See The Light escrita por Junebug


Capítulo 9
Capítulo 9




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Shine, shine like the sun

Brilhe, brilhe como o sol

Spread your warmth through everyone

Espalhe seu calor para todo mundo

I asked you why people die

Eu te perguntei por que as pessoas morrem

You said we all had a design

Você disse que todos nós tínhamos um propósito

(All Those Friendly People – Funeral Suits)

~

Naquele dia, Nico acordou muito cedo. Primeiro pensou que tinha sido despertado pela chuva que caía lá fora. Então ele teve certeza de que precisava levantar logo para chegar num lugar.

Nico esfregou os olhos, tentando pensar com clareza. Claro que ele precisava chegar num lugar. Tinha que ir para a escola, como todos os dias. Mas era muito cedo ainda. Ele virou para o outro lado, para dormir mais uma hora. Mas aquele pensamento continuava voltando. Sua consciência parecia estar oscilando... Nico deu um pulo, sentando na cama.

– Você está aí? – ele perguntou para o quarto vazio.

Não se sentia tão assustado quanto era de se esperar. Estava mais para indignado.

– Vá embora! – ele disse, apertando os punhos.

Nico se levantou e andou de um lado para outro do quarto, mas a sensação de ansiedade não passou. Ele foi até a janela e encostou a testa no vidro gelado.

– Você é o garoto Avery? – ele perguntou. A sensação era a mesma que ele tinha sentido quando vira o homem com o garotinho. Ansiedade com um toque de melancolia. Não chegava a ser terrível, mas não deixava de ser incômoda.

Um trovão fez a janela tremer. Não houve qualquer resposta, embora Nico talvez sentisse ainda mais certeza de sua suspeita. Não podia negar que estava curioso, mas também sentia que ir atrás disso só lhe traria problemas, coisa de que ele absolutamente não precisava. Será que essa curiosidade não era só coisa do espírito mexendo com sua cabeça? Nico bateu no vidro, irritado.

Quando ele saiu de casa não muito tempo depois, o pouco que restava da sua própria consciência sabia que aquilo era uma das coisas mais idiotas que ele já tinha sido impelido a fazer.

Quando finalmente se sentou no ônibus da estação rodoviária, seus pés estavam ensopados dentro dos tênis, as mãos e a ponta do nariz geladas. Mesmo com o aquecedor no assento do ônibus, ele ainda se sentia meio gelado quando chegou ao seu destino, perto do lago. A visão do lugar em que estivera tão ansioso para estar, no entanto, o fez respirar fundo, revigorado.

Naquele lugar afastado da cidade havia alguns chalés que eram alugados principalmente para veranistas e pessoas que praticavam caça esportiva no outono, fora da reserva. Apesar da chuva já ter passado ali, o céu continuava ameaçando mais água. Provavelmente por isso a área não estava muito movimentada.

Nico sabia para qual chalé se dirigir. Basicamente era uma construção triangular de madeira e vidro, como as outras. Quem atendeu a porta foi uma mulher miúda de meia idade, olhos cor de mel e cabelos castanhos encaracolados. Ele sorriu para a mãe.

Os olhos dela tinham adquirido uma expressão constante de tristeza ao longo daqueles anos, mas agora, depois de uns segundos de confusão e assombro, eles brilharam de entusiasmo e um enorme sorriso se abriu em seu rosto.

– Timmy!? – ela diz, jogando os braços ao redor do pescoço dele. Um abraço diferente do que ele se lembrava nesse corpo mais crescido, mas não menos caloroso. Nico sentia uma espécie de energia fluir entre os dois. Ele retribuiu o abraço, também sorrindo. – Você veio mesmo! Timmy! Timmy!– Ela se afasta o suficiente para conseguir dar uma olhada no rosto dele. Passa uma mão nos seus cabelos. – É você mesmo, não é? Meu Timmy. Eu sabia que você viria! Entre. Entre.

– Onde está o papai?

– Ele teve que sair cedo para resolver umas coisas. Ma ele disse que estaria de volta para o almoço. – Ela o olhou de alto a baixo e parou, observando a barra das calças dele. - Seus pés estão ensopados. – Ela disse com um olhar desaprovador não muito intimidante. – Tire-os, junto com as meias. Eu vou colocar na secadora.

Nico fez isso. Quando ela voltou e se sentou ao seu lado, sem parar de observa-lo ternamente, ele passou os braços ao seu redor, se encolhendo como uma criancinha. Ela beijou o topo da sua cabeça.

