Contra o Tempo escrita por Giovannabrigidofic


Capítulo 5
Ele e Ela: Sempre


Notas iniciais do capítulo

E bommmmm, chegamos ao final. Sinto cheiro de dever cumprido ^^ shuashuahsua Espero que gostem! Beijos de chocolate ♥



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Minas Gerais, 29, 30 de junho e 01 de julho de 1965

Ele

O som agoniante de gritos cortou novamente o ar. Desta vez, era feminino. Ela urrava de dor, no entanto não proferia sequer uma palavra.

– Diga, qual é o plano deles!? - O tenente gritou.

Nenhuma resposta.

Um zumbido.

Outro grito de dor.

– Não vai dizer?

Nenhuma resposta.

– Tem muitos lugares para onde podemos mandá-la, entende? - Silêncio. - Até que você não é feia, mesmo com esses trapos. Concorda comigo Guilherme?

– Você tem razão. - Risos. - Ela se daria muito bem com outras vadias do quartel.

Não ouve resposta.

– Não diga que eu não avisei.

O zumbido ficou mais forte. Risadas maldosas ecoaram pelo corredor vazio. Um grito estridente interferiu no silêncio. Gargalhadas se sobressaíram á continuidade da dor da garota.

William se desconcentrou por alguns segundos, a culpa novamente lhe atingindo.

– Aprendeu a lição. Amanhã, vamos dá-la para o delegado se divertir.

A porta de metal se abriu e o tenente ajustou a farda.

– Ei, você! - Ele chamou William.

O mesmo direcionou o olhar e foi até o velho barrigudo, receoso.

– Leve-a para sua cela. Não a deixe tentar nenhuma gracinha. - Ele sorriu maliciosamente. - Pode ficar com ela, não me importo. Só tenha cuidado para não ser enganado.

Seus músculos se contraíram.

Guilherme atravessou a porta e o tenente lhe acompanhou, foram conversando. Segundos depois William se recompôs e entrou no local. Uma garota estava caída no chão, o vestido rasgado na parte de cima; a alça não existia mais.

– Porque não para de olhar e me chuta de uma vez? - Ela resmungou.

William estava atônito.

– Que foi? O gato comeu sua língua? - Ela desafiou.

– Poderia cortar a sua agora, se quisesse.

– Então porque ainda não o fez?

– Piedade.

– Ou medo.

Ele não respondeu. A pegou no colo e começou a andar.

– Porque não me joga no chão como os outros? - Ela sussurrou.

Ele ignorou.

– Está com medo de que vejam que você está me levando assim. - Não era uma pergunta, ele pensou.

Novamente silêncio e ela bufou.

William ignorou todas as provocações dela até que chegassem ás celas.

Verificou cada cela e perguntou ao único soldado com cara de tacho dali. Abriu e fechou a porta quando ela entrou.

Voltou ao seu posto e tentou por horas tentar lembrar-se de onde a conhecia.

(...)

– E então, como é que vamos fazer? - Paulo indagou, comendo um pedaço de pão.

– Pensei em algumas coisas. - Paulo meneou a cabeça. - Vamos levar tudo o que precisarmos e temos um prazo de dois dias pra ir.

– Por que?

– Clara está doente. - William suspirou.

– Temos que levar mais alguém com a gente.

– Quem, por exemplo?

– Edgar.

William quase cuspiu seu almoço. O colega havia ficado louco, ou era só imaginação dele?

– Porque ele iria querer ir com a gente?

– Problemas pessoais.

– Mais alguém?

– Não, acho que não. E você?

– Não conheço ninguém, mas se achar, te aviso.

– Cuidado. Só comente isso com alguém que realmente confie.

(...)

William encheu uma caneca de água e pegou enfiou um pedaço de pão no bolso do casaco. Acenou ao único guarda do corredor e caminhou lentamente, pensando se era uma boa ideia visitar a garota. Fazia dois dias que ela havia sido torturada. Ambos reflexos. E isso tinha chamado bastante a atenção dele.

Ele entrou na cela e fechou a porta e se agachou na frente dela.

– Trouxe isto. - Ele cutucou de leve seu braço.

Ela não se mexeu.

– Sei que ficou esse tempo todo sem comer. Seu orgulho não vai te alimentar.

– Me deixe.

William bufou. Ela ergueu a cabeça e tomou a caneca d´água da mão dele. O mesmo sorriu e tirou do bolso o pacote com o pão e lhe entregou.

– Porque está fazendo isso por mim? - Ela indagou.

– Ainda não sei. - Ele deu de ombros.

