Collin dá três batidas na porta do apartamento. Ouve um “Já vai!” da segunda vez que bate na porta. Quando ela abre a porta e vê quem a espera do outro lado – “filho da puta!” –, já vai fechando a porta na cara dele antes que possa a impedir.

– Qual é, Karen... Eu só quero ver.

Ela hesita por um tempo, pensando se deve ou não abrir a porta.

– Por favor.

Karen abre uma pequena fresta para encará-lo.

– Michael te contou, não foi?

Ele assente. Karen não consegue resistir àqueles olhos tão adoráveis, que lhe suplicam, cansados. Ela abre a porta, resmungando um “entra logo” nada convidativo e fecha a porta atrás de Collin

Ele a observa: está descalça, com o cabelo preso em um coque, a cara emburrada e os braços cruzados, vestindo uma regata branca e um short jeans velho. Dessa vez, o que mais chama a atenção de Collin não é o corpo maravilhoso dela, mas as marcas que se encontram no mesmo.

Cada braço tem três ou quatro roxos, a área abaixo do olho direito está arroxeada, o pescoço possui incontáveis marcas de chupões e que, Collin deduz, continuam para abaixo da clavícula, as coxas estão tão ruins quanto o pescoço e há um pequeno corte no lábio.

Collin finalmente desvia o olhar, encarando as próprias mãos regaçadas, esfregando as juntas e com um tom absolutamente calmo, mas que transborda ódio, diz:

– Eu vou matar ele – e só então volta a encarar Karen. Ela se aproxima dele e segura suas mãos.

– Não, você não vai.

– Não pode me impedir.

– Kol, ele é assunto meu.

– Eu não vou deixar aquele idiota continuar te espancando! Por que você continua deixando ele fazer isso com você?

– Eu preciso do dinheiro e você sabe que ele paga muito mais do que a maioria.

– Foda-se, Karen! Olha pra você! Quanto tempo vai levar até tudo isso desaparecer? – o tom de voz dele começa a se elevar, não porque está brigando com ela, mas porque está revoltado.

– Você não manda na minha vida. – ela continua falando com a voz baixa, porém autoritária.

– Eu não vou deixar você continuar sofrer desse jeito.

– Collin, quem você acha que é, hein? Meu marido ou alguma coisa assim? Você acha que é só quando eu e Mark transamos que eu fico assim? Você acha que os seus chupões não deixam marcas também? Eu odeio quando você aparece aqui querendo me fazer parar de ver algumas pessoas porque você acha que os julga corretamente. Quem foi que te disse que eu não gosto, hein? Por que você ainda se importa comigo, sendo que eu sou só uma vagabunda que você fode quando ta com vontade? – ela cospe as palavras na cara inconformada dele. – Por que você ainda se importa comigo?

– Você não vê, Karen? – exclama ele. – Você é muito mais do que isso. Se valorize, garota! Pelo menos eu acho que isso que temos é mais do que uma transa quando “dá vontade” – ele faz aspas com os dedos.

– E o que é isso que temos, hein?

Ele olha para ela. Toda roxa, descabelada, sem maquiagem, com roupas tão simples... Collin pensa que mesmo toda “feia” como está agora, ele continua atraído pelos seus lábios delicados. Ele se aproxima dela e passa a mão pelo seu rosto.

– É mais do que você pensa... tudo bem?

Ela o olha meio surpresa e ele a abraça, tomando cuidado para não machucá-la. Eles sentam no sofá e depois de um tempo, Collin fica apenas acariciando os cabelos de Karen.

*

Zach, Roxy, Becca e Ash estão na sala da casa dos O'Neil. Já é tarde da noite e eles estão sofrendo para escolher um filme para assistir.

– Um de terror! Por favor, Becky... – suplica Roxy.

– Nunca! É quase meia-noite, garota!

– Eu te apoio, amor. – Zach diz.

– Eu também! – anuncia Ash animado. – Só pra te provocar. – ele sussurra no ouvido de Rebecca.

– Não, gente... eu fico com medo.

– Ah, deixa disso, Bec! – Roxy reclama, procurando Chucky na sua lista de filmes da Netflix.

– Somos a maioria, Becca, aceite. – Zach conclui.

– Não... – choraminga ela, abraçada em Ash.

Estão todos sentados no tapete felpudo do chão, encostados no sofá. O filme começa e Rebecca amarra a cara, anunciando que depois daquele filme, todos iam, obrigatoriamente, assistir uma animação boba da Disney com ela. Roxy só grita “foda-se”, seguido de um “cala a boca”.

– Não se preocupe, eu te protejo. – Ash ironiza, murmurando as palavras no ouvido dela.

Toda hora que o filme dá sustos, Becca se agarra mais em Ash, tanto no travesseiro quanto na blusa dele, e ele ri quase sempre que ela faz isso. Zach permanece sério, como se estivesse entediado ou achasse o filme uma merda, e pela expressão que toma seu rosto cada vez que o boneco aparece, deve achar mesmo. Roxy tem um ar de riso por achar aquele filme muito ridículo, vezes até gargalhando nos clímax do filme.

Ash mal consegue prestar atenção no filme, sendo que uma Becca assustada finca suas unhas em qualquer lugar do tórax dele. Assim que o filme termina, Roxy dá um susto em Becca e, após um grito, Becca amaldiçoa a amiga eternamente. Quando Roxy se dá conta, Zach está dormindo com a cabeça encostada no sofá e ronca baixinho.

Becca anuncia que vão ver Frozen com um ar bem animado. Se nem o grito de Becca pelo susto que levou de Roxy não havia acordado Zach, não era ela cantando as músicas de Frozen que iriam.

Na metade do filme, Roxy adormece colada ao ombro do namorado e Ash está fazendo de tudo para não dormir também. Dá um sorriso quando percebe que Becca canta as músicas distraidamente, se esforçando para não cair no sono. Ela escora no ombro dele e boceja.

– Eu vou dormir agora, mas me prometa que não vai contar pra sua irmã que eu não terminei de assistir o filme.

Ele tenta murmurar alguma coisa como um “ok” mas já é tarde, Ash se entrega ao cansaço e dorme. Becca suspira e deita a cabeça no colo dele e – nem um pouco folgada – coloca os pés no colo de Roxy. Bem, eles são praticamente família, já devem ter se acostumados. Sabe que vai acordar toda dolorida no manhã, mas isso é a menor de suas preocupações.