Fabulosa Inconsistência escrita por Something Ville Citizen, Hope


Capítulo 11
R: Fragments of Decay


Notas iniciais do capítulo

ALÔ ALÔ, VOCÊS SABEM QUEM SOU EU??? GRAÇAS A DEUSX.
Quase 4 meses depois do último capítulo, aqui estou, porque quem é vivo sempre aparece (ou não, se vocês se lembrarem dos ex-co-autores dessa budega aqui). Dessa vez, com wi-fi, nome novo e ideias novas, chegay pra atualizar e animar o domingo de vocês. A propósito, se alguém conseguir enumerar a quantidade de vezes em que eu já troquei a capa da estória, automaticamente ganhará um biscoito. Eu envio por Sedex.
Sem mais delongas, boa leitura!!!



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*Daniel’s POV*

À medida que a escuridão absorvia as cores da cidade, a iluminação pública fazia sua tentativa de suprir a falta de luz natural. Os postes iam acendendo, e eu ia andando ao longo da avenida, praticamente fazendo cosplay de eu-lírico de Boulevard of Broken Dreams.  Em frente à vitrine de uma loja de roupas – que parecia quase tão deserta quanto a rua em que se encontrava –, eu parei para observar o meu reflexo sobre a superfície espelhada.

Minhas olheiras eram dignas de alguém que passara as últimas 48 horas de sua vida numa balada regada à álcool, drogas e Rock n’ Roll, só que permanentemente acordado e sem direito à diversão. Por um instante, eu jurei ter visto meu “eu” refletido piscar e esboçar um sorriso sádico.

Uma ambulância passou a toda velocidade atrás de mim, em direção à Igreja Universal, e, automaticamente, meus pensamentos também a seguiram. Sentei na calçada, olhando para o nada.

 - Você já parou pra pensar que essa realidade pode ser uma de muitas? – disse, repentinamente, uma garota de cabelos curtos e escuros, provavelmente um ou dois anos mais nova que eu, cuja, à propósito, nunca vi na vida.

— ... o quê? – respondi, desconcertado, enquanto levantava meu rosto.

— Isso mesmo, meu jovem. – ela sentou, sem cerimônias, ao meu lado. – Melhor ainda: e se cada acontecimento nas nossas vidas estivesse sendo escrito por alguém que você sequer pode enxergar, a não ser que esse alguém deseje? Cada pessoa que conhecemos fosse apenas um personagem que pode, ou não, ter um papel importante nessa história?

— Bem, nesse caso... viver não teria mais o mesmo sentido. Nós não seríamos donos de nossas próprias ações nem poderíamos mudar o destino, não é? Saudades, livre arbítrio.

— Pelo menos, a cada desastre que acontecesse, poderíamos culpar o autor. – a desconhecida sorriu.

— De fato. Ah, se eu encontrasse o autor da minha história por aí... Não sei nem se ia preferir torturá-lo fisicamente ou psicologicamente. Os dois, talvez... – declarei, surpreso com a quantidade de frases que eu já havia falado até o momento, e sem a presença da gagueira bizarra. Ela engoliu em seco.

— Caro Daniel, no seu lugar, eu não guardaria tanto ódio nesse coraçãozinho. – ela sorriu novamente, como se, internamente, conhecesse todo o meu passado e futuro.

Espera. Ela sabe o meu nome?

— Você... ué, como sabe que eu me chamo Daniel?

— Sou uma assídua leitora de jornais – ela disse, após uma pequena pausa. – De todo jeito, boa sorte com os fiéis e com certos babados que podem acontecer a partir de agora. Ah, e você também acaba de se livrar de algo que lhe incomodava há anos. Acredite em você mesmo. Foi um prazer te conhecer, depois de tanto tempo! – a garota levantou e espanou a poeira do short jeans.

Mais babados? É demais pra mim. – disse, rindo. Resolvi ignorar a parte do “depois de tanto tempo”, porque a situação já estava muito estranha mesmo sem ela. Levantei também e apertei a mão da desconhecida. – Também foi um prazer ter essa conversa filosófica no meio da calçada. Já que sabe o meu nome, creio que seja justo também saber o seu, estou certo?

— Está sim, mas... bem, não sei se eu deveria. Ainda é cedo. Talvez ainda nos encontremos, quem sabe?

A garota foi até a porta de vidro da loja de roupas, acenou pra mim, obedeceu à placa branca e vermelha que dizia “EMPURRE” e entrou.

