Dias depois e metade do nosso grupo ainda não tinha se recuperado. Brain trabalhava duro na segurança de todos nós e era claro que esse seu novo corpo era horrível para processamento, mas com a função de nos proteger não lhe sobrava tempo para cuidar de si. Tomei a liberdade de separar um espaço no que transformamos em enfermaria para que eu pudesse cuidar desse corpo. O deitei sobre um pedaço enorme de parede. Com algumas ferramentas comecei os reparos. Pela forma como eu o amparei ele não tinha sofrido muitos danos de queda, mas ainda assim o cara do sorriso tinha feito algo com ele. Brain não teria sido derrubado tão facilmente.

Eu tentava me lembrar do que ele poderia ter feito. Eu apenas me lembrava daquele corpinho verde de metal pendurado no sentinela e depois já era o cara o segurando para fora do prédio. Eu perdi algo enquanto lutava contra o cara grandão, perdi algum passo importante. 

— Agnes... - olhei assustada para a voz que me chamava. July estava invadindo o espaço que eu tinha delimitado como meu. - Você está bem?

— Estou sim.  -falei terminando de apertar mais um parafuso que fazia parte do sistema da perna - E você? - ela tinha inchados pelo corpo ainda.

— Pronta para a ação - ela riu, mas eu não tinha tanto animo - Todos estão preocupados.

— Imagino que estejam, muitos dos nossos foram feridos - olhei em volta, muitos sequer tinham acordado ainda - Precisamos nos preocupar com a segurança deles.

— Não... Não com eles, com você - eu a olhei e ri.

— Ta brincando, né? - ela negou e pegou minhas mãos que ainda trabalhavam no corpo do Brain - July, preciso terminar isso aqui - falei olhando o corpo.

— Não, não precisa.

— Preciso sim. O novo corpo do Brain não aguenta a rapidez de processamento dele, quanto mais tempo ele ficar naquele corpo estranho, mais debilitada será nossa segurança. Se eu arrumar esse daqui teremos o Brain cem por cento novamente.

— Eu sei disso - ela riu - Mas o Brain está dando conta do recado, você deveria se preocupar com você, gora.

— Eu não posso - me soltei das mãos dela e me apoiei perto do corpo verde - Se eu me preocupar comigo vou ser um perigo para vocês. 

— Porque você diz isso?

— Você me viu quase perdendo o controle, July, se isso realmente acontecer ninguém será capaz de me parar.

— O Tony conseguiu - ela riu de canto, eu senti minhas bochechas corarem.

— Aquilo... Ele teve sorte, muita sorte. Eu ainda estava um pouco consciente. 

— Entendo... - ela observou o corpo do Brain - E valeria a pena? - eu a observei - Perder o controle por causa de um de nós, valeria a pena?

— Se eu pudesse proteger os outros... Valeria sim - eu passei o dedo pelo sistema de ativação.

— Meninas? - olhamos, Bruce Banner estava nos observando e agora ele vestia uma camiseta - Tony e Bruce pediram para eu chamá-las.

— Estou ocupada - falei apontando para o corpo.

— Os velhos Tony e Bruce. - ele especificou.

Larguei as ferramentas, July vinha ao meu lado e meu pai logo atrás. 

Quando entramos no que seria a sala meu coração quase saltou pela boca, acho que aquela era a maior reunião mutante que o mundo já vira. Superman, Batman, Homem de Ferro, Capitão América, Viúva Negra, Wolverine, Homem Aranha, Lanterna Verde e tantos outros que eu não sabia como me portar com tanto sangue sendo bombeado. Todos aqueles que acreditavamos mortos estavam bem ali na nossa frente conversando e bebendo algo como se não tivessem abandonado o mundo por mais de trinta anos. 

— Chegaram - Senhor Stark veio até mim e July, nos empurrou para o meio da reunião. 

