Contra o Tempo escrita por Giovannabrigidofic


Capítulo 2
Ela: Sobre Mentiras


Notas iniciais do capítulo

Olaaa gente!! Senti a falta dos comentários de vcs, mas mesmo assim, voltei com mais um cap ^^ Espero que gostem



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São Paulo, 8 de junho de 1965

Ela

Em vez de pegar um belo copo de água, despejou o café sem açúcar na xícara e tomo-o num único gole. Balançou a cabeça quando o líquido amargo invadiu sua garganta e tentou não jogar tudo para fora. A visão turvou e ela se apoio na parede até que ficasse melhor para continuar.

– Droga... - Ela murmurou, se agachando no chão.

Ao se erguer, sentiu sua visão embaçar novamente e seus pés não aguentarem o peso do corpo.

Clara tentou inutilmente levantar-se, porém, era em vão. Depois de alguns minutos, sentindo a cabeça girar ao fazer um mínimo esforço, ela se rendeu, colocando a cabeça entre as pernas e se fechando como uma tartaruga.

(...)

A jovem sentiu várias pontadas no braço. Ela ergueu a cabeça lentamente, encontrando Roger ainda de pijama.

– Mamãe, estou com fome. - Roger se sentou ao lado da mãe.

Ela suspirou e olhou para o filho.

– Que horas são? - Ela indagou.

O menino olhou-a perdida. Foi ai que ela se lembrou que ele ainda não sabia ver as horas.

– Bem, poderia me esperar, logo faço o café, está bem? - Ela falou, com a expressão abatida.

Puxou o filho para perto dela e deu-lhe um beijo na testa. Roger saiu em disparada para o quarto.

A garota se apoiou na parede e devagar foi se levantando. Olhou-se no espelho, se deparando com sua figura pálida. Os olhos pretos nunca estiveram tão desbotados como antes, o cabelo encaracolado estava desarrumado e sua roupa amarrotada.

Pôs-se a arrumar o cabelo e fez sua higiene matinal, tomou um rápido banho e trocou de roupa. Fez o café e o leite, além de preparar uma vasilha de cereais para o filho.

– Aqui está - ela se sentou com ele no sofá e o ajudou a comer.

Depois de dar banho em Roger e almoçar com ele em completo silêncio, pegou dinheiro e arrastou o pequeno para o mercado. Agora com a situação apertada, ela não podia se deixar levar tanto pelo filho, que sempre que saía na rua, queria algum brinquedo ou doce.

– Mamãe, posso? - Roger estendeu uma barra de chocolate.

Clara se sentiu uma péssima mãe ao negar que não levariam o doce, pelo menos não daquela vez.

Pegou tudo o que precisava e os alimentos da lista de Dona Maria; a senhora lhe dava o dinheiro, já que por estar debilitada não podia ficar andando por ai. Clara ajudava a velhinha com muito gosto já que a mesma tinha lhe ajudado muito.

Saíram do mercado e caminharam com as sacolas de compras. Quando estavam quase chegando em casa, ficaram espantados com os militares marchando pela rua, á 20 metros do prédio. As pessoas que estavam na rua foram dispersando-se rapidamente, a maior parte entrando em casa e ou em qualquer estabelecimento que não estivesse sendo fechado naquele instante. Clara apertou o passo e pegou o pulso do filho, correndo até o prédio.

Subiu as escadas apressadamente e abriu a porta, desesperada para que nenhum deles entrasse no prédio.

– Roger! - Ela gritou. O garotinho apareceu, confuso e assustado. - Quero que fique no quarto e só saia quando eu falar.

O menino assentiu e desapareceu no corredor. Clara andou até a janela da sala e espiou o que se passava do lado de fora.

Clara estava horrorizada. Fechou a janela e as cortinas. Foi até o quarto do filho e bateu em sua porta entreaberta. Quando entrou, viu o menino, encolhido num canto do chão com a cabeça enterrada nas pernas, soluçando.

Ela foi até ele e o pegou no colo, passando a mão no cabelo cacheado e castanho dele - como o de William. Ela não se importou com a roupa sendo molhada pelo choro do menino.

– O que foi meu amor?

– Eu quero o papai. - Ele choramingou.

Ela não disse nada e continuou consolando-o. Clara estava cansada de mentir, cansada de esperar.

Após alguns minutos ouvindo-o chorar, e ela própria deixar algumas lágrimas escaparem, Roger se soltou dos braços dela, irritado. Ela o colocou no chão e ele seguiu até a porta, de braços cruzados.

Clara limpou o rosto.

– Onde ele está? - Ele perguntou, sem se virar.

– Quem?

– O papai. - Ele disse, seco.

– Está procurando um tesouro, lembra? - Ela falou, tentando tirar o clima de tensão.

Roger se virou, com uma expressão inexplicável no rosto.

– Por que está mentindo pra mim? - Clara ficou sem reação, pasma.

– Eu não estou mentindo, querido. - Falou.

– Está sim.

– Não estou não - ela falou, firme.

– Eu sei que tá. - Ele saiu do quarto.

Ela não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo com ela. Roger era novo demais para entender que aqueles homens que estavam lá fora, agredindo os que não aceitavam o governo, trabalhavam como seu pai; o seu pai era um deles.

(...)

Clara abriu a porta, hesitante. A velhinha de cabelos grisalhos abriu um sorriso cheio de dentes amarelos e entrou no apartamento.

– Você está pálida. - Dona Maria falou quando Clara fechou a porta e sentou-se ao seu lado.

– Não é nada de mais, estou bem.

– Se você diz... - ela deu de ombros. - Como está o menino?

– Está dormindo no meu quarto. - Suspirou. - Ele não acredita mais nas minhas desculpas, mas não posso contar a verdade.

– Essa situação é mesmo de lascar! - A senhora ralhou.

– Concordo.

Ficaram num silêncio constrangedor, até Clara se lembrar das compras que não tinha entregue. Se levantou, sentindo uma pontada no peito - ao qual ignorou -, pegou as sacolas na cozinha e entregou a senhora.

– Desculpe, sou uma cabeça dura mesmo. Ultimamente venho me esquecendo de tudo - ela sorriu, triste.

– Ainda não recebi nada. - Ela começou a soluçar compulsivamente. - Eu... Não sei o que está acontecendo! Ele simplesmente não dá notícias.

– Calma, menina.

– Não posso ficar calma! - Ela se levantou bruscamente.

Sua visão escureceu, ela tentou se apoiar em algo, porém, não conseguiu. Com a ajuda da senhora foi sentada no sofá.

Os últimos meses estavam transformando-a numa morta viva;

– Pegue alguns comprimidos no armário, por favor - ela sussurrou.

Em menos de um minuto, Clara já engolia alguns comprimidos e um copo de água.

– Você precisa ir ao médico. - A senhora falou. - Nem tente fugir disso.

A jovem reclinou-se no sofá, os ossos doloridos repentinamente e a cabeça, zonza.

(...)

Fazia uma semana desde o mal estar de Clara. Ela já não saia de casa e ficava enfurnada no quarto, só saindo para preparar o café e tomar e dar banho no filho. Todas as vezes que se via no espelho, olhava o rosto pálido, os olhos contornados pelas olheiras e a boca seca.

Ela estava adoecendo aos poucos.

Pegou papel e caneta e um envelope, e se pôs a escrever.

Ela precisava que William voltasse imediatamente para casa; a garota não tinha nenhuma certeza do tempo que aguentaria.


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Notas finais do capítulo

Triste né? Eu sei :( Ah, para quem estiver curioso para saber o que a Clara tem, eu digo, é arritma ^^ é só procurar. Até a próxima. Bjs



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