Nos trilhos do Mundo escrita por 1FutureWriter, Nathy, Cinthia Feitoza, Gabyy, Miya, Lucca James, Najla Aliyev


Capítulo 2
Cinthia Silva - The "Union"


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Nunca fui muito boa com notas, mas acho que seria indelicado não agradecer antecipadamente ao leitor por se interessar em ler esta estória. Tentei não fazer um clichê, mas ficou muito mais clichê do que eu espera. Contudo, ainda assim espero que todos gostem! Agora deixa eu me silenciar e levar vocês todos de uma vez para o Canadá!!! Todos prontos? Boa leitura :D



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Ele

A Estação Ferroviária Union fervilhava em mais uma segunda-feira! Pessoas andando apressadas de um canto a outro da estação, embarcando e desembarcando nos metrôs que cortavam a cidade de Toronto de ponta a ponta. Alguns fariam viagens mais longas, a julgar pelo número de malas que arrastavam atrás de si; outros já eram para mim rostos comuns... Os via todos os dias entrando nos metrôs apressadamente às 7 horas da manhã e desembarcando, com expressões exaustas, às 18 horas. Aquela era a minha rotina diária! Quem sou eu? Sou apenas mais um dos invisíveis que gasta seus dias dentro de uma cabine estreita e mofada, recebendo as moedas e entregando os tickets para que as pessoas sigam com suas vidas, enquanto a minha escorrega por meus dedos. Este sou eu... Damian Harrison, e nada de empolgante acontecia em minha vida... Até aquele 31 de Agosto!

Ela

Mais uma tentativa falha! Não sei mais quantas eu irei suportar! Por um breve instante eu achei que conseguiria finalizar aquela canção e impressionaria o corpo docente do curso de música da renomada Ryerson University. Respiro música desde os meus cinco anos de idade; sempre quis ser uma grande violinista, sempre desejei alegrar a vida das pessoas com as minhas canções, sempre quis algo muito maior do que eu poderia ter. E, mesmo que minha mãe houvesse me impulsionado a nunca abrir mão deste sonho e sempre houvesse me apoiado naquilo que era possível, nem que fosse trabalhando dois turnos por dia como cozinheira numa lanchonete e usando todas as suas economias apenas para me comprar um violino, hoje eu estava fraca demais para seguir em frente. Depois de falhar por três vezes sequenciais as notas da Turkish March do grande Mozart, recebi um “Obrigada por sua participação” desprovido de qualquer emoção e deixei o auditório principal da universidade, xingando-me em pensamentos por ser tão incompetente e medrosa. Os holofotes todos em mim, os olhos atentos a me observar, a pressão de ser perfeita em minha arte... Este misto de cobranças e temores me trouxe à situação em que estou agora... Indubitavelmente decepcionada! Decepcionada comigo mesma, com as minhas habilidades, com meu talento. Voltar para casa seria a mais longa e deprimente de todas as viagens que já fiz... Pelo menos eu achava que seria, até que um rapaz se aproximou de mim e puxou-me pelo braço com rapidez, mas sem violência, forçando-me a dividir com ele o chão gelado de um cubículo de cor branca, úmido e fedorento, enquanto bandidos armados anunciavam um assalto a Estação Union.

‘Que sorte você tem, não é Abigail?’ – pensei irônica, desviando meu olhar do chão para o rapaz ruivo que observava com cuidado a ampla plataforma de embarque, onde os bandidos rendiam os passageiros e tomavam-lhe os pertences.

Ele

– Ai, garoto... – a voz aguda e um tanto raivosa da morena soou dentro da cabine assim que seu corpo encontrou o chão gelado. Devo tê-la puxada com certa força e temi tê-la machucado, mas para minha sorte, ela caíra sentada sobre uma mochila jeans surrada que ela mesma carregava.

– Shhh... – pedi, num sussurro, observando o pânico se alastrar pela plataforma. Eu sabia que não demoraria muito para que aqueles caras nos encontrassem; sabia também que não adiantava fugir, um passo em falso e balas de revólver penetrariam nossos corpos. A moça pôs-se de joelhos, imitando minha posição, mas rapidamente abaixou-se, encolhendo-se num canto da cabine, ao se dar conta do que estava acontecendo. Mais um pouco e ela seria mais um daqueles reféns totalmente assustados lá fora.

