Domingo, 27 de Setembro.

Tinha sido bom falar com ela quase todas as noites mas agora tem ficado cada vez mais difícil. Ela tá estudando muito, tá com projetos importantes pro colégio e não tem mais tempo de falar comigo. E pra piorar, o computador dela foi pro conserto. E não tem previsão de volta. Já faz duas semana que não consigo falar com ela...

Vou dar uma volta pelo parque pra ver se consigo me acalmar...

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Estou sentado aqui, sozinho, no nosso banco especial, tentando pensar em algo pra fazer. Tentando pensar em algo, qualquer coisa, só pra parar de pensar nela. Mas é lógico que não tá funcionando pois ela é tudo que eu tenho na mente. Se eu parar pra lembrar dela por um segundo, eu já esqueço do mundo inteiro...

E agora fico aqui, sentado, sozinho, tentando me convencer de que ela não é a pessoa pra mim. Mas quanto mais eu penso, menos eu acredito e mais quero ela aqui comigo... Logo o recesso de natal chega e eu não quero passar os feriados sozinho. Me lembro de todos os fins de ano que passamos juntos quando éramos pequenos. Inclusive uma vez quando a gente não aguentou esperar a ceia e roubamos um pedaço de torta de ameixa da geladeira e saímos correndo e nos escondemos num parquinho na rua debaixo de casa e ficamos lá comendo. Quando escureceu, não soubemos voltar pra casa e o meu pai e o sr Johnson vieram nos buscar, eles tinham certeza que estávamos lá. Foi uma tarde ótima, nós brincamos de guerra de bola de neve, fizemos anjos na neve e ficamos tentando patinar mesmo sem patins. Foi nosso último natal juntos...

Agora essas memórias só me dão um aperto no coração, já que eu olho pro lado e ela não está aqui... Ficar no parque não adiantou nada. Vou voltar pra casa...

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Peguei meu violão pra tentar me distrair, mas estou sem nenhuma inspiração, então não tá adiantando nada... Eu olho ao redor e tudo no meu quarto me lembra ela. O colar que trocamos, um ursinho que ela esqueceu em casa antes de ir embora naquele natal de quase 9 anos atrás e eu não lembrei de devolver, o lençol verde da minha cama, que é a cor favorita dela...

Queria que ela pudesse pegar minha mão pra fugirmos... Já não há nada mais pra provar pra ninguém. Agora eu fico pensando... Tudo era tão mais fácil quando éramos pequenos. Amigos. Quando não existia essa coisa de paixão, de amor... E eu não queria que as coisas fossem tão longe como foram. Não queria ter me aproximado tanto, e compartilhar os momentos que compartilhamos...

E agora eu lembro daquele natal. Enquanto estávamos escondidos no parque, logo depois de comer, eu vi que o rosto dela estava todo roxo, cheio de manchas de ameixa. E eu perguntei que gosto será que tinha beijar alguém com o rosto cheio de ameixa, se tinha gosto de torta. E ela se aproximou e me deu um beijo inocente e perguntou "Como é?", e nesse momento eu descobri o que era paixão. E ela também, porque quando ela foi embora pra Nova Iorque alguns dias depois, ela me olhou de um jeito diferente. Ela tinha apenas 8 anos e eu 10... Foi o nosso primeiro beijo.

E nesse momento, passando por tudo isso, eu acho que não queria que tivéssemos nos conhecido quando éramos pequenos... E eu não queria causar arrepios pelo jeito como nos beijamos. E eu não queria me apaixonar, mas me apaixonei... E eu não queria que ela correspondesse, mas ela correspondeu...

Agora, eu não sei quando vamos poder nos ver ou nos falar de novo. E só me resta esperar e saber se o sentimento vai continuar sendo o mesmo, ou se vamos conhecer novas pessoas, se vamos esquecer um do outro depois de anos sem nos ver, se vamos algum dia voltar a manter contato... Isso só o tempo vai mostrar. Mas tenho certeza que mesmo que as coisas acabarem mudando, eu vou olhar pra esse diário e me lembrar de todos os momentos que passamos juntos. Só espero que algum dia eu possa ler essas histórias nossas pros meus filhos... e que eles sejam filhos da Lalah também.