Muitos ali sequer tinham envelhecido, minha mente não gostava de processar aquilo. Olhei meu pai, ele reencontrava alguns dos amigos e parecia tranquilo com aquilo.

— Senhor Stark... O que está acontecendo?

— Isso aqui, Agnes, é o que vocês fizeram com o mundo - ele sorria, era um sorriso novo para eu adicionar ao catalogo do Senhor Stark. 

Eu não sabia como me portar naquele momento. July estava tão surpresa quanto eu, ela me olhou como que buscando ajuda, e eu queria o mesmo dela.

— Você deve ser a July - olhamos o homem que falava. Ele era lindo.

— Capitão - ela falou quase sem voz.

Ele sorriu. 

Apenas por se apresentar foi como convidá-la para uma dança, em segundos July seguia os passos dele. 

Luke estava ao lado de Wolverine, os dois comparavam o tamanho das garras.

Eu estava apenas ali no meio quando vi o pedaço de metal cinza caminhar em meio aos vários herois, eu sabia pouco sobre o passado do Brain, mas uma das coisas que eu sabia era de seu conflito com o Superman que estava ali analisando o Clark, era o avô dele, mas naquele momento parecia apenas como um irmão mais velho querendo atormentá-lo. 

— Brain! - eu o chamei em meio aos outros, ele me olhou, como eu odiava aqueles olhos mecânicos. 

Ele parou a minha frente, esse era bem mais alto, ele apagou os olhos e os acendeu como se piscasse. 

— Vem comigo - peguei a mão dele e me afastei daquela reunião. 

Entramos na enfermaria, parei de frente para o corpo dele.

— O que é isso? - ele perguntou.

— Eu estou te arrumando - falei com orgulho, o pescoço dele rangeu para que ele me olhasse.

— Por quê?

— Porque esse corpo é muito mais eficiente - ele ainda me olhava - Aguenta melhor o seu processamento, acho que logo eu termino de arrumá-lo e você já pode voltar para ele.

— Eu não quero voltar - eu o olhei sem entender - Eu não quero ser fraco novamente, Agnes.

— Você não é fraco, Brain.

— Quem foi jogado para fora de um prédio porque um vírus o derrubou não foi você. - ele falou - Esse corpo aqui, mesmo que não tenha uma boa aparência é bem mais forte e resistente do que esse daí. Está perdendo seu tempo, jogue-o fora, por favor.

Ele me deu as costas e saiu da enfermaria, eu o observei. 

Olhei o corpo esticado ali, eu ia terminar de arrumá-lo, o Brain gostando ou não dele. E foi o que voltei a fazer.

— Eu chamo para uma reunião com os antigos e você fica trancada aqui, isso não é muito educado, sabia? - olhei o Senhor Wayne.

— Eu não sou muito educada - ele quase riu.

— Agnes, para com isso um pouco e venha aproveitar com os outros.

— Eu não posso, Senhor Wayne.

— E por quê não?

— Porque eu não sou como os outros.

— Sabemos disso. Já lidamos com seu pai e veja, até ele consegue beber e festejar um pouco.

— Não é isso... - eu parei o que fazia - Eu não sou como você, Senhor Wayne, nem como meu pai, tem algo mais.

— Então está dizendo que é melhor do que nós e por isso não pode vir conosco para beber?

— Não, claro que não - ele riu do meu desespero em responder. - Mas eu não me encaixo com vocês, eu sou diferente...

Ele pegou meu rosto entre as enormes mãos que já derrubaram milhares de vilões. Me obrigou a olhá-lo.

— Todos somos diferente - ele não sorria, mas sua voz era alegre e segura - Eu não tenho poderes como o Superman, assim como o Tony não tem a ética do Steve e nenhum de nós fazemos ideia de como o Logan sofreu para melhorar os poderes. - eu sorri - Somos todos muito diferentes, Agnes e é por isso que formamos uma bela equipe.

Eu o segui até a reunião.

