Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 3
Crise 03 - Na Casa da Vizinha


Notas iniciais do capítulo

Não resisti! Estou com muitas coisas para ler e estudar, mas veio uma inspiração muito boa para escrever esse cap e não quis desperdiçar. Boa leitura ;)



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Crise 03 - Na Casa da Vizinha

Ai, caramba! Até hoje de manhã eu achava que seria um dia como outro qualquer, mas antes de voltar para casa simplesmente descubro que minha nova colega de sala é uma...alienígena. Que está no planeta Terra para...preservar o nosso habitat natural de invasores provenientes de buracos de minhoca. Só nesse meio-tempo enfrentamos duas espécies alienígenas bizarras. Primeiro, os cadarços do meu tênis que estavam acoplados com entidades extraterrestres chamadas Knot Snakes. Depois, uma bola de futebol em um clube abandonado se revelou como uma outra ameaça. Agora, estou aqui, quase entrando na casa dessa nova colega alien...a Estrela. Sim, ela se chama Estrela! E mora exatamente na casa em frente à minha, sem que eu sequer suspeitasse.

– Por favor, entre - disse ela, abrindo o portão sem esboçar muitas emoções. A casa não era grande. Não tinha garagem e não ocupava muito mais do que três metros quadrados de fachada. Ao passar pelo portão, dou de cara com um corredor com alguns vasos de planta no caminho. Sigo logo atrás dela, observando ao redor e não demora muito para chegarmos à porta principal. Achei que ela iria usar a chave novamente, mas simplesmente colocou a mão na maçaneta e a porta se abriu sozinha.

– Uau! - exclamei - Bem tecnológico, né?

A reação no rosto de Estrela foi um levantar de sobrancelhas bem debochado, acompanhado do seguinte:

– É só biometria. A maçaneta detectou os dados da minha mão e abriu. É algo bem primitivo, para dizer a verdade - respondeu ela, de novo, zombando mais uma vez de minha caipirice em relação a artefatos extraterrestres.

– Desculpa. Não estou muito acostumado com isso. Hehe!

– Vamos. Entre logo - disse ela, tomando a frente mais uma vez. Eu a sigo e...cara...cara, como assim! O que era aquele lugar?

– M-M-Mas....isso...isso... - eu estava admirado. Não conseguia encontrar palavras para descrever o que estava diante de mim - Isso é muito grande!

Sim. Eu nunca imaginaria que dentro daquela casinha tão pequena (que eu não daria mais do que uma sala, um banheiro, um quarto e uma cozinha) encontraria praticamente um palácio. Era um local enorme, com esculturas abstratas e espaciais por todos os lados, mesas coloridas, lustres flutuantes (sim, eles não precisavam ficar presos no teto por uma corrente), uma parede com um aquário gigantesco com espécies de peixe muito bizarras (tenho certeza de que aquele peixe roxo com um chifre e três olhos não gostou muito de mim), pedras flutuantes em tom verde claro, uma tela gigantesca de...muita polegadas! E isso é só do que eu estou me lembrando! Como se não bastasse tudo isso, ainda havia muito, mas muito espaço livre para colocar ainda mais coisas. Praticamente caí para trás quando vi tudo aquilo.

– O que foi agora?

– É muito maior do que eu pensava! - respondi.

– Ah, sim, você ainda não deve conhecer a técnica de compactar dimensões espaciais. Espaço não é muito difícil de manipular, então dá para criar algo maior por dentro do que por fora. Daria para fazer isso até com uma cabine telefônica - disse ela, sem nenhuma cerimônia ou empatia pelo meu espanto - Bem, vou trocar de roupa. Fique à vontade.

– T-Tá.

Eu me sentei na poltrona mais próxima. Mas acho que fiz alguma coisa errada. Do nada, a poltrona começou a se mexer sozinha. Mas não apenas se mexer tipo...um pouquinho, começou a se mexer muito. Muito mesmo. Eu estava me sentindo praticamente em um terremoto em miniatura. Como não sou das pessoas mais resistentes do mundo, acabei sendo lançado para a frente. Meus óculos foram jogados para longe e, como já falei, minha miopia é um problema grave. Vi alguma coisa borrada na minha frente que colocou alguma coisa nas minhas mãos. Ah, eram os meus óculos. Ah, agora eu podia enxergar. Era a Estrela, estranhando meu comportamento de alguma forma.

