Alien Panic escrita por Metal_Will


Capítulo 101
Crise 101 - Noite de Paz


Notas iniciais do capítulo

Estamos aqui de novo. Hoje é um capítulo mais light.



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O dia estava bem ensolarado e aberto. Acordei naquele sábado de bom humor e animado. Além de ser época de férias também era uma das épocas que mais gostava do ano: o Natal. Depois do café, minha família se juntou para montar nossa árvore. Bem, não fazíamos nada muito grandioso, mas o clima de união era ótimo. Quando testamos as luzinhas do pisca-pisca ficamos todos admirados.

—Isso é lindo – disse minha mãe.

—Venham! Vamos tirar uma foto! - falou meu pai.

—Esse pisca-pisca já está falhando, não está? - notou minha irmãzinha – Pai, o senhor devia comprar um novo. Já usamos esse desde que nasci.

—Não diz bobagem – disse meu pai – Os materiais que usamos na nossa árvore são de uma longa tradição. Não vou mudar agora.

Mas o estouro que uma das luzinhas deu e a fagulha que ela soltou o fez mudar de ideia.

—Bem...podemos mudar nossas tradições para criar uma nova, né? - disse ele, tirando a foto mesmo assim e sorrindo - Tá legal! Vou comprar um novo pisca-pisca. Quem vem comigo?

—Eu vou – Vitória se ofereceu – Melhor eu escolher para garantir.

—Tá certo. Querida, voltamos logo – disse meu pai, indo pegar as chaves do carro.

—Ok – disse minha mãe – Bem, vou começar a organizar algumas coisas para nosso jantar. Parece que esse ano seremos só nós de novo.

—De novo? Que coisa, né?

Como posso explicar? Meus dois pais são filhos únicos. Os pais do meu pai moram em outro Estado e às vezes passamos o Natal por lá, mas não sempre, já que às vezes eles preferem viajar e passar o final do ano em algum outro local. Já os pais da minha mãe...bem, eles não gostam muito do meu pai e o clima fica meio estranho quando eles estão juntos (acho que meus avós maternos não gostam muito do trabalho do meu pai de ser apenas um fiscal sanitário, já que eles são donos de restaurante). Assim, achamos melhor passar o Natal só com a nossa família mesmo. Foi aí que tive uma ideia. É, acho que ela não teria alguém para passar essa data. Resolvi tocar a campainha da casa de Estrela.

—Vitor? - atendeu ela, costumeiramente, de camiseta regata, shortinho e chinelos havaianas (é, nunca ninguém diria que é uma alienígena).

—Bom dia, Estrela – falei – Err...o que você vai fazer na noite do dia 24 de dezembro?

—Provavelmente estarei aqui em casa pesquisando algumas coisas – respondeu ela – Por quê?

—Vai passar a noite de Natal sozinha?

—Natal? - ela perguntou, coçando a cabeça - É um feriado da Terra se não me engano, não é?

—Sim – falei – Comemoramos o nascimento do filho do próprio Deus com nossas famílias, nos abraçamos e trocamos presentes.

—Trocar presentes parece material demais para uma data de motivação tão espiritual.

—Os presentes são apenas simbólicos. O espírito de união e paz é mais importante.

—É uma comemoração da Terra, Vitor. Não tenho nada a ver com isso.

—Não diga isso. Celebramos coisas como amizade e amor. Todos da classe passarão o Natal com suas famílias, mas não queria que você ficasse aqui solitária – falei, de modo mais sério do que imaginava - Gostaria de compartilhar isso com você. Somos amigos, não somos?

—Bem, diria que sim – disse ela, meio sem graça – Tudo bem. Passarei na sua casa na noite desse dia.

—Mesmo? Que bom! Será divertido ter mais alguém na ceia!

E assim foi. Na noite de Natal, Estrela apareceu em casa. Mais precisamente, ela apareceu no meio do corredor do quarto por um portal no teto e quase me matou de susto quando eu estava indo do quarto para a sala.

—E aí?

—Estrela?! - exclamei, quase caindo para trás – Por que não usou a porta?

—Já conheço sua casa. Por que precisaria usar a porta? Já tenho os dados no Portal Gun.

—Mas e se um dos meus pais te visse?

—É só apagar a memória deles – disse ela.

—Não. Não quero que ninguém perca a memória hoje!

—Bom. De qualquer modo eles não me viram, né? E então? Já vamos comer?

—Espere...ainda estamos terminando de arrumar as coisas.

—Ah, Estrela! - disse minha irmã Vitória, ao vê-la no corredor – Que bom que chegou. Não quer jogar Just Dance comigo? O Vitor é muito ruim nesse jogo.

—Ei, não diga isso – reclamei.

—Mas é verdade. Você parece uma galinha bêbada.

Já tinha avisado meus pais que Estrela passaria o Natal conosco. Não demorou muito para a hora da ceia. Agradecemos pela comida e atacamos o jantar.

—E então, Estrela? Está bom? - perguntou minha mãe.

—Ótimo – disse ela – Essa ave tem um gosto muito bom. Acho que já comi algo assim em um planeta da galáxia vizinha que..

—O que disse? - perguntou minha mãe.

—Ah, ela quis dizer um país vizinho – falei, tentando disfarçar ao máximo – Lembram que a Estrela é estrangeira?

—Oh, sim. É verdade. Era do Nepal, não?

—Não era do Japão? - perguntou meu pai.

—Era da Coreia do Sul – disse ela, enquanto repetia o prato.

—Ah, sim. Coreia do Sul – confirmaram os pais.

—Não era China? - perguntei.

—Tanto faz - respondeu Estrela – Essa comida está ótima.

—Pena que tem passas no arroz – reclamou minha irmã.

