Nos trilhos do Mundo escrita por 1FutureWriter, Nathy, Cinthia Feitoza, Gabyy, Miya, Lucca James, Najla Aliyev


Capítulo 3
Nathy - Uma história na estação de Tóquio


Notas iniciais do capítulo

Olá, boa leitura ;)



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E mais uma vez o dia 31 de agosto chegou, esse dia me faz querer sumir, ou simplesmente não existir, ou quem sabe poderia arrancá-la do calendário, pular, ou o que fosse, não queria passar por essas 24 horas. Queria dormir e só acordar no dia seguinte quem sabe. Enfim você deve estar se perguntando "o que esse doido está falando?" Bom eu vou te explicar resumidamente minha história.

Meu nome é Nathan, tenho 25 anos, nasci na Flórida, minha família toda mora lá, bom uma parte mora, mas eu atualmente moro em Tóquio, e eu simplesmente queria esquecer esse dia, queria que não existisse, você se pergunta o motivo, eis que lhe digo o motivo.

Quando eu tinha quinze anos eu perdi meu pai em um acidente de carro, estávamos voltando de uma pescaria que fizemos no final de semana, eu estava dormindo então não lembro de muita coisa, lembro de acordar em um hospital já perto de casa, e depois o que minha mãe havia me contado, que meu pai estava começando a ficar com sono e encostou perto do posto, entrou comprar um energético e quando estava saindo do posto, mal tinha entrado no carro, um caminhão apareceu de frente, descontrolado e vindo na direção do nosso carro, como eu estava dormindo no banco de trás só tive alguns arranhões e um braço quebrado pois estava deitado em cima, já meu pai levou toda a pancada por estar no banco da frente e sem o cinto, pois ele estava ligando o carro ainda. Essa foi a primeira vez que eu marquei uma data no meu calendário, mas era um dia de tristeza, um dia ruim e que eu já não gostava.

No ano seguinte minha mãe saia com as amigas dela uma vez por semana para poder se distrair, e em uma dessas saídas ela conheceu o Jack, ele era um cara legal, com a minha mãe apenas, quanto a mim ele fingia que eu não existia, o motivo pelo qual ele fazia isso eu nunca soube, bom o fato é que naquele bendito dia, que completava um ano da morte do meu pai, minha mãe chega e me conta que Jack a pediu em casamento, que ela aceitou e que nós mudaríamos para Tóquio, pois Jack era de lá e estava na Florida apenas a trabalho e nossa vida seria melhor. Fiquei super chateado e irritado, afinal, o cara não vai com minha cara, quer me levar embora da cidade onde cresci, fiz amigos, minha família mora e onde meu pai está enterrado. Fui contrariado, tentei de tudo para ficar, mas minha mãe não deu moleza.

Mudamos uma semana depois para cá, nesse primeiro ano que moramos aqui, minha relação foi melhorando com meu padrasto, ele jogava beisebol comigo, me ensinou a dirigir, me ajudou em muita coisa, e nesse meio tempo eu estava começando a ficar feliz, até que o telefone tocou e a noticia que minha avó paterna havia falecido, ela estava viajando de ônibus, visitando uma das minhas tias, o ônibus bateu e capotou, e ela teve graves ferimentos e o coração dela já não era mais tão forte e não suportou todos os medicamentos e acabou falhando. Eu fiquei bravo por não estar mais lá com ela e triste por ter perdido ela assim, sempre fui ligado com ela, meu pai sempre me ensinou a respeitar meus avós e a amar eles. Mal me acostumei com a ideia de perder meu pai e já tive que me acostumar com o fato de perder minha avó ainda.

Depois de 3 anos seguidos com esse dia sendo sempre portador de alguma noticia ruim, eu achei que no ano seguinte seria uma tragédia, mas me enganei, entrei em uma ótima faculdade de engenharia, ganhei uma irmãzinha, lindinha e fofinha, tinha os olhos da minha mãe, cuidei dela, ajudei minha mãe ao extremo, isso conciliando faculdade, casa e uns bicos para ganhar dinheiro, eu sentia que tudo ia mudar e melhorar.