– Ei, você está bem? – perguntei baixo, desviando momentaneamente meu olhar da plataforma. A garota estava começando a tremer, apertando e soltando os nós dos dedos. No impulso, levei minha mão em direção as suas, tomando sua atenção para mim.

– E como eu poderia estar bem numa situação dessas? Estamos sendo assaltados! Eles têm armas lá, armas grandes, e eu estou aqui presa dentro de uma cubículo com um estranho... Bem é tudo o que eu não estou agora! – ela falou, retirando suas mãos de sobre as minhas, falando rápido, porém baixo, tentando não chamar atenção.

– Qual o seu nome? – perguntei incisivo. Ela me olhou confusa, mas mesmo assim respondeu. – Muito prazer, Abigail Collins, me chamo Damian Harrison e eu trabalho aqui na estação vendendo os tickets de embarque... – disse, estendendo a mão na direção dela, que novamente me olhou confusa, certamente se questionando se eu não era um doente mental, mas ainda assim a apertou. – Viu só, agora não somos mais estranhos! – ela balançou a cabeça em negação, revirando os olhos, atitude que me fez sorrir levemente e que parece tê-la acalmando, já que ela também sorriu em seguida.

– Ok! Então... Damian, qual é o seu grande plano para nos livramos disso? – ela perguntou sarcasticamente e riu fraco. Olhando com mais calma até que ela era bem bonita; tinha cabelos castanhos num tom nem muito escuro nem muito claro, até abaixo dos ombros, olhos castanhos escuros e uma pele morena, típicas das pessoas que vivem em regiões tropicais, e por isso algo bem incomum para os canadenses.

– Já está sendo realizado, minha cara! – brinquei, enquanto escrevia uma mensagem de alerta a polícia, através do bip da estação. – Pronto! Agora é só esperar a polícia chegar! – falei, orgulhoso de mim mesmo!

– Então este é o seu grande plano? Chamar a polícia? – ela perguntou incrédula.

– Claro que sim! O que você esperava que eu fizesse? Fosse até lá e enfrentasse aqueles quatro paredões sozinho e desarmado? - perguntei, um tanto exaltado. Onde estava o juízo daquela garota? Certo que a polícia no Canadá não era a mais eficaz neste tipo de crime, mas não havia plano mais acertado que aquele. E além disso, bancar o justiceiro nunca dava certo fora dos filmes!

– Isso seria bem heroico! – ela disse, como se fosse aquela fosse uma decisão realmente inteligente.

– E idiota! E aí estão duas coisas que eu não sou: Idiota e Herói! – decretei, inaugurando um silêncio esmagador entre nós. Notei que ela estava constrangida por alguma razão, mas não pude saber por que, pois no exato momento em que ela abria a boca para falar-me algo, um dos grandalhões abriu a porta com violência, sorrindo lascivamente ao nos descobrir escondidos ali.

Ela

– Hey Hank... Encontrei mais dois aqui! – o grandalhão gritou para um de seus comparsas, sem tirar os olhos de nós. Encolhi-me atrás de Damian, que institivamente passou seu braço em frente ao meu corpo, como que para me proteger, e eu estava tão apavorada, que não pude evitar agarrar seu braço em resposta. A respiração do ruivo era pesada, grave, ele permanecia sério, com uma expressão inalterada em seu rosto, apesar de eu achar que ele estava tão assustado quanto eu.

– Vamos ver o que temos por aqui... – o ‘brutamontes’ deu dois passos adentrando a cabine e nós dois demos dois passos para longe dele, sendo impedidos de nos afastar mais pela parede branca atrás de nossos corpos. Ele vasculhou com o olhar o balcão, vendo a gaveta da caixa registradora entreaberta no canto direito. Suspirei de alívio ao notar que Damian devia tê-la deixado daquela forma propositalmente, pois isso o manteria longe de nós por minutos suficientes para que a mensagem pelo bip fosse enviada ao departamento de polícia local.

