Eu não sei como aceitei passar um ano sem ver o James. Muitas vezes tive vontade de jogar tudo para o alto e ir atrás dele em Stevens, mas depois eu pensava direito, nas coisas que ele tinha me dito. Tínhamos feito uma promessa e eu precisava ser forte.

Acabei fazendo as pazes com o meu pai. Quer dizer, fingindo fazer as pazes. Meu plano era ficar bem com ele, estudar em Yale e ajuntar a grana que ele me enviava todo mês. Eu realmente não gastei o dinheiro com nada, só com o necessário. Depois que eu estudasse todo o primeiro ano eu o convenceria de que já estava pronto para abrir meu próprio negócio, com a ajuda dele é claro. Meu plano era me mudar para Nova Jersey e abrir uma mini-empresa lá. Assim eu poderia ficar perto de James enquanto ele terminava seus estudos. Eu sabia que meu pai era um homem poderoso e com somente um ano na faculdade, me esforçando para tirar notas boas, eu conseguiria sair mais cedo e abrir o negócio com a sua ajuda. Ele não sabia que James estava estudando em Nova Jersey e nunca saberia, não se dependesse de mim.

A grande surpresa foi descobrir que eu realmente gosto de advocacia. É uma profissão boa, e que dá bastante dinheiro. Sendo assim eu posso me manter com James e nossa vida será boa.

Tudo o que eu fazia era pensando nele. Só nele. Eu dormia e acordava pensando nele. E só esperava que com James não fosse diferente. Que ele não estivesse se esquecido de mim. Ou eu morreria.

Lá estou eu. Dia 08 de julho de 1996, esperando por ele, naquela ponte em Carolina do Sul. O pôr do sol ainda não tinha aparecido, pois cheguei adiantado. Eu estou ansioso. Contei os dias e os minutos para que esse dia chegasse e estou muito nervoso. Eu preciso vê-lo de novo. Preciso.

Minutos se passam e o pôr do sol aparece. Lindo, assim como naquele nosso último dia de viagem. Eu olho para todos os lados, e não o vejo chegando.

— Cadê você, James? - Começo a ficar nervoso. Ele só está atrasado. Só isso. Sento-me depois de algum tempo.

Começa escurecer. E logo é noite. E nada do James aparecer. Começo a entrar em desespero. Por que ele não chega? Será que havia acontecido alguma coisa? Eu ficaria aqui a noite toda se fosse preciso, e se ainda assim ele não aparecesse eu viajaria e iria até a casa do seu pai, e se ele não estivesse lá, eu viajaria até Nova Jersey. James não escaparia desse jeito. Ele não faria isso comigo. Não faria.

Com a noite o vento começa a ficar mais forte. Coloco minha jaqueta de couro e espero.

— James, não faz isso comigo. Por favor! Apareça. - Eu preciso vê-lo de novo. E tocá-lo. Onde ele está ?

***

Droga de vôo!!!

Por que ele tinha que atrasar? Por quê? Justo hoje, o dia mais importante da minha vida. Esperei tanto por esse dia. Um ano literalmente e acontece um imprevisto desses. Eu só espero que Stephen esteja esperado por mim, mesmo não sendo o horário que havíamos combinado de nos ver.

Saio do aeroporto e corro para um táxi. Peço que ele me leve até a praia de Myrtle Beach. Eu não vou ter tempo para deixar a mala em algum hotel, terei que ir com ela mesmo. Enquanto o taxista dirige eu penso em Stephen e como o meu ano tinha sido sem ele. Foi bom, mas teria sido muito mais feliz com ele ao meu lado.

Estudar em Stevens é maravilhoso. Eu sou o primeiro da classe da minha turma. Os professores me adoram e eu os adoro. Estou aprendendo muitas coisas sobre ciências, coisas que nunca imaginei aprender na vida. Eu sei que havia escolhido a coisa certa.

Porém mesmo com tudo isso Stephen não saía da minha cabeça e nem do meu coração. Eu não conseguia esquecê-lo. Não que eu quisesse isso, mas um ano é muito tempo para ficar separado. E não achei que a paixão que eu sentia por ele fosse continuar do mesmo jeito, e realmente não continuou. Ela estava maior ainda. Mais forte ainda.

