Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 29
Formatura


Notas iniciais do capítulo

FELIZ 2016

Até quem enfim 2015 acabou!!!

Atendendo ao pedidos dos comentários estou postando hoje. Espero pelos comentários okay???

Esses dois últimos capitulo estão bem recheados, mais de 4 mil palavras. Espero que vocês gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/644679/chapter/29

Finalmente chegou o dia da formatura.

Vou junto com meu pai e minha abuela no carro. Já estou vestido com o conjunto da beca acompanhado pelo capelo também da cor preta, e a faixa em volta do ombro vermelha, que representa as cores do colégio Herman.

Chegamos em Herman e caminhamos direto para o pequeno campo de futebol. Será lá onde acontecerá a formatura. Está quente naquele dia. É verão e o sol arde em nossas peles. Eu estou sentindo calor com aquela beca, ainda mais por ser preta. Colocaram um grande palco no centro do campo e fileiras de cadeiras que dividiam-se ao meio, formando o lado esquerdo e direito. Já haviam vários alunos com seus familiares. É fácil diferência-los, todos alunos estão de beca presta.

Avisto Ste de longe, junto com a sua família. É a primeira vez que eu estou vendo seu pai. Ele é elegante e tem uma expressão séria. Seus cabelos são pretos, eu tenho certeza que ele os tingia, pois seu rosto é de um homem bem velho, mas não deixa de ser bonito, apesar da idade. Sua mãe também está elegante. Havia feito um coque no cabelo e usa um vestido longo da cor vinho.

— James, vamos nos sentar aqui, tudo bem? - pergunta minha abuela, que também está muito bonita no seu simples vestido azul. Ela mostra as cadeiras que eles vão se sentar. Não fica no fundo, é no meio e na lateral do lado esquerdo. O lado direito é reservado para os formandos.

— Tudo bem. - respondo.

Meu pai arruma meu capelo e me observa sem dizer nada, mas não precisa, eu noto que ele está todo orgulho. Sinto-me bem ao vê-lo olhar para mim dessa maneira de novo. Me sinto mais feliz ainda.

— James! - grita Evilyn do outro lado. Quando acho onde ela está, vejo seus pais também. O Sr. e Sra. Banks também estão muito elegantes.

Olho para a minha abuela e meu pai, eles dizem que eu posso ir até lá. Os pais de Evilyn me cumprimentam e depois vão até a minha família. Eles também se sentam por ali. Evilyn está bonita. Como sempre. O cabelo enrolado está trançado, por conta do capelo na cabeça.

— Estou tão feliz. Finalmente vamos sair da escola. - diz ela sorridente.

— Olá. -Olho para o lado e vejo Stephen. Ele está tão lindo, como sempre, mas de beca ficou ainda mais charmoso.

— Fiquei sabendo que você que vai fazer o discurso. - diz Evilyn para ele, olho surpreso para Ste.

— Não sei por que me escolheram, mas... - Ele dá de ombros. E logo depois me encara. - Eu quero falar com o seu pai.

— Com meu pai? - Não entendo porque Ste quer falar justo com ele.

— É, preciso pedir uma coisa para ele.

— O quê? - Não consigo esconder minha curiosidade.

— Você verá. Vamos até lá?

Hesito. Eu não sei o que Ste está querendo pedir à meu pai e fico com medo do que pode ser.

— Ste, você acha que é uma boa hora? Não é melhor esperarmos nos formar?

— Não. Eu preciso falar com ele antes do meu discurso.

Concordo e juntos vamos até lá. Evilyn também vai conosco, já que sua família está com a minha.

— Pai. - digo nervoso - O Stephen quer falar com o senhor.

Meu pai encara Stephen e depois à mim. Ele fica constrangido por o Sr. Banks estar presente. Meu pai se levanta e caminha conosco até um canto reservado.

— O que você quer? - ele está sendo educado, mas não menos grosso. Apesar de meu pai estar começando a entender o que eu sou, ele ainda não ama Stephen, ainda mais sabendo que ele gosta de mim.

— Eu queria pedir uma coisa.

— Que coisa? - meu pai me encara, como seu eu soubesse de algo.

— Eu tenho essa viagem que ganhei de natal para ir no verão depois da formatura, e queria levar o James comigo. - Stephen está louco, como ele teve coragem de pedir uma coisa dessas para o meu pai?

— Viagem? - meu pai quase ri com o absurdo.

— Sim, para a Carolina do Sul.

— Não. - Meu pai é direto. - James não pode ir. - Eu não esperava menos que isso.