– Então James, conseguiu alguma coisa? – outro grandalhão, um loiro de olhos verdes, que eu julguei ser o tal Hank, apareceu na porta, segurando o revólver preguiçosamente em sua mão esquerda. Olhei da arma para seu rosto e rápido desviei meu olhar dele, mas não tão rápido para que ele não houvesse notado que eu o encarava.

– E ai, gatinha... – Hank dizia, estampando um sorriso malicioso em seu rosto, enquanto dava passos em minha direção. Encolhi-me ainda mais atrás do corpo de Damian e senti-o pressionar sua mão em minha cintura protetoramente.

– Se afaste dela! – Damian disse firme e, por um instante, fiquei surpresa e grata por sua interferência, mas assim que a fúria tomou o olhar do homem a nossa frente, desejei que Damian não tivesse dito nada.

– Seu namoradinho é corajoso, huh?! Vamos ver se a coragem dele continuará existindo depois disso! – Hank disse, já levantando o revólver em suas mãos, prestes a apontá-lo direito para Damian quando um som agudo, como uma espécie de despertador começou a apitar. Eles olharam em busca da origem de tal som, até que o próprio Hank percebeu vir de um de seus bolsos. Ele levou a mão direita ao bolso, tirando de lá um pequeno aparelho preto, que piscava uma aberrante luz vermelha. O olhar confuso de Hank logo deu lugar a um sorriso maligno e se antes eu estava assustada, agora eu estava completa e irremediavelmente apavorada.

– Garoto esperto, você! – ele disse olhando diretamente nos olhos verdes de Damian, e eu pude sentir o corpo do rapaz retesar àquela menção e a mão que segurava o bip afrouxou a pressão sobre o pequeno aparelho. – Sua ideia de chamar a polícia através do bip é realmente brilhante, mas você se esqueceu de um detalhe simples... – Hank pausou e um arrepio percorreu-me a espinha quando ele sorriu sarcástico e encostou o cano da arma no queixo de Damian.

– Nós somos a polícia!

Ele

‘Abigail estava certa! Chamar a polícia não foi lá um grande plano’ – pensei no exato momento em que o tal Hank puxou o bip de dentro do seu bolso. Xinguei a mim mesmo em pensamento, controlando o impulso de fazê-lo em voz alta; como eu fui tolo... A cidade não era mais segura, e se assim era, tudo isso se devia a polícia, ou a falta dela se preferir. Como uma Gotham da vida real, Toronto parecia dominada pelo crime; cidadãos de bem sendo reféns do medo e da insegurança, com medo daqueles que juraram protegê-los. Fui tolo! Tolo em acreditar que a marca da corrupção não houvesse manchado a todos os policiais, tolo em imaginar, como um garotinho fanático por heróis, que na Gotham da vida real existiria um Batman disposto a salvar as vidas das pessoas e limpar nossas ruas. Eu estava enganado; Abigail sabia disso, os reféns lá fora sabiam disso, mas eu só me dei conta quando senti o cano gelado do revólver pressionar meu queixo forçando-o para cima. Engoli em seco e senti meus dedos largarem, vagarosos, o bip que seguravam. Ouvimos um baque surdo de algo caindo no chão e em seguida um grito abafado; Abigail agarrou-me o braço direito visivelmente assustada. Não sabendo de onde me vinha toda aquela coragem, apenas respirei fundo e com a mão esquerda busquei a sua, segurando-a com firmeza.

– Deixe-a fora disso! – tentei não soar tão desesperado quanto eu realmente estava. – Deixe que Abigail vá embora, assim como todos os outros! Você já tem tudo o que queria, e o que tiver de resolver comigo, resolva apenas comigo! Não precisa machucar mais ninguém. – falei, rápido demais, esforçando-me muito para soar confiante.

– Damian... – Abigail falou, num tom choroso que me abalou muito mais do que eu gostaria. Quis me virar, quis abraçá-la, quis dizer que ela ficaria bem, que todos ficariam bem, mas apenas apertei sua mão entrelaçada a minha.

– Não se preocupe comigo! Você estará a salvo, os outros estarão a salvo... É tudo o que importa! – disse, minha voz saindo com dificuldade pela pressão da arma em meu queixo. Hank sorria lascivamente, enquanto James vasculhava nossos pertences à procura de algo de valor. O que aconteceu a seguir foi rápido como um relâmpago; James abriu a case, puxando de dentro dela o violino de Abigail, atirando-o para longe com violência. A morena correu desesperada, estampando completo horror em seus olhos, caindo de joelhos onde os estilhaços do seu instrumento estavam espalhados. Uma fúria enorme dominou a garota que voltava em passos largos, firmes e raivosos apontando o dedo diretamente para James.

