Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 36
Crise 36 - Hóspede Inesperada


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos! Faz um tempinho, né? Bem, ando estudando muito...mas espero tirar um tempinho para escrever a fic. A princípio, a partir dessa semana tentarei postar todo domingo, mas não vou prometer nada.

Boa leitura!



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Crise 36 - Hóspede Inesperada

 

 Após uma semana atribulada que, entre outras coisas, incluiu ficar preso em uma realidade virtual, finalmente podia usar o sábado para descansar. Minha intenção naquele dia era acordar tarde, talvez umas nove e meia, não, umas dez horas (bem, sou acostumado a acordar cedo, então minha noção de tarde deve ser um pouco diferente da sua). Só que nem sempre as coisas são como nós esperamos, já que a campainha da minha casa tocou às nove horas da manhã em ponto.

 

 O toque da campainha me acordou, mas seja lá quem fosse, certamente não seria para mim. Meu pai já estava de pé naquele horário e atendeu a porta. Devia ser uma dessas testemunhas de Jeová. Não devia ser nada para mim mesmo. Pelo menos foi o que pensei, até que ouço meu pai gritar pelo meu nome lá debaixo.

 

— Vitor! - chamou ele - Tem uma amiga sua aqui na porta!

 

"Amiga?", pensei comigo mesmo. Quem iria me chamar naquele horário? Como acontece com a maioria das pessoas, minha cabeça demora para funcionar de manhã. Demorou pelo menos uns trinta segundos até eu me tocar que só podia ser uma pessoa.

 

— Mas será que é ela? - indaguei para mim mesmo, como se não soubesse a resposta. Desci as escadas ainda de pijamas e logo dei de cara com a figura. Sim, era ela mesma: Estrela. Ela estava de frente à minha casa, com uma mochila rosa e segurando um vaso com uma planta que eu sabia muito bem que não era uma planta e sim o mascote dela, Plum. 

 

— Bom dia, Vitor - disse ela, no tom sério (ou talvez cínico) de sempre.

 

— Estrela? O que aconteceu? - perguntei. Será que era algum alienígena nos atacando? Seríamos invadidos e ela veio avisar? Ou será que aquela mochila era a mala dela, pronta para escapar da Terra por conta de alguma crise inevitável? Vários pensamentos passaram pela minha mente, mas eu não podia me desesperar antes de ouvir tudo que ela tinha para dizer. Qual não foi minha surpresa ao ouvir o seguinte:

 

— Preciso ficar aqui por 24 horas - disse ela, do modo mais direto possível. 

 

— Ficar aqui? - repeti.

 

— Sim. Não falei alto o bastante? 

 

— Não é isso, mas...por que você precisa ficar aqui?

 

— Minha casa está em atualização.

 

— Atualização?

 

— Você sabe que minha casa é regida por um sistema inteligente, mas ele precisa atualizar os dados de tempos em tempos e a casa fica uma bagunça até que tudo se estabilize - disse ela, tentando explicar uma tecnologia muito à frente de qualquer coisa da Terra, mas parece que Estrela já havia me acostumado com minhas caras de interrogação com as conversas dela - Resumindo: é como se minha casa estivesse em reforma automaticamente e seria muito desconfortável ficar lá durante esse tempo.

 

— E essa reforma durará só um dia? - perguntei.

 

— Exato. Não preciso mais do que 24 horas para completar a atualização. É um sistema relativamente compacto - explicou ela.

 

 De certo modo, estava aliviado por não ser nada tão grave, mas ainda assim era atípico.

 

— Mas não sou eu que decido isso - falei - Preciso falar com meu pai primeiro, explicar a situação e..

 

— Não se preocupe com isso, acabei de conversar com ele agora pouco - disse Estrela, com toda a tranquilidade do universo.

 

— Pai? - chamei ele, que por acaso passava por ali comendo os cereais de sua tigela.

 

— Ah, sim, filho. Já falei com a sua amiga - disse ele - Parece que ela precisa de um lugar para ficar até o fim da dedetização da casa dela, não é? Não tem problemas, ela pode dormir no quarto da Vitória - disse ele.

 

— Dedetização? - repeti.

