti alguns vídeos que tinha na minha lista de "Assistir mais Tarde" e joguei alguns clássicos no meu emulador de Mega Drive. Por alguns instante eu quase me esqueci que aquele dia tinha sido um dos mais atípicos da minha vida. Será que aquilo tudo aconteceu mesmo? Será que não foi apenas uma alucinação?

De qualquer modo, tentei lidar com aquilo da melhor maneira possível. Prometi à Estrela de que não iria contar nada a ninguém e até achei legal ter um segredo. Deixa a sua vida mais emocionante, não é? Enfim, dei o dia por encerrado e fui dormir. Descansei muito bem naquela noite. Incrível. Estava lidando muito bem com a situação. Na verdade, acordei extremamente disposto. Após o toque do despertador pela manhã, abro a janela, vejo o Sol brilhando e tenho certeza de que terei um excelente dia! Meu próximo passo foi ir até o banheiro, abrir a porta do armarinho em cima da pia e ser quase atropelado por uma pilha de frascos de shampoo e condicionador mal colocados. Tudo bem. O dia estava só começando!

Depois de tomar um banho e me preparar psicologicamente para mais um dia, desço as escadas para a cozinha e encontro minha adorada família! É verdade, não os apresentei ainda, não é?

O cara lendo o jornal na seção de quadrinhos é o meu pai Vinicius. Todo mundo diz que ele é bem parecido comigo e, de fato, tínhamos uma cara bem parecida. A diferença básica era o tamanho (meu pai tinha um tamanho normal, em comparação a mim, que era bem nanico) e o bigode que ele tinha. No mais, éramos parecidos até nos óculos de alto grau para miopia. A moça loira sorridente preparando o café era a minha mãe Vanuza. Sabe que também falam que sou muito parecida com ela? Aliás, ela também é míope e tem um grau forte como o meu. A menininha de nove anos com cara de mau humorada sentada na mesa é minha irmãzinha Vitória. Ela também é parecida comigo, com a diferença de ser uma garota...e ter um cabelo comprido que podia ser amarrado com rabo de cavalo. Ah sim, ela também usava óculos para miopia de grau alto.

– Bom dia, família! - falei com muito bom humor.

– Bom dia, filhinho! - disse minha mãe, com a mesma animação - Conseguiu acordar mais cedo hoje, heim?

– Hehe! É isso ai! Pessoas que acordam tarde perdem as coisas mais legais da manhã! - disse meu pai, compartilhando o mesmo bom humor.

– Como vocês conseguem estar de bom humor tão cedo? - Vitória estava pasma - Eu só queria continuar dormindo sossegada, sonhando com minhas férias na Disney!

– Por que ir tão longe? - disse meu pai, apontando para a janela da cozinha que dava de cara para a praça do bairro - Você pode se divertir muito no parque da pracinha!

– Não, pai, apenas não - retrucou Vitória, retornando para os seus cereais e seu mau humor matutino.

– Tenho certeza de que hoje será um dia fantástico - falei - Você precisa ser mais otimista, Vitória.

E eu tentei manter meu sorriso o máximo que consegui, mesmo não reparando que a tampa da jarra de suco estava meio solta e ter derramado um pouco de suco na minha camiseta. Bem, essas coisas acontecem.

– Bom, eu já vou nessa! - disse meu pai, já se despedindo de todos - Há muitos restaurantes e mercados para fiscalizar hoje!

É, meu pai era fiscal sanitário, um emprego emocionante, segundo ele. Minha mãe ficava em casa o tempo todo, mas ganhava algum dinheiro traduzindo algumas coisas (nada como trabalhar em casa). Minha irmã estudava em uma escola do outro lado da cidade e minha mãe a levava todo dia. Eu apenas ia para a minha escola regularmente. Enfim, essa era a família Almeida. Uma família comum e bem-humorada.

– Dá pra parar de sorrir que nem um idiota e passar logo a margarina? - disse Vitória para mim, enquanto eu pensava nessas coisas. Bem, talvez nem tão bem-humorada assim.

Eu morava perto da escola. Tirando os casos onde eu estava atrasado (como ontem), eu costumo ir à pé para lá, enquanto minha mãe levava a Vitória para a aula. E foi isso que aconteceu hoje. Saí de casa, fechei o portão e, por coincidência, quem vejo saindo de casa também, no mesmo horário? Era a Estrela, minha vizinha alien...ops, preciso manter segredo disso!

– Bom dia, Estrela - falei animado.

– Bom dia - ela respondeu sem sequer mudar sua expressão.

Prossegui andando ao lado dela, mas ela não parecia estar com muita vontade de falar nada. Talvez também fosse um caso de mau-humor matutino, não?

– E então? Como foi o seu dia? - perguntei.

– Apenas acordei e preparei meu café da manhã. O dia iniciou há poucas horas, não tem muito o que relatar.

– Ah, quis dizer de ontem para hoje.