– Você está bem? - ela perguntou.

Fiquei espantado. Ela já havia trocado de roupa? Na verdade, eu esperava roupas mais high-tech ou algo totalmente fora da moda terráquea. Mas Estrela simplesmente havia colocado uma camiseta regata, um shortinho roxo e...chinelos havaianas cor-de-rosa?

– Já trocou de roupa?

– Só preciso ficar naquela plataforma e selecionar o figurino que quero - disse ela, apontando para mais uma das infinitas coisas tecnológicas daquela sala - O algoritmo do sistema operacional da casa se conecta automaticamente com o armário e troca minhas roupas. É um sistema bem simples.

– Achava que você usaria roupas mais extravagantes - comentei.

– Por quê? Esse tipo de roupa é bastante confortável para um clima quente como esse, não? Além disso, os chinelos desse planeta são considerados os melhores do universo!

Espero que os fabricantes de chinelos não escutem isso ou os preços aumentarão absurdamente. Uma coisa é ser popular em outros países, mas ser popular em outras galáxias já é demais!

– Mas afinal, o que você está fazendo aí no chão?

É verdade, ainda não tinha me levantado. Estrela ofereceu sua mão para me ajudar a levantar e logo perguntei:

– Como consegue usar essa poltrona?

– Oh, desculpe. Deixei na massagem automática. Mas devo ter esbarrado no botão de aumento de intensidade sem querer. Ela também é feita para habitantes de um planeta com terremotos frequentes, então precisa de uma intensidade muito maior para fazer efeito.

Aquilo era espantoso. Foi quando dei um passo para trás e esbarrei em um tipo de vaso com uma samambaia. Ou, pelo menos, eu achava que fosse uma.

– Opa, quase derrubei a samambaia - falei, tentando ajeitá-la com a mão.

– Vitor, não! - ela gritou, mas era tarde demais. A tal "samambaia" simplesmente rosnou e começou a correr atrás de mim. Sim, isso mesmo que você leu. A planta, na verdade, era uma criatura capaz de se movimentar e...latir. Escondida nas folhagens estava um rosto com aspecto de planta carnívora que simplesmente começou a me perseguir.

– O...o que é isso?

A criatura era mais rápida do que parecia. Ela iria me pegar e me morder se Estrela não tivesse um ás na manga.

– Plum! Aqui! Sua comida preferida! - falou Estrela, mostrando um pacote de biscoitos de polvilho para ela. A planta parou imediatamente de me perseguir e foi atrás da dona. Aquele ramo logo atrás dela estava...balançando feito uma cauda de cachorro ou era impressão minha?

– O...que é essa coisa?

– Ei! Mais respeito com a Plum! É um dos melhores mascotes do universo! - respondeu Estrela, um tanto quando ofendida - É muito fiel e é um doce. Ela só precisa se acostumar com você.

Estrela pediu que eu me aproximasse. Claro que eu estava com medo, mas ela insistiu. Estrela parecia estar no controle. Ela segurava o "bichinho", enquanto eu aproximava minha pobre mãozinha dele. O que ele estava fazendo? Cheirando a minha mão? Mas desde quando aquela coisa tinha um nariz? Seja lá o que aconteceu, ela parece ter se acostumado comigo e deu uma lambidinha. Nunca me senti tão estranho na vida e olha que já fui lambido pelo cachorro da minha tia Glenda muitas vezes!

– Viu só? Ela só precisava se acostumar com o seu cheiro.

– Mas ela tem nariz?

– Não, mas as folhas conseguem detectar. Incrível, não é?

Ela dizia incrível com toda a calma do mundo. Incrível era tudo aquilo! Em menos de dois minutos naquela casa eu já tinha visto mais coisas do que uma pessoa comum veria em sua vida inteira!

– Bom, vou te arranjar alguns cadarços - disse ela, lembrando o motivo de eu estar ali - Sente-se...err..naquela poltrona ali. Essa é segura. Pode confiar.

Dessa vez ela parecia ter razão. Sentei e não fui sacolejado ou jogado para longe. Acho que agora eu poderia relaxar. Não demorou muito para Estrela arranjar alguns cadarços para substituir os que eu perdi com os Knot Snakes.

– Obrigado - agradeci, tentando colocar os cadarços em meus tênis. Acabei de lembrar que sei amarrar meus cadarços, mas colocá-los é outra coisa. Estrela conversava comigo enquanto eu brigava com meus próprios sapatos.