Evilyn dizia que eu deveria ter encontros, me divertir, mas eu não conseguia. Não porque sentia que fosse trai-lo desse jeito, mas porque meu coração não permitia. Eu o amo e sentia sua falta. Tanta que nem achei que fosse possível sentir tanta saudade de alguém. Era horrível não nos comunicarmos e eu só queria poder sentir seus braços em volta dos meus novamente.

Finalmente quando chegamos na praia já é bem tarde. O céu já está escuro e temo que Stephen não esteja me esperado. Cominho com a mala pela areia e não é fácil, quando finalmente chego na ponte fica melhor, já que é madeira. Arrasto a mala procurando por ele. Vejo casais e um grupo de pessoas enquanto caminho mais até a ponta.

Por favor, esteja aqui.

O que eu mais desejo é encontrar com Stephen. Eu quero que ele esteja esperado por mim. Será que ele conseguiu? Será que ele tinha encontrado outra pessoa? Começo a entrar em desespero quando vejo alguém sentado no fundo. Está usando uma jaqueta e tem o cabelo louro, será que é ele? Está de costas, como eu posso saber?

— Stephen? - A pessoa não escuta. - Stephen? - grito mais uma vez.

Então a pessoa vira o rosto. Parece que tinha virado de câmera lenta. Eu percebo os cabelos voando ao vento e olhar dele sobre o meu.

Stephen rapidamente se levanta e sai correndo na minha direção. Puxo a mala comigo e corro também. Nos abraçamos imediatamente a medida que nossos corpos se encostram. Tenho vontade de chorar ao sentir seu braço em volta do meu corpo. Ao sentir seu perfume de novo. Tenho a impressão de que ele está mais alto, mas acho que por não tê-lo visto em um ano eu havia me esquecido do quanto eu sou mais baixo que ele. Stephen me aperta com força e ficamos assim, sentindo o corpo um do outro por um tempo. Assim como da última vez que estivemos aqui, só que agora estamos muito mais felizes.

— Você está atrasado. - diz a voz dele nas minhas costas, eu sorrio.

— Você não me vê faz um ano e a primeira coisa que me diz é isso?

Ste se afasta para poder me olhar, eu também quero olhar para ele, porém não pude admirar seu lindo rosto, pois sinto sua boca na minha. Ele pressiona seus lábios nos meus de forma que os meus se abrem. Não que ele precise me forçar a beijá-lo, pois eu também quero. Busco por sua língua e quase morro de felicidade ao senti-la de novo. Ste está bem ansioso, mas é calmo, ele está aproveitando o momento. Faz um ano que não nos beijamos. Como eu senti falta de seus beijos. Sinto suas mãos apertando meu corpo a medida que nos beijamos mais.

Afasto um pouco depois de alguns minutos sem pararmos de nos beijar. Eu quero olhar para ele. Seguro seu rosto com as duas mãos.

— Me deixa olhar para você. - peço ofegante por conta do beijo. Ele não para de olhar em meus olhos. Há brilhos neles. Ste também está emocionado. Observo seu rosto com atenção. Como pode ele estar ainda mais lindo? Seu rosto não havia mudado tanto, mas mesmo assim, ele está diferente. Noto que seu cabelo está maior. Quase bate nos ombros. — Seu cabelo. Ele cresceu.

— Eu deixei, você gostou?

— Ficou lindo. Diferente.

— Você também está bem diferente. - Eu não me acho tão diferente. É verdade que meu cabelo está bem mais curto. Eu tinha cortado ele mais curto do que jamais havia cortado. Mas não acho que tinha mudado tanto. A gente nunca acha. Pois não vemos nossa mudança assim como nos olhos de outras pessoas. E faz meses que não nos vemos. É claro que eu devo estar diferente para ele. — Só uma coisa que não mudou. - completa Ste. - Seus olhos. Seu olhar ainda é o mesmo. Gentil. Sincero. Tímido.

Ste volta a me beijar. Ele me aperta contra seu corpo.

— Ste, tem pessoas aqui. - eu falo, me afastando. Ele vê minha mala.

— Você ainda está com isso?

— O vôo atrasou e tive que vir direto.

— Então vamos para o meu hotel. Não fica longe daqui.