Mas claro que eu estava enganado, o destino decidiu brincar com a minha vida de novo, exatamente no quarto ano da morte do meu pai, minha mãe foi se encontrar com ele, ela estava tendo alguns problemas no coração desde que Annie nasceu, mas não havia contado a ninguém pois os médicos disseram que ela melhoraria, mas eles erraram, ela teve um infarto e acabou falecendo.

No ano seguinte eu já esperava de tudo, mas mesmo assim me surpreendi, recebi uma carta da faculdade dizendo que minha bolsa havia sido cortada e que eu teria alguns meses para dar um jeito de voltar a pagar a mensalidade, por esse motivo e outros que nunca soube meu padrasto me expulsou de casa. Sem lar e sem estudo sai que nem um doido atrás de um emprego, pois faria de tudo para terminar a faculdade. Com uma sorte pequena consegui numa empresa um estágio na área e eles me ajudariam a pagar a faculdade e eu teria uma grande chance de ser contratado quando me formasse. Me empenhei ao extremo, voltei pros estudos, quase não tinha descanso, estudava de madrugada quando precisava, no serviço nos intervalos.

Acabou que mais um ano passou e mais uma vez o dia 31 de agosto chegou e com ele a expulsão do apartamento em que eu morava, algo com o fato de que os donos iam se separar e teriam que vender. Acabei ficando sem moradia de novo, por sorte um amigo me ajudou, mas ele era tão sistemático que assim que consegui um canto para mim mudei correndo para lá.

O ano foi passando tranquilo, estava com um canto tranquilo, um estudo indo bem, um emprego bom, até uma namorada eu arrumei e estávamos indo bem, até que claro naquele dia fádico eu a encontrei na cama aos beijos e abraços com o que dizia ser meu melhor amigo, expulsei os dois da minha casa e descontei minha raiva socando o travesseiro. Porque todo ano tinha que acontecer uma dessas.

Com todas essas tragédias eu já esperava reprovar no último ano, e ter que fazer tudo de novo, mas o destino foi legal comigo, me formei como o primeiro da turma, recebi honras, recebi promoção na empresa e estava ficando feliz, dei meu melhor em tudo e cheguei feliz até o ano seguinte, quando sem motivo algum a empresa que eu trabalhava quebrou, e todos perdemos o emprego, e mesmo com o meu currículo e cartas de recomendações, eu não consegui nenhum emprego fixo, passei por inúmeras entrevistas, conseguia bicos com um valor suficiente para sobreviver no mês, fora a poupança que minha mãe deixou e eu fui aumentando com o tempo.

Enfim hoje é dia 31 de agosto e aqui estou eu indo para mais uma entrevista de emprego, desanimado, e achando que nada de bom pode acontecer, talvez apenas o fato de eu querer morrer ou sumir e acabar com essa praga de dia.

Você deve estar se perguntando "Se você perdeu tudo, por qual razão está morando sozinho em Tóquio?" Bom é o seguinte, embora muitas tragédias estejam acontecendo aqui comigo, aqui eu me viro, aqui conheço pessoas que acabam me ajudando, e embora não veja frequentemente eu tenho a Annie e ela me lembra muito minha mãe, e eu não posso largar ela para trás, não vejo ela todo dia, mas trocamos cartas. E na Florida fora meus avós maternos não tenho mais ninguém e acho que estar perto deles pode ser uma ameaça e não estou afim de perde-los agora. Pelo menos distante eu mantenho um buraco sem se abrir.

Com tudo isso dito, aqui estou eu na estação de metro esperando aquele que vai me levar, ou não, para trigésima entrevista do ano. Para começar bem o dia o metro chega atrasado, por sorte vim muito mais cedo já pensando nessa possibilidade, muita gente entra, acaba que fico em pé, mas até ai tudo bem, essa é a estação que mais enche mesmo. Localizo no mapa de estações a que eu preciso descer e ela é a décima. Com meu fone de ouvido e meio distante observo apenas as paradas e vou contando, no fim olho pela janela e constato que falta apenas duas estações para eu chegar na que eu desço, começo a ficar aliviado, pois chegar no horário já me ajuda muito.