– Você está com fome? Vou fazer seu café.

– Posso comer bacon e panquecas com chocolate?.

– Claro – ela respondeu, passando as mãos no cabelo dele.

Na cozinha, Nico a assistiu preparar coisas com cheiro maravilhoso, virando de vez em quando para sorrir para ele. Ele também não parava de sorrir, sentado à mesa. Era muito bom estar de volta, sem doença, sem problemas.

A mãe serviu seu café e se sentou ao seu lado, onde permaneceu com o queixo apoiado em uma das mãos.

– Senti tanto a sua falta – ela disse em certo momento.

– Eu estive sempre por perto – respondeu Nico. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Nico acrescentou, aumentando seu sorriso: – Vai ficar tudo bem.

Ela assentiu, limpando o canto dos olhos, e, voltando a se animar, perguntou:

– O que você quer fazer depois do café?

– Podemos andar de barco no lago?

Havia barcos para alugar no cais. A Sra. Avery apresentou o menino como seu filho ao barqueiro que iria com eles.

Nico adorou quando o homem deixou que ele assumisse a condução do barco por um tempo. O vento batia em seu rosto naquela manhã nublada. Na margem distante, havia um canyon cercado de pinheiros. A vista o agradava muito.

Tudo era perfeito, até ele começar a espirra depois de mais de uma hora de passeio. Nico estava ouvindo as misteriosas histórias nativas que o barqueiro contava. Sua garganta e seu nariz começaram a arder. Coisa da chuva que ele tinha pegado mais cedo, com certeza.

À medida que começava a se sentir febril e com uma dorzinha de cabeça chata, era como se Nico despertasse aos poucos de um sonho, e se perguntava o que diabos estava fazendo ali com aquela mulher sorrindo para ele, e ele, por algum motivo, sorrindo de volta. Era como acordar numa realidade alternativa bizarra. O sorriso da mulher era perturbador. Um sorriso gentil demais para receber de uma estranha.

Nico tinha se afastado dos outros dois o máximo que podia no barco pequeno, e agora olhava pensativo para a água escura do lago apoiado na amurada. Ele não se sentia muito bem fisicamente, mas era bom ter os pensamentos claros de volta por um lado, por outro lado, ele queria que aquilo tudo fosse um pesadelo e esperava despertar de verdade a qualquer momento.

Ele já tinha lidado com situações esquisitas por causa dos fantasmas. Nico tentava ao máximo ignora-los, mas às vezes tentar fazer o que eles queriam era simplesmente mais fácil. Era assim que ele tinha encarado a situação naquela manhã, até que agora percebia que a coisa tinha sido mais como quando ele era “possuído” ou o que fosse que acontecia quando o espírito assumia o controle do seu corpo.

Até o momento, achava que só espíritos vingativos eram capazes disso. Parecia haver algum código de conduta entre os espíritos “normais”, que só os autorizava a inferniza-lo “por fora”. Por isso, ele nem tinha percebido o espírito de Tim sutilmente assumindo controle.

Nico podia estar enganado, mas ele acreditava que isso era coisa de espíritos mal intencionados. Havia algo de mal intencionado em Timothy Avery, o garoto que aparentemente só queria estar perto dos pais? E como diabos os pais dele estavam nessa também? Eles também eram capazes de enxergar fantasmas?

– Algum problema, querido?

A Sra. Avery tinha se aproximado dele. Nico olhou nos olhos dela, procurando decidir se ela parecia louca. Tudo que ele encontrou foi uma preocupação que parecia sincera. Pelo visto, ela realmente acreditava estar falando com o filho.

Aquele olhar acabou desarmando Nico da resposta impulsiva e malcriada que ele tinha planejado dar.

– Acho que estou ficando resfriado – ele resmungou, tentando se desvencilhar lentamente da mão dela que segurava seu braço sobre a amurada.

– Ah, querido – ela colocou uma mão no rosto dele, procurando sentir a temperatura. – Vamos voltar. Eu vou preparar um ensopado para você. Carneiro. Seu preferido.

Nico detestava carneiro. Nesse momento, ele enxergou Tim segurando o braço da mãe com as duas mãos. O garoto olhava irritado para Nico, que ainda se perguntava por que afinal Tim deixara seu corpo.