 

— Não podia dizer que era uma atualização, não é? - disse Estrela, baixinho.

 

— Eu sei muito bem o problema que é isso. E como fiscal sanitário, reconheço a importância de uma dedetização para manter um local limpo e agradável - disse meu pai, com todo o orgulho. Lembro a vocês de que meu pai é um fiscal sanitário (como falei no capítulo 4) e sei muito bem o quanto ele leva dedetização a sério - Sua amiga pode ficar aqui o tempo que for necessário.

 

— Obrigada - disse ela.

 

— Mas dedetizações não costumam durar vários dias? - perguntou meu pai.

 

— Minha casa é bem pequena - disse ela - Segundo os profissionais, demorará apenas 24 horas.

 

— Estranho - disse meu pai - Mas se precisar que eu recomende um bom dedetizador, é só falar comigo. Por favor, entre, não precisa ficar aí na porta. Você trouxe até sua planta.

 

— É uma espécie rara que não poderia ficar lá - explicou Estrela, por alguma razão, Plum estava bem quietinha disfarçada de planta.

 

— Bem, se é só uma planta, pode deixá-la por aí - falou meu pai.

 

— Vou levá-la para o quarto comigo - disse Estrela - Não se preocupe.

 

 Estrela entrou em casa e logo o resto da família começou a acordar. Minha irmãzinha, mal-humorada como sempre, foi a primeira a reclamar do barulho.

 

— Mas que coisa, não se pode nem dormir nessa casa direito - reclamou ela.

 

— Ah, filhinha, bom dia. Essa é a amiga do Vitor e nossa vizinha, ela vai precisar passar uma noite com a gente hoje - disse meu pai, todo sorridente.

 

— Vizinha? Onde você mora? Nunca te vi mais magra - retrucou Vitória.

 

— Moro na casa da frente. É uma casa pequena, quase ninguém repara - disse Estrela. Mas moramos ali naquela região há anos, duvido muito que essa desculpa cole.

 

— Ah, tá - respondeu Vitória - Acho que sei qual é.

 

— É verdade, deve ser aquela casinha lá, né? Acho que também sei - continuou meu pai.

 

 Não é possível! Eles aceitaram a situação bem facilmente. Mas até onde isso iria?

 

— Bom dia, família - disse minha mãe, se aproximando da aglomeração - Oh, quem é essa mocinha?

 

— Bom dia - cumprimentou Estrela.

 

— É a amiga do Vitor e nossa vizinha - disse meu pai - Vai precisar passar uma noite aqui com a gente no quarto da Vitória.

 

— Ei, não decidam as coisas por mim! - reclamou Vitória.

 

— Mas você se importa? - retrucou meu pai.

 

— Bem...ah, tá bom, vai? Acho que vai ser bom ter alguém para conversar - disse Vitória - Sinto falta de ter um ponto de vista mais feminino nessa casa.

 

— Mas eu não conta, filha? - reclamou minha mãe.

 

— Mãe, você é mãe! Mães tem um ponto de vista de...mães. Preciso de alguém da minha idade.

 

— Você só tem nove anos, Vitória - lembrei.

 

— E daí? Meninas amadurecem mais rápido do que meninos, não sabia, não? - retrucou ela - Aposto que sou mais madura do que você.

 

— De certo modo é verdade - concordou Estrela.

 

— Não tá ajudando! - reclamei.

 

— Como é o seu nome mesmo? - perguntou minha mãe.

 

— Estrela - respondeu ela.

 

— É um nome diferente - comentou minha mãe - Você é namoradinha do Vitor?

 

— O QUÊ?! - exclamei, ficando muito vermelho - Mãe! Não fale essas coisas tão de repente!

 

— Mas você já tem 14 anos, meninos nessa idade já ficam atrás dessas coisas - continuou minha adorável, porém inconveniente progenitora.

 

— Não, nossa relação é um pouco mais simples do que isso - disse Estrela, sem se abalar - Vitor é meu assistente com assuntos pessoais e..

 

— Isso, isso, assistente em certos temas de escola, não é? Ajudo Estrela com algumas tarefas - falei, antes que Estrela desse bandeira demais (embora já tenha sido muito ter falado em dedetização).

