Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 33
Extra(2): Amadurecendo.


Notas iniciais do capítulo

Decidi que vou voltar a postar igual antes. Terça e Sexta, mas talvez eu não seja sempre pontual, okay? Às vezes só vai dá para postar em um dos dias, mas 1 vez na semana é certeza. Se eu já tiver escrito, com certeza vou postar nos dois dias.

—___

— MOMENTO/ONDE QUE SE PASSA: 1995/Faculdade de Stevens.

— POV: James.

— PERSONAGEM NOVO: Leo Teaser

— IDADES: James (18); Evilyn (18) e Leo (19).

Espero que gostem! Boa Leitura!



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— AMADURECENDO

— Já acabou o tempo, por hoje é só. - disse o professor Harsons e comecei a colocar as coisas na mochila. - Mas antes de vocês se levantarem eu queria saber quem está disposto a ajudar um aluno cadeirante que irá estudar com vocês na semana que vem? Quem estiver interessado em ajudar é só falar comigo. Podem ir.

Me levantei e saí da sala, assim como os outros alunos. Eu iria me encontrar com Evilyn no campus, e no caminho para lá eu pensava se essa não era uma boa ideia. Ajudar esse cadeirante. Talvez assim eu me distrairia um pouco. Parava de pensar tanto em Stephen, pois isso já estava quase prejudicando meus estudos. E eu precisava ser o primeiro da classe, mas com meu pensamento nele o tempo todo eu não estava conseguindo.

Eu estava enganado sobre tudo. Talvez se Stephen estivesse aqui na cidade eu não estaria assim. Ou talvez não, talvez eu ficasse muito preocupado com ele, lá fora, sem poder estudar e onde trabalharia. Não, era melhor ter feito isso mesmo. Convencê-lo a entrar na faculdade foi a melhor opção, mas isso me deixava com muita saudade dele.

— Talvez eu devesse me candidatar - eu disse, depois que expliquei a história toda para Evilyn sobre o cadeirante.

— Tem certeza? Quer dizer, não é por ser chata nem nada, mas você sabe que isso vai te tomar tempo.

— Mas é isso mesmo o que eu quero, Evilyn. Já se passaram três meses, eu não consigo me focar em nada. Stephen não sai da minha cabeça.

— Então você vai ter três coisas com o que se preocupar? Estudo. Stephen e esse cara? Você acha que é uma boa saída?

— Pelo menos eu vou me distrair. Eu posso virar amigo dele. Até agora eu não fiz nenhum amigo que eu possa realmente conversar. E não estamos mais no colégio, não nos vemos com tanta frequência na hora das aulas.

— É, eu sei. Eu até sinto falta disso.

A verdade era que, mesmo eu e Evilyn ainda sendo muito amigos, não tínhamos muito tempo para conversarmos. Agora mesmo só teríamos mais alguns minutos, para depois voltarmos para as aulas.

Naquele dia, depois de todas as aulas que tive, fui procurar o professor Harsons na sua sala. Me aproximei dele, hesitando, pois vi que ele estava ocupado, lendo algo.

Eu disse que poderia ajudar o tal garoto. Ele ficou contente. Sorriu fazendo com que suas linhas de expressão aparecessem. O professor devia ter quase 40 anos.

— Que bom, James. Só devo avisar que o Leo é um pouco difícil, mas tenho certeza de que vocês vão se dar bem.

Então o nome dele era Leo. E ele era difícil? Eu quis perguntar, difícil como? Mas tive vergonha. Não acho que eu devia perguntar isso.

O Professor Harsons me deu os horários das aulas de Leo. Ele tinha quase as mesmas aulas que eu. Me disse onde eu tinha que buscá-lo no inicio das aulas. Anotei tudo para não me esquecer. Ele me deu boa sorte quando terminou e fiquei imaginando por quê.

—-

Na segunda-feira eu acordei bem mais cedo que o habitual. Eu precisava encontrar com o Leo onde o professor Harsons havia me avisado. Saí da minha fraternidade seis e meia da manhã e fui até o pátio de Stevens. O céu claro já estava aparecendo, mas ainda não havia sol. O vi de longe e me aproximei devagar.

Ele parecia estar incomodado.

— Oi. Eu sou o James. O professor Harsons deve ter falado de mim. - eu disse com a voz nervosa, eu sempre ficava tímido quando conhecia alguém novo.