Pelo olhar irritado do fantasma, Nico só podia concluir que ele estava frustrado e não tinha simplesmente decidido deixar Nico em paz. Algo o obrigara a fazer isso. Será que havia alguma espécie de prazo? Ou... Nico espirrou mais uma vez. Claro! Ele tinha recuperado a consciência à medida que começava a se sentir doente. Por algum motivo, Tim não podia controlar seu corpo doente. Talvez isso se aplicasse a todos os espíritos, ou talvez fosse só porque Tim tinha sido um garoto muito doente em vida e a idéia de habitar um corpo problemático fosse desagradável para ele.

De qualquer forma, Nico passou boa parte do percurso de volta observando Tim Avery, como se isso fosse lhe trazer alguma resposta. O fantasma continuava a agir como se aquele fosse um dia de passeio com a mãe. De acordo com aquela nota da internet, se é que ela se referia realmente a ele, o garoto morrera com nove anos. Mas ele parecia mais jovem, talvez porque era franzino, ou porque ficava agarrado à mãe como se tivesse três anos.

A Sra. Avery, provavelmente atribuindo a mudança de humor de Nico ao fato de ele estar se sentindo mal, não pareceu notar nada mais de errado.

De volta ao chalé, eles descobriram que John Avery retornara. Nico prendeu a respiração quando o homem olhou para ele por trás de seus óculos quadrados. Ele não parecia tão à vontade, mas abriu um sorriso cauteloso.

Ele apertou o ombro de Nico e perguntou:

– Como você está?

– Parece que ele está pegando um resfriado – respondeu a Sra. Avery voltando a segurar o braço de Nico. – Mas vamos cuidar dele. Tenho certeza que amanhã, já vai estar ótimo para uma trilha no bosque. O que acha, querido? Você sempre quis ser escoteiro.

Nico olhou da cara sorridente dela para o sorriso forçado do marido e não pôde mais se conter:

– É no bosque que vocês vão jogar meu corpo depois de me assassinar ou só estão querendo mesmo brincar de casinha?

John Avery soltou imediatamente seu ombro, colocando as mãos nos bolsos. Ele tinha a expressão de um cientista que viu um experimento importante falhar. Tim, agora ao lado do homem, estreitou os olhos para Nico.

A Sra. Avery, por outro lado, o apertou mais forte.

– O que está dizendo, Timmy? – ela parecia prestes a cair no choro.

– Solte-o, Susan. Ele não é Timothy.

– O que está dizendo? Ele veio até aqui. Disse que esteve sempre por perto.

Nico evitou encara-la e puxou o braço, prosseguindo:

– Vocês dois planejaram isso? Como?

– Timmy! Fale comigo, Timmy! – Ela tinha se colocado à frente de Nico e agarrava seus pulsos, desesperada, com lágrimas nos olhos. – Diga ao seu pai o que me disse mais cedo!

– Susan, por favor – John Avery agarrou os braços dela e tentava afasta-la de Nico delicadamente.

Nico desviou o rosto, porque, apesar das circunstâncias, não era fácil ver aquilo. Ela chegou a cair de joelhos, chorando. Vendo que o garoto não reagia ao seu apelo, Susan Avery foi cedendo, até que marido conseguiu fazê-la tomar algum comprimido na cozinha e convence-la a ir descansar no quarto. Tim foi com ela, segurando sua mão.

Nico foi deixado um tempo sozinho. Ele ficou ali de pé, esperando, até que John Avery veio descendo as escadas de madeira, limpando os óculos na camisa. Ele deu uma olhada em Nico e soltou o ar, esfregando o rosto antes de recolocar os óculos.

– Você vai me explicar tudo – Nico exigiu. Sua cabeça doía cada vez mais, mas ele não sairia dali enquanto não ouvisse o que queria saber.

Como se não o tivesse ouvido, o homem foi até a cozinha. Ele tirou do armário uma garrafa de whisky e mostrou a Nico por cima da divisória entre a sala e a cozinha.

– Quer um pouco? – ele perguntou e depois riu baixinho, sem humor.

Com os olhos, Nico procurou deixar ainda mais claro que não estava para graça. O homem voltou para a sala com a garrafa e um copo.

– Por que não se senta? – ele perguntou, fazendo isso.

– Não quero me sentar.

John Avery encheu o copo, que ele virou de uma vez na boca. Depois encheu de novo e ficou tomando golinhos, olhando para o chão.

– Timothy... – ele finalmente falou - ele era como você. Quer dizer, é o que achamos. – O homem se jogou no encosto do sofá, passando a encarar Nico.