— Qual a diferença entre ele e mim? - ouvi meu pai perguntar para alguém.

Senhor Wayne me deixou perto de Luke que ainda conversava com Logan. Eu não sabia como me portar no meio de todos eles. 

— O garoto é bom, mesmo? - olhei o Wolverine.

— É sim - falei rindo de Luke que nos observava - Muito bom.

— Caso ele fuja da linha, você deveria saber que não pode matá-lo.

— Sei disso, Senhor Logan.

— Senhor? Não, não me chame de senhor - ele riu, era um riso engraçado - Apenas de Logan ou Wolverine.

— Certo...

— E como é ter o bichão verde dentro de você? - olhei o Logan, Luke pareceu assustado com a pergunta repentina.

— Sinceramente? - ele confirmou - A pior coisa. É como um animal que não pode ser controlado.

— Então façamos um brinde aos monstros incontroláveis dentro de cada um de nós - ele me entregou uma lata de cerveja.

Batemos as latinhas e as viramos.

Continuei conversando com o Logan, Luke acabou sendo excluido e se misturando com os outros. Trocamos experiências sobre perdas de controle. Ele com toda certeza tinha um péssimo passado, mas ele não se preocupava em compartilhá-lo comigo. Wolverine não escondia nada de mim, me contava cada detalhe. Eu contei para ele sobre minha experiência presa, sobre as duas prisões. Ele me ouvia enquanto ingeria latas e latas de cerveja uma atrás da outra e eu o seguia. Nunca tinha bebido, mas com toda certeza eu estava começando a ficar bêbada. 

Alguém se sentou conosco, olhei, meu pai estava ali pronto para ouvir nossa conversa. Mas eu parei de falar e Logan também, nós dois analisamos meu pai que sorria esperando que voltassemos ao assunto.

— Podem continuar conversando, finjam que eu nem estou aqui. - ele falou sorrindo.

— Desculpa - eu me levantei - acho que vou dormir, bebi demais.

— Depois você acostuma - Logan falou me fazendo rir.

Entrei no espaço que estava destinado para eu dormir. Sim ele era separado de todos, Senhor Stark insistia em dizer que não era proposital, mas eu sabia que era, ninguém quer arriscar que eu perca o controle enquanto estou tão próxima dos outros.

Eu me deitei, algo no meu travesseiro improvisado estava me incomodando, eu mexi nos pedaços de tecido e encontrei algo. Um disco metálico com apenas um orificio e um botão. O apertei. Dele se projetou o homem do sorriso.

"Como você já deve ter percebido eu já sei onde se escondem e eu poderia atacar ai a qualquer momento, porém eu não o farei até amanhã de manhã. Mesmo com tantos heróis das antigas ai seria difícil parar minhas máquinas e duvido que sairiam vivos" o riso, ele molhou os lábios de uma forma sádica "Agora você sabe quanto tempo tem para me encontrar nesse endereço" o endereço apareceu, eu o decorei "Estarei esperando".

Eu joguei o disco longe, transformei minhas pernas e saltei com o máximo de impulso que eu conseguiria dar naquele espaço sem chamar muita atenção.

—.-.-.-.-.-.

— A Agnes já levantou? - July perguntou para o grupo que começava a comer.

 - Não - Brain respondeu - E... - ele projetou o entorno do terreno.

— Isso são...

— Sim - ele falou, mas eles pararam, avançavam até alguns segundos, eles acabaram de parar e estão retornando.

— Essa quantidade - Bruce olhou os enormes robôs - eles iriam acabar coma a gente.

— Recebi algo - Brain projetou em outra tela - Está carregando...

Se arrependia de não ter aceitado a ajuda da Agnes para arrumar o outro corpo, ele teria detectado tudo mais rápido.

"Olá, supers."

— Essa voz! - Bruce ficou de frente para  a projeção. Tony e Luke observavam ao longe.

