— PROPOSTA

— Esse mês faz dez anos que nos conhecemos - disse Stephen enquanto estávamos abraçados na sua sala de escritório. Ele estava encostado na sua mesa, me segurando pela cintura.

— Eu sei. - disse, me lembrando também.

Não comemorávamos um dia, pois não sabíamos dizer quando realmente começamos a namorar, mas como foi em setembro de 1995 que tudo começou, nós sempre deixávamos para comemorar o mês inteiro.

— Obrigado - eu disse para ele.

— Obrigado pelo o que?

— Por ter aparecido aquele dia na biblioteca - ele sorriu. - É sério, Ste. Você que começou com isso. Se você não tivesse aparecido eu não sei como seria a minha vida agora sem você.

Ele me beijou. O prédio onde Stephen trabalhava era todo de vidro. Dava para ver tudo o que se fazia nas salas, e com o escritório dele não era diferente.
Mas Ste não se incomodava com isso, muito menos eu. Não vivíamos mais em segredo. Essa fase já havia acabado há muitos anos atrás.

Ouvimos alguém pigarrear. Paramos de nos beijar e me virei.

— Desculpa interromper, mas precisamos ir agora Stephen - disse Robert, ele estava de mãos dadas com Evilyn que sorria para nós.

— É claro - Ste me deu mais um beijo e depois se afastou, me deixando sozinho com Evilyn na sala.

— Então, vejo que você está feliz hoje. Aconteceu alguma coisa? - perguntou Evilyn animada.

— Não, nada. - respondi normalmente, ainda com o sorriso no rosto. 

Evilyn pareceu desapontada.

— O que foi?

— Nada. Vamos sair? Eu preciso comprar um vestido para a festa do cliente do Robert. Ele também quer que eu compre uma camisa nova para ele. Você e o Stephen vão?

— Acho que sim, Stephen comentou sobre.

Acompanhei Evilyn até a loja da Hollister. Enquanto ela provava os vestidos no vestiário, nós conversávamos.

— Então, não aconteceu nada de interessante nessa semana? - perguntou Evilyn de dentro do provador.

— Não. Por que? - perguntei desconfiado, ela estava me perguntando muitas coisas.

— Nada - ela saiu e me mostrou o vestido preto que batia em cima do joelho. - Gostou?

— Você que sabe. Ficou bonito no seu corpo.

Evilyn agora tinha curvas. O cabelo ainda era enrolado, era raro ela alisá-lo.

— Será que o Robert vai gostar?

— Acho que sim.

Evilyn acabou comprando esse vestido mesmo e depois fomos até uma loja masculina comprar a camisa dele.

Enquanto dávamos uma olhada ela ficava me observando de vez em quando. Eu estava achando Evilyn muita estranha, parecia que ela estava escondendo algo de mim.

Depois que compramos a camisa, Evilyn dirigiu até a praia, ela queria andar um pouco. Ficamos caminhando pela calçada. Estava bem quente naquele dia.

— O que que foi? - perguntei incomodado.

— O que?

— Você está muito estranha, me fazendo perguntas.

— Ué, e eu nunca te fiz perguntas antes? - ela virou a cara, não pude ver sua expressão, ela estava escondendo de mim. - Olha, um sorveteiro, você quer sorvete?

Evilyn correu até lá e comprou dois, ela me deu o meu. De morango, o meu preferido. Fiquei observando-a enquanto ela chupava o seu sorvete de chocolate.

— O que foi, James?

— O que você não está me contando?

Ela ficou me encarando sem dizer nada.

— É melhor nós voltarmos né? Está muito calor.

Ela saiu andando, a puxei, e ela quase derrubou o sorvete no chão.

— Evilyn!

— O Stephen vai te pedir em casamento. Droga! - ela tampou a boca com a mão livre. Fiquei alguns minutos tentando entender as palavras que ela tinha dito.

— O que você está falando?

— James não era para eu ter dito isso, que merda. O Stephen vai me matar. Não conta para ele.

— Como assim Evilyn? Eu não estou entendendo nada.

Comecei a ficar nervoso. Me pedir em casamento? Como assim? Meu Deus. Joguei o meu sorvete no lixo, eu não conseguiria mais comer depois disso.

