See The Light escrita por Junebug


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Gente! Como esse capítulo demorou, neh... Desculpem >.< Mas, enfim, ai está, caso alguém ainda queira saber o final da fic rs.

O capítulo é dedicado à "Oddly Enough" de quem ganhei uma recomendação super fofa ♥ Obrigada de novo! Sei que suas expectativas estão super altas para este capítulo final. Espero não decepcionar mto ^^'



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Can you tell that I am alive?

Dá para perceber que estou vivo?

Let me prove it to you

Deixe-me provar para você

You and I, we’re the same

Você e eu, somos o mesmo

Live and die, we’re the same

Viver e morrer, somos o mesmo

You rejoice, I complain

Você se alegra, eu reclamo

But you and I, we’re the same

Mas você e eu, somos o mesmo

(Live And Die – The Avett Brothers)

~

Tudo aconteceu muito rápido, embora Nico se sentisse preso num pesadelo em câmera lenta preenchido pelo som de algo se estilhaçando e do seu próprio grito. Uma força maior que a do disparo o fez desabar.

Ainda estava de olhos fechados quando alguém chegou para tentar ajudá-lo a erguer-se enquanto um burburinho ia se formando ao seu redor como se viesse de outro mundo. Nico sabia quem estava ali apoiando-o, mas precisava olhar. Precisava ter certeza.

Ele só teve tempo de reconhecer os olhos azuis que o observavam atentos e preocupados, o cenho franzido. Nico ia perguntar se ele estava bem, mas a náusea o obrigou a virar o rosto. Ele vomitou no perfeito chão de mármore branco. Se Will não estivesse ali segurando-o, ele provavelmente teria caído bem em cima daquilo quando desmaiou logo em seguida.

Nico sentiu que se agitava sobre uma cama, mas suas pálpebras pareciam de chumbo e demoraram para abrir.

A primeira coisa que viu foi o conhecido par de olhos azuis a encará-lo.

— Nico – Will falou, o alívio preenchendo sua voz e seu rosto e formando um sorriso nos cantos da boca quando ele acrescentou: - Até que enfim. Como se sente? Você já estava nos deixando malucos.

Nico tomou conhecimento do quarto de hospital em que se achava. Numa das mãos, uma agulha de soro e um fio do monitor cardíaco conectado ao seu indicador, produzindo um bip estável. A sensação quente na outra mão era porque Will a estava segurando.

O loiro o analisava, com um sorriso que ia aumentando à medida que Nico despertava, apesar do seu rosto carregar um ar de cansaço.

— Talvez seja melhor não, por enquanto – Will falou, vendo Nico fazer menção de tentar se sentar. Nico se sentia mesmo muito fraco e o movimento o deixou tonto. Decidiu ficar como estava. – Você esteve inconsciente por três dias.

— Quê? – Nico arregalou os olhos e se virou para a mesa de cabeceira, esperando encontrar um relógio que lhe dissesse as horas e o dia, mas só havia um vaso com flores.

— Pois é. Os médicos fizeram todo tipo de exame. Não havia nada de errado com você fisicamente, mas você simplesmente não acordava. Eu tive tanto medo que... sei lá, o que aconteceu naquela noite o tivesse atingido de alguma maneira que nada pudesse reparar... Mas não havia como contar isso para nenhum médico, não que eu achasse que algum deles fosse ser capaz de dar um jeito... Foi uma sensação horrível!... Olhe só. – Will pegou a mão de Nico que ainda segurava e levou até o próprio peito, onde Nico sentiu um tum tum agitado. – Meu coração esteve assim por três dias!

Will manteve a mão de Nico ali, esperando que o garoto dissesse alguma coisa, aparentemente. Nico olhou da mão de Will sobre a sua de volta para os olhos azuis, sentindo-se mais desperto. Ele aproveitou a posição favorável de sua mão para agarrar a camisa de Will.

— Qual é o seu maldito problema, Will Solace?

A raiva pareceu fortalecê-lo. Ele usou o impulso do puxão para erguer o tronco da melhor maneira que pôde. Viu o sorriso de Will ir murchando ao perceber que Nico estava realmente zangado.

— Que diabos você estava pensando? Eu podia tê-lo matado!