Mas esse alivio dura pouco, pois o metro começa a parar na estação, e o motorista anuncia:

"Bom dia senhores passageiros, lamento informar que fui avisado de problemas na linha do metro e que a energia caiu, fui instruído a avisar vocês e pedir com gentileza que todos desçam e aguardem nessa estação a liberação de tudo, obrigado."

E como todo dia 31 de agosto esse não se saiu diferente, mal começou o dia e eu já vou perder a entrevista, ou seja mais uns dias até arrumar outra.

Já que não tem jeito o negócio é eu me acomodar em um banco aqui da estação e passar o tempo nas músicas e jogos do celular. Vou para um canto mais tranquilo, com menos pessoas, me sento, coloco o fone e ligo as músicas, encosto a cabeça na parede e fecho os olhos, começo a desejar mentalmente que algo mude nesse dia, pois não sei o quanto irei aguentar.

Enquanto estou perdido no meu mundo, sinto algo encostando na minha perna, abro os olhos e me deparo com um menino de cabelo moreno e olhos azuis, deve ter entre um e três anos mais ou menos, ele está vestido com uma jardineira jeans e uma camiseta polo azul por baixo, eu tiro o fone e olho para ele, ele me encara e diz:

– Dicupa tio, meu calinho veio aqui perto do seu pé.

– Sem problemas amiguinho, como é seu nome?

– Meu nome é Mike.

– Prazer Mike eu sou o Nathan, quantos anos você tem?

– Eu fiz tlês no começo de julho.

– Olha só que legal. E você já vai para a escola Mike?

– Ainda não, mamãe falou que sou muito pequeno, mas que ano que vem eu vou.

– Entendi, e Mike cade seu papai?

– Não sei, não conheço.

– E você está sozinho aqui?

– To não, to com a minha maninha e minha mamãe.

– Ah é, que legal, e cade elas?

Ele nem precisou responder ouvi um mulher de cabelos castanhos claros, olhos castanhos, estava correndo e gritando para todo lado com uma menininha igual a ela em seu colo, mas com olhos azuis, ela olhava para os lados e gritava:

– Michael, cade você?

Eu me levantei peguei ele no colo e fui em direção a ela. Ela soltou um suspiro aliviado e me falou:

– Muito obrigada, ele me deixa doida, sai correndo que eu nem vejo. - E virando-se para o garotinho completou - Mike meu pequeno não faz isso comigo, você quer matar a mamãe do coração?

– Não quelo não mamãe, meu calinho que saiu escolegando poi tudo, e palou no pé do tio Nathan.

– Entendi, então tenha mais cuidado tudo bem. Você e sua irmã sentem aqui e brinquem, vou conversar com o tio Nathan.

Colocou seus filhos no banco, deu alguns brinquedos para eles e se virou para mim:

– Muito obrigada por dar atenção ao Mike e espero que ele não tenha te incomodado.

– Não incomodou não, ele é bem querido e estávamos apenas conversando.

– É verdade, ele é um amor, não sei ainda para quem puxou, mas enfim, muito obrigada, não vou te incomodar com meus problemas. Mais uma vez te agradeço por cuidar do meu menino.

– Ah espera, estamos presos aqui e Mike me disse que não tem o pai, então deduzo que vocês estão sozinhos, você não precisa e ajuda?

– Não precisa se incomodar, fuca tranquilo.

– Não é incomodo, estamos presos aqui mesmo. Alias que falta de educação a minha, meu nome é Nathan.

– Já que você diz, prazer Nathan, me chamo Julia, o meu pequeno Mike você já conheceu, e essa é Stephanie. Você não parece ser descendente de japonês então deduzo que não seja daqui, é turista ou morador?

– Bom moro aqui há quase 10 anos, mas sou da Flórida, Estados Unidos. E você é daqui?

– Embora não pareça sou sim, meu pai é japonês e minha mãe italiana e eu fiquei bem meio a meio. Você tem família aqui?