— Mas senhor...

— Mas nada. Eu te agradeço por ter salvo James, é uma coisa que nunca vou esquecer. Mas você está pedindo demais.

Stephen abaixa a cabeça desapontado. Ele devia ter me dito o que queria, para que eu avisasse antes como sondar meu pai, desse jeito ele não conseguiria nada.

— O senhor não me deixou terminar. Eu ganhei três passagens. A Evilyn também vai com a gente. É uma viagem para comemorarmos a nossa formatura.

Como assim a Evilyn também vai? Ela não me disse nada. Será que Ste está inventando? Se ele estivesse e meu pai descobrisse a coisa ficaria pior.

— A Evilyn também vai? - pergunta meu pai, me encarando. Eu não sei o que responder.

— Ainda não conversei com ela. Mas vou. - continua Ste rapidamente me salvando. - Eu só queria falar com o senhor primeiro.

— Eu não sei. - meu pai passa a mão no queixo, onde havia barba ontem à noite, mas que hoje já não está mais ali, por ter feito a barba de manhã antes da formatura. - Vou precisar pensar. - Então ele sai nos deixando sozinhos.

— Você é louco? Por que pediu isso para o meu pai?

— Eu pensei que você fosse gostar da ideia.

— Não é a ideia, Ste, é o jeito que você quis pedir. Não é assim que se convence meu pai. E a Evilyn? É verdade ou você mentiu?

— Não. Se for o único jeito ela vai com a gente. Não tenho problema com isso.

Eu não sei se fazer uma viagem agora é uma boa ideia. Meu pai ainda está se convencendo em me aceitar e Ste já inventa uma viagem para irmos juntos?

— O que que ele está fazendo aqui? - pergunta Ste com raiva. Viro-me não entendendo nada. Olho na direção que seus olhos apontam. Vejo John.

— É a formatura. - respondo como se já não fosse óbvio.

— Ele devia estar apodrecendo na cadeia, assim como o Mike.

— O Mike está preso? - pergunto surpreso.

— Sim. Amanda me contou. Os pais deles estão tentando tirá-lo de lá. Mas pelo menos ele está sofrendo, já aquele infeliz. - Ste está com raiva e quer ir até o John.

— Ste, por favor, não faz nada. - o impeço. - Eu não estou entendendo. Ele estava lá também?

— Sim, foi o John que te levou até o Mike.

Agora as coisas fazem mais sentido. Ninguém ainda havia me explicado direito o que tinha acontecido naquela noite. E tudo ainda é um branco para mim.

Os alunos começam a se reunir e sentar-se nas cadeiras. Convenço Ste a irmos até lá também. Ele ainda está com raiva ao ver John desfilando livre e solto pela escola. O diretor Walter já está no palco perto do microfone, pronto para chamar os nomes dos alunos e eles irem pegar seu certificado. Ele anuncia nomes atrás de nomes. Evilyn sobe e depois Stephen, Sam, Amanda, Michele, John e até aquela menina ruiva que revelou meu segredo para a Amanda, seu nome é Liza. Então eu sou chamado.

— James Rodriguez Farley - chama a voz do diretor no microfone. Subo no palco e pego meu canudo preto com o certificado dentro. Escuto aplausos e desço as escadas renovado, como se eu fosse outra pessoa. Eu agora poderia ser quem eu quisesse ser, ir atrás dos meus sonhos. Recebo um abraço de Evilyn quando retorno para a minha cadeira.

Enquanto nos sentamos e esperamos o resto dos alunos subirem ao palco vejo Ste esperando do lado esquerdo. Ele subiria para fazer o discurso. Eu não sei fazer tal coisa. Representar a turma dessa maneira. Mas Ste é diferente de mim, ele é popular e saberia exatamente o que dizer. Fico ansioso por isso.

— O Representante da turma, Stephen Reece, irá falar algumas palavras agora - anuncia o diretor Walter.

Ste sobe ao palco. Sorri de maneira única e se dirige ao microfone. Está lindo, como sempre. E parece um anjo com aquela beca.

— Olá, eu sou Stephen Reece, para quem não sabe. - Percebo que ele está nervoso, mas é um nervosismo normal. - Me escolheram para representar a turma de 1995, e realmente não sei por quê, mas já que confiaram em mim, talvez eu deva dizer algumas coisas importantes que possam fazê-los pensar a respeito.

Olho para Evilyn e ela está sorrindo. Estou mais nervoso ainda por Ste e ela percebe isso, pegando na minha mão.