— Era para ser uma surpresa, como eu sou burra - Evilyn estava se lamentando.

Fui até um banco mais próximo e me sentei, eu não sentia mais minhas pernas. Ele queria casar comigo?

Nós já vivíamos há tanto tempo juntos. Já tínhamos conversado sobre casamento, mas nunca uma conversa séria, era sempre comentários bobos, sem importâncias. Eu já era feliz em todos esses anos perto de Stephen. Mas casar? Eu não sabia que ele queria isso.

— James, você está bem? - Evilyn se sentou do meu lado. - Pensei que fosse ficar feliz. 

Olhei para ela sorrindo.

— Ele quer casar comigo.

Ela sorriu me dando um abraço.

— Já estava na hora né? Quem diria que eu fosse casar primeiro do que você.

Eu ainda estava tentando digerir a novidade. Estava feliz, mas nervoso com tudo isso. Evilyn tinha me contado o que era para ser uma surpresa. E não era culpa dela, se eu não tivesse perguntado. Agora eu tinha que tomar cuidado e não deixar Stephen perceber que eu sabia. Como será que ele estava pensando na proposta?

—--

No fim de semana fomos até a festa do cliente de Robert. Stephen também o conhecia. Era o Sr. Van Daan. Um homem bem rico, que estava processando alguma coisa, que Stephen me contou um dia, mas não prestei a atenção.

Estávamos num hotel luxuoso, num salão enorme. A festa era chique e só havia pessoas da alta sociedade. Ste e eu fomos acompanhados. O Sr. Van Daan sabia sobre a nossa relação e não parecia ter problemas com isso. Às coisas agora eram realmente diferentes do que quando estávamos na escola. Apesar de eu achar que todo esse respeito era porque Ste era uma pessoa importante.

Sentamos para comer, e a todo momento eu ficava observando Ste. Ele já estava começando a perceber. Mas era mais forte que eu. Eu ficava olhando em seus olhos. E pensava que a qualquer momento ele poderia me pedir em casamento. Porque ele queria casar comigo. Eu sorri sem perceber. Ele queria casar comigo.

— Por que está sorrindo? - perguntou ele.

— Só estou feliz - respondi.

Evilyn e Robert estavam na mesma mesa que nós, mas estavam dançando.

— Você quer dançar? - perguntei, eu já estava ficando inquieto nessa cadeira.

Ste se levantou todo elegante e estendeu a sua mão para mim. Fomos até onde as pessoas estavam dançando uma musica lenta, musica ao vivo, pois alguns homens tocavam ali no pequeno palco.

Segurei na sua mão e ele colocou a outra na minha cintura, enquanto pousei a minha livre no seu ombro. O encarei, enquanto dançávamos.

Eu ficava imaginando o que ele estava pensando. Passei a mãos de leve em sua nuca, ele tinha prendido o cabelo num coque.

— Eu te amo - eu disse, sem forçar, eu só queria dizer.

— Eu sei - ele sorriu me apertando mais no seu peito, enquanto dançávamos, descansei minha cabeça ali, sentindo seu perfume. - Você está bem?.

— Melhor do que nunca.

Depois de algum tempo Ste me levou até o lado da piscina. O céu estava coberto por estrelas. Havia alguns sofás ali, mas não nos sentamos. Apenas caminhamos de mãos dadas.

— Eu queria te perguntar uma coisa.

Fiquei nervoso. Ele ia me propor agora?

— O que?

Ele ficou me observando, parecia estar pensando em várias coisas.

— Você acha que é feliz comigo?

Me aproximei mais para acariciar seu rosto.

— É claro que eu sou - olhei em seus olhos. Eles tinham um brilho sem explicação. - Por que está me perguntando isso? - tentei soar o mais neutro possível. Eu precisava fazer uma cara de surpresa, convincente, não queria que ele soubesse que eu sabia.

— Nada - Ste me beijou, retribuiu sentindo duvida. Será que ele não achou que era o melhor momento? Então por que me fez essa pergunta?

A festa acabou e voltamos para casa e nada. Ele não tinha me pedido em casamento. Se passou um dia, e depois outro. Nada. Será que ele tinha se arrependido? Será que não queria mais se casar comigo? Será que fez aquela pergunta; "Você acha que é feliz comigo?" para ter certeza de que eu estava feliz e não era preciso se casar comigo?

