See The Light escrita por Junebug


Capítulo 14
Capítulo 14




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I’m okay, but I went to see the doctor yesterday

Eu estou bem, mas fui ver o médico ontem

To tell him how my heart is going crazy

Para lhe contar como meu coração está enlouquecendo

It feels like I got hit by a train

Parece que fui atingido por um trem

What is happening?

O que está acontecendo?

He said “Listen, you fool, you’re falling in love again”

Ele disse “Escute, seu tolo, você está se apaixonando de novo”

(Falling In Love Will Kill You – Wrongchild feat. Gerard Way)

~

— Então... Você está ansioso pela apresentação da peça?

— Ansioso? – Nico pensou um pouco. – Para que acabe logo, acho.

— Nervoso? – Íris perguntou com aquele tom compreensivo que Nico achava muito irritante.

— Não – ele respondeu, secamente.

Na maioria das vezes, Nico só se achava meio idiota por estar participando daquilo. Esse sentimento ficou ainda mais forte quando ele experimentou seu figurino pela primeira vez. Ele estava esperando por algo mais como as fantasias de mascote do futebol, que eram coisas extremamente ridículas, mas pelo menos ele achava que com algo desse tipo ele se sentiria escondido dos olhos de todo mundo.

Na realidade, sua roupa era uma coisa mais conceitual. Um traje negro e branco que tinha truques com arame para fazer lembrar uma orca, mesmo que fosse uma orca um tanto abaixo do peso.

— O festival é no dia vinte e três, não é?

— Sim.

— Ah, faltam poucos dias... Como andam os preparativos?

Nico respirou fundo. Em parte porque estava cansado daquelas perguntas. Em parte porque pensou em tudo que tinha acontecido enquanto se preparavam para aquela peça e isso o fez se sentir um pouco tonto.

— Err... Os preparativos estão bem, acho...

Mais de um mês tinha se passado muito rápido.

Enquanto ainda não havia acabado o fim de semana na casa de Piper, tinha sido declarado que precisavam da ajuda de “artistas voluntários”, como Leo chamou, para terminar o cenário que o próprio e Annabeth tinham inventado de criar porque não se contentavam com o que podia ser usado do teatro da escola, nem com coisas comuns.

Entre a ajuda que conseguiram estava Hazel, que ficou feliz de participar do projeto junto com outros colegas dela do clube de artes. Will teve, então, a ideia de convidar Rachel Dare para se juntar a eles também, já que sabia que com a chegada do frio, ela teria que deixar de lado seu hobby de estátua viva por um tempo.

Ela nem quis ouvir direito sobre do que se tratava e já concordou, dizendo:

— Vai ser ótimo ter um novo motivo para poder escapar um pouco daquele colégio idiota.

Os ensaios andavam acontecendo no teatro onde as apresentações do festival aconteciam. Era lá que estavam quando Nico viu Annabeth olhar por cima de seu ombro, estreitar os olhos e dizer:

— Você... – Como se tivesse enxergado um fantasma. – O que...?

Nico se virou e viu a garota ruiva se aproximando pelo corredor central entre os assentos. Seu andar foi se tornando mais cauteloso, até que ela parou de súbito um pouco atrás de Nico.

— Rachel... – Will começou a dizer, antes de perceber que havia algo errado. –Espera, vocês já se conhecem?...

Percy estava com os olhos meio arregalados e seu rosto ia ficando vermelho.

— Ra-Rachel Elizabeth Dare... – Então ele olhou de esguelha para Annabeth ao seu lado, que tinha cruzado os braços, mas acrescentou: - Ahn... Como vai?

Antes que Rachel pudesse dizer qualquer coisa, Leo se aproximou com passos rápidos, vindo de trás do palco, de onde vinha um barulho constante de gente ocupada e coisas batendo ou caindo. Ele parou na beirada e dirigiu-se à recém-chegada.

— Você é nossa nova voluntária? – ele perguntou. – Por acaso consegue fazer peixes com papel machê?

— Humm... acho que sim – respondeu Rachel.

— Será que você pode vir comigo? Estamos, tipo, tendo uma emergência ali atrás...

Leo esfregou a mão na calça jeans e a estendeu para ajudá-la a subir no palco. Rachel pareceu feliz em pegar a mão dele e sumir dali.

Diante do humor de Annabeth pelo resto do ensaio, Will não teve coragem de perguntar mais nada. Em vez disso, ele e Nico esperaram para mais tarde encontrar Rachel atrás do palco, produzindo um cardume de papel machê.