Ele só ficou me olhando. Percebi que ele era mais velho que eu. Talvez tivesse a idade de Stephen, que agora devia estar com 19 anos. E eu não estive presente no seu aniversário... Foco, James. Foco.

— Então, eu vou te levar a até a sua aula. Qual é mesmo? - peguei o papel e o desdobrei, vi que era com a professora Blanc.

Ele continuou me observando. Percebi que não estava feliz. Também, quem estaria no lugar dele? Ficar dependendo de outras pessoas.

Leo tinha o cabelo enrolado, mas não era crespo. Seus olhos eram pretos e meio puxados, mas ele também não era coreano. Sua sobrancelhas eram grossas e ele usava barba rala, talvez por isso parecia ser mais velho.

O levei até a sala de aula (não empurrando, pois ele fez questão de fazer tudo sozinho, e não que tenha falado comigo, mas por ter tomado a iniciativa). Quando chegamos fiquei sem saber o que fazer. Será que ele queria escolher a cadeira? Não haviam rampas, então provavelmente ele teria que se sentar nas primeiras, e ele não poderia ficar na sua própria cadeira, ou seria difícil para escrever, por falta da madeira.

Francamente. Essa faculdade deveria dar mais apoio para os cadeirantes e deficientes.

Escolhi a cadeira, já que ele não me respondia.

— Você acha que aqui está bom? - perguntei. Ele não me respondeu.

—--

— Ele não fala comigo, Evilyn, nenhuma palavra. - desabafei com ela, mais tarde naquele dia.

— Talvez deve ser difícil, James. Se ponha no lugar dele.

Evilyn como sempre tinha razão. Não deve ser fácil para ele. Leo deve estar me odiando por causa disso. Mas eu não tinha culpa, eu só queria ajudá-lo. Bem que o professor Harsons me disse que ele era difícil.

— Olha, aquele advogado que eu te falei. - disse Evilyn de repente, me fazendo encarar um homem bem alto e musculoso, que caminhava por um dos corredores de Stevens. - Nossa ele é tão bonito. Sabe, a gente conversou um dia. Eu acho que ele gostou de mim.

Encarei ela boquiaberta com a surpresa. Evilyn usava aquele tipo de voz que as garotas fazem quando estão falando sobre garotos.

— Evilyn, ele deve ser uns 10 anos mais velho do que você. No minimo.

— E daí, James? Idade não é nada.

Agora sim eu estava chocado.

— Está falando sério?

— Sim. Se ele um dia me chamar para sair, eu não vou ser burra e dizer não.

Realmente Evilyn estava diferente. Talvez ela estivesse crescendo, amadurecendo. As pessoas dizem que quando vamos para uma faculdade, quando saímos de casa, nós mudamos. Eu não achava que ela tinha mudado para pior, ela só estava diferente. Só isso. E eu precisava começar a me acostumar.

Voltei à rotina naquele dia, levando Leo alguns minutos antes de cada aula começar e ajudando-o a se sentar na cadeira. Era como se ele fosse Johnny Depp em Edward Mãos de Tesoura. Ele não falava. Mas ao contrário de Edward, ele não tinha uma expressão amável. Ele tinha aquela expressão de que odiava tudo e todos. E principalmente eu.

Depois que a aula acabou, desci para ir ajudá-lo. Esperei que todos saíssem da sala, pois achei que ele preferiria assim. Puxei a cadeira de rodas para perto dele e então tentei pegar sua mochila que enroscou na madeira da mesa.

— Deixa isso aí! - gritou ele, sua voz não era grave, mas também não era fina. Ele parecia que tinha voz de cantor. Talvez ele até cantasse.

— Desculpa - disse imediatamente. Surpreso por ele ter falado comigo, mesmo que a primeira vez tenha gritado.

— Por que você está fazendo isso? - perguntou ele de repente. E sua pergunta foi agressiva.

— Quê?

— Por que diabos vocês está fazendo isso? Por que está me ajudando? Por que está aqui? - ele continuava bravo.

— O professor Harsons perguntou e... eu quis ajudar.

Eu ainda estava surpreso pela reação dele. Quer dizer, uma hora ele está mudo e na outra ele fala mais alto do que meu pai?

— Ele te ofereceu algo em troca? - sua voz estava mais baixa, mas ele ainda cuspia as palavras na minha cara. Eu não gostei disso.

