Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 6
R: So now you're dead


Notas iniciais do capítulo

Oi povos e povas!! Aqui estou eu de novo, e, dessa vez, queria pedir que vocês escutassem um pouco de The Neighbourhood ao lerem esse capítulo, por motivos de fiquei escutando o álbum deles repetidamente enquanto escrevia e minha inspiração brotou graças à várias dessas músicas.
Humildemente deixo o link do álbum aqui - https://www.youtube.com/watch?v=3N7tHIHQ2mY
Sério, dêem uma chance a Female Robbery, Afraid e How, as letras delas são tão Daniel. XD
Okay, sem mais delongas, boa leitura!



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* Daniel’s POV *

Termino de adesivar o curativo ao meu pescoço e guardo os “materiais” dentro da maletinha de primeiros socorros que Sofia me dispusera.

– Okay, Dan... Vai me contar o que aconteceu? – ela pergunta, sentando-se ao meu lado na cama de fronha xadrez e quase atropelando Óliver, o gato alaranjado que descansava sobre o colchão macio. Pego o felino, prevenindo possíveis acidentes, e o deposito sobre meu colo, acariciando-o.

– Vou sim, acho que... é bom pra me ajudar a processar o que eu vi. – ela fez sinal para continuar. Eu engoli a seco. – Eu... simplesmente... vi o meu pai com a amante no quarto...

– Pera, mas isso não é normal? – ela me interrompeu, franzindo o cenho.

– Calma que não é só isso. Encontrei-a morta, e o meu pai com um revólver ao lado dela.

– ...ah... – Sofia parecia visivelmente não ter a capacidade de reagir ao que eu acabara de dizer. Observei enquanto ela sutilmente movimentava as mãos, à procura de uma resposta em sua mente. Resolvi poupá-la.

– Continuando... Eu resolvi dar uma de vadia sarcástica, como sempre faço, e discutimos enquanto ele enfiava uma arma debaixo do meu queixo. – insira gagueira e autotapa facial aqui. – Mas como você pode ver, esse tiro foi de raspão, certo? É que eu tive a grande sorte de gaguejar, como acabei de fazer, e aí ele gritou “SATANÁS!” e atirou. Acho que o gritinho afetou a mira dele. – e rimos, não sei por quê.

– Se um dia escrever sua autobiografia, por favor, adicione essa passagem. Vai ser épico.

– Certamente irei.

Decidi omitir a última parte, de quando ouvi um solitário tiro enquanto corria para longe do local. É uma parte da história que não pretendo processar no momento.

O ar condicionado desse quarto esfria rápido. Pode ser porque eu não estou sequer usando uma camisa agora, mas mudo a temperatura com o controle. Beep. Beep. Beep.

– Pensando na proposta que te fiz mais cedo? – pergunto, me virando para ela novamente.

– Que proposta?

– Aquela, onde você me matava. Vamos lá, é só pegar uma faca na cozinha e estocar no meu peito repetidamente. Repetidamente. Repetidamente. – insira o resto das repetições aqui.

– Tá bom, querido, eu entendi que é repetidamente! – ela gargalhou, em seguida ironizando: - Tire esses pensamentos dark da sua mente. Você precisa aceitar Jesus no coração.

– Ha ha. Moça, vá dormir, você está bêbada.

– Não é você quem vai dizer o que fazer aqui, seu mal agradecido. Aliás, pode diminuir a temperatura desse ar condicionado de novo, gosto dele congelando.

– Está me convidando a me retirar?

– Naturalmente. – ela fez um gesto vitoriano, mostrando-me a porta.

– O gato vai junto. – chantageei, sorrindo.

– Assim você me põe numa situação difícil, jovem... Mas tudo pela minha dignidade. – ela rebateu.

– Creio que eu esteja levemente incapacitado de danificar a sua dignidade de alguma forma, mas, quando mudar de ideia, estou às ordens. De toda forma, vai ser interessante ver a reação dos seus pais quando eles chegarem e encontrarem um menino baleado sem camisa dormindo no sofá. – disse, levantando, pegando minha mochila, o Óliver e me retirando do quarto.

– Não preciso ter piedade de uma vadia sarcástica, preciso? – e fechou a porta atrás de mim.

* * *

Acordo pela quadragésima vez essa noite, mas percebo que, dessa vez, certa luz toma conta da sala de estar onde eu me encontro. Afago o gato que dorme sobre minha barriga e observo as cortinas finas e brancas que se estendem a minha frente. Acho essa visão esteticamente tranquilizante. Aliás, estava tudo muito branco e tranquilo, até eu mentalmente me localizar.

Estou na casa de Sofia, e o motivo pelo qual vim parar aqui volta à tona. Relembro a maldita cena, como em flashes. O olhar cheio de ira daquele homem. O cheiro de sangue tomando conta do quarto. O meu sangue se tornando parte daquele cenário animalesco. Eu realmente deveria controlar melhor esses pensamentos, porque começo a sentir náuseas e certa tontura, mesmo estando deitado. Eles não vão me deixar, e eu sei disso. Quando começo a pensar demais, é difícil sair desse ciclo que mistura realidade, pessimismo e mil coisas que provavelmente não vão acontecer, e sinto meu fôlego começar a ir embora e meus batimentos acelerarem quando a minha mente me guia à última parte dos acontecimentos de ontem, aquela parte que eu não queria processar.