– Tenho uma irmã de 7 anos, bom meia irmã, ela mora com meu padrasto, mas eu a vejo pouco.

– E seus pais?

Eu a olhei nos olhos e ali vi alguém que estava interessada em saber de mim, algo anormal na minha vida e me vi contando tudo o que aconteceu comigo nesses 10 anos. E por mais incrível que possa parecer ela me ouviu, mesmo tendo que atender as necessidades dos filhos, soube me consolar com palavras e um aperto na mão, sendo que me conheceu apenas hoje, ao terminar minha narração apenas lhe disse:

– Desculpa o desabafo, acho que acabei falando demais né?

– Nem esquenta Nathan, você precisava desabafar, e eu estou aqui para te ouvir.

– Muito obrigada Julia, agora é sua vez, quer me contar sobre você?

– Tem certeza que você está disposto a ouvir?

– Claro, você me ouviu até agora.

– Bom tudo bem, como eu te disse eu nasci aqui e cresci aqui, assim como você tem um dia no ano que me deixa bem mal e ele é dia 3 de julho, é o dia do meu aniversário e também o dia que perdi minha mãe com 4 anos, meu pai fico devastado e me colocou em um colégio integral, mas por eu não ser totalmente japonesa e o colégio ser o melhor de todos as pessoas me discriminavam não tinha amigos, nem as professoras me davam bola, passei de ano devido a prestar atenção nas aulas e por minha babá me ajudar em casa. Minhas tragédias nesse dia não foram anuais, mas sempre aconteceu nesse dia, com 6 anos meu pai se casou de novo e a mulher me detestava, me importunava, me xingava, mas na frente do meu pai me tratava bem, com 9 anos ela teve um bebê e convenceu meu pai a me mandar para um colégio interno, com 13 anos meu pai me trouxe de volta pois minha madrasta e meu irmão sofreram um acidente e ambos faleceram, quando cheguei ao ensino médio era pior, as meninas falavam mal de mim tanto pelas costas quanto na minha frente, meninos nunca olhavam para mim, a não ser para rir mas fui levando, para a faculdade eu queria fazer medicina, e então acabei saindo daqui e fui para a Inglaterra, lá conheci um moreno de olhos azuis, ele era gentil e carinhoso comigo, até que um ano depois meu pai veio a falecer de um câncer no pulmão e eu precisava vir atrás de cuidar das empresas, e então eu descobri que estava grávida, e o Mathew me largou, e eu tive que voltar para cá de vez, por sorte a governanta me ajudou muito, e no dia 3 de julho há três anoa atrás nasceram os meus pequenos e a cada ano que passa eles me dão mais alegria do que eu imaginei ser possível.

– E seu sonho de ser médica?

– Ainda tenho, mas não encontrei alguém que me ajude com eles e a empresa. Mas posso te garantir que isso tudo passa e vai ter algo na sua vida que fará tudo valer a pena e você mudar de ideia.

– É pode ser.

Naquele instante fiquei pensando em tudo que ela me contou, será que ela estava certa? A resposta veio logo em seguida:

– Tio Nathan binca ca gente?

Era o Mike me chamando, me sentei no chão com eles e dei as maiores risadas que há muito tempo não dava, vi naquelas duas crianças carinho e inocência. Vi na Julia que todos temos bagagens e passados, uns mais leves e outros pesados, e que nunca é impossível que algo mude tudo. Julia me tirou do meu devaneio com a seguinte pergunta:

– Nathan, você se formou em engenharia não é?

– Isso, eu estava a caminho de uma empresa para fazer uma entrevista, a empresa NTH.

– Hum, interessante. Você acredita em destino?

– Depende do que acontece, por quê?

– Essa é a empresa do meu pai e eu estava indo lá para as entrevistas, e parece que eu já encontrei um engenheiro para me ajudar a chefiar as pessoas, você aceita o emprego?

– Claro, com toda a certeza.

E assim acabou a maré desse dia de agosto, pelo menos desse ano, terminei o dia em ótima companhia e com um emprego maravilhoso. Talvez a minha sorte vá mudar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D



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