A voz de Nico falhou nessa última frase. Ele soltou Will num movimento brusco e virou o rosto para esconder os olhos que começavam a umedecer, cruzando os braços como conseguiu.

— Você não ia me matar...

Nico voltou a olhar para ele a tempo de ver seus olhos voltados para o teto.

— Sério? Era com isso que você estava contando? Você é um completo idiota! Aposto que depois de morrer, ainda ia se divertir me vendo enlouquecer com a culpa...

Decidido a não chorar, Nico baixou os olhos com uma careta. Ele ouviu Will suspirar.

— Me desculpe... Eu... Não tive muito tempo para pensar. Só... Não podia deixar que você... quer dizer, que ele a matasse... Eu acreditava que tinha muito mais chance, então... Fiz o que achava ser o mais correto.

Will era correto demais para o próprio bem, foi o que Nico pensou, não exatamente feliz com a constatação.

— Me desculpe. – Will repetiu, colocando uma mão em seu ombro. – Eu não ia morrer. De verdade! Jamais faria isso com você.

Foi a vez de Nico revirar os olhos.

— Idiota, idiota, idiota... – ele resmungou.

Uma lágrima escapou de seu olho. Quase imediatamente, ele sentiu um dedo em sua bochecha enxugando-a, e Will aproximando-se mais, sentando na beirada de seu leito para poder envolver melhor seu ombro.

— Está tudo bem agora. Eu estou bem aqui e você finalmente está acordado...

Nico bufou, sem querer dar o braço a torcer, mas também sem tentar afastar Will. Quando Nico começava a considerar dizer alguma coisa, a porta do quarto se abriu e Hazel entrou, com ninguém menos que seu pai logo atrás.

— Nico! – Sua irmã correu para ele. – Ai, meu Deus!

— Ele acordou há uns cinco minutos...

Will levantou, cedendo seu lugar na beirada da cama de Nico para ela, que depois de dar uma olhada no rosto de Nico como se nunca o tivesse visto, abraçou-o de lado com força.

— Hazel, você está me sufocando.

— Estávamos tão preocupados – Ela disse, afrouxando um pouco o aperto, mas sem soltá-lo. – Você precisa ligar para Bianca. Ela tem telefonado todos os dias para saber de você.

Enquanto ela falava, Nico ergueu os olhos para a outra figura no aposento. O homem com o terno preto observava tudo com seu usual olhar sombrio e arrogante, indo de Nico e Hazel para Will, que permanecia de pé, meio encolhido diante do olhar do recém-chegado.

A presença de seu pai ali foi essencial para Nico conseguir acreditar que tinha de fato passado três dias inconsciente, mesmo antes de médicos e enfermeiras confirmarem. Eles entraram no quarto para fazer mil perguntas enquanto o cutucavam, furavam e analisavam.

Fora a fraqueza e tontura, ele também sentia como se seu cérebro tivesse sido cozinhado e depois espremido, mas tudo que dizia aos médicos era que se sentia bem e queria ir embora. Eles insistiram que ele ficasse pelo menos mais um dia para observação e fizesse mais uma porção de exames.

Depois que eles saíram, o pai de Nico pediu para ficar a sós com ele. Colocou as mãos nos bolsos da calça e comentou, causalmente:

— Muito conveniente você ter acordado bem no momento em que venho aqui visita-lo.

Parecia mesmo que ele achava que tinha sido escolha de Nico tanta consideração. O garoto fez um barulho com a garganta. Seu pai continuou, mudando de assunto:

— Eu fui chamado à delegacia e tive que assinar uns papéis... Você conseguiu atingir com um tiro um ovo Fabergé de porcelana e ouro que estava bem em frente a um espelho de cristal veneziano de moldura renascentista... Por sorte não estão nos obrigando a pagar por enquanto.

Isso explicava o barulho que seguira o disparo.

— Mas as coisas podiam ser piores, não é? Se você tivesse acertado o garoto, seria bem mais difícil dar um jeito.

— Não fale assim – zangou-se Nico.

Seu pai entortou a boca e pigarreou antes de continuar:

— Eu liguei para aquela sua doutora. Perguntei se não era trabalho dela impedir que esse tipo de coisa voltasse a acontecer.

— Você fez o quê?