— Desde os meus 13 anos eu frequentei vários colégios, por causa dos meus pais, eles viajam muito a trabalho, então conheci muitas pessoas nesses anos, fiz vários amigos. Em Herman não foi diferente. Aqui fiz amigos que com certeza vou levar comigo. - Ste olha para a Amanda, que está sentada na primeira fileira. - Outros nem tanto. - ele encara John com amargura.

"Acho que o que nós levamos da escola quando saímos dela, não são os estudos. É claro que isso também é importante, mas a maioria aqui está indo para uma faculdade e vamos passar a vida inteira estudando, até mesmo quando já estivermos fazendo o que amamos. Porém, acredito que o que realmente levamos da escola quando saímos dela, são as pessoas que viveram o momento com a gente. É na escola que temos nossas primeiras namoradas e namorados. Que amamos, que nos apaixonamos, que nos decepcionamos.

Ste respira fundo e sinto meu coração acelerar, como se soubesse o que ele vai dizer, mas a verdade é que eu não tenho ideia.

— Esse ano percebi como o ser humano pode ser mau. Ou pode ser gentil, carinhoso. Ver o quanto as pessoas podem ser tão diferentes das outras, me assustou. Eu sempre tive medo de ser quem eu sou e foi em Herman que tudo mudou. - ele me encara, sem medo, sem constrangimento. - Eu vim para cá sem nenhuma expectativa e acabei conhecendo o amor da minha vida.

Eu respiro com força, meus olhos se enchem de lágrimas e sinto Evilyn apertar meus dedos.

— E o meu maior erro foi ter tido medo e vergonha de revelá-lo. - Ste abaixa a cabeça e solta uma risada nervosa. - É engraçado quando algo horrível acontece com alguém próximo à você, e você percebe que aquilo que você tem medo não é nada comparada à outras coisas.

Ele encara todos de novo.

— Percebi que todos nós vamos passar por isso. A vida está lá fora, e vamos ter que enfrentá-la. O valentão da escola? Há coisas piores, pode ter certeza. Temos que ser fortes e confiarmos em nós mesmos. Eu só espero que façamos isso com uma coisa. - Ste faz uma pausa. - Com respeito. O preconceito está aí, em cima dos negros, dos estrangeiros, dos pobres, dos gays. Me dei conta de que isso sempre vai existir. E não estou dizendo para vocês nos aceitarem, mas para respeitarem. Respeitarem o próximo. Por que no final somos todos iguais, apesar de sermos diferentes. - Todos ficam em silêncio por alguns segundos. — Obrigada por escutarem. E sorte para a turma de 95.

Amanda é a primeira a se levantar e bater palmas, levando todos a acompanhá-la. Inclusive eu e Evilyn. Os alunos jogam para o alto seus capelos. Estamos todos livres.

Eu estou orgulhoso de Ste, como nunca estive antes. As suas palavras foram lindas e ele parece satisfeito ao tê-lo ditas. Ele vem na minha direção e me dá um abraço. A maioria já sabe o que se passa entre a gente e depois desse discurso não é mais segredo. Ele me dá um beijo no rosto antes de se afastar. Fico calado, observando seus olhos brilharem.

— Foi um belo discurso. - Evilyn diz para ele.

— Você gostou? - Ste pergunta sorrindo para mim.

— Sim. Principalmente da parte em que você fala sobre o amor da sua vida.

Ste abre aquele sorriso radiante. Eu sempre sonhei com o dia em que estaríamos assim, em público. E não acredito que esse dia finalmente chegou. Eu não poderia estar mais feliz.

— Querido - A mãe de Stephen aparece do nosso lado. Ela abre um sorriso para o filho. - Parabéns, amor.

— Obrigada, mãe. - Ele a abraça.

— Seu pai quer falar com você.

Ste tira o sorriso do rosto. Eu não sei o que o pai dele quer, mas coisa boa que não é, não depois do discurso que Stephen tinha acabado de fazer.

—-

Vamos direto para a casa da Amanda. Ela organizou uma festa para os formandos e todos os alunos foram convidados, inclusive eu e Evilyn. Ste não desgruda sua mão da minha. Estou surpreso com isso e não pareço o único, já que os olhares de todos estão sobre nós.

— O que o seu pai disse? - pergunto depois de ter pensado muito se deveria. Afinal ele não tinha me contado.

— Ele ficou bravo por eu ter dito que sou gay na frente de todo mundo. Só isso. - Ste finge que não se importa, como sempre faz quando se trata dos seus pais.

— Você está bem? - pergunto.

— Sim, estou ótimo, James. Não se preocupe