Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 5
R: Bloodshed - pt. 2


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, cheguei com a parte dois desse capítulo!
Ps: toda essa parte entre aspas em itálico no começo é um flashback de quatro anos atrás. :B
Boa leitura!!



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“Um Daniel de 13 anos acabara de acordar às 05h37min da manhã, em pleno sábado. Ele adorava os sábados pela oportunidade de dormir até o meio-dia, mas quem disse que a noite de sono havia sido bem aproveitada?

O garoto coçava seus olhos, lembrando que sonhara com muitas coisas durante a madrugada, mas sem formar nada nítido sobre isso em sua mente.

Havia gritos, que ele poderia jurar serem de sua mãe. Passos no térreo. Várias vozes, com predominância da do seu pai. Na verdade, o menino já estava acostumado com esses sons, e na noite anterior, havia recebido a ordem de ir direto para o seu quarto, pois presenciara uma intensa briga entre seus pais, na cozinha. Sua mãe estava sendo fisicamente violentada novamente, e o pequeno tentara impedir as agressões de seu marido, sem êxito algum. Enterrara-se debaixo de suas cobertas, temendo por ela, até pegar no sono.

Agora mesmo, Dan ainda conseguia ouvir algo vindo da grande sala abaixo dele. Seu primeiro impulso foi chamar sua mãe, que sempre tinha os melhores conselhos e conseguia acalmá-lo mesmo após os piores pesadelos. ‘Mãe!’, gritou. As vozes no térreo silenciaram. O garoto, com seu cabelo cacheado todo bagunçado, tentou abrir a porta, mas ela parecia estar trancada por fora.

Então ele foi em direção à janela do quarto e espiou. Via dois homens desconhecidos carregando uma mala enorme até um carro igualmente estranho, e, logo depois, o carro acelerando e sumindo na esquina.

Ele não entendia nada.

– Paaai! Mãe! A porta tá trancada, alguém me ajuda a abrir?! – ele gritava contra a maçaneta.

Esperou por cerca de mais três minutos e então sentou-se na cama. Finalmente, Aurélio aparecera e abrira a porta.

– Bom dia, Daniel. – o homem parecia estranhamente nervoso, suas feições estavam diferentes.

– Bom dia, pai... Por que demorou? E cadê a minha mãe?- ‘Espero que na delegacia te denunciando, seu desgraçado’, pensou.

Silêncio desconfortável. O pastor se aproximou do filho e disse:

– Ela está viajando e pediu pra não contarmos a ninguém.

– Como assim?... Pra onde ela foi? – ele respondeu, desconfiado, e recebeu como reação um olhar direto do Inferno.

Logo soube o que realmente acontecera naquela madrugada, e nunca mais viu aquele homem que estava à sua frente da mesma maneira.”

– Sem piadinhas, Daniel. – aquele homem que, há muito, eu apenas chamava de pai por obrigação, deu mais alguns passos em minha direção e eu pude sentir o frio toque do aço sob meu queixo. – Não tem amor a vida?

– Amo a vida, sim. Mas não o que a minha se tornou. - eu via sua mão tremer enquanto tentava domar o instinto assassino. Ele estava prestes a puxar o gatilho. – Pelo menos... me conte por que você fez isso. É demais pra entender.

– Eu achava que essa mulher, como fiel da minha Igreja, entendia o seu papel: servir. Mas não, ela começou a querer tomar o meu lugar, tanto aqui quanto na Igreja, assim como fez Lúcifer... Eu duvido que um dia você se case com uma mulher decente, temente a Deus, porque você parece mais um baitola que qualquer outra coisa; mas digo assim mesmo: se um dia você arranjar uma, ensine a ela o seu lugar. Comande a casa. Na Bíblia, lemos que o lugar da mulher é na cozinha.

Não, não, não. Eu realmente pensei que a sessão de decepções estava acabando, mas fiz papel de trouxa mais uma vez. Parte de mim queria rir até 2060 com o quão ridículo havia sido esse “discurso”, a outra parte queria jogar mil argumentos lógicos e feministas na cara dessa criatura sórdida. Pena que tenho uma arma pressionando a parte inferior do meu queixo e pronta para disparar à queima roupa. Não me parece nada sensato. Aliás, nada parece.

– ... você é um monstro. – falei, num suspiro. – Monstro. Monstro. Monstro.

– SATANÁS!

Tiro. Chamo-o de monstro mais três vezes, enquanto sinto um líquido quente escorrer ao longo do meu pescoço. O meu sangue.

– Se você tivesse buscado um tratamento de verdade assim que comecei a apresentar essa gagueira... poderia ter dado certo... – agora meus olhos ardiam e eu não conseguiria mais segurar essas lágrimas por muito tempo. – eu... Só me deixe ir embora daqui... Deus está testemunhando enquanto você atira no próprio filho. Solte-me e eu não vou lhe denunciar. Vou desaparecer pra sempre, inclusive.

