Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 4
R: Bloodshed - pt. 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui entram a tragédia, o suspense e a violência que prometi na parte dos Gêneros dessa fic. Precisei inclusive dividir o capítulo em duas partes, por motivos de ficou muito grande (nos meus padrões de escrita). Amo vocês ♡



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* Daniel's POV *

– Minhas jovens donzelas, eu... eu acho que seria muito conveniente se as senhoritas me matassem agora. - disse honestamente, com a visão do capeta, ou melhor, do meu pai se aproximando da Elemento. Não fazia muita diferença.
Não bastava a perseguição e a magistral batida no poste – há muito transformado numa espécie de Museu da Arte Peniana -, ainda tivemos a sorte de fazer isso em frente à Igreja. Eu sinto que, no momento, seria capaz de me afogar e depois congelar num poço formado a partir do meu próprio suor frio.
Enquanto a maldita figura andava em nossa direção, deixando para trás aquela que – todos já sabemos – é sua amante desde o tempo em que era casado com a minha mãe, eu só conseguia ouvir a respiração pesada de Sofia e Lana embaçando os vidros que ainda permaneceram inteiros.

– Eu espero que o Sr. Ricardo Soares tenha um seguro, a situação vista daqui é quase de perda total. – falou o meu velho, agora num tom mais severo - Ah, e espero que você, Daniel, tenha um motivo decente pra estar dentro de um carro amassado em frente a Igreja Universal do Reino de Deus.

– Claro que tenho, pai. – respondi sarcasticamente - ... pai. Pai. Pai. Pai. Pai. Pai. – precisei dar um tapa na minha própria cara, porque, PUTA MERDA, que hora conveniente pra se gaguejar!

Empurrei a porta ao meu lado e o vidro da janela terminou de se estilhaçar sobre mim. Levantei do banco do carona, e foi então que percebi que o meu corpo inteiro doía, com ênfase nos meus braços, pois eu devo tê-los cruzado sobre a minha cabeça para me proteger do impacto, e, como resultado, eles estavam completamente cobertos de sangue e arranhões.

– Se cuidem, as duas. – eu disse baixinho, me debruçando sobre o carro.

– Boa sorte, Dan. – sussurrou Lana em resposta. Sofia parecia absorta demais em seus pensamentos sobre a bronca que também levaria ao chegar em casa para sequer me ouvir.

Fiz um sinal positivo com o dedão e abri espaço entre os fiéis, tomando meu rumo para casa como se nada tivesse acontecido.

* * *

Cheguei ao portão, propositalmente adiantado, entrei e fui direto para a cozinha procurar algo útil no armário. Localizei água oxigenada, algodão e um rolo de bandagens, meu sangue escorrendo e pingando no chão pelos cotovelos durante o processo.

Fui lavar esses braços no banheiro, e, Deus, como ardia. Encontrei alguns cacos amigáveis de vidro ainda presos em certos pontos de cada membro, e tive que tirar um por um. Maravilha. Depois “desinfetei” os cortes com a água oxigenada, e, enquanto começava a enrolar bandagens nos braços, meu pai simplesmente brotou. Eu realmente gostaria de desaparecer agora, mas isso seria fisicamente impossível.

Ignorei por alguns segundos o fato de que ele havia parado em frente a mim, ainda com seu habitual terno pós-culto, e obviamente exigindo explicações.

– Oi. – me dirigi a ele, levantando o olhar.

– Daniel... eu achava que você já tinha 17 anos, mas pelo jeito estou muito enganado! – ele esbravejou, com sua face ficando vermelha e gotículas de saliva voando de sua boca a cada sílaba pronunciada. – Que ideia foi essa de aparecer com aquelas duas transviadas, na rua da Universal?! Já sei, é Satanás. Ele quer tentar me derrubar de novo, eu vi ele se manifestando quando você falou comigo naquela hora...

– Será que o senhor não pode agir como o homem de 51 anos que é e parar de culpar o Satã ou o raio que o parta o tempo inteiro?! – levantei a voz e a bunda da cadeira. Até quando ele vai agir assim?

– Não fale assim comigo, moleque! Pense duas vezes antes de me afrontar debaixo desse teto, porque sou eu quem te banca!! – ele continuava gritando, e pressionou o indicador contra o meu peito com tanta força que eu continuei sentindo a dor no esterno por 10 minutos seguidos. – Se for aparecer naquela rua de novo, tome cuidado, os clientes, quer dizer, fiéis te viram naquela situação, parecendo que tinha feito um ritual dentro do carro e acompanhado daquela delinquentezinha e aquela ruiva de família impura, certeza que é bruxa. Infelizmente eles ainda lembram que você é meu filho.