— Ei!... – soube que a curiosidade me mataria se eu não entrasse também, então o fiz. Imediatamente, não vi ninguém dentro do estabelecimento, com exceção de uma vendedora sentada atrás do balcão. Seu cabelo era cor de mel, longo e estava preso num rabo de cavalo. Logo, mesmo que eu quisesse acreditar que ela tinha algo a ver com a moça misteriosa, seria impossível dizer isso.

— Boa noite, posso ajudá-lo? – ela me cumprimentou, levantando-se de seu posto. Tenho a “leve” impressão de que ela estranhou o meu aspecto de mendigo drogado, mas não quis deixar isso óbvio.

— Olá, eu... – que comece o papel de trouxa: – eu estava vindo aqui com uma prima minha, e ela acabou de entrar na frente. Ela já foi pro vestiário ou algo assim? – indaguei, mostrando a minha melhor expressão de inocência no rosto e na voz.

— Hmmm... – ela parecia estar medindo as palavras, enquanto olhava para os lados. – Eu não me lembro de ter visto ninguém entrando aqui nos últimos dez minutos, mas...

— Não, sem problemas, acho que ela entrou na loja vizinha – tentei parecer menos decepcionado e mais “primo pisciano” – Desculpe, eu sou mesmo distraído. Boa noite! – saí de fininho, sorrindo amarelo.

Com poucas ressalvas, esse foi um dos momentos mais estranhos da minha vida. Brota uma menina do nada, mas que sabe meu nome e começa a conversar sobre universos paralelos comigo no meio da calçada. Depois, ela dá uma de profeta e desaparece com a mesma rapidez. Okay, mais uma coisa sobre a qual pensar essa noite.

Aliás... eu literalmente não tenho um ataque de gagueira sequer desde que comecei a conversar com ela. “Ah, e você também acaba de se livrar de algo que lhe incomodava há anos.”, disse sua voz em minha mente. Esse algo seria, justamente, o meu problema? Filha da mãe, poderia ter aparecido uns 8 anos atrás... Mas, fora isso, eu fico muito agradecido e saio falando sozinho ao longo da avenida deserta para testar o meu novo “poder”.

*      *     *      *     *

Eu estou quase a 2 minutos da casa da Malu, quando meu celular (sim, o fafadinho estava dentro do meu bolso) começa a vibrar e tocar. Eu o pego e o visor denuncia: é Lana, a última pessoa de quem eu esperava receber uma ligação – ela odeia ligações, assim como eu. Ignorando esse fato, atendo, com o coração quase a sair pela boca:

— Lana?

— Alô,... Sr. Daniel Costa? – ouço uma voz masculina do outro lado da linha, o que me decepciona por um lado e me preocupa por outro. – Aqui é o enfermeiro Augusto. Estou ligando do hospital onde a paciente Lana Guimarães foi atendida há pouco...

— Do hospital?! O que aconteceu com ela?

— Ela sofreu um pequeno acidente dentro de casa, mas os devidos socorros já foram prestados. Não se preocupe.

Basicamente, o resto da conversa se resumiu em tentativas de me acalmar e na explicação para a ligação em si: aparentemente, eu estava entre os contatos de emergência no celular de Lana. Victor era o principal, mas todas as tentativas de contatá-lo terminavam com a voz da moça da operadora dizendo que ligação seria enviada para a caixa de mensagens. Como “responsável” temporário, meu dever era ir buscar a minha amiga no hospital. E foda-se o fato de que eu tenho a mesma idade que ela, acho.

*     *     *     *     *

Ao chegar à ala onde Lana estava, me deparei com sua figura sentada na beira de uma maca, na companhia dos seus fiéis tênis de luzinhas. Um deles estava calçado em seu devido pé, enquanto o outro jazia no chão, afinal o membro que o deveria abrigar estava embrulhado em faixas de gaze (favor, não confundir com faixa de gaza).

Quando ela notou minha existência e virou o rosto para falar comigo, percebi que estava com uma expressão tão digna de zumbi figurante em filme pós-apocalíptico quanto eu.

— O que aprontou dessa vez, mocinha? – perguntei, imitando uma mãe que está prestes a dar um bom sermão.

— Nada demais, só... me atrapalhei um pouco com a minha bagunça, acho.

A voz de Lana estava tão fraca que parecia capaz de quebrar. Agora, eu era a mãe que estava simplesmente preocupada demais para dar um sermão – ele poderia esperar.

— Tem algo mais aí, não é? – arrisquei, sentando-me ao lado dela. – Me disseram que você nem apareceu na aula hoje.