– Você é louco. Como sempre foi - Ela sorriu de lado.

Ele franziu a testa e finalmente um clarão lhe veio a mente.

As brigas todas as noites na casa ao lado. Os pedidos de socorro.

A garota, era Manuela. Sua ex vizinha.

(...)

– E então, já falou com ele? - William perguntou.

– Já. Ele disse para esperarmos no pátio - Paulo dobrou os braços. - E você, já decidiu levar mais alguém?

– Estou pensando seriamente numa pessoa. Mas acho que você vai me achar louco.

– Mais do que já é? - Paulo brincou.

– È sério. Estou pensando em levar um prisioneira. - Ele sussurrou.

Silêncio.

– Qual o seu problema? Você é demente?! - Paulo sussurrou, irritado.

Depois, sua carranca foi substituída por um largo sorriso malicioso.

– Não pense besteira.

– Como não pensar? Mas tudo bem. Ah! Ela tem que ser confiável. Se nos metermos em encrenca...

– Não, ela é de confiança sim - William afirmou. Paulo semicerrou os olhos. - È uma longa história.

Os dois esperaram por alguns minutos num canto do pátio.

Edgar caminhou lentamente, balançando o cabelo loiro - seu orgulho - no ar.

– Me acompanhem - ele pediu.

Levou-os novamente para os corredores e para uma sequência da portas.

– È o seguinte. - Edgar começou. - Amanhã, é o melhor dia para irmos. Verifiquei a segurança, tudo. Se queremos fugir, é amanhã.

– Tem certeza? Quero ir o mais rápido possível, mas não quero pôr ninguém em risco.

– Absoluta.

– Ok. Então vamos amanhã pela manhã, ás oito, perto do portão dos fundos. Peguem só o que precisar.

– Quero ir com vocês - uma voz feminina falou atrás deles.

O trio se virou automaticamente, encarando uma garota de estatura média, olhos profundamente pretos e uniforme branco.

– Renata, nem pense. - Edgar se adiantou.

– Ou eu vou com vocês, ou todo o quartel irá ficar sabendo da fuga de vocês. Todos os militares fizeram um acordo de lealdade, e não foi diferente com vocês. O que diriam quando pegos? - Ela ameaçou e dobrou os braços.

– Você não vai! - Edgar vociferou.

– E quem é você pra me dizer o que eu faço?

William pensou por alguns segundos. Trocou olhares com Paulo. Os dois estavam de acordo.

– Vamos levá-la. - Paulo deu de ombros. - Ela não vai contar pra ninguém, tenho certeza.

– Estarei no portão dos fundos, ás oito. Não tentem nenhuma gracinha.

Ela saiu batendo o pé.

Edgar cerrou os punhos e bufou.

– Nos vemos amanhã. - Ele disse.

Ambos os amigos continuaram conversando sobre o dia seguinte.

***

1 de julho de 1965

Abriu a porta de metal com rapidez e entrou, avistando-a, encolhida, como sempre.

Ela ergueu a cabeça e o olhou, curiosa.William fechou a porta e tirou da mochila um casaco.

– Vista isso, rápido. Temos pouco tempo.

Ela se levantou com um pouco de dificuldade e vestiu o casaco.

– Aonde vamos? - Ela indagou, arrumando o cabelo loiro.

– Embora. Vamos pra fora daqui.

Ela franziu a testa.

– Precisa confiar em mim, do mesmo jeito de antes. - William disse.

– Eu confio.

Ele colocou o braço sobre os ombros dela e a levou para fora, trancado a cela individual em seguida.

– Aonde está levando a prisioneira, soldado? - Outro militar perguntou, entrando no corredor.

– Tenho a absolta permissão do tenente. - William respondeu - Pode perguntar, se quiser.

O soldado deu um olhar confuso e deu de ombros.

Atravessaram vários corredores e por fim encontraram Paulo e Edgar nos fundos do quartel.

– Vista isso - Paulo entregou um par de sapatilhas brancas, que havia pego com uma enfermeira.

– Obrigada.

– E Renata? - Edgar falou. - A viu?

– Não, acha que ela desistiu?

Antes que houvesse uma resposta, Renata chegou; a pele bronzeada brilhando no sol, o cabelo castanho e cacheado batendo nas costas.

– Quem é ela? - Renata perguntou.

– Não é da sua conta, vamos logo. - Edgar grunhiu.

Se puseram a andar. Edgar quebrou o portão, já que não havia conseguido roubar a chave. Caminharam para a rua.

William suspirou.