— Ela contestou. Parece que é minha responsabilidade de pai fazer com que você se sinta aceito e incentivado.

Nico riu sem humor. Seu pai acrescentou:

— Para que sua insegurança pare de se externalizar em forma de violência. – Ele devia estar repetindo exatamente as palavras que Íris dissera.

— Ah, não – Nico resmungou.

— Então eu preciso deixar claro que... tudo bem você ser um pouco esquisito...

— Hã?

— Tudo bem qualquer que seja sua ideologia de vida, crença, opção sexual e tudo mais... Desde que isso não prejudique ninguém. O importante é que esteja bem consigo mesmo.

Sem conseguir falar, Nico encarou a expressão impassível, depois afundou nos travesseiros, grunhindo.

— Que maravilha, pai. Essa conversa já acabou?

— Olha, eu estou dando o meu melhor aqui.

Olha, eu acabei de acordar de uma espécie de semi-coma. Isso está começando a me dar dor de cabeça...

Seu pai soltou o ar pelas narinas com força. Talvez Íris também tivesse tentado ensinar a ele exercícios de respiração, como fazia com Nico.

— Certo – o homem disse, por fim, dando uma olhada no relógio de pulso. – Eu tenho mesmo que ir. Mas você precisa lembrar do que eu disse.

— Acredite, vai ser bem difícil esquecer.

No próximo horário de visitas, Nico recebeu a própria doutora Íris, com sua postura hippie profissional numa bata indiana até a metade das coxas, por cima de uma calça jeans. Ao vê-lo, ela empurrou os óculos para o alto do nariz, dizendo:

— Sr. Di Angelo.

Nico a observou sentar-se ao lado do leito, em silêncio.

— Deve imaginar que, como sua responsável médica, eu precisei responder algumas questões sobre seu... incidente.

Nico deu uma olhada nas pastas que ela segurava, esperando.

— Junto com o advogado, eu conversei com o detetive e procurei explicar que você foi mais uma vítima da situação terrível que presenciou. Câmeras gravaram o momento em que a mulher atirou no ex-marido, seguido da sua chegada... Seria uma visão perturbadora para qualquer pessoa, mas você, especialmente, com seu histórico de situações traumáticas... O que aconteceu a seguir foi resultado de um momento de confusão mental.

Era legal que ele não precisasse nem criar as próprias desculpas. Mas também não era fácil para Nico lembrar daquilo. Ele fechava os olhos por um momento e as imagens voltavam, junto com as sensações. Ele se esforçou para lembrar de Will dizendo que estava tudo bem. Isso ajudou um pouco.

— Você quer falar sobre isso? – ela perguntou.

Nico sacudiu a cabeça.

— Bom, já que não foi apresentada nenhuma queixa contra você, o detetive concordou por hora em não interrogá-lo pelo bem da sua recuperação... É nisso que precisamos focar. Você precisa entender que tudo está bem e sob controle e...

E o que mais Nico precisava entender, ele não soube. Deixou sua mente vagar durante quase toda a meia hora seguinte em que ela falou.

Quando Will voltou naquela tarde, trazia uma caixa de papelão pouco menor que uma caixa de sapatos com estampa de super-heróis de quadrinhos. Ele se sentou ao lado da cama de Nico com um jeito exageradamente cauteloso e perguntou:

— Então, eu estou desculpado?

Era a primeira vez que os dois conseguiam ficar sozinhos desde aquele momento em que Nico acordara. Nico observou-o seriamente por uns instantes antes de decidir:

— Com uma condição.

— Qual?

— Você vai me prometer que nunca mais vai se meter na mira de uma arma ou correr qualquer risco parecido de propósito. Não me interessa se a pessoa em perigo for o presidente, o papa ou quem diabos seja. Eu não vou ter um namorado maníaco suicida.

Will abriu o maior dos sorrisos.

— Me chame disso de novo!

— Maníaco suicida?

— Por favor! Você nunca tinha me chamado assim antes!

Nico revirou os olhos.

— Apenas prometa.

— Eu prometo. Eu prometo. Mas diga!

— Essa promessa não me parece muito séria.

Will baixou os olhos, amuado. Nico sorriu com a imagem por uns segundos antes de dizer, apontando para a caixa de super-heróis no colo dele.