 

— Sério? Que orgulho - disse minha mãe, realmente orgulhosa.

 

— Claro que não é namorada dele, né, mãe? - falou Vitória - Você acha que o Vitor teria chance com uma menina tão bonita?

 

— Olhando por esse lado, é verdade - ponderou meu pai.

 

— Tem razão, precisamos ser realistas - completou minha mãe.

 

— E ainda se consideram minha família?! - reclamei. Mas, bem ou mal, Estrela foi acomodada no quarto de Vitória que, após algum tempo, até ficou mais alegre.

 

— Até que vai ser divertido - disse minha irmã - Vou te contar tudo sobre como pretendo construir minhas próprias bonecas mecânicas!

 

 Garotas de nove anos comuns brincam de casinha com suas bonecas. Minha irmã planeja construir um exército pessoal de bonecas controladas por mecanismos robóticos. Não, não estou brincando. Às vezes tenho medo dela.

 

— Isso parece interessante - disse ela.

 

— Eu já volto, Estrela. Vou só tomar uma água - falou Vitória.

 

 Após ver que minha irmã saiu do quarto, Estrela virou-se para seu vaso de planta.

 

— Plum, pode sair do modo de espera - disse ela. Na mesma hora, a planta se soltou e Plum veio para cima de mim, lambendo minha cara com aquela língua esquisita.

 

— Para, para, por favor - reclamei.

 

— Calma, Plum, calma - disse Estrela -Tive que trazê-la, ela fica muito agitada com as atualizações.

 

— E você pretende deixar essa coisa no mesmo quarto da minha irmã? - reclamei.

 

— Ela pode ficar dias em modo de espera como uma planta - falou Estrela - Não será um problema deixá-la aqui.

 

— E se minha irmã mexer nela sem querer? A Vitória pode ser meio estabanada e..

 

— Tá bem, Vitor - disse Estrela - Se esse é o problema, vou deixar que a Plum fique no seu quarto.

 

— Menos mal e...o quê?!

 

 É, não tive muita escolha. Plum foi parar no meu quarto e Estrela passou o dia conosco. Meus pais acreditaram facilmente que ela era uma aluna de intercâmbio da China que falava português fluentemente (nada como uns traços orientais para ajudar). O problema é que meus pais começaram a achar que a China possui portas eletrônicas que abrem por biometria. Sim, Estrela estava fazendo minha família acreditar que a China era o Setor W, mas consegui mudar o assunto para o que tinha de sobremesa antes que a conversa piorasse. O dia até que foi tranquilo, com minha irmã atazanando Estrela com ideias de construir um exército de bonecas, enquanto eu tentava manter o equilíbrio do papo e não deixar Estrela sugerir tecnologias bélicas avançadas para Vitória. Enfim, foi um dia bem cansativo e poderia descansar à noite. Mas como Plum, a nova habitante do meu quarto, me conhecia, foi difícil fazê-la voltar ao modo de espera (embora Estrela tenha me dito como fazer isso).

 

Tudo bem. Eu só precisava aguentar a presença de Estrela e Plum na minha casa até de manhã. Não tinha como algo dar errado no meio da madrugada. Bem, isso até eu ouvir algumas batidas na porta do meu quarto.

 

— Vitor *toc,toc* Vitor *toc,toc* Vitor - era Estrela, usando o mesmo pijama da festa da Bruna. Atendi com a maior cara de sono possível.

 

— O que foi? - falei, praticamente bocejando.

 

— Estou ouvindo um barulho estranho lá embaixo - disse ela.

 

— Um barulho estranho? - falei.

 

— Talvez seja um alienígena, embora meu detector não tenha alertado nada - falou ela.

 

 Alienígena? Do jeito que esse mundo é violento, podia muito bem ser um ladrão! Quem dera fosse um alien! O que eu poderia fazer? Precisava manter a calma, talvez chamar a polícia...mas a primeira coisa seria pegar meus óculos.

 

— Melhor irmos lá ver - disse Estrela.

 

— Espere...ele pode estar armado e...