– Como eu?

– Ele dizia que via gente que ninguém mais conseguia ver. Susan e eu achávamos que era só coisa de criança, amigos imaginários... Ele sempre acordava à noite, dizendo que havia gente em seu quarto e nós achávamos que ele só estava tendo pesadelos. Era importante que o encorajássemos a manter a calma, porque ele tinha problemas cardíacos. Nasceu com uma má formação no coração... – Ele parecia estar achando difícil lembrar dessas coisas, então voltou a encher o copo.

Nico esperou que ele continuasse.

– Ele não resistiu ao transplante. Susan ficou... muito abalada pela morte de Tim. Nós dois ficamos, mas ela... Ela precisou de medicação. Chegou a passar um tempo numa clínica... Quando saiu, ela se tornou obcecada por pessoas que alegavam ver fantasmas e essas coisas... De um tempo para cá, ela começou a se convencer que se achássemos a pessoa certa, poderíamos falar com Tim de novo...

– E assim chegaram até mim? – Nico o interrompeu.

O Sr. Avery olhou-o como um professor aborrecido por uma interrupção e continuou como se não tivesse ouvido Nico:

– Há um mês mais ou menos... Susan descobriu... o câncer... Eu percebi que precisava ajuda-la com sua obsessão para que ao menos houvesse uma chance de ela se dedicar ao tratamento... Semana passada, eu vi o vídeo de um garoto que teria atacado uma colega de escola por supostamente estar possuído pelo espírito de outra que tinha se matado...

– Maldito vídeo – resmungou Nico. O homem riu.

– Eu achei que era uma piada, mas Susan decidiu que era exatamente o que estávamos procurando... Foi assim que cheguei à sua escola. Eu duvidava que ia sequer conseguir vê-lo por lá, mas ali estava você. E... aqui está você novamente! – Ele concluiu levantando o copo na direção de Nico.

Nico percebeu que toda aquela situação desafiava tudo em que John Avery acreditava. Nico quase sentia pena do homem. Quase.

– E vocês pretendiam me manter por aqui até quando exatamente? Como iam fazer isso?

– Garoto, eu estou dizendo que não esperava realmente que isso fosse acontecer! – E atirou o copo no chão, sem chegar a quebra-lo. O copo saiu rolando espalhando o que restava do líquido cor de ferrugem. – Minha cabeça vai explodir. – O Sr. Avery apoiou a testa nas mãos, parecendo exausto.

Foi quando Tim Avery desceu as escadas, voltando à sala. Posicionou-se de pé atrás do pai e voltou a encarar Nico como se ele lhe tivesse roubado algo. Nico passou um tempo observando o garoto e o homem.

A cabeça de Nico não estava muito melhor. Além da dor, mil pensamentos o perseguiam. Ele sentia que não estava se dando conta de algo importante. Tim foi sentar-se ao lado do pai, segurando-lhe o braço, como se quisesse consola-lo, sua expressão suavizando um pouco.

– Afinal, o que você ainda está fazendo aqui? – Nico acabou perguntando em voz alta.

– O quê? – perguntou John Avery.

Nico o ignorou e sustentou o olhar de Tim. Assim ele sentiu com mais força o que Tim ainda carregava. A ansiedade, a tristeza... Solidão. E Nico soube.

– É ele – Nico deu um passo para trás.

– Q-quê... o que está acontecendo? O que você está dizendo? – perguntou o Sr. Avery, nervoso.

– Ele ainda está aqui porque se sente solitário e está ansioso para ter companhia... – Nico disse, sem saber direito como descobrira isso, mas tinha certeza. – Você diz que acha que ele era como eu – ele voltou-se novamente para o Sr. Avery. - Isso pode tê-lo levado a escolher ficar aqui... O problema é que isso não é nada bom para vocês. Ele pode não querer isso, mas está fazendo mal para os dois.

John Avery o encarava com olhos arregalados e óculos tortos, a boca meio aberta. Parecia estar tentando se levantar, mas não conseguia se mover.

– V-você... – ele tentou falar.

– Sr. Avery, se quer mesmo ajudar sua esposa, sugiro que tentem faze-lo se afastar.

– Acha que a doença de Susan tem algo a ver com Tim?