— O que é isso aí... namorado?

O sorriso de Will voltou e ele se inclinou para beijar a bochecha de Nico várias vezes. Sua cabeça ficou encostada no ombro dele quando lhe passou a caixa, dizendo:

— Peguei emprestado com Frank. Achei que você podia me ensinar a jogar.

Nico encontrou ali pequenas cartas coloridas que ele costumava conhecer muito bem.

— Você deve estar brincando – ele fez uma careta, mexendo nas cartas perfeitamente empilhadas por categorias, do jeito perfeccionista de Frank.

— Ah, vamos lá. Acho que vai ser divertido!

Nico olhou para Will, sem querer se deixar convencer e, ao mesmo tempo, sentindo uma certa empolgação começar a dominá-lo. Will disse, então:

— Vai ajudar a passar mais depressa o tempo enquanto você estiver aqui.

Era um argumento bem sensato. O tempo voou. Uma mulher teve que avisar Will umas dez vezes que o horário de visitas tinha acabado.

Quando Nico acordou de manhã cedo, uma visitante clandestina estava ao lado da cama.

— Bom dia – Eve falou.

Nico grunhiu em resposta.

— Belo trabalho aquele, hein – ela continuou. – Claro que você só podia ter sido ensinado pela melhor. Você praticamente incinerou o espírito daquele homem! A condessa ficou muito satisfeita... Bem, tirando uma reclamaçãozinha ou outra, blá-blá-blá...

Nico imaginava que Sophie Briand não estivesse totalmente feliz com o fato de a ex Sra. Allen estar presa e tendo que alegar insanidade no tribunal, segundo Will, que tinha ouvido de Rachel.

— Mas, de um modo geral, eu diria que você se saiu muito bem. Aposto que lembrou de todas as valiosas lições que ensinei.

O pior é que ela não parecia estar brincando. Nico ainda não conseguia entender muito bem o que tinha feito. Em sua memória, a coisa toda lhe parecia apenas dolorosa e totalmente instintiva. Certamente nada da constante conversa fiada de Eve tinha lhe ocorrido. Ou será que ele só tinha resistido tanto porque ela tinha insistido na possibilidade do controle? Mesmo assim, se não fosse por Will...

— Para onde ele foi? – Nico perguntou.

— Sei lá... Algum lugar horrível, espero. O importante é que você o expulsou e ele não vai mais voltar.

— Mas não foi fácil... Parecia que minha cabeça ia explodir... Quando eu penso no que poderia ter acontecido...

— A vida não é fácil. Você já devia saber disso.

Nico queria dizer que era a própria Eve que fazia tudo parecer fácil pelo jeito como falava, mas ele não teve chance. Ela continuou:

— Pense que foi como arrancar um verme do seu cérebro. Fico feliz que tenha sobrevivido. Agora talvez as coisas fiquem mais fáceis... Tenho certeza de que você estará disposto a se dedicar ainda mais. Não vai querer pôr em risco a vida de seu principezinho encantado outra vez, não é?

Nico olhou feio para ela, que parecia estar fazendo uma séria ponderação, dizendo:

— No fim, ele se mostrou bem útil, acho... Você não sente que está diferente?

Ele pensou a respeito.

— Só sinto como se estivesse me recuperando de uma doença muito grave... Mas segundo os médicos eu não tive nem febre...

Médicos... – debochou Eve.

Nico fez então a pergunta que o estava incomodando:

— O que aconteceu tem a ver com o fato de não haver nenhum aqui? Quero dizer, hospital... É estranho não ter nenhum.

Eve alargou seu sorriso de orgulho. Ela, de fato, acreditava que tinha feito um ótimo trabalho com o garoto.

— É como se você ainda estivesse vivendo os efeitos. Por que acha que eu não entrei em contato com você enquanto dormia? Você estava totalmente inacessível... É como se o efeito fosse uma onda reverberando... Você entenderia se soubesse de física quântica – ela concluiu, com seu tom pedante.

— E quanto tempo isso vai durar?

Ela sacudiu os ombros.

— O suficiente para você estar preparado quando eles voltarem, se for esperto.

— E por que posso ver você, mas não eles?

— Porque você quer me ver, é lógico.

Nico não ia admitir isso, então mudou de assunto:

— Onde está Timothy?