– Bem, é o mínimo que posso fazer pelos problemas que te meti, não é? - disse ela - Ai, ai, ainda tenho muito trabalho a fazer. Preciso mandar esse relatório para a Central de Pesquisas Ecológicas do Setor W o quanto antes.

– Esse seu setor...é muito longe daqui?

– Bastante. Mas buracos de minhoca são excelentes atalhos, como eu já disse.

– E por que você escolheu justamente se disfarçar de uma menina de 14 anos? - perguntei intrigado.

– Mas eu tenho 14 anos - ela respondeu secamente.

– E você já trabalha com tudo isso? - exclamei espantado.

– No Setor W a maioridade é aos 13 anos - ela respondeu - Bem, pode-se dizer que w-anos amadurecem bem rápido também, mas a nossa taxa de crescimento é muito parecida com a de vocês. Com 14 anos já tenho um currículo bom o bastante para trabalhar na Central.

Ela disse w-anos com o som de "dablianos". Só gostaria de saber o significado daquele W.

– Esse tal Setor W é o seu planeta, não é? - perguntei, ainda lidando para amarrar meus cadarços.

– Bem, na verdade é um sistema com vários planetoides que abrigam vida. Venho de uma região do universo onde as condições favoreceram vidas em vários locais próximos. Além do setor W, temos também o setor X, Y e Z. Digamos que é um tipo de condomínio de planetas.

Depois de tudo que vi, ela podia falar o que quisesse. Eu acreditaria em tudo.

– Então vocês estudam a ecologia do universo. Nunca imaginei uma coisa dessas.

– Sim - ela respondeu - E a Terra é um planeta bem interessante. Vocês são bem atrasados, é verdade, mas o ecossistema geral é fascinante! Não tive dúvidas em escrever minha tese de mestrado sobre a diversidade desse planeta.

Ela já tinha mestrado? Com 14 anos? E eu ainda penando para entender equação de segundo grau! Seja como for, Estrela tinha um certo brilho no olhar ao falar da Terra, embora o jeito introspectivo dela não demonstrasse tanto isso. Não pude deixar de sorrir ao ver algo assim, mesmo não entendendo muito bem os verdadeiros objetivos dela.

– Espera aí - tinha me ocorrido uma coisa - Para saber tanto sobre a Terra vocês devem nos observar há muito tempo. Como conseguem fazer isso de tão longe?

– Fazemos pesquisas de campo com buracos de minhoca há muito tempo. Quando esse planeta ainda não tinha nenhum ser humano já estudávamos vocês. Lembro que eles mandaram algumas unidades espiãs parecidas com répteis daqui para investigarem e registrarem as primeiras amostrar em vídeo....acho que vocês as chamavam de...dinossauros. Isso. Dinossauros. Mas algumas unidades acabaram tendo problemas técnicos com os buracos de minhoca e ficaram enterradas por aqui mesmo.

E eu acreditando até agora naquela história de que um meteoro atingiu a Terra...

– De qualquer forma, investigamos esse planeta há muitas gerações. Graças à tecnologia com buracos de minhocas que desenvolvemos, passear pelo universo era fácil. Encontramos muitos planetas habitáveis, não-habitáveis, pacíficos, hostis...mas a Terra foi um dos mais impressionantes. Foi um dos poucos planetas que vimos crescer quase desde o início. Todos do Setor W tem um carinho especial por ela e não queremos que ela seja prejudicada. O aumento dessas invasões está nos deixando muito preocupados. Na verdade, escapadelas de outros seres para cá sempre aconteceram, mas agora a taxa aumentou muito.

– Está falando de todas essas invasões de entidades que entram no cadarços dos outros?

– Isso mesmo. E olha que eles são os mais inofensivos - disse ela, pegando meu pé e colocando ela mesma os cadarços. Parece que já havia perdido a paciência com a minha falta de jeito. Em poucos minutos ela ajeitou tudo. Agradeci e aproveitei para emendar mais uma pergunta.

– Só você está aqui na Terra? - perguntei.

– Sim. E o motivo é simples - disse ela - Todas as notificações que recebemos de buracos de minhoca clandestinos apontam para essa região do planeta. Aqui, no Brasil, nesse estado e nessa cidade.

– A-Aqui?! - falei, apavorado. Os alienígenas estavam todos vindo na minha cidade? É muito azar para uma pessoa só!