— Não. - respondi, tentando respirar direito. Eu estava começando a ficar nervoso por aquela situação. Eu não gosto que me tratem assim.

— Mentira! - gritou ele. - Para quê você se prestaria a isso? - ele me encarou, seus olhos eram feroz.

— Eu só queria te ajudar, mas se for para você ficar gritando comigo eu vou embora.

Tentei dizer isso sem parecer chateado, mas não consegui.

Leo continuou me encarando feio.

— Ainda está aqui por quê? - indagou ele.

Peguei minha mochila, que deixe na cadeira do lado, e saí da sala. Tudo bem, ele não queria minha ajuda? O problema era dele. Saco! Eu só queria ajudá-lo. Ele não tinha o direito de gritar dessa maneira comigo.

À medida que eu ia me distanciando da sala mais me sentia culpado. Eu o tinha deixado sozinho. Eu tinha deixado um cadeirante sozinho. Como ele iria até a sua cadeira de rodas sem andar? Droga! Eu tinha que voltar. Mesmo ele não merecendo. Eu tinha que voltar.

Me virei e voltei o caminho todo, quando estava quase chegando ouvi um barulho, e vinha de dentro da sala que eu o havia deixado. Saí correndo e quando entrei pela porta o vi caído no chão.

— Meu Deus! Você está bem? - me aproximei rapidamente e tentei ajudá-lo a se levantar.

— Não! Não toca em mim! - gritou ele com raiva. - Eu consigo sozinho.

Me afastei e deixei que ele fizesse sozinho, mesmo achando que ele não ia conseguir. Percebi que a cadeira de rodas estava do outro lado, ele deve ter tentando alcança-la com a mão, mas ela rolou sozinha e por isso ele tinha caído.

Quando o vi tentando subir até a cadeira de novo, usando a força dos seus próprios braços, já que as pernas não se moviam e pareciam pesar demais, eu não aguentei.

— Deixe-me te ajudar, por favor. - pedi. E no mesmo momento ele parou.

Eu não consegui ver seu rosto, pois não estava virado na minha direção. Ele ficou parado alguns segundos nessa posição e depois virou de barriga para cima, se sentando no chão. Ele respirava com força, estava cansado por tanto esforço. Esperei até perceber que ele não ia gritar comigo de novo se eu me aproximasse. Com cuidado me abaixei e segurei em baixo da junção entre braço e tronco, o levantando até a cadeira novamente. Ele era pesado, mas não havia problema para mim. Me afastei e ele estava com a cabeça baixa.

Me virei e busquei a cadeira de rodas do outro lado e voltei com ela até ele. Aquele silencio horrível tomou conta daquela sala. Eu estava constrangido por aquela situação, por ele.

— Eu não sei o que eu ainda estou fazendo aqui - pela primeira vez ele não gritava, ou falava com agressividade. - Isso não vai adiantar para nada. Olha para mim - ele levantou o rosto, não havia lagrimas em seus olhos, mas havia dor e ódio. Muito ódio. - Eu agora sou um inútil. Não consigo fazer nada sozinho.

— Isso não é verdade. - eu disse, ele olhou para mim, rindo pela primeira vez. Seu sorriso era bonito e seus olhos ainda ficavam mais fechados, mas ele não estava rindo de alegria e sim de irônia. - Estou falando sério. É ciências. Não precisamos do corpo. Só precisamos da mente. Stephen Hawking é um bom exemplo disso.

— Quem é esse?

Expliquei que Hawking era portador de esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem atingir as funções cerebrais. E que mesmo assim ele era um dos mais consagrados cientistas da atualidade. E sua doença não o venceu.

— Eu não sabia sobre ele.

— É impressionante o que as pessoas podem fazer com inteligência. - eu disse, imaginando tudo o que esse homem teve que passar e nunca desistiu de lutar. Estava tentando fazer Leo perceber que estar numa cadeira de rodas não o limitaria de nada.

— Sinceramente, por que está aqui? - perguntou ele de novo, dessa vez com calma.

— Eu queria me distrair com outras coisas. Na verdade, eu preciso. - disse com sinceridade, ele não precisava saber que coisas eram essas. Afinal, ainda nem nos conhecíamos direito.

— Meu tio pediu para você fazer isso?

— Seu tio? - fiquei confuso.

— O professor Harsons.

— Eu nem sabia que ele era o seu tio. - agora tudo fazia sentindo. Por isso o professor disse que Leo era difícil, pois ele conhecia o sobrinho bem.