 

— Tenho treinamento, Vitor - disse ela - Não se preocupe.

 

Mesmo assim, estava com medo. Descemos com cuidado pelas escadas e seguimos o barulho até à cozinha. Nessa hora, Estrela acendeu a luz e deu de cara com o meu pai, atacando a geladeira.

 

— Ops - disse ele.

 

— Pai? O que está fazendo aqui?

 

— Ah, filho...é que...eu admito! Eu gosto de fazer lanches noturnos! Por isso a mortadela acaba tão rápido. Só não conte para sua mãe, ela está querendo que eu entre de dieta - disse ele, todo assustado.

 

— Então era só isso. Achei que fosse um ladrão - respirei aliviado.

 

— E eu pensei que fosse um alienígena - disse Estrela.

 

— Alienígenas? Que imaginação! Mas se bem que...olha, vou contar uma coisa, eu sinceramente acho que alienígenas existem - disse ele, em tom de sussurro (se ele soubesse o quanto não precisava sussurrar para nós).

 

 Já que meu pai iria terminar o sanduíche de mortadela noturno dele ali mesmo, só nos restou voltar para o quarto. No meio do caminho, Estrela se desculpou.

 

— Desculpe, Vitor. Mas devido ao meu treinamento, tenho o sono muito leve. E tenho redobrado minha atenção nos últimos dias.

 

— Acha que os ataques estarão mais comuns? - perguntei.

 

— Eu não sei muito bem - respondeu ela - Tudo que sei é que os buracos de minhoca estão se concentrando nessa cidade e sei também que aquele SVT não foi instalado por acaso. Algo me diz, que a fonte de todos os problemas está bem perto de nós.

 

— Você quer dizer...na escola? - falei.

 

— Provavelmente - disse ela - Vamos dobrar nossa atenção.

 

— Bem, farei o possível para ajudar.

 

— Obrigada pela sua ajuda - disse Estrela - E também por me acolher.

 

— Ah, o que é isso. Sei que a Terra deve ser um lugar desconfortável para você, mas..

 

— Sim, seu planeta é um lugar bem atrasado.

 

 Na lata assim?

 

— Mas - prosseguiu ela - Todas as civilizações avançadas já foram atrasadas um dia. A beleza da evolução é justamente o desenvolvimento, não é?

 

— Oh...puxa...como terráqueo, acho que fico feliz em ouvir isso - disse, meio constrangido.

 

— Só porque acho vocês atrasados, não significa que não goste de vocês. Pelo contrário, por amar a Terra é que quero protegê-la - disse Estrela. De certo modo, senti estando com Estrela, eu também estava ajudando a defender o meu planeta. Está bem. Apesar das dificuldades, acho que vale a pena me envolver com ela.

 

 No dia seguinte, Estrela saiu cedo de casa. Na porta, ela agradeceu aos meus pais pela acolhida.

 

— E então, aquela é sua casa, não é? - disse meu pai, olhando para a frente. Devo lembrar que a casa de Estrela possui uma barreira que impede as pessoas de repararem nela, mas agora meus pais podiam vê-la.

 

— Sim. O pessoal da dedetização já deve ter acabado - disse Estrela.

 

— Estranho. Não vi nenhum caminhão de dedetização - falou minha mãe.

 

— É...eu também não - disse meu pai.

 

— É uma equipe que trabalha bem rápido - falei - Então...desculpa qualquer coisa, Estrela. Até mais.

 

— Até - disse ela, levando o vaso e sua mochila junto. Difícil de acreditar que ela passou mesmo a noite em casa.

 

— Ei, Vitor - chamou Vitória.

 

— O que foi?

 

— A Estrela é muito legal! Se você deixar de ser um nerd bobão, talvez consiga namorá-la. Daria uma boa cunhada! - disse ela.

 

— Para com isso - retruquei - Eu...já gosto de outra pessoa.

 

— Mesmo? E tem chance com ela? - perguntou Vitória.

 

— Er...também não. Mas o futuro não nos pertence, né? - falei.

 

Que dia atribulado! Mas depois de Estrela, a maioria dos meus dias foi assim, não é?


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, começamos outro arco. Até lá!