Quando os viu, foi logo pedindo desculpas.

— Eu não fazia idéia, de verdade – disse ela.

— Olha, nós não somos mexeriqueiros, nem nada – disse Will, com uma piscadela, - mas, por favor, você pode explicar o que diabos está acontecendo? Você é alguma ex do Percy?

Rachel deu uma risadinha misturada com um suspiro e olhou para as outras pessoas ali. Todos pareciam muito ocupados com outras coisas para prestar qualquer atenção neles. Ela deu de ombros, dizendo:

— Não. É uma história meio idiota, na verdade...Nesse verão meus pais tinham resolvido dar uma de suas festinhas sociais... Era uma festa à fantasia, e eu acabei sendo obrigada a comparecer. Lá tinha esse cara da minha idade só de bermuda e regata. Eu perguntei de que exatamente ele estava fantasiado. Ele disse que a intenção era ser de surfista, mas ele não tinha uma prancha, então era um surfista que tinha esquecido a prancha em casa. Mesmo sem querer, eu ri. Ele riu. E eu de repente o reconheci da coluna de esportes. Nós então ficamos um tempo conversando sobre isso... – Ela corou um pouco enquanto continuava: - Ele tinha um sorriso e olhos bonitos! – disse em tom de desculpa. – Além disso, eu me sentia irritada por estar naquela festa, queria fazer algo para aborrecer meu pai... Então eu o beijei.

Eles ficaram em silêncio. Rachel olhava para o peixe nas mãos

— Vocês estavam conversando e você de repente o beijou? – Nico perguntou, exagerando no tom chocado com uma provocação que ele esperava que Will captasse. Will estreitou os olhos pra ele.

— É... Isso resume tudo – Rachel franziu as sobrancelhas ainda encarando o peixe de papel machê.

— Ah, não fique assim. Pense só no tanto de gente que gostaria de ter estado no seu lugar – Will disse com um sorriso condescendente. Foi a vez de Nico estreitar os olhos para ele. - Então... – Will pigarreou. – Err... Annabeth ficou sabendo?

— Ela viu! – Rachel levantou os olhos arregalados para eles. - Nossa, foi pior do que uma novela... Ela chegou bem na hora! Mas, olha, em minha defesa, eu achei que era bem óbvio que eu estava dando um pouco em cima dele! Ele podia ter me avisado que tinha namorada...

— Ah... Algumas pessoas tem dificuldade de enxergar o óbvio... – Will disse num tom exageradamente reflexivo.

— Eu vou ver se Hazel já pode ir embora – Nico declarou, se levantando.

Foi um tanto irônico, então, quando, pouco depois disso os cartazes da peça começaram a fazer sucesso na Argo II e fora da escola também, na cidade e entre os “fã-clubes” de Percy Jackson espalhados por toda parte. De fato, era preciso admitir o incrível efeito que uma filmadora à prova d’água e geleiras e icebergs de photoshop podiam produzir.

Em um dos cartazes, Percy e Annabeth estavam de mãos dadas debaixo d’água e quase se beijando (coisa que Nico achava um pouco exagerada numa água que era para parecer congelante e tal), enquanto isso, o mau humor de Annabeth durante os ensaios persistia. Sempre que Percy procurava dizer algo para melhorar o clima, acabava piorando, até que ele se irritava e começava a querer responder às provocações dela e a coisa desandava totalmente.

— Olha, depois que isso acabar, vocês podem anunciar o divórcio por incompatibilidade de gênios ou o que seja, mas por enquanto, será que dá para se esforçarem? – Leo acabou reclamando. Depois do olhar que recebeu de Annabeth, ele não disse mais nada a respeito.

Desde o episódio com Rachel, Nico tinha começado a encarar de uma nova forma o que sentia por Percy. Por algum motivo, ouvi-la descrevendo o que a levara a beija-lo do nada tinha feito com que ele se identificasse e se enxergasse como um bobo por levar a coisa tão a sério.

Tudo bem, o cara era bonito e tinha essa mania de sair sorrindo para todo mundo sem se dar conta do efeito que provocava. Nico sabia que na Argo II e em outros lugares, metade das pessoas se sentia pelo menos um pouco mexida com isso.

Will não tinha perdido a oportunidade de provocá-lo dizendo que aquela podia ser sua grande chance. Nico o ignorava totalmente. Mas, parando para pensar, durante os dias em que Percy e Annabeth passaram “brigados”, a única coisa que Nico tinha vontade de fazer era tacar algo na cabeça dos dois e mandá-los parar com a frescura.