– Escrevi alguns relatórios e mandei para a central - respondeu ela. É verdade. Estrela era uma ecologista intergalática que estava investigando casos de aparições alienígenas naquela cidade. Parece que diversos buracos de minhoca (passagens que ligam diferentes regiões do universo) estavam aparecendo por ali e ela veio zelar pelo nosso ecossistema. É meio complicado e a razão de todos esses buracos se concentrarem na nossa cidade ainda era um mistério.

– Bem, eu tentei absorver melhor tudo isso. Sabe, acho que não será tão difícil assim manter segredo. Afinal, é surreal demais dizer que conheci uma alienígena. Quem iria acreditar em mim, não é verdade? Hahaha

– Na verdade, muitas pessoas desse planeta acreditam em vida extraterrestre. Mas a maioria tem uma concepção muito errada de como esses seres realmente são.

– Não é? Eu sempre pensei que alienígenas eram monstruosos e feios, mas você é bem parecida com a gente.

– Ah, sim. W-anos possuem uma anatomia praticamente idêntica aos terráqueos, mas isso não é exclusividade nossa. Diversas raças por aí possuem a mesma estrutura. Mas é claro que temos algumas diferenças.

Estava curioso para saber o que w-anos possuem de diferencial, mas na minha distração acabei tropeçando em alguma casca de banana que deixaram na rua. Acho que eu devia olhar mais para baixo. Estrela pegou a casca e, tipo, a escaneou com algum programa do seu celular.

– É uma casca de banana comum - disse ela - Não estranharia se tivesse alguma relação com presença alienígena.

– Você suspeita de tudo, heim?

– No meu trabalho, precisamos ser muito cuidadosos - respondeu ela, em tom bastante sério. Ela era compenetrada e quase não sorria, mas sem dúvida tinha um forte senso de responsabilidade. Sinto que podia mesmo confiar nela. Agora eu precisava mostrar que também era de confiança e guardar o segredo dela. Espero conseguir fazer isso!

Não demorou muito para chegarmos ao Conexão, nosso colégio. Não me pergunte a origem desse nome, mas imagino que tenha alguma razão. De qualquer modo, estava feliz naquela escola. Tá certo que eu não conhecia muita gente, mas havia uma pessoa em especial que tornava tudo mais bonito.

– Bom dia, Vitor - disse simplesmente a menina mais meiga e doce que já passou por aquele colégio. Era a Mabi. E estava mais linda do que nunca com aquela tiara de lacinho.

– Ah, Mabi. B-b-bo..bo..

– Acho que ele quer dizer bom dia - falou Estrela, adiantando minhas palavras.

– S-Sim. Bom dia!

Mabi riu com isso. Ela era uma garota extremamente generosa e boazinha. Eu a conheço há muitos anos e sempre estudamos na mesma escola (embora em salas diferentes algumas vezes, como é o caso desse ano). Pode-se dizer que somos amigos...embora eu quisesse ser ainda mais do que isso.

– Ah - exclamou Mabi ao olhar para Estrela logo ao meu lado - Você...é nova por aqui, não é?

– Sim- respondeu ela secamente.

– Ah, claro, você deve ser a Estrela, a aluna nova que comentaram. Seu nome é bem diferente.

– E você...parece ser bem normal - reparou Estrela, olhando para Mabi com a mão no queixo de modo desconfiado - Pelo menos parece.

– Não entendi muito bem - respondeu Mabi, meio envergonhada.

– Hã? Ah, é o jeito dela. Essa garota é bem engraçada, né? - comentei, tentando disfarçar. Como ela quer que eu guarde segredo se ela mesma não se esforça para parecer discreta? Ela é boa em ecologia intergaláctica, mas não deve ter tido muito treinamento como agente secreta. Apresentei formalmente as duas e houve um cumprimento não muito caloroso da parte de Estrela. Mas estavam apresentadas.

– Ah, sim, eu fiz mais biscoitos ontem - disse Mabi, revirando sua bolsa e pegando uma sacolinha com pequenos biscoitos amanteigados - Estou experimentando algumas receitas novas. Experimentem!

Como se não bastasse ser bonita e gentil ela também era uma excelente cozinheira. Precisa de mais? Ela também ofereceu para Estrela que pegou um dos biscoitos e fez questão de escaneá-lo também.

– Parece ser normal também - disse ela.

– Achei que ela fosse tirar uma selfie com o biscoito. Você é daquela obcecadas por redes sociais?

– Redes sociais? - estranhou Estrela.

– Ah, mas o dia está lindo hoje, não é? Hehe - tentei mudar de assunto. Estrela realmente devia saber melhor como se socializar. Bem, mas tirando isso, até que a conversa estava indo bem. As coisas podiam estar melhores se não fosse o problema. Sim, havia um problema terrível com Mabi. Algo muito sério mesmo e era justamente isso que deixava as coisas mais difíceis para mim.