— Ele está em Nova Jersey. Eu o levei até lá. Queria ver a mãe.– Vendo o olhar alarmado de Nico, ela emendou: - Não se preocupe. Ele não vai mais prejudica-la. Sua intenção é justamente o contrário, e eu me assegurei de que ele conseguiria.

— Se você tem certeza...

Nico esperava que a ajuda dela para Timothy tivesse sido mais útil.

Na tarde daquele dia, Nico recebeu alta. Os médicos desistiram de tentar encontrar uma boa razão para mantê-lo ali.

Na escola, de alguma forma, os sussurros pelos corredores pareciam saber até mais do que Nico sobre o que tinha acontecido. Mas no que lhe dizia respeito, as coisas tinham voltado ao normal.

Num dia, ele estava matando a aula de educação física atrás da quadra de basquete (ele era bem ágil na prática de esportes, mas detestava se juntar aos outros para os esportes em equipe), quando a chegada de alguém o obrigou a tirar um dos fones que estava escutando. Ele demorou uns segundos para se dar conta de que a garota não era uma das alunas de sua turma enviada para escoltá-lo de volta à aula. Na verdade, ela nem era do mesmo ano que ele.

— Você é.... – Nico tinha certeza de que já a tinha visto antes, mas não lembrava onde.

— Emily. Emily Pole.

— Ah... – Nico lembrou que quando tinham sido apresentados, as mechas do cabelo dela estavam vermelhas, não roxas. – A vizinha de Lou Ellen.

— É.

A menina ficou ali de pé, os olhos em algum ponto que ia dos pés dela para os de Nico.

— Ahn... Você quer alguma coisa? – Nico perguntou.

— Eu só... Só queria saber se... Bem... Sabe o baile da primavera?

— Eu já ouvi falar.

— Vai ser no sábado... Você pretende vir?

— Err... – Nico não podia acreditar naquela situação. Ele a encarou por uns segundos até que decidiu acabar de vez com aquilo. – Não. Meu namorado e eu temos outros planos.

“Qualquer coisa que passe bem longe de smokings” ele acrescentou mentalmente.

Nico viu várias cores passarem pelo rosto de Emily, até parar no rosa escuro.

— S-sério?

— Sim. Desculpe.

— T-tudo bem. M-me desculpe. – Ela se afastou depressa assim que conseguiu se mexer.

— Isso foi crueldade, Nico di Angelo – Will tentava soar repreensivo, mas os cantos da sua boca o traíam.

Nico estava com uma expressão que misturava riso com irritação.

— Por quê? Eu fiz um favor a ela e ainda disse “desculpe”. Ah! Ela vai superar... Você não se importa, não é? Quero dizer, eu sei que algumas pessoas já andam comentando, mas... Agora deve ficar pior. Se ela contar para Lou Ellen, se é que já não contou... Você sabe como ela é...

Ninguém tinha falado sobre nada disso com os dois diretamente, mas Nico não era bobo. Ele desconfiava que a questão era a seguinte: As pessoas tinham medo de perturbá-lo, o que, de certa forma, sempre o protegera. Já Will, normalmente inspirava simpatia e amizade por onde passava, o que tornava difícil alguém não ser legal com ele. Chegar e perguntar: “Ei, é verdade que está rolando alguma coisa entre você e aquele garoto com cara de psicopata? É verdade que ele tentou te matar com um tiro? O que aconteceu? Vocês tinham brigado?” contava como não ser legal.

Nico só queria que as coisas continuassem assim. Não podia se importar menos com o que as pessoas falavam, desde que os deixassem em paz. Não era como se fossem os primeiros na Argo II, afinal. Longe disso.

— Você sabe que eu não me importo nem um pouco. – Will deu de ombros. - Eu poderia ir até a sala do Sr. Brunner e confirmar tudo pelo alto-falante.

Por um momento louco, Nico sentiu uma fisgada no estômago, uma vontade de ver isso acontecer. Imaginou que ia adorar exibir sua sorte para todo mundo. Até que ele voltou a pensar racionalmente e recuperou seu senso prático.

— Melhor não. Eles provavelmente não nos deixariam mais dividir a barraca na excursão para a reserva ambiental semana que vem.