Um dia, Piper e Annabeth, numa conversa que todo mundo conseguia ouvir, começaram a falar dos planos para as férias de inverno.

— Nós queremos ir para São Francisco depois do natal. Meu pai diz que vai me ensinar a pilotar um avião da guerra... – Annabeth comentou.

— Quer dizer que nós ainda vamos? – Percy a interrompeu, com a empolgação de uma criancinha.

— Por quê, Cabeça de Alga? Você arranjou algo melhor para fazer? – provocou Annabeth.

— Não – Percy se apressou em responder. – Quer dizer... O que pode ser melhor do que fugir para a Califórnia no inverno com você?

Leo fingiu que ia vomitar. Piper fez “Own!” com os olhos brilhando. Annabeth olhou para o teto, mas pareceu gostar da resposta. E assim, depois disso, as coisas foram simplesmente voltando ao normal entre os dois.

Mais tarde, Nico perguntou a Will se ele ia passar o natal com seus tios. Ele o imaginava provavelmente ceando pizza com Jason e Thalia.

— Acho que vou ter que ir para Nova York. Devo passar o natal com uma porção de tios e primos... – ele parecia exausto só de pensar.

— Nova York?

— Meu avô mora lá. Ele sempre foi um homem muito mulherengo, sabe. Meu pai é filho de um dos casos dele, assim como Jason, Thalia e alguns outros... A mulher dele é meio... sei lá, desequilibrada, acho. Claro que ela odeia todos nós, mas, de vez em quando, tem esses acessos de vontade de reunir toda a família... Eu me sinto um pouco mal por ela, mas também tenho medo que isso seja uma armadilha e ela esteja planejando envenenar a ceia ou qualquer coisa assim... Se algo acontecer com a gente, assegure-se de contar isso para a polícia, ok?

No começo de dezembro, de novo a chegada de uma garota deu o que falar nos bastidores da peça. Dessa vez, eles estavam no meio do ensaio de uma cena dramática em que Will e Nico, ou melhor, a baleia e o urso que eram amigos do príncipe sereia, choravam pela sua morte diante de seu corpo. Depois, Annabeth chegava e começava a chorar também, arrependida, e Percy não aguentava mais ficar parado e começava a rir.

— Arr... De novo – disse Leo, cansado.

— Leo Valdez – uma voz melodiosa chamou de repente, e Leo acabou caindo da cadeira de diretor no ímpeto de se virar na direção da voz.

Sem se levantar, ele começou a balbuciar:

— Vo-você... Você!... Você está mesmo aqui?

Ele olhou para os outros como se esperasse que algum deles confirmasse. Todos estavam olhando para a recém-chegada. Com o sobretudo branco por cima de um vestido e a echarpe salmão, ela parecia uma garota rica pronta para entrar num conversível vermelho carregando sacolas de lojas de grife.

— C-como...?

O brilho dos olhos amendoados da garota indicava uma mistura de reprovação, divertimento, mas ela soou um pouco nervosa ao perguntar:

— Será que nós podemos conversar?

— Mas é claro, flor do dia! – Leo conseguiu se pôr de joelhos com um sorriso. – Só se for agora. – Ele se levantou e foi até ela. Antes dos dois se afastarem, ele olhou por cima do ombro e acrescentou para os outros no seu tom e sorriso mais travessos: - Se vocês me derem licença.

Eles foram até o segundo andar da platéia para conversar em particular. Enquanto isso os outros ficaram ali com a boca meio aberta, se entreolhando, sem entender direito o que estava acontecendo.

Ninguém teve dúvida de que aquela era a pessoa com quem Leo tinha conseguido o figurino da peça. Talvez ela até fosse o motivo de tudo aquilo ter começado.

Will depois disse a Nico que Jason tinha lhe falado que Leo conhecera a garota quando tinha ido fazer um serviço numa residência muito chique. Ele trabalhava numa oficina nos fins de semana.

Mas, definitivamente, a coisa que mais vinha perturbando Nico era a lembrança do último dia de aula antes das férias de inverno. Naquele dia, ele tinha decidido que em vez de almoçar, ia para a biblioteca porque tinha um certo livro que estava lendo e não queria esperar para continuá-lo só quando chegasse em casa.

Will disse que ia com ele porque também tinha um livro para ler, que era, por sinal, nada mais que o livro que Nico lhe emprestara há um milhão de anos atrás.