Era nítido seu alívio em estar finalmente fora dali, livre.

Por um momento, tudo parecia ter voltado a ser como antes. Apenas por um único segundo.

O ecoar de tiros ao redor, gritos atordoantes. William tirou sua arma do cinto e apontou para um dos lados. Gritou para que Manuela saísse correndo - e assim ela fez.

William disparou, outros militares inundaram a rua, acompanhados de outros homens armados.

Num momento de distração, a dor profunda de uma bala cravando em si, fez com que William parasse de prestar atenção no que acontecia ao seu redor.

Sentiu-se caindo no chão, a respiração tornando-se pesada e sufocante. Barulho de tiros, ficando cada vez mais distantes.

(...)

Ela

Clara desceu do ônibus, segurou Roger pela mão, observou a paisagem. Muitos prédios, casas, muitas pessoas. Normal.

– Obrigada - um alguém disse atrás de si. Ela se virou.

– Pelo que? - A jovem indagou.

– Por me fazer mudar de ideia - Juliane sorriu, os olhos cheios de lágrimas. - Meu propósito em vir até aqui, era ter a ajuda de uma pessoa. Eu ia abortar. Muito obrigada. De coração, você não tem ideia do que fez comigo.

Juliane se afastou e Clara sentiu-se feliz por tê-la ajudado.

Deixando os pensamentos de lado, ela seguiu para o ponto de ônibus e pegou o que iria para o Quartel 094 MG. Clara suspirou, aliviada com a sensação de estar chegando ao seu destino.

– Mamãe, aonde estamos indo? - Roger falou, olhando curioso a janela.

– Ver seu pai - ela disse, os olhos brilhando de empolgação.
Roger quase saltou do banco.

O caminho, não tão longo como o esperado, fez com que ela refletisse sobre suas escolhas.

Você o ama, seu subconsciente, reafirmou. Você o ama, mais que tudo. Nunca se esqueça disso.

***

Andou com Roger até outra esquina.

Várias pessoas, amontoavam-se, procurando saber o que tinha acontecido. Curiosa, Clara rumou - com dificuldade, passando por entre a multidão - até a fita amarela. Seus olhos petrificaram-se.

Por um curto momento, achou que era mentira. Olhou novamente, os olhos enchendo-se gradativamente de água. Jogou a mochila no chão e fez com que Roger ficasse parado. Ultrapassou a fita amarela e correu até William.

– William - ela chamou. - William! - Ela gritou novamente, caindo ao lado dele no chão. As lágrimas escorrendo pela bochecha. - Fala comigo por favor...

– Senhorita, não é permitido que fique perto dos corpos, por favor, vá para trás da fita...

– Cala a boca! - Ela berrou.

O militar a segurou pelo pulso.

– Me larga seu desgraçado! - Ela se debateu contra ele.

– Deixe-a.

Alguém falou. Clara se virou para trás, encarando o militar de cabelos claros. Soltou-se do soldado e voltou a fitar o namorado.

– William - ela murmurou, passando sua mão no rosto dele.

A perna sangrava, o peito também. Não havia mais nada que pudesse ser feito.

Ela se debruçou no corpo e chorou, como nunca antes, pedindo para que ele dissesse alguma coisa. Qualquer uma. No entanto, ele não disse.

– Precisamos levar - tocaram-lhe o ombro.

Ela se levantou e fungou, inconformada.

Discutiu e chorou mais. Não era possível que aquilo realmente estivesse acontecendo.

Puxou o filho para longe. Sentou-se num banco e deixou o filho brincando nos brinquedos do parque - mesmo que ele estivesse confuso pela reação repentina da mãe á minutos atrás.

– Ele te amava muito. - Uma garota se sentou ao lado dela.

O cabelo estava sujo, as roupas também. Vestia sapatilhas brancas e tinha um pequeno corte no canto da boca.

A jovem não respondeu. Ergueu a cabeça. O vento bateu de leve sobre seu cabelo negro, fazendo-o voar. Um aperto no peito, um sorriso, vários deles lhe vieram na cabeça. Por mais que tivesse acabado tudo no real, ainda tinha lembranças. Várias delas.

Clara sorriu diante disso.

Sempre havia dado tudo certo, sempre.

Porque ele estava lá. Sempre estaria.


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Notas finais do capítulo

E esse é o fim! Amei escrever essa fanfic! Sério mesmo! Espero que tenham gostado também. Final drástico, né? Eu sei, mas é um drama :/ Entendo que as coisas aconteceram muito rápido também kkkkk
Beijos e até uma nova fic :3 bjs



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