—Bem, confesso que também não curto – confessei.

—Seu pai adora passas, querida – disse minha mãe – Fiz mais por causa dele.

—Não é possível que só eu goste de passas aqui – observou meu pai – Vejam só. A Estrela também gosta. Ela está comendo tudo.

—Essas frutinhas pretas aqui? São ótimas – disse ela.

—Viram só? Gostar de passas não é coisa de outro mundo, né? - e ele começou a rir. Minha irmã e eu apenas no entreolhamos. Aquela frase não podia fazer mais sentido.

De qualquer modo, depois de comermos, minha mãe trouxe a sobremesa, um excelente pavê que está na coleção de receitas da nossa família há anos.

—Ah, o pavê da minha mãe é ótimo, Estrela. Você nem imagina!

—Aí sim, pavê – disse meu pai – Mas é “pavê” ou “pacomê”?

E meu pai gargalhou.

—Ai, pai. Você sempre tem que falar isso? - reclamou Vitória.

—Desculpa. Não resisti – disse ele.

Na ausência de um tio, meu pai faz essa piada anual.

—Ah, mas qual o problema? - disse meu pai – Uma piadinha dessas não vai matar ninguém.

—Na verdade... “pavê ou pacomê” é uma grande ofensa em uma língua nativa do planeta Drovski a cinquenta mil anos-luz da Terra. Essa frase poderia iniciar uma guerra – disse Estrela.

—O que disse? - perguntou minha mãe.

—Ah, essa Estrela, sempre comediante! - falei – Mas, mudando de assunto, vamos abrir os presentes depois do jantar?

—Sim! - gritou minha irmã, feliz.

—Aqui está, querida. Feliz Natal! - disse meu pai, entregando uma camiseta para minha mãe.

—Oh, obrigada, querido – disse minha mãe – E aqui está o seu presente.

—Oh, obrigado, querida – disse ele, recebendo também uma camiseta.

—Adultos só gostam de dar roupas de presente – reclamou Vitória.

—Não se preocupe. Eu lembrei de você – falei – Toma. Comprei um conjunto de canetas coloridas.

—Ah, legal! Agora posso desenhar minha HQ de batalhas com espadas com um sangue vermelho de verdade! - disse ela.

—E vocês, meninos. Aqui. Nosso presente – disse meu pai, nos dando um novo jogo que estávamos querendo há muito tempo.

—Ah, estava muito querendo jogar esse novo jogo de plataforma – falei – Obrigado, pai.

Estrela permanecia em silêncio. Ficou olhando para o seu Portal Gun por um tempo, sem falar nada. Sorri para ela e peguei um dos pacotes.

—Aqui, Estrela – falei – Esse é para você.

—Para mim? - ela estranhou.

—Sim – disse – Abra.

Ela abriu. Era um porta-retrato personalizado com uma selfie que tiramos no planeta resort naquelas férias juntamente com Eduardo e Mabi.

—Na verdade, Mabi, Eduardo e eu nos juntamos para pagar. Fica como um símbolo de nosso agradecimento por ter nos levado nas férias.

—Vitor...eu...

Sei que ela não entende muito de emoções, mas ainda assim achei que seria legal me lembrar dela no Natal. Sejam terráqueos ou dablianos, todos deveríamos nos dar bem nessa época.

—Vitor. Espere aqui um instante, sim? - disse ela.

Ela foi para o andar de cima. Disse para meus pais que provavelmente ela foi ao banheiro, mas ela retornou bem rapidamente, com um pacote nas mãos.

—O que é isso? - perguntei.

—Quero que fiquem com isso – disse ela.

Abrimos e parecia um daqueles globos de neve, só que mais elaborado – a neve não apenas caía, como também realizava vários movimentos complexos sem que fosse preciso balançar o globo.

—O que é isso, heim? - perguntou minha irmã.

—É um item de grande respeito em seu local de origem – explicou Estrela – É dado como um presente simbólico para pessoas reconhecidas como honradas.

—Na Coreia? Demais, eu não sabia – falou meu pai. Os dois agradeceram e foram correndo colocar o objeto em algum lugar da sala.

—Estrela...isso é... - mas ela me interrompeu.

—Não é mentira – falou ela – É uma tecnologia bem comum e primitiva no Setor W. Usa um campo magnético customizado para gerar esses padrões complicados. Mas...ficou nas gerações do setor como um símbolo de respeito. É um dos itens de maior valor tradicional que existe na minha terra natal.

—Então...você vai mesmo nos entregar algo desse tipo? - perguntei.

—Eu não ligo muito para tradição – falou ela – Mas...acho que entendi essa ideia de simbolismo e valor sentimental. Acho que...essa é minha forma de agradecer, apesar de eu não ser muito boa nisso.

—Puxa...eu nem sei o que dizer – falei, com lágrimas nos olhos.

—Talvez...Feliz Natal? – disse Estrela.

—Feliz Natal, Estrela – falei, abrançando-a. Ela não soube muito como reagir, mas...meio sem saber onde colocar as mãos, acabou retribuindo o abraço.

—Feliz Natal, Vitor – ela disse – Feliz Natal.

Bem, acho que o espírito de Natal pode ser compartilhado tanto por terráqueos quanto dablianos.

—Ah, mas que melação – falou Vitória – Bora testar o jogo, Vitor?

É isso aí...espírito natalino.


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Notas finais do capítulo

Bem, obrigado a todos por acompanharem até aqui.

Na semana que vem não teremos capítulo. Usarei o "tempo de fics da semana" para planejar os próximos roteiros (e talvez dar uma atualizada na minha outra fic). Mas não se preocupem: dessa vez não teremos uma pausa longa - a temporada continua (afinal, essa é a última temporada da fic).

Desde já, um feliz natal! :)