Okay, cara, você acabou de cruzar um certo limite.

– ... Não vou mais nem entrar naquela rua. Certo, assim? Obrigado. Aliás, já é noite e eu não jantei ainda. Vou passar no dogão da praça. Com licença. – confesso, uma das coisas mais irritantes da vida é ter que agir como o estagiário novato da empresa só pra fugir dessas malditas discussões, mas é a solução que eu acabo encontrando, pelo menos até completar meus 18 anos.

Subi as escadas em espiral que levavam ao primeiro andar com a disposição e agilidade de um atleta, apesar de estar cansado pra caralho por dentro, e entrei no meu amado quarto. Terminei de amarrar as bandagens, vesti um moletom preto por cima da camisa cinza, mais para cobrir os braços que para evitar o frio. Em seguida, catei algumas moedas na mochila que uso na escola, coloquei-as num bolso e desci a escada na mesma velocidade com que subi.

Acenei pro meu pai e me dirigi ao portão, onde Sheila – ah, esse é o nome dela! – ainda esperava para entrar, provavelmente porque já sabia que iríamos discutir ao chegar em casa. Ela me olhava como se eu tivesse acabado de arrancar a cabeça de um hamster com a boca e esguichado o sangue na minha cara. A mulher entrou rapidamente e sem encostar em mim. Certo, jovem, acalme-se... era só parte do meu ritual, e sangue de hamster faz muito bem à pele.

Por que eu penso tanta merda enquanto ando sozinho?

* * *

Barriga cheia e pé na estrada (ou quase isso). São 21h17min quando volto do trailer de hot dog e entro na minha rua – que, aliás, devia ganhar o Oscar Imaginário da Má Iluminação, já que eu só via dois postes acesos.

São 21h19min quando eu ouço um tiro. Dois.

Por favor, que não seja o que eu estou imaginando. Isso é tudo fruto da minha conturbada e ansiosa imaginação. Com certeza foram fogos de artifício.
Abro o portão, um tanto trêmulo. Ao adentrar na sala de estar, não vejo uma luz acesa sequer. Mal identifico a silhueta da escada espiral. A escuridão da rua invadiu essa casa também.

Não ouço o som da cama rangendo no primeiro andar, como era comum quando o pastor Aurélio resolvia transmitir seus “ensinamentos bíblicos” à Sheila, sua mais dedicada discípula.

Começo a subir a escada, meus All Stars de cano médio reproduzindo o mesmo silêncio que os cômodos a minha volta. Atinjo o primeiro andar. Só a luz do meu quarto está acesa, pois a deixei assim quando saí. A porta seguinte está fechada. Começo a me aproximar da mesma, e, consequentemente, a ouvir alguns gemidos baixos. Mas não o tipo de gemido que eu normalmente presenciava por aqui. Eram genuínos gemidos de culpa, quem sabe desespero.

Eu lentamente giro a maçaneta e abro a porta do quarto do meu pai, e, em seguida, desejo nunca tê-lo feito.

Vejo algo escuro – que identifico como sangue, porque seu cheiro estava por todo o quarto – nos lençóis e na parede atrás da cama de casal. Vejo o corpo nu a quem pertence esse sangue debruçado sobre o colchão, com seu braço esquerdo pendendo para fora do mesmo.

Ah, vejo quem fez isso. O dono dos gemidos de lamento encara o corpo sem vida com um revólver na mão.

– Será que o senhor poderia não matar cada mulher com quem se envolve?... – disse, tentando esconder o pânico que em breve tomaria conta de mim.

Apontando o revólver em direção ao meu rosto, vejo, na penumbra, que acabara de acordar um monstro. O assassino me dirige o olhar mais maníaco que eu já tive a infelicidade de vislumbrar. Sua ira era palpável até mesmo na escuridão, e posso lhes dizer, algo assim eu só havia sentido quatro anos atrás.


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Notas finais do capítulo

... eu tô morrendo. ahsuahuhsusah
Não sei se sinto pena do Dan por estar fazendo isso com o coitado, ou rio like a Malévola porque amo torturar meus personagens. É isso aí, povos. Fiquem com a segunda parte na sexta feira! XD