– Não é impossível. O que eu sei é que a presença dele não é nada saudável. Querendo ficar perto de vocês, ele só os está arrastando com ele... Ele tomou meu corpo por algumas horas e me sinto péssimo. Tim, você consegue entender? – Nico tentou encontrar algum sinal de arrependimento no garoto fantasma, mas era impossível saber o que ele estava pensando. Ele olhava para o pai, como se esperasse por sua reação. – Você precisa tentar seguir em frente...

– Pare com isso! – Quem falou foi Susan Avery. Ela tinha voltado. Os olhos, agora secos, furiosos, enfrentando Nico. – Você não tem o direito de afasta-lo de nós! Vá embora!

– Susie, você ouviu o que ele disse?

– Timmy está sozinho e nos quer perto dele – ela respondeu, sem tirar os olhos de Nico. - Eu mal posso esperar para revê-lo – sua voz voltava a ficar chorosa, mas ela estava determinada.

Ali à sua frente, Nico podia ver os três. Susan Avery desafiadora, Tim, agora de novo de pé, logo atrás da mãe e John Avery, ainda paralisado no sofá, olhando da esposa para Nico, assustado.

– Vá embora – ela repetiu, pegando a mochila de Nico ainda no sofá, indo até a porta e abrindo-a.

– Eu vou, sim – Nico pegou a mochila que ela lhe estendia. – Tenham uma boa vida – ele acrescentou irônico enquanto saía. Em seguida a porta bateu atrás dele.

Nico não podia acreditar naquilo tudo. A realidade era ainda mais surreal que suas suspeitas. Ele procurou se sentir bem por ter saído daquele antro de loucos, mas a sensação de alarme e medo de quando percebera a verdade não queria deixa-lo.

Como se seu dia não pudesse ficar pior, ele ainda teve que esperar quase duas horas na estação pelo ônibus que o levaria de volta à cidade.

Quando chegou em casa, tinha voltado a chover, e ele estava definitivamente com febre. Nico se jogou na cama, mas não conseguia relaxar. Ele procurava se convencer de que nada daquilo era da sua conta, mas não estava funcionando muito bem.

Quando Hazel chegou, insistiu que tomasse comprimidos. Depois disso, ele finalmente caiu no sono, mas no dia seguinte ainda se sentia muito mal para ir à escola.

No fim da tarde, a campainha da porta tocou. Nico quis esperar até quem quer que fosse desistir e ir embora, por isso continuou embrulhado em seus cobertores em silêncio. Mas a pessoa insistiu, e insistiu.

Com um grunhido, Nico se obrigou a levantar e ir ver quem era. Talvez Hazel tivesse esquecido a chave ou algo assim.

– Finalmente – disse Will Solace, contrariado, quando ele abriu a porta.

– Você – retrucou Nico, sonolento. – O que veio fazer aqui?

– Hazel me disse que você estava resfriado. Ela ainda não está aqui?

Nico lembrou que dia da semana era.

– Quarta-feira – ele resmungou. – Aula de equitação. Ela sempre perde a noção do tempo... Você não precisava ter vindo.

– Tudo bem. Somos vizinhos.

– Somos nada.

– Claro que somos. Moramos no mesmo bairro.

– Cale a bo... – O resto da palavra foi uma tosse. – Droga.

– Poxa, você está mesmo mal... Já tomou algum remédio hoje?

Nico assentiu.

– Hazel os deixou no criado-mudo...

– Você precisa de bastante descanso.

Nico olhou para ele, irritado.

– Era justamente o que eu estava fazendo até ter que descer aqui.

Ele se virou e subiu de volta para o quarto. Esperava que Will fosse embora ou fizesse o que quisesse desde que não o perturbasse, mas algum tempo depois, lá estava o garoto cutucando-o para que ele abrisse os olhos.

– O que é isso? – ele perguntou sobre a caneca que Will lhe estendia.

– Leite. Com mel.

Nico ficou olhando aquilo não muito animado.

– Tome logo – Will o encarou, cruzando os braços.

Nico se sentiu coagido a tomar a bebida. Por sorte não era ruim. E pelo menos assim ele conseguiu voltar a ficar sozinho. Quando acordou muito tempo depois, ele nem conseguia dizer se aquilo tinha acontecido de verdade, ou se tinha sido só um dos muitos sonhos estranhos que teve, mas havia mesmo muita coisa a ser organizada em sua cabeça agora que ela começava a parar de doer.


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Notas finais do capítulo

O cap. pode ter ficado meio confuso... Essa, de certa forma, era a intenção rs, mas qualquer dúvida, podem perguntar!

Bjs.