No final de maio, as aulas acabaram. Nico e Will assistiram a Jason e os outros recebendo seus diplomas do colegial na cerimônia de formatura.

Nico achava que Annabeth seria a oradora, mas foi Piper quem subiu ao palco. Ela parecia nervosa, mas à medida que falava, suas palavras iam ficando mais confiantes e muitas pessoas na plateia chegaram mesmo a chorar.

Leo contou a Nico que recusou uma bolsa num programa de engenharia porque arranjou coisa muito melhor para fazer. No caso, ele pretendia viajar com Calipso em vez de ir para a faculdade no outono.

— Ela me disse que queria conhecer o mundo e eu pensei: “Cara, eu também. Por que não vamos juntos viver altas aventuras?”... – Ao lado dele, Calipso revirava os olhos e sorria ao mesmo tempo. De jeans e camiseta e os cabelos um pouco mais curtos, ela parecia uma jovem bem diferente do que quando eles a viram pela primeira vez. Mais “comum” e talvez mais feliz. - Afinal, passar quatro anos naquele programa de engenharia idiota? Eu não preciso disso! Sou um gênio natural.

Annabeth olhava para os dois como se nunca tivesse visto pessoas com ideias mais disparatadas.

— Vai ser estranho vocês todos não estarem mais aqui no próximo ano... – Will comentou.

— Ah, mas tenho certeza que tudo vai ser mais animado com Travis morando no apartamento – Jason falou, se referindo ao primo de Will, que tinha adorado a ideia de transferir seu curso da faculdade para lá e ter moradia de luxo grátis.

— Imagino que animado demais provavelmente.

Jason riu.

— Você vai sobreviver. E eu vou estar esperando a visita do meu sobrinho favorito na Califórnia – Ele deu uma piscadela cúmplice para Will e para Nico.

Quando eles se despediram, Nico recebeu um sorriso e um tapinha nas costas de Percy.

Enquanto o observava se afastando, Nico lembrava de tempos dos quais não sentia nenhuma falta. Will passou um braço por seu ombro e pigarreou antes de dizer:

— Vamos. Temos muita coisa para fazer.

— Nós temos?

— É claro. O verão está só começando.

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Nico estava sentado nos degraus em frente à sua casa, esperando. Sua madrasta cuidava das flores nos canteiros dali como se fossem suas próprias filhas. Hazel saiu com uma bolsa e seu capacete de equitação numa das mãos. Ela ia para o clube de hipismo quase todos os dias nas férias.

— Ah, é hoje que vocês vão? – ela perguntou, vendo Nico.

— Sim – Nico tinha certeza de que ela estava tentando fazê-lo dizer a verdade sem querer. Era bem possível que ela desconfiasse. Talvez Frank provavelmente tinha mencionado o evento. Mas Nico morreria negando que estava indo até Nova York para uma competição nacional idiota de mitomagia.

— Qual é mesmo o nome da banda que vão assistir?

— Você não conhece... Eles tocam punk death metal.

— E vão se apresentar no Central Park? – Hazel ergueu uma sobrancelha.

Nico sentiu até os olhos de Perséfone voltados para ele.

— É. O show vai ser de noite – ele mentiu descaradamente.

— Bom... Espero que se divirta – Hazel desceu um degrau e se inclinou para beijar a testa dele e ele a beijou na bochecha. – Diga a Will que eu mandei um oi.

Nico sabia que Hazel era da mesma turma da garota Emily e que o que ele dissera para ela com certeza tinha chegado aos ouvidos de sua irmã, mas Hazel nunca falou nada a respeito. Ela não precisava.

O carro que parou ali em frente parecia um daqueles que adolescentes mimados ganhavam em suas festas de dezesseis anos na TV. Era um modelo esportivo escuro arroxeado e reluzente.

Nico se pôs de pé com a testa franzida.

— Bom dia, pequeno raio de escuridão – Will tinha saído do banco do motorista e acenava por cima do teto do carro.

Nico olhou com o canto do olho para sua madrasta, que tinha virado o rosto para observar o recém-chegado, a boca ligeiramente aberta.

— Ah, olá – Will se dirigiu a ela, com um sorriso.

— Olá – ela respondeu num tom meio incerto, antes de se voltar de novo para suas flores.