Eu vou me sentir tão culpado, puta que pariu. Que tenha sido um tiro na parede, em qualquer lugar, mas não nele mesmo. Eu já me sinto culpado demais...

– Daniel? – a voz de Lucas, o irmão mais velho da Sofia, me acorda desse inferno. – Você está muito pálido, meu Deus, você está bem? – eu apenas aceno positivamente com a cabeça. Claro que não estou, só gostaria de evitar preocupações em casas alheias. – Bem, a Sofia ainda está dormindo como pedra, mas vim avisar que são 06h25min, pro caso de você ir pra escola hoje...

– Bom dia, cara. Valeu mesmo. – agradeci, fingindo bem-estar o melhor que podia, apesar de a minha voz ter me traído um pouco.

– Disponha. Mas tem certeza de que está tudo certo? – ele encosta uma mão na minha testa – Você está suando frio.

– Estou?... Não é nada, cara. Mas talvez eu precise de certa ajuda, visto que não sei nem onde fica o banheiro por aqui, e vou precisar de roupas emprestadas... Se não se incomodar, claro. Claro. Claro. Claro. Claro. Claro. Claro. Claro. – socorro, que vergonha. Já comecei bem a manhã!

– Sem problemas, campeão. Vem cá.

Enquanto deixo Óliver, esse fofo, sobre o tapete ao lado do sofá – igualmente felpudo -, agradeço até ao Big Bang por ter formado o Universo que conhecemos e, consequentemente, permitido a existência de um ser humano tão gente boa. Em sequência, escolhi camisa e calça, tomei uma ducha, escovei os dentes sem escova, refiz os curativos, me vesti de Lucas – camisa jeans social incluída – e resolvi tentar acordar a Sofia de novo, apesar de já serem 07h08min.

– AAAH, que merda. – como podem ver, consegui.

Comecei a tomar o café da manhã, que literalmente se tratava de café puro. Uma xícara de 250 ml, por sinal. Talvez tudo o que eu precise agora seja deixar a cafeína agir, e é isso o que faço. Vejo a Bela Adormecida surgir de cara amassada no local, e prefiro não interagir com a mesma por medo de levar uns tapas ou algo assim.

* * *

Chegamos à escola com dois minutos de atraso e tomando carona no carro do irmão-gente-boa-da-Sofia, cujo era bem mais modesto que a Elemento do seu pai. Agradeci efusivamente, enquanto Sofia já havia saído correndo por sua vida.

Dei bom dia à porteira e resolvi andar normalmente, reparando nos detalhes. Será que os gêmeos apareceriam hoje? E Lana? Percebi que nem mesmo o sinal havia tocado ainda. Conforme eu andava através do pátio principal, parecia que tudo havia silenciado.

Os alunos do 1º, 2º e 3º anos estavam sentados ou em pé perto das paredes, em volta do pé de castanhola, como sempre, mas uma onda de tensão parecia ter se apoderado de todos ao me verem, pois ninguém continuou a conversar. Rostos me encaravam explicitamente, alguns como se estivessem me notando pela primeira vez. Havia olhares de pena ou compaixão, outros de surpresa, e até mesmo de desaprovação.

Eram tantos que comecei a simplesmente fixar o meu num ponto vazio perto da entrada para o corredor onde ficavam as salas de aula. Nunca fui um expert em lidar com atenção, imaginem agora.

Noto que Malu está sentada ao lado do “namorado” (melhor chamá-los de ficantes recorrentes ou algo do tipo), Alan, e é uma das que me encaram com compaixão. Perdão por ainda não tê-la apresentado, mas ela faz parte do seleto grupo de pessoas que posso chamar de amigos e, agora que me lembro, seria bem mais receptiva caso eu tivesse aparecido na casa dela às 22h00min e pedisse para dormir em uma cama.

Malu cochicha algo para Alan e se levanta, vindo em direção a mim. Sinto-me mais confortável por fitá-la. Ela acelera o passo e me abraça calorosamente, até mais do que costuma fazer.

– Eu sinto muito, Dan... – ela diz, a voz abafada por estar com seu rosto enterrado no meu peito. Deus, como tenho amigas baixinhas. Eu a envolvo em meus braços.

– Você já ficou sabendo do que houve ontem?... Não precisa se “desculpar” por mim, jovem, pelo menos eu saí de lá vivo... Aliás, sabe se ele foi preso ou algo assim?

A menor levantou o olhar.

– Espere, acho que você perdeu uma parte do que aconteceu... A notícia já se espalhou por toda a cidade, Dan. Seu pai infelizmente também foi encontrado morto.


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Notas finais do capítulo

... que coisa, não? Aliás, adivinhem quem será o principal suspeito da morte dos dois? :3
Dahora a vida.
Deixei esse capítulo programado, na verdade, pois talvez hoje eu esteja viajando pra fazenda ou algo assim, então responderei possíveis comentários assim que puder. Espero que tenham gostado. Até mais! ^^