Saímos e vamos até o hotel que Stephen está hospedado. Já quando entramos no seu quarto, ele coloca a minha mala de lado, e sem nem mesmo acender a luz, começa a me beijar. Eu permito, pois quero que ele me beije. Eu estou ansioso para ter seu corpo novamente perto do meu.

Ste me encosta na parede mais próxima e enquanto nos beijamos arrancamos nossas roupas. Parece que falta ar naquele quarto. Estamos ansiosos para ficarmos juntos, mas estamos pacientes, pois queremos saborear cada momento. Afinal ficamos muito tempo sem nos tocar.

— Como eu senti sua falta, James. - sussurra Ste enquanto acaricio seu rosto no meu.

— Eu também senti a sua.

Ste me segura no colo e me leva até a cama. Fazemos amor. E foi muito bom. Foi maravilhoso. Quantas noites me imaginei com ele assim. Podendo acariciá-lo e beijá-lo o quanto eu quisesse, e finalmente eu podsso tê-lo por inteiro em meu corpo.

Depois que matamos a saudade, ficamos deitados de lado, olhando um para o outro. Ste passa os dedos de leve na minha pele, como se seus dedos caminhassem pelas linhas do meu corpo. Sinto um arrepio gostoso.

— Você não tem ideia da saudade que eu senti de você. - ele diz olhando em meus olhos.

— Você que não tem ideia do quanto eu senti a sua.

— Eu não sei como tive coragem, James, sério. Muitas vezes pensei em desistir de tudo e ir atrás de você.

— Ainda bem que você não foi. - faço carinho em seu rosto ele fecha os olhos depois de sentir meu toque. - Porque agora podemos aproveitar do jeito que sonhamos.

— Sabe, eu não consegui me envolver com ninguém. - ele diz depois de abrir os olhos e me fitar novamente. - Teve esse cara de Yale, que resolveu investir em mim depois que descobriu que eu também era gay. Ele era legal, mas... Tudo o que eu conseguia pensar era na promessa que fizemos e eu não queria trair você.

— Ste, você não me trairia. Estávamos separados. - Mesmo sentindo uma pontada de ciúmes por saber que ele quase se relacionou com alguém eu sabia que não era como se ele me traísse. Ste estava livre para fazer o que quisesse nesse ano. Eu me sentiria traído se caso ele se apaixonasse por outra pessoa nesse tempo em que estávamos separados.

— Eu sei, James. Eu até tentei depois que vi que ele era legal. Afinal somos humanos e temos nossas necessidades e fazia muito tempo que eu não tinha relação com ninguém, depois da nossa última vez. - Eu quase sorrio me lembrando. Eu que o tinha tomado como meu, pois Ste me permitiu. — Eu não consegui. Não consegui, pois a sua imagem vinha na minha cabeça. E tudo o que eu mais queria era que os dias pulassem para que eu pudesse te ter em meus braços de novo.

Me aproximo e lhe dou um beijo.

— Não sei como consegui. Acho que por pensar que você estaria aqui, igual está hoje. Só sei que nunca mais. Nunca mesmo, James. Vou te deixar ir de novo. - Ele me encara sério depois de um tempo. — Você teve algo com alguém? -  pergunta hesitando, vejo que realmente tinha duvidas sobre isso.

— Não. A Evilyn até tentou me convencer, mas foi como eu te disse. Eu precisava estar focado nesse primeiro ano. Não seria justo se eu ficasse com alguém depois de ter dito para você se afastar justamente por causa disso. E eu sei que eu errei, pois eu não consegui ficar 100% focado, pois meu pensamento estava em você.

Ele ri, fazendo cara de que estava certo.

— Mas tem uma coisa que você acertou. - continua, parando de rir e fitando meus olhos com ternura. - Agora sabemos que podemos enfrentar qualquer coisa. E juntos. - Ste se aproxima de mim. Nossos corpos nus se encostam de novo. — Você é meu, James. E eu sempre serei seu. E sempre será assim. Até nós não estarmos mais nesse mundo.

Eu não preciso ver o futuro para saber que essas palavras de Stephen se realizariam. Eu tenho certeza que passaremos a vida toda juntos. E eu não poderia estar mais do que feliz por isso. Ele é meu, assim como eu sou dele.

F I M