— BMW? Sério? – Nico perguntou.

— Sinceramente, vindo do meu pai, eu diria até que ele maneirou. Quer dizer, a assessora dele deve ter tentado conseguir para mim algo discreto...

Há poucos dias, Will tinha completado dezesseis anos e agora já podia dirigir legalmente.

— Discreto? Só se for discretamente esnobe...

— Eu pretendo tentar trocar por alguma coisa mais sensata, mas por enquanto, ele vai servir perfeitamente para você chegar ao seu evento – Will assumiu um tom ridiculamente animado.

Nico deu uma rápida olhada cautelosa em Perséfone, antes de abrir a porta do passageiro e entrar. Depois que Will se juntou a ele, falou num meio sussurro, apesar das janelas levantadas:

— Eu provavelmente não vou participar. Acho que vou querer só... assistir.

— Tudo bem. Em todo o caso, eu já fiz sua inscrição.

— Quê? Você não tinha o direito!

— Ei, eu disse “em todo o caso”.

Nico bufou, jogando as costas no assento de couro preto e cruzando os braços. A animação de Will, no entanto, não foi afetada.

— Eu preparei uma playlist para nossa viagem – ele disse, mexendo no ipod e no painel do carro. – Todas as músicas tem “sol” na letra. E a nossa música é a primeira.

— Temos uma música?

Will sorriu para ele enquanto a música começava a tocar. Nico lembrou de quando tinham saído com o carro de Jason naquele fim de semana na casa de Piper. Estava ouvindo de novo o pai de Will cantar que estava “feliz como o sol, mais leve que uma pena” e assim por diante.

— Argh... Não. Vou escolher uma música melhor para nós.

— Bom... Desde que não fale de cemitérios, nem desmembramentos...

— Você é quem gosta de assistir desmembramentos na TV.

— De onde... Aquilo é o Plantão Médico!

— Tanto faz.

Will bufou, mas desistiu de retrucar e decidiu que era hora de partirem.

— Eu preciso passar pelo drive-thru do McDonalds.

— Fast food a esta hora da manhã? Isso não é nada saudável.

— Não é para mim.

— Como assim?

— Depois eu explico.

Eles já tinham saído da cidade quando Nico disse para ele encostar num ponto da rodovia.

— Ali, perto daqueles bordos – disse Nico, o que não ajudou muito, visto que todo o caminho tinha bordos. Mas Will fez o que ele pedia, sem perguntas, apesar da curiosidade aparente.

Nico saiu carregando uma sacola se Mc Lanches Feliz e adentrou um ponto da floresta até uma pequena clareira. Ele viu as figuras pequenas se deslocando velozmente com sua aproximação, mas sabia que elas não tinham ido longe.

Ele parou e se ajoelhou, calmamente retirando da sacola os lanches e depositando-os no chão da floresta. A comida sem guardanapo e os copos de refrigerante destampados.

Quando Nico levantou o rosto, uma meia-dúzia de crianças o observava, alguns mais, outros menos escondidos atrás das árvores. Olhavam desejosos para os sanduíches e batatas fritas no chão.

— O cheiro é bom, não é? Sentem saudade do gosto?

Nico perguntou em voz alta, mas ouviu a voz da garota mais velha e mais próxima dele em sua mente:

— O que você quer?

— Eu só quero ser seu amigo – Nico garantiu. Aquelas palavras soavam muito estranhas saindo da sua boca, mas ok.

A garota continuou a encará-lo desconfiada e os outros olhavam dela para a comida no chão em expectativa. Mas Nico percebeu que a garota não ia ceder tão rápido.

— Certo – ele disse. – Eu estou meio que com pressa, então vou deixar isto aqui como uma oferta de paz. O que acham? Eu volto depois para conversarmos melhor.

Ele se levantou cautelosamente e se afastou de volta para a beira da estrada e para Will, que esperou ele se sentar para declarar:

— Você disse que ia explicar.

— Ah... São só essas crianças que vivem aqui, quer dizer... não vivem mais... Ah, você me entendeu. Enfim, Timothy e Eve me falaram delas. Parece que a maioria foi vítima de acidentes nessa estrada... Elas parecem ter se juntado para formar uma espécie de Terra do Nunca ou algo assim. Uma delas, a mais velha, é tipo a versão feminina do Peter Pan. Agora que Timothy meio que se tornou um Auxiliar, Eve e eu achamos possível conseguir ajudá-las para que ele aumente sua cota de ajudas mais rápido e consiga ajudar a mãe e assim por diante...