— Ele se importa demais, dá até raiva.

— Você está com fome? Podemos comer alguma coisa - disse para descontrair, eu não queria que ele começasse a se irritar de novo, já que estava tão calmo.

— Não precisa ser legal comigo, tá? Eu estou bem. Só me tira dessa droga de lugar que eu sigo o meu rumo.

— Não estou fazendo isso para ser legal. Eu só estou morrendo de fome e pensei que você também estaria. Então, quer ir até a minha fraternidade?

—--

Ficamos na cozinha, eu preparei dois sanduíches para comermos.

— Então, você ainda não me disse por que quer se distrair. - Leo disse para mim.

— Não é nada importante - respondi, mordendo meu sanduíche. Eu não queria falar sobre isso com ele. Eu não queria me lembrar de Stephen agora.

— Há algo em você - reparou Leo. - Então me diz. - ele insistiu. - Que tal fazermos assim? Eu te conto a razão que me levou a ficar preso nessa cadeira e você me conta por que quer se distrair.

— Você quer mesmo saber? - eu não entendia o por que de tanta curiosidade, mas se ele estava disposto a me contar sobre seu acidente.

— O que eu posso dizer, eu sou curioso - ele sorriu, e dessa vez foi sincero.

Respirei fundo.

— Eu quero parar de pensar um pouco numa pessoa, que não veio para cá. Acho que vai me fazer bem.

— Uma pessoa? Ex-Namorada?

— Na verdade é namorado. - respondi sem ter medo de revelar. Não era um segredo. Eu não podia me esconder. Não de novo.

— Aí está! Então é isso. Você é gay.

— Você tem problema com isso? - perguntei, mesmo com ele não atingindo o mesmo tom de uma hora atrás, era melhor ter certeza.

— Não. É só você não vir com intimidades para cima de mim que está tudo certo.

Fiquei aliviado quando ele disse isso. Eu devo ter julgado Leo mal.

— Então, o que aconteceu com você?

Ele começou a rir.

— Você acha mesmo que eu vou te contar?

— Você disse...

Ele continuou rindo. E depois que terminou de comer o sanduíche colocou o prato na mesa.

— Nos vemos por aí, homo.

Ele deu um sorriso cínico e saiu da cozinha. Eu não acreditava nisso. Ele tinha me feito de idiota, só para saber o por que eu estava o ajudando.

É, eu realmente não o julguei mal. Não mesmo.

Entretanto, mesmo estando com raiva de Leo, acordei no outro dia cedo para ir até o local onde ele estaria me esperando. Mas ele não estava lá. Esperei que nem um trouxa pensando que talvez ainda viesse, e quase me atrasei para a primeira aula do professor Harsons.

Enquanto todos assistiam a aula, Leo entrou pela porta sentado na sua cadeira de rodas.

— Leo? - o professor ficou surpreso.

Todos pararam para olhar para Leo, o professor olhou para onde eu estava sentado.

— James, por favor... - começou ele.

Eu esperei, não me movi. Percebi que Leo estava encarando todo mundo.

— Eu vou ficar por aqui hoje - disse Leo. - Se você não se importar professor.

— Claro.

Ele não queria eu fosse ajudá-lo e eu sabia por quê. Havia muita gente encarando, seria muito humilhante.

Quando a aula terminou eu desci junto com todos. Leo não precisaria da minha ajuda, já que não tinha se sentado na cadeira.

— James? - fiquei surpreso quando ele me chamou.

— Precisa de alguma coisa? - perguntei, me aproximando.

— Sim.

Segui ele até o campus. Do que será que ele precisava?

— Está vendo aquela garota? - perguntou apontando para uma loira de cabelo curto. Ela só usava roupa da cor preta e lápis no olho. Parecia bem o estilo de alguém que seria amiga do Leo. - Eu quero ela. Tente arranjá-la para mim.

— Desculpe, o quê? - eu não estava acreditando.

— Você ouviu. Eu quero transar com ela.

— O problema é seu. - saí andando para o outro lado. Isso era demais!

— Ei! Ei! - gritou ele, quando me virei ele estava vindo em minha direção. - É melhor você fazer isso, se não quiser que as pessoas saibam do seu segredo.

— Que segredo?

— Que você é gay.