— Se você perguntasse ao zelador, saberia que apareci, sim. Só não à aula propriamente dita. – ao ver meu olhar inquisidor, ela resolveu ceder. – Okay, eu vou contar tudo...

A ruiva passeou ao longo dos fatos, desde a sua chegada à escola essa manhã, o encontro com Jéssica, a “fuga”, a quase overdose, finalizando com o momento em que caiu no banheiro. Sim, contabilizando, foram duas entradas no hospital só hoje.

Sem saber o que comentar, peguei o tênis que não estava no pé de Lana com uma mão e fiquei apertando a parte traseira da sola com a outra, fazendo as luzinhas piscarem. A dona também ficou entretida por um momento. Logo após, eu saberia que esse momento também serviu pra reflexão:

— Dan, é impressão minha ou... – ela deixou no ar, esperando que eu entendesse e respondesse.

— Os seus tênis são muito bem cuidados? É verdade.

— Não, não era isso... É que, desde que você chegou, não te ouvi gaguejar uma vez só.

— Ah, então... – essa foi a minha vez de narrar o meu dia.

Adicionei, ao concluir o discurso, que o dia dela havia sido ainda mais animado que o meu. Rimos pra não chorar. Quando percebi, estávamos debatendo sobre como seria legal saber virar panquecas só com o movimento da frigideira, assim como os cozinheiros fazem na TV. Essa parte da conversa me deu fome, o que me levou a lembrar que minha barriga estava roncando há mais de meia hora e que eu precisava voltar pra casa de Malu.

Acontece que, como, aparentemente, minha função aqui era de “levar a paciente até a sua residência em segurança”, eu deveria cumprir essa tarefa antes.

Enquanto Lana se levantava da maca, peguei as muletas que repousavam ao lado da mesma e comecei a desfilar pela sala com o apoio delas.

— Ei, acho que o senhor acaba de cometer um equívoco. – chamou minha atenção a ruiva, com um sorriso.

— Não, não mesmo. Também sou um paciente – justifiquei-me, exibindo a quantidade absurda de ataduras e curativos que estavam por baixo do meu casaco.

— O senhor parece ser um típico paciente acometido por uma condição psicológica preocupante, meu caro. Mas, não se preocupe, ela costuma desaparecer junto com a adolescência do indivíduo.

— E que condição seria essa, Dra. Guimarães?

— O transtorno do emo-fora-de-época, caro Daniel. Causa frequentes pensamentos a respeito de lâminas e levam o paciente a ouvir My Chemical Romance excessivamente.

— ... eu quero o divórcio, agora. – respondi, enquanto ria igual um retardado.

Como sinal da minha decisão, devolvi as muletas para que Lana pudesse se apoiar nelas e, finalmente, sairmos. O tênis “abandonado” me foi oferecido, então o carreguei ao longo de todo o caminho até a casa de sua dona, mas sem parar de apertar a sola, é claro. Aquilo era especialmente útil nos trechos mais mal-iluminados da cidade.

— Só pra variar, fica bem. Vou ouvir Lana Del Rey hoje em sua homenagem. – declarei, ao chegarmos em frente ao portão do condomínio habitado pela nossa moça de muletas.

— Sinto-me lisonjeada. – ela fez uma mesura. – Desejo-lhe o mesmo, inclusive, vou ver um filme com o Daniel Radcliffe... não, pera. Ah, também não sei se vou pra escola amanhã, mas quero ver você lacrando tudo. Participe da maior quantidade de argumentações possíveis.

— Meu objetivo é fazer nado sincronizado nas lágrimas das inimigas.

— Sai da jaula.

— É treze mermo, porra.

— BIRRRLL.

E, com essa despedida singela e banhada em elegância, seguimos nossos respectivos rumos. O resto da noite se resumiu em jantar, dar explicações à Malu e sua mãe, fazer algumas lições de casa e chorar debaixo do cobertor. As definições de esperança foram atualizadas: tem aula de História amanhã...


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Notas finais do capítulo

Se, por algum motivo, alguém não entendeu a referência ao final da conversa, aqui está o meme de onde ela saiu: https://www.youtube.com/watch?v=tMb32brZ4LU
AQUI NÓIS CONSTRÓI FIBRA, PORRA!
Em caso de dúvidas, elogios, críticas, teorias, sugestões e xingamentos (tô aceitando de tudo), por favor, não tenham vergonha de escrever nos comentários. A titia Robin ama todos vocês! ♥



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