Nico olhou para Will e viu que seu olhar tinha um brilho parecido com o de Eve quando ela ficava se gabando de ser sua “mentora”.

— Que foi?

— Olhe só para você. O próprio senhor das sombras, dominando a metafísica do mundo.

— Pff... De onde você tirou isso? – Nico procurou permanecer modesto. – Vamos logo.

— Ei, eu estava pensando... Será que podemos assistir algo na Broadway? Uma visita ao planetário talvez... E que tal Coney Island?

— Você está mesmo empolgado com o verão, não é?

— Quem não fica empolgado com o verão?... Não responda.

Nico deu um sorrisinho.

— Sabe, até que por enquanto eu não estou odiando tanto este verão.

— Poxa... É bom saber.

— É... Acho que eu não tenho do que reclamar. Tudo que preciso está bem aqui, afinal.

— É mesmo? E o que seria? – Will abriu um largo sorriso de expectativa.

Nico sorriu de volta enquanto tirava uma coisa da mochila.

— Óculos de sol. Hazel me deu estes aqui. Ela sabe que eu odeio a luz do sol nos meus olhos.

Ele pendurou os óculos na gola da camisa.

— Haha.

Ainda sorrindo, Nico se inclinou, tomou o rosto dele nas mãos e o beijou. Depois, com os braços de Will em seu ombro, Nico afastou uma mecha de cabelo loiro ondulado que cobria um dos olhos azuis a centímetros dos seus. Como se acompanhasse seus pensamentos, a música dizia:

Not a cloud in the sky

Nenhuma nuvem no céu

Got the sun in my eyes

Tenho o sol nos meus olhos

— Il sole in un cielo d'estate…

As palavras escaparam da boca de Nico num sussurro, sem querer, apesar de ultimamente ele ter adquirido o hábito de falar em italiano mais do que costumava em muito tempo. Isso ele tentava convencer a si mesmo que não tinha nada a ver com o fato de Will ter dito que achava sexy essa habilidade de Nico.

De fato, lá estava Will com um sorriso enorme e insinuante. Aquele garoto era louco... Mas era um louco lindo.

— O que isso significa?

— Significa que você precisa dirigir mais rápido, se quiser chegar lá antes do meio-dia – Nico respondeu, dando batidinhas no ombro dele.

Will estreitou os olhos e disse:

— Eu ainda vou aprender uma língua que você não entende, e você vai ver só.

— Opa, já espero ansiosamente por esse dia.

— Vou aprender grego – Will completou, como se fosse uma ameaça.

— Uh, isso vai ser tão excitante...

There is only one wish on my mind

Só tenho um desejo em mente

When this day is through I hope that I will find

Quando esse dia acabar eu espero descobrir

That tomorrow will be just the same for you and me

Que o amanhã será o mesmo para você e para mim

All I need will be mine if you are here

Tudo que eu preciso será meu se você estiver aqui

Maravilha. Aquela música idiota estava lendo os pensamentos de Nico.

. ~ .


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Notas finais do capítulo

* Música: Top Of The World, cantada por Chris Commisso (Cover dos Carpenters)

E acaboooouuuu T_T

Eu me diverti muito ao longo desses dezenove capítulos! Espero que vocês tbm, pelo menos um pouco ^^
MUITO OBRIGADAAAA a todos que acompanharam 'See The Light', comentaram, favoritaram, recomendaram... Foi um incentivo e tanto ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
Espero vê-los em breve em alguma outra fic escrita por mim ou por algum de vocês tbm... ;)
Vou dizer até mais então :'D

P.s: Solangelo é vida (haha ;3) ♥

P.s 2: Caso alguém se interesse, na minha coleção de drabbles de Solangelo, tem um capítulo que se passa no universo dessa fic. Não chega a ser uma continuação, mas se passa depois desse último cap. Digamos que é uma cena fluffy bônus rs. Segue o link:
https://fanfiction.com.br/historia/704598/Solangelo_Moments/capitulo/10/



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