Ele não tinha dito isso! Comecei a ficar com raiva, uma raiva que nem sabia que existia dentro de mim. Talvez eu estivesse mudando, igual a Evilyn. Amadurecendo. Estava ficando mais forte e menos fraco. Me curvei um pouco, para que pudesse encará-lo nos olhos.

— Primeiro: Isso não é um segredo. Eu não tenho vergonha por ser gay. Segundo: Eu cansei de você! Eu queria te ajudar, mas já que você não quer, o problema é seu! E terceiro: Eu já sofri demais na minha antiga escola por causa de merdas como você. Eu quase morri duas vezes, e isso não vai acontecer de novo.

A expressão de Leo tinha mudado. Ele ficou surpreso depois que eu disse tudo isso. Dei as costas e fui embora. Ele era um idiota. E eu não precisava ficar me humilhando. Hoje mesmo falaria com o professor Harsons que não poderia mais ajudá-lo, ele teria que encontrar outra pessoa.

Percebi que tinha algumas horas e resolvi parar para estudar um pouco, me sentei num banco dentro do prédio principal de Stevens, o mesmo onde fiz a minha entrevista, e comecei a ler um livro sobre ciências.

É verdade que não consegui me concentrar. Ainda não acreditava que aquilo tinha acontecido. Leo bem que podia ser um dos amigos de Mike se ele tivesse estudado em Herman. Ele era um ignorante como todos os outros.

A única coisa boa, depois disso que aconteceu, foi a minha reação. Eu finalmente estou lutando. Lutando contra essa sociedade que não nos aceita. Eu sei que ainda estávamos nos anos 90, mas nunca era tarde para mudar de opinião. E um dia, eu tenho certeza que isso vai acontecer.

Depois de alguns minutos escutei rodas se aproximando. Eu sabia que era ele.

— O que você está fazendo aqui? - perguntei sem olhar para ele, quando Leo parou na minha frente. - Veio me ameaçar de novo?

— Você disse que quase morreu. Eu nunca conheci ninguém que quase morreu, a não ser eu mesmo - encarei ele depois de ouvir isso. Ele parecia estar sendo sincero dessa vez. - Isso aconteceu por causa da sua homossexualidade?

— Por que quer saber? Você quer usar isso contra mim?

Não é só porque ele parecia sincero que eu ia ser idiota de novo.

— Olha, desculpa tá? Eu peguei pesado. Eu costumava ter nojo de pessoas como você, mas depois que isso aconteceu comigo, nada mais importa.

Leo abaixou a cabeça. E quando voltou a falar, parecia estar se esforçando para que as palavras saíssem da sua boca. Ele estava com vergonha de pedir algo.

— Se você quiser continuar me ajudando, eu juro que não vou fazer mais babaquice.

Apesar de tudo eu o entendia. Ele tinha vergonha de ficar dependendo dos outros, mas já havia se mostrado para mim. Seria difícil deixar mais alguém se aproximar.

Fomos juntos para a ultima aula, que eu também teria. Tirei ele da cadeira de rodas e o sentei na da sala.

— Então?

— O quê? - não entendi.

— O que sentiu? - perguntou ele, e eu ainda não tinha entendido.

— O que você quer dizer?

— Você apertou meu corpo - revirei os olhos. Ele riu. - Estou falando sério!

Dei a volta para ir para o meu lugar, eu não tinha um lugar fixo, mas gostava de sentar na lateral do outro lado.

— Ei! - Leo me chamou. - Seria melhor se você se sentasse perto de mim. - ele mais uma vez estava com raiva por ter que pedir aquilo. - Para caso de eu precisar de alguma coisa.

— Claro. - respondi voltando. Ele assentiu como se disse: Tanto faz. E depois voltou atenção para suas coisas dentro da mochila.

Me sentei do seu lado e comecei a tirar meus livros. Eu não sabia se sairia uma amizade disso, mas estava disposto a tentar. Sabia que Leo era muito diferente de mim, se não fosse essas rodas ele nunca falaria comigo, mas se por algum motivo estávamos aqui, então era melhor que nos dessemos bem.


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Notas finais do capítulo

Gostaram dessa visão de James na faculdade? Quis mostrar o quanto ele mudou, ainda mais sem Stephen por perto.

Sexta eu posto o próximo, com os dois juntos dessa vez. Beijoss. E não esqueçam dos comentários, quero saber a opinião de vocês sobre esse novo personagem.



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