– Seu brutamonte idiota! Você tem ideia do quanto custou aquele violino? Sabe o quanto eu tive que penar pra consegui-lo? – ela berrava, destilando raiva em cada sílaba, mas não houve muito tempo para que ela explodisse, pois, quando ela estava bem perto e eu podia jurar que ela iria esbofetear o grandalhão, um James raivoso a fez estacionar envolvendo seu pescoço fino com uma de suas mãos. Ah como eu queria bater naquele idiota! Tentei dar passos em direção a eles para tirá-la de lá, mas Hank tratou de aumentar a pressão da arma em meu queixo, engatilhando-a para que eu entendesse que a ameaça era real.

– Não Damian... Fica ai – ela falou, a voz estrangulada pela diminuição do ar que os dedos de James em sua garganta causavam.

– É Damian, fica quietinho ai, ou a sua namoradinha vai sofrer mais! – James disse com sarcasmo, arrancando uma risada alta do seu comparsa.

–Solta ela, seu idiota! Ela precisa de ar! – berrei, pouco me importando com a dor que fazia meu queixo arder. Abigail, permanecia na ponta dos pés, suspensa pela força do braço do moreno grandalhão, começando a perder a consciência!

– Abaixa a bola aí camarada! – Hank falou, empurrando meu peito. – Eu ainda estou considerando a sua oferta. Nada me impede de te apagar aqui mesmo. Você e a sua namoradinha estressada! – ele me observou por alguns segundos e, então, meneou a cabeça para James, que largou o pescoço de Abigail, pondo os pés dela no chão. Ela tossiu violentamente, tentando recuperar o ar que a pouco lhe faltava e eu me permiti respirar aliviado, por ela estar bem.

– James! Vocês e os outros liberem estes reféns e levem as coisas pra esconderijo. Eu mesmo cuido destes dois aqui! – ele disse, retirando a arma de meu queixo e me empurrando pra perto de Abigail. Assim que a alcancei, ela passou seus braços pelos meus e eu a sustentei para que se pudesse de pé normalmente. Instintivamente ou por querer, eu não sei, abracei-a, tentando confortá-la, acalmá-la.

– Você está bem? – perguntei, quase num sussurro, retirando algumas mechas de cabelo castanho de seu rosto. Ela curvou seus lábios tentando sorrir, mas os olhos repletos de lágrimas a denunciavam... Ela estava com medo e pra falar a verdade, eu também!

Ela

Nem em meu pior pesadelo poderia imaginar morrer desta forma! Não sei quantificar o pavor que me dominou quando Hank se pronunciou; toda a ousadia que eu tivera há poucos segundos, quando vi os destroços do meu sonho espalhados pelo chão, me deixara por completo e senti-me empalidecer. Damian me envolvia com seus braços, enquanto eu puxava o ar pesadamente, ainda sentindo a garganta rasgar quando ele passava. Por mais que eu quisesse chorar não conseguia derramar uma lágrima sequer; por mais que quisesse brigar, esbravejar, gritar por socorro, não proferi sílaba alguma; Apenas respirava! Puxando e soltando o ar, de forma lenta e compassada, enquanto o calor do corpo dele aquecia minha face gélida. O ruivo me ajudou a erguer meu corpo cansado, dando-me suporte para permanecer de pé, sem largar minha cintura um instante; tentei sorrir-lhe em agradecimento e, apesar de toda a trágica enrascada em que havíamos nos metido, uma felicidade diferente me encheu quando ele sorriu de volta.

– Me desculpe, Abigail! – ele sussurrou, depois de alguns poucos segundos me encarando. O lindo sorriso dera lugar a uma expressão de dor e culpa que machucou meu coração muito mais do que eu julguei possível.