"Vocês devem ter percebido que meus brinquedinhos pararam há poucos metros de vocês, não é mesmo? E devem estar se perguntando porquê. Bom, eu vou falar o porque, na verdade, eu vou mostrar para vocês o porque" a imagem saia do rosto do homem e focava em uma menina, ela tinha os braços amarrados para trás "A amiguinha monstrenga de vocês os salvou, vocês devem muito a ela, não devem?"

— Agnes! - Bruce Banner apoiou perto da tela. Todos os outros levantavam e observavam a filmagem - O que você fez com ela?

"Devem estar se perguntando o que eu fiz para ela, mas vão gostar de saber que eu não fiz nada. Apenas dei algumas cartas, ela escolheu as que achou melhor. A primeira carta era a destruição de vocês pelos meus bonequinhos, a segunda era ela vir até mim sem resistência, e a terceira era para ela aparecer aqui até o amanhecer ou eu os mataria da mesma forma. Ela quase perdeu o horário, mas chegou em tempo de salvá-los. Acho que vocês deveriam agradecê-la quando a reencontrarem" ele passou pela Agnes, passou a mão pelo rosto dela "Isso se ela não matá-los primeiro" o riso ecoou. O homem deu um beijo na bochecha de Agnes. Tony deu um soco no balcão.

— Rastreie isso - Bruce falou.

— Já achou? - Tony perguntou.

— Calma, estou quase... - Brain falou.

— Agora, Brainiac! - Tony gritou.

— Esse corpo não processa tão rápido, Anthony, eu preciso de um pouco mais de tempo.

— Mais tempo para quê? Para ele brincar com a  cabeça dela?

— Tony, calma... - o avô tocou o ombro do neto que se soltou.

— Não, vô, não tem como eu ter calma. Isso aqui era para ser um lugar seguro, era para ele ficar de olho em todos os movimentos da mansão, ela saiu e ele sequer percebeu. 

— Culpar o Brain pelas escolhas da Agnes não irá trazê-la de volta, Anthony - Bruce falou. - Você ouviu, foi a escolha dela.

— Não foi escolha, Bruce. - o neto olhou o avô - Ele não deu opções para ela. Se aqueles robôs viessem até nós seria uma chacina. Mesmo com o Clark e o avô dele, o Steve e a July, Logan e Luke e todos os outros nós não teriamos chance. 

— Ela poderia ter lutado - Bruce falou - ela poderia ter lutado com a gente! - ele segurava o nervosismo.

— Ela não queria que nenhum de vocês se ferisse - Professor entrou - Ela se preocupa demais com vocês para sequer pensar que todos juntos ainda teriam uma minima chance contra os Sentinelas.

— Essa menina tem colhões - Logan falou soprando a fumaça do charuto.

— Você está falando da minha filha, Logan.

— Eu sei, verdão. Com isso já sabemos qual lado seu ela puxou - um riso seco - E o que faremos agora?

— Não sei - o Senhor Stark falou e olhou Steve buscando por respostas.

— Robô, rastreie a chamada, quando encontrá-la eles não estarão mais lá, mas de lá saberemos para onde foram. Stark e neto, olhem o quarto dela atrás de qualquer pista, a menina é esperta, deve ter deixado algo. July - a menina o olhou - Eu e você vamos verificar o perímetro com o Logan e o Luke. Clarks, vocês dois verifiquem pelo ar. Bruce e neto, ajudem o robô. Os outros deem suporte a todos os que necessitarem e cuidem dos que ainda estão se recuperando, eles precisam de todo o auxilio.

Cada um foi para o seu lado. Os Stark entraram no quarto da Agnes, as marcas dos pés. Tony escaneou e deixou o computador fazendo o processamento da força utilizada para o salto e qual o sentido ela teria seguido. O Senhor Stark encontrou o pequeno disco.

— Vamos analisar isso - ele puxou pelo neto.