Os dois se sentaram numa cabine de leitura nos fundos, perfeita para que Will beliscasse um sanduíche - o que ele induzia Nico a fazer também - sem que chamassem sua atenção.

Percebendo que Will não o tinha perturbado por um tempo muito longo para seus padrões, Nico baixou o livro para dar uma olhada nele. Will estava com a cabeça apoiada de lado em cima dos braços, de olhos fechados. Ele estava dormindo? Nico se perguntou.

Chamou o nome dele, mas o loiro nem se mexeu. Nico se viu incapaz de desviar os olhos da figura ali aparentemente adormecida. Ele pensou que a manga do suéter folgado azul bebê era exatamente da cor dos olhos dele, quando estavam abertos, claro, o que ele acharia meio brega se não se tratasse de Will.

Daí, ele voltou a se lembrar daquele dia chuvoso na casa de Piper McLean. Será que os lábios de Will eram mesmo tão quentes quanto ele se lembrava?A lembrança fez seu estômago se retorcer. E se...? Mas isso com certeza faria com que ele despertasse!... E o que Nico faria então? Talvez conseguisse dizer que agora estavam quites, dar um sorriso sarcástico... Poderia dizer que a culpa de ele estar com isso na cabeça era toda de Will e acharia que estava certo.

Olhou em volta. Não havia absolutamente ninguém que pudesse ver. Então, antes que pudesse formar mais algum argumento, inclinou-se e beijou de leve o canto da boca dele, afastando-se logo em seguida. Seu coração martelava com o que tinha feito e com a perspectiva de que ele fosse acordar, mas isso não aconteceu. Will continuou como estava até o momento em que o escandaloso sinal do fim do almoço soou.

Nico se sentou num gesto brusco no sofá do consultório de sua terapeuta ao lembrar disso, se sentindo se repente desconfortável.

— Tudo bem? – Íris perguntou.

Nico assentiu, esperando que seu rosto não o entregasse muito. O que ela diria se ele lhe contasse? Com certeza começaria a tomar notas freneticamente. Em todo caso, claro que ele não pretendia contar.

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Nico estava em seu quarto na tarde do dia do festival, quando ouviu que alguém tinha chegado lá embaixo. Suspirou, lembrando de seu pai ter mencionado algo sobre a mãe de Perséfone estar a caminho para passar o natal com sua querida filha.

Pouco tempo depois, vieram batidinhas na porta de Nico.

— Hazel? – ele perguntou.

Não houve resposta, mas as batidas ficaram mais entusiasmadas até que Nico foi vencido pela insistência.

Quando ele puxou o trinco e abriu a porta, deu de cara com a última pessoa que esperava estar parada à sua frente, apesar das vezes em que chegara a sonhar com isso.

Ela sorria para ele, um sorriso mais confiante do que ele se lembrava. O cabelo escuro estava preso numa trança caída sobre um dos ombros. E agora ele era alguns milímetros mais alto que ela. Não que Bianca fosse exatamente alta para os padrões americanos.

— Fratellino! - Ela exclamou, quebrando o silêncio e estendendo os braços para atirá-los no pescoço de Nico, puxando-o para um abraço apertado e ficando na ponta dos pés para beijar sua testa como costumava fazer. – Senti saudade!

Nico estava a ponto de retribuir o abraço quando ouviu isso e parou. Então, ao invés de abraça-la de volta, ele a afastou.

— Você tem mesmo coragem de me dizer que sentiu saudade? – ele perguntou, encarando-a com raiva.

O brilho de empolgação nos olhos dela se esvaiu um pouco e ela disse com um suspiro desapontado:

— Nico...por favor...

— Não me venha com essa de “Nico, por favor”. Para quê afinal você veio? Alguém sabia que você vinha?

— Bom, o papai, porque ele teve que pagar a passagem... Eu vim porque estava com saudade de casa... de você!

— Sei... Já mal posso esperar para vê-la de novo daqui a mais uns dois anos.

Então Bianca foi obrigada a recuar para não ser atingida pela porta que ele voltou a trancar.

Nico se sentiu mal por isso logo em seguida, mas ao mesmo tempo era impossível para ele naquele momento esquecer a raiva. Era como algo queimando-o por dentro. Não só Bianca aparecia do nada como se o tempo que passou totalmente distante não significasse nada, também ela estava mudada. Mais madura, confiante e feliz... Pelo visto o tempo longe dele tinha sido excelente para ela.


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Notas finais do capítulo

Digam o que acharam ;)

Bjs!



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