– Ei! – chamei, colocando meu polegar em seu queixo, trazendo seu rosto para cima, para olhar em seus olhos. – Está tudo bem, Damian! Não tinha como você saber que isso ia acontecer. Você só tentou me ajudar, me proteger. – dei um breve sorriso, tentando amenizar a situação. Sei que a perspectiva da morte não era uma das melhores, mas sabe Deus o que poderia ter me acontecido se aquele ruivo não tivesse me puxado para dentro da cabine! Estava tão desligada de tudo quando cheguei à estação, que talvez tivessem me acertado uma bala no peito sem que eu, ao menos, me desse conta.

– Só que eu falhei, Abigail, falhei em te proteger! – ele disse, num tom sombrio, que fez todo o meu corpo retesar por um instante. – Se eu tivesse sido mais esperto, agora você estaria livre de tudo isso!

– Damian... Olhe só quantas pessoas você conseguiu salvar! – disse apontando, pelo vidro da cabine, a movimentação frenética dos reféns na plataforma, correndo em direção à saída. – Eles vão viver mais um dia porque você tirou os brutamontes de lá. – tentei soar sincera e terna. Apesar do desfecho não ser de todo positivo, aquilo era verdade; se Damian não tivesse me puxado para dentro daquela diminuta cabine, não teria deixado a porta da mesma aberta, e minhas bolsas esparramadas pelo chão não teriam chamado a atenção de James. Se ele não houvesse acionado a polícia com o bip, Hank não teria desviado sua atenção de mim, não teríamos a chance de negociar a liberação dos outros e ninguém estaria voltando agora para suas casas e suas famílias. O sacrifício de nossas vidas nunca seria em vão e, por mais estranho que isso tudo consiga soar, eu estava... contente, de estar ali com ele.

– Você devia fugir enquanto é tempo! – ele sussurrou muito baixo, com a testa encostada no vidro, observando o movimento dos reféns diminuir gradativamente, até que só restassem ele, Hank e eu dentro da estação.

– Eu vou ficar com você, Damian! – falei, buscando sua mão com a minha, entrelaçando nossos dedos. – Começamos nisso juntos, terminaremos juntos! – apertei sua mão e sorri, buscando coragem do mais íntimo do meu ser. Se Damian seria minha última visão e companhia nesta vida, gostaria que ele soubesse que acabara de se tornar alguém especial.

– Hora de ir, pombinhos! – Hank falou, em seu tom debochado, indicando-nos a saída com o cano da arma. De mãos dadas, Damian e eu andamos, saindo pela porta da cabine em direção à plataforma. Hank nos fez caminhar, pressionando o cano do revólver em nossas colunas e, mesmo que eu me sentisse pronta para aquilo, que eu tentasse convencer meu coração que aquilo havia salvado tantas outras vidas, o medo ainda me dominava profundamente. Descemos da plataforma, andando entre os trilhos até uma parte mais escura da linha; a precária iluminação, o cheio forte de terra molhada, o ar mais úmido ali embaixo, me causaram um arrepio, que logo foi combatido pelas mãos de Damian acariciando-me o antebraço. Ele sorriu triste e nervoso e não pude evitar sorrir. Quando chegamos à parte mais interna da linha ferroviária, Hank nos obrigou a ficar de costas para ele, apoiados numa das paredes geladas que formava o túnel. Ouvi o som agudo do gatilho do revólver ser acionado e já fechava meus olhos com toda a força, quando ouvi a voz de Damian chamar meu nome.

– Obrigado Abigail... Obrigado por estar comigo na maior de todas as aventuras que eu já vivi! – Ele disse, arranjando tempo para ser galante comigo, sorrindo largamente e beijando o dorso da minha mão em seguida. Sorri boba, talvez por aquela ser a primeira e a última vez em que alguém seria galante comigo.

– Obrigado por ter me puxado para dentro da cabine, Damian! – disse, sorrindo e então apertamos nossas mãos entrelaçadas e fechamos os olhos com força. Uma lágrima solitária escorreu por meu rosto no momento em que ouvi o som dos tiros e senti o gelo da morte subir pela espinha.