Eu não sabia dizer, e não podia falar com ele sobre isso. Ele não podia saber que Evilyn havia me contado sobre o pedido. E como Evilyn sabia disso? Eu nem mesmo perguntei isso à ela. Por que Ste contou isso, justo para Evilyn que é minha melhor amiga e que podia me contar tudo?

Na noite daquela mesma semana adormeci exausto. Eu estava muito cansado por causa do trabalho. Era época de provas em Stevens e eu estava ajudando os alunos o máximo que podia, eu queria que eles se dessem bem na prova, então quando escutei a voz de Ste me acordando, eu quase morri.

— Amor, por favor acorda.

— O que aconteceu, Ste?

— Eu preciso falar com você.

— Agora? Você não pode esperar até amanhã? Amor, eu estou morrendo de sono, preciso acordar cedo.

— Eu sei. - Ste me deu um beijo no rosto, eu ainda estava deitado com os olhos fechados, não conseguia abri-los, a voz quase não saia, eu não sei como ele estava me escutando. - Mas é importante, faça um esforço.

Abri os olhos devagar, pelo menos ele não tinha ascendido a luz. Ste chegou mais perto, me abraçando por cima do cobertor. Segurei no seu braço, estava mais forte. Ele estava fazendo academia com o Robert agora.

O que ele tinha de tão importante para me dizer que não podia esperar até amanhã?

— O que é?

— James, eu pensei muito em como fazer isso, mas não conseguir pensar nada. Eu acho que não existe melhor maneira, ou momento certo. Eu não consigo dormir só pensando nisso, e acho que se eu estou sentindo, então eu devo dizer logo.

Do que ele estava falando? Forcei meus olhos a abrirem. Como eu estava morrendo de sono.

— Você sabe que o que eu sinto por você eu nunca senti antes. Para mim você é a coisa mais importante na minha vida.

— Ste, amor. - passei a mão por seus cabelos. - Eu também te amo, mas estou realmente muito cansado. Por favor, vamos conversar amanhã.

— Não, amor, não dá, eu preciso falar isso agora.

Eu não entendia, por que ele estava querendo me dizer tudo isso agora?Será que tinha acontecido alguma coisa?

— Eu não sei o que vai acontecer daqui para frente. Não sei. Tudo o que eu sei é que eu te amo com todo o meu coração. E não quero te perder.

— Você nunca vai me perder.

— James, você é o amor da minha vida. Eu quero passar o resto dos meus dias com você. Você quer casar comigo?

— O que? - ele estava me pedindo em casamento agora? Agora no meio da noite?

— Não precisa responder agora, você está cansado. É só que eu precisava dizer isso logo, eu estava ficando louco, eu não sabia como fazer e...

— Eu aceito - disse o fazendo se calar.

— Sério? - ele perguntou, como se realmente duvidasse que minha resposta fosse sim.

— Sim. - o beijei. Ste me apertou em seus braços.

— Você é louco - eu disse. - As pessoas vão perguntar. Como ele fez o pedido? E eu vou responder, no meio da noite. Devíamos fazer amor pelo menos.

Ele sorriu e me beijou de novo.

— Pensei que estivesse cansado - ele falou no meu ouvido, me dando cocegas. - Eu preciso só fazer mais uma coisa primeiro.

Ste se afastou e buscou algo do seu lado da cama, não consegui ver o que era, estava escuro, só quando ele pegou a minha mão para colocar a caixinha em cima dela.

Ele tinha comprado uma aliança? Evilyn não tinha me dito isso.

Abri com cuidado e a vi, mesmo no escuro, era dourada. Ste tirou ela e a colocou na meu dedo.

— Eu fiquei meio na duvida se devia ou não comprar, mas a Evilyn achou que sim e me ajudou.

Então era por isso que ela sabia.

— Eu te amo - disse voltando a beijá-lo. Eu não acreditava que isso estivesse acontecendo. Ste tinha razão. Não importava o jeito que ele havia me pedido, mas maneira com o que tinha feito, as palavras que tinha me dito... Eu o amava mais do que tudo na vida e estava muito feliz, mais feliz do que pensei que fosse ficar com esse pedido de casamento.