– Bom dia - disse um rapaz, de cabelos castanhos meio compridos (embora não passassem do ombro), olhos negros e um sorriso no rosto.

– Oi, amor. Bom dia - respondeu Mabi, cumprimentando-o com um tímido beijinho no rosto. Sim. "Amor". Essa pessoa que atende pelo nome de Eduardo Assis é o namorado de Mabi. Lembra que eu disse que queria ser mais do que um amigo para ela? Uma das razões pelas quais eu não posso é ele! Mas além de namorar a garota que eu amo, esse cara tem um problema ainda maior!

– Oh, como vai, Vitor? Não cheguei a ver você ontem. Tudo em paz?

– S-sim. Tudo - respondi timidamente.

Eduardo manteve o sorriso. Permitam que eu explique o outro problema dele: o que faz você detestar esse cara é que não dá para detestá-lo! Ele é muito gente boa, tranquilo e educado. Simplesmente não dá para dizer que Mabi não esteja em boas mãos. Eu gostaria de estar no lugar dele, mas era muito óbvio que ela era feliz ao lado de Eduardo, ou simplesmente Edu, como Mabi gosta de chamá-lo.

– Ah, sim, Estrela, esse é o meu namorado Edu - apresentou Mabi.

– Muito prazer - disse Eduardo, oferecendo sua mão direita. Mais um cumprimento não muito caloroso da parte de Estrela.

– É. Você também parece normal - disse Estrela, novamente lançando um olhar desconfiado. Edu manteve o sorriso e respondeu.

– Normal, heim? - disse ele, colocando a mão no queixo em tom pensativo - Essa palavra é bastante relativa, não acha?

Infelizmente, Estrela ativou outro grande problema de Eduardo. Ele podia ser um cara gentil e tranquilo, mas quase sempre suas conversas eram bem...peculiares.

– Relativa? - perguntou Mabi.

– Normal seria algo dentro de uma norma. Mas as normas são variáveis. Dependendo do local ou cultura onde você está, a norma adotada pode ser diferente.

– Hmm. Acho que estou entendendo - disse Mabi, certamente a pessoa que dá mais corda para esse tipo de papo.

– Vocês já pararam pra pensar que poderíamos viver em uma cultura em que seriam adotadas normas totalmente diferentes? É muito comum usarmos roupas em nossa cultura, mas isso não era verdade para os índios nativos do Brasil na época do descobrimento. Também é comum que as mulheres andem com a cabeça descoberta por aqui, mas em um país muçulmano isso seria totalmente fora dos padrões.

– É...é verdade - concordei. Como sempre, eu também era levado por essas conversas. Estrela apenas ouvia tudo em silêncio.

– É por isso que eu digo: considerar algo normal é relativo. Depende muito da norma em questão e da cultura em jogo. Diferentes culturas possuem diferentes normas e diferentes padrões. Mas será que existe um padrão absoluto? Será que existe alguma norma válida para todas as culturas, todos os países e, quem sabe, todos os planetas?

Nessa hora, senti um calafrio.

– Todos os planetas? - perguntou Mabi.

– Quem sabe...se civilizações extraterrestres existirem e constituírem uma sociedade, eles também devem ter suas próprias normas.

Do nada comecei a tossir. Acho que me engasguei com a própria saliva. Minha garrafa de água? Onde estava a minha garrafa? Naquela hora, o sinal para o início das aulas tocou. Mabi e Eduardo eram de outra sala, logo, não precisava acompanhá-los.

– Bem, a gente se vê. Vitor, Estrela. Boa aula - disse Mabi, toda simpática.

– Oh, sim, vamos indo. Ainda preciso terminar algumas coisas - disse Edu - Até logo. Prazer em conhecê-la, Estrela.

Estrela apenas consente com a cabeça. Quando os dois estão longe, ela lança um comentário.

– Aquele garoto parece ser normal no sentido de ser desse planeta, foi isso que quis dizer. Mas certamente pensa em um nível bem acima da maioria das pessoas daqui.

– Ah, sim, ele tem essa mania - falei, finalmente me recuperando do meu engasgo com a própria saliva ou seja lá o que me fez tossir.

– Não consegui escaneá-los para ter certeza, mas como minha Portal Gun não acusou nada, devem ser seguros. Se bem que algumas espécies inteligentes conseguem burlar esse sistema.

– Você devia ser mais discreta com seus próprios assuntos, não acha?

– Estou sendo o mais discreta que posso - respondeu Estrela, com toda a calma do mundo - Bem, hora de subir. A aula já vai começar.

Apesar das habilidades sociais de Estrela não serem das melhores, parece que naquela manhã tudo iria correr bem. Mas será que seria assim o restante do dia?


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Notas finais do capítulo

Eu disse que iria começar o próximo arco nesse capítulo, mas achei interessante apresentar mais alguns personagens e familiarizar um pouco mais com o universo da fic. Na próxima, deve ter mais ação.

Até!