~ ** ~

‘Estamos aqui em frente a Estação Ferroviária Union, onde, no começo desta tarde, passageiros e trabalhadores foram feitos reféns num assalto a mão armada que, felizmente, não fizera nenhuma vítima fatal. Segundo testemunhas, o assalto fora anunciado por volta do meio dia e meia hora, quando o fluxo de passageiros se intensifica e logo após que os reféns foram libertados, o que ocorreu por volta das treze horas e quarenta minutos, a polícia invadiu a plataforma da estação, abrindo fogo sobre os assaltantes, acreditando que eles estivessem sozinhos. O comandante do 17° Batalhão da Polícia Civil, Thomas Hopper, explicou que recebeu um alerta pelo bip de um número desconhecido e que procurou agir o mais rápido que fora possível. Acabou por se descobrir que a quadrilha de assaltantes era composta por policiais corruptos do mesmo batalhão do comandante e que, dos quatro, apenas Hank Johnson fora baleado gravemente, pois atentava contra a vida de outros dois reféns no exato instante da invasão policial. Os casal de reféns que fora forçado a permanecer na estação, está sendo assistido pela equipe médica do Mount Sinai Hospital, e passa bem. Eu sou Mônica Lewis...’

O som da televisão preenchia o quarto do hospital enquanto uma jovem de cabelos castanhos permanecia sentada sobre uma poltrona aguardando que o rapaz ruivo deitado sobre a cama, enfim acordasse. Ela tinha uma das mãos entrelaçada à dele, enquanto olhava para a pequena tela no alto da parede, noticiando o horror que ela e o rapaz haviam vivenciado há poucas horas antes. A morena soltou um suspiro de alívio por estar livre daquele terror; e no final das contas, seu amigo havia feito a coisa certa! Fora mesmo a mensagem pelo bip que havia salvados aos dois. Os dedos embaixo dos seus começaram a se mexer, fazendo desviar a atenção da televisão para o rapaz deitado, observando-o abrir vagarosamente seus olhos, revelando um verde melancólico. E se antes, a agora conseguia sorrir, seus lábios quase rasgaram-se em seu rosto quando o ruivo focalizou a imagem dela à sua frente e sorriu largo.

– Abigail... – a voz dele soou rouca e metálica, típico de quem havia acordado há pouco tempo. – Você está bem? – ele tentou sentar sobre a cama, gemendo de dor, ao sentir o corpo pesado e dolorido. A morena logo tratou de ajudá-lo a sentar-se na cama, apoiando um travesseiro em suas costas, sentando-se num espaço da cama, bem próxima ao corpo dele.

– Estou ótima, Damian. Graças a você! – ela sorriu terna e sincera, apertando a mão do ruivo abaixo da sua. – Só tive poucos arranhões. Nem sinto dor! – ela percebeu quando o ruivo relaxou os ombros, numa clara demonstração de alívio. Ela queria abraçá-lo, queria poder agradecer por tê-la protegido. Por ter se machucado para que ela estivesse a salvo. E assim ela o fez, lançando seus braços pelo pescoço do rapaz, esquecendo totalmente que o tronco dele estava totalmente dolorido depois da forte pancada que ele suportara ao cair sobre um dos trilhos da linha do metrô, protegendo a ela e a si mesmo do tiroteio.

– Ai! – ele gemeu e depois sorriu, quando ela se afastou, pedindo desculpas. Abigail tocou com cuidado o peitoral do rapaz, deslizando seus dedos até o meio da barriga, com os olhos enchendo-se de lágrimas. Damian pôs uma mão sobre a dela e levou a outra em direção ao queixo dela, levanto seu rosto e acariciando sua bochecha já molhada por uma solitária lagrima que teimara em escorrer.

– Não precisa chorar Abigail! Eu estou bem – ele sorriu, apertando seus dedos nos dela sobre sua barriga. – Estou a salvo! E você também! Não precisa mais ficar triste! – e então, ele sorriu; um sorriso que encantaria qualquer pessoa e que, de fato, encantou Abigail.

– Graças a você, herói! Parece que no fim de tudo o seu plano de usar o bip e chamar a polícia funcionou! – a morena gargalhou baixo e ele a acompanhou, porque era impossível não fazê-lo.

– Que bom que deu certo! Mas eu só fiz o que qualquer um faria, fiz o que achei ser o certo – ele deu de ombros, não dando tanta importância ao seu gesto, afinal de contas, não fora mesmo nada demais e ele quase fracassara.