– Sim. E isso também é estranho. Também estou querendo descobrir porque as invasões estão concentradas exatamente aqui - disse ela, em um tom pensativo. Apesar do jeito sério da fala dela, o jeito largado dela sentar no sofá com as pernas em cima do encosto eram bem terráqueos. Seja como for, foi legal conhecer um pouco mais dela.

– E...seu nome é Estrela mesmo?

– Sim. Na verdade, é a aproximação menos estranha para a língua dessa região, mas no Setor W seria um termo equivalente. Mas esse é o nome que estou adotando aqui mesmo: Estrela Valente.

Valente tinha um significado na nossa língua, mas nada impedia de ser um sobrenome aceitável. De qualquer forma, ela era mesmo valente, considerando o que passamos naquela tarde.

– Bem, meu nome acho que você já sabe, não é?

– Sim. Ouvi na chamada da sala de aula. Vitor Almeida.

– É um nome bem comum - lamentei - Não tenho muito de especial mesmo.

– Não diga isso - ela comentou, olhando para o teto em tom nostálgico e, pelo que percebi, ela sorriu. Foi breve, mas sorriu - O universo é gigantesco e o planeta Terra ou mesmo o Setor W não são quase nada diante dele, mas quer saber de uma coisa? Até a menor poeira cósmica é especial, porque ela existe e faz parte de tudo isso que vemos!

Aquilo foi meio poético. Enquanto eu ainda refletia sobre o que acabei de ouvir, olhei para o relógio na parede mais próxima. Se ele estava mesmo calibrado com o horário daquela região, então eu estava bem atrasado para chegar em casa.

– Ah! Preciso ir embora! - falei - Bem, nós somos vizinhos. Acho que nos veremos mais vezes agora, não é?

– É...você parece uma pessoa confiável - disse ela, embora sem sorrir de novo - Espero que me ajude com informações específicas sobre esse planeta. Não faça eu me arrepender de não ter apagado sua memória.

Certo. Aquele olhar me assustou um pouco.

– Farei o melhor que puder. Hehe. Quer pegar o meu celular?

– Claro. Anotarei aqui - disse ela, pegando seu celular-pistola (ou Portal Gun, como deve ser o nome certo) e pedindo que eu ditasse meu número. Falei e ela digitou absurdamente rápido. Depois ela disse o número dela e trocamos contato. Fazer amizade é raro, mas fazer amizade com uma garota alienígena é mais raro ainda!

– Beleza. Eu te aviso se encontrar algo estranho - falei.

– E eu te ligo se precisar de você - ela respondeu - Provavelmente irei precisar.

Assim que nos despedimos, Plum ainda estava meio desconfiada de mim, mas me lambeu mais uma vez. Cara, nunca vou me acostumar com essa lambida. E era isso. A casa da minha frente, devidamente planejada para ser ignorada por todos exceto aqueles que a dona permitir, era o lar de minha mais nova amiga: uma alienígena ecologista. Comecei assustado, mas até que agora eu estava feliz! Assim que saí pela porta, o celular tocou. Já era a Estrela?

– Apenas testando - disse ela - Também queria ver se seu celular está grampeado, mas parece que não.

– Não esperava que ligasse tão rápido...

– Falar no celular não significa muita coisa - disse ela.

– Bem, gasta alguns créditos...

– Vocês pagam para ter conversas à distância? Esse planeta realmente ainda tem muito o que evoluir...bem, verei você amanhã na aula. Até!

Apesar de gostar do planeta como um biólogo gosta dos animais que estuda, ela obviamente se achava superior a nós como biólogos também se acham intelectualmente superiores aos animais que estuda. Tudo bem. Acho que consigo me acostumar com o jeito dela. Agora era só ir para casa e...

...é, meus cadarços já desamarraram de novo e caí. Mas dessa vez não tinha nenhum Knot Snake.

Boa tarde a todos!


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Notas finais do capítulo

Com esse capítulo, já temos uma ambientação do universo de confusões dessa dupla. No próximo capítulo, já começamos com novos arcos, apesar de eu não saber quando postarei o próximo. Estou empolgado para ampliar bem essa fic e se eu espremer bem, acho que consigo publicar um cap. por semana ou, o mais tardar, a cada duas semanas.

Obrigado a todos que estão acompanhando. Até! :)