– Duvido. – ele disse, friamente, preparando o gatilho de novo.

– Não sei nem se eu sobreviveria no caminho, caralho... Vamos... Se me matar agora vai pegar uns 20 anos de prisão, e eu creio que o senhor não queira isso...

A resposta foi um empurrão para fora do quarto.

Ainda sentia a arma apontada para as minhas costas. Peguei a minha mochila no quarto vizinho e saí lentamente.

Mais um tiro.

Estou preparado para cair da escada, mas não sinto nada além do impacto. Continuo minha descida, então. Gostaria também de soluçar e gritar abertamente agora, mas o pânico fechou a minha garganta. Talvez a dor seja tão grande que me impeça de reagir.

Eu sentia algumas lágrimas caírem e se misturarem ao meu sangue. Espero que você nunca sinta o mesmo que sinto agora.

Termino de descer e começo a correr através das salas. Alcanço o portão e, talvez, finalmente esteja livre.

... mas para onde raios vou agora?

São 21h34min. Corro descontroladamente, camuflado pela escuridão.

Fogo de artifício explode na minha antiga casa.

Isso não vai me parar dessa vez.

* * *

Tomei atalho para a casa (lê-se – mansão) da Sofia, por motivos de a Lana morar praticamente do outro lado da cidade e não ter um tutor lá muito simpático comigo.

O fato de eu estar evitando a avenida diminui a quantidade de seres humanos olhando para a minha pessoa, mas não a elimina totalmente; logo, levantei o capuz do moletom preto sobre a minha cabeça e, várias vezes, pressionei o tecido contra a ferida aberta pelo tiro de raspão. Sim, de raspão. Que bom que Satanás atrapalhou a mira de Aurélio quando ouviu seu nome sendo chamado. Sobre o segundo tiro, cujo só senti o impacto, de fato não deve ter atravessado a minha mochila. Agora tenho um motivo para amar ainda mais os meus cadernos.

Finalmente, avisto a fachada branca da enorme casa dos Soares. Acho que, por um momento – ou melhor, pelo caminho inteiro – esqueci-me de um detalhe: Sofia tem uma família. Mas certo, vou tentar ignorar a provável tempestade que deve estar acometendo esse descomunal copo d’água branco, juntamente com a minha colossal falta de habilidades diplomáticas até nas mais simples situações.

Aperto o botão azul do interfone que fica na parede, ao lado da porta maior, e espero uma resposta.

– Com quem falo às 10 da noite? – diz a voz que reconheço como a do irmão de Sofia.

– Daniel... por favor, chame a Sofia aqui. – respondo, sem fôlego, e incrivelmente tonto. Não se surpreenda se eu desmaiar no meio dessa narração. - ...aqui. Aqui. Aqui. Aqui. Aqui. Aqui. Aqui.

– Já lembro de você, cara. Acredita que nossos pais estão fora até agora resolvendo o treco da Elemento com a companhia de seguros? Achei que você dormiria mais cedo depois do estrago de hoje! – ouvi ele rindo e, em seguida, desligando o interfone interno.

– Nem perto disso, cara.

Uma preocupação a menos quanto ao Sr. e a Sra. Soares. Enquanto espero a princesa descer de sua torre, observo que meu sangue já ultrapassou o casaco, apesar dos meus "cuidados". Ótimo. Fator surpresa.

A porta abre e me surpreendo em não ver Sofia em seus habituais coturnos, mas sim descalça e num vestido violeta.

– Okay, você já me causou problemas demais por hoje, então pode ir dando meia volta. – ela me “cumprimenta”, sem nem sequer conseguir manter os olhos abertos.

Baixo o capuz, revelando ferida, sangue derramado e ainda sorrindo no processo.

– Prazer, Frank Iero.

– JESUS CRISTO, VOCÊ TÁ VOLTANDO DA GUERRA OU O QUÊ?! – parece que eu finalmente consegui acordar a Bela Adormecida. – PUTA MERDA. Entra aqui.

Ela me puxou pelo pulso e, enfim, me senti como num lar pela primeira vez essa noite.


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Notas finais do capítulo

... sério, eu amo vocês. ashuahsuhaus
Ah, antes que eu me esqueça, vocês devem estar esperando por um capítulo da AneChan (Sofia) semana que vem, certo? Pois é, acontece que ela está tirando uma "folga" dessa fic por enquanto e trabalhando numa nova, então, lá vem novidades na conta dela. E, sim, caros leitores - preparem-se pra aturar meu terceiro capítulo seguido na próxima sexta.
É isso.
Até mais! XD