– Você foi um herói, Damian! De verdade! – Abigail começou dizendo, enquanto era atentamente observada pelo par de olhos verdes de Damian. – Talvez não tenha salvado o mundo inteiro, mas ajudou a salvar todas aquelas pessoas na estação, e também a mim... Eu devo minha vida a você! – ela falou, levando uma das mãos ao rosto do amigo, que estava com um pequeno corte na testa. Damian fechou seus olhos ao sentir os dedos finos e macios de Abigail deslizarem por seu rosto.

– Abigail... – chamou-a – Eu... – o tom de voz grave e rouco, o olhar intenso e penetrante que ele lhe direcionava, fizeram a morena estremecer. Ele levou a mão esquerda ao rosto dela e Abigail pode perceber que ele se aproximava dela. Ela sabia o que estava para acontecer e, se pegou desejando que acontecesse, mas quando eles estavam a poucos centímetros de distância, foram interrompidos por uma voz grave; era o médico que os atendera, adentrando a porta, visivelmente envergonhado por interromper o ‘momento’ dos dois.

– Hã... Vejo que está muito bem, Sr. Harrison! – o Dr. Jones sorriu discreto, observando o momento em que Abigail quase pulou da cama, rubra de vergonha, afastando-se de Damian. O ruivo tentou disfarçar seu desconforto e não soltou a mão da morena em momento algum.

– Me sinto ótimo, doutor! Exceto por um dor nas costelas – Damian explicou, apontando para a região ainda dolorida. O médico explicou-lhe que a pancada fora forte, mas ele não precisaria se preocupar; nada havia sido fraturado e que em poucos dias, e a base de alguns poucos medicamentos, ela estaria livre da dor e de qualquer hematoma.

– Eu vou cuidar para que ele siga todas as suas recomendações, Dr. Jones – Abigail se pronunciou após a longa lista de recomendações, sorrindo solicita para o médico e depois para Damian, que a olhava com uma expressão de encantamento.

– Ela é especial, rapaz! Não a deixe escapar! – o médico falou, piscando marotamente para Damian.

– Não vou! Pode ter certeza disso! – o ruivo falou, apertando sua mão que segurava a de Abigail e o médico deixou o quarto estampando seu sorriso discreto. Abigail arregalou os olhos, surpresa. Ele não poderia estar falando sério, poderia?

– Você não falou sério no que disse, falou Damian? – ela perguntou, tentando não criar expectativas; não queria se decepcionar esperando que ele estivesse tão encantado por ela como ela estava por ele.

– Falei! Em cada palavra, Abigail! – ele disse simplesmente e sorriu, puxando-a para sentar-se ao seu lado outra vez. – Sei que a gente não se conhece direito e que talvez você ache que me sinto na obrigação de fazer isso por termos dividido uma experiência chocante, mas... – ele passou, olhando diretamente nos olhos dela. – eu só quero estar com você! Não por todos estes motivos, apenas porque eu quero! – ele falou e sorriu, acariciando o dorso da mão dela com o polegar.

– Eu só espero que... Você me queria por perto também – ele finalizou e mal pode terminar de respirar antes de sentir os lábios macios e quentes de Abigail tocando os seus, e o pequeno corpo dela pressionando o seu. Ele sufocou um gemido de dor, a sensação do corpo dela tão próximo do seu valia qualquer incômodo, qualquer dor. A morena separou os lábios dos dois e sorriu um tanto sem graça pela atitude impetuosa, mas não se afastou muito dele.

– E eu espero que esta seja uma resposta adequada! – ela disse, totalmente corada, muito envergonhada, mas absolutamente feliz... Feliz como não era a um bom tempo!

– Com certeza é! A melhor de todas as respostas que eu poderia receber! – Damian falou e gargalhou um pouco, puxando Abigail pela cintura para um novo beijo... O segundo de muitos, esperava ele, mal sabendo que era o desejo mais profundo dela também.

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Notas finais do capítulo

Obrigada aos organizadores do Fanfic Também é Leitura pela oportunidade concedida e pelo carinho sempre presentes e também obrigada a cada um que leu e a quem desejar comentar também! Espero que tenha gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrevê-la! Nos vemos por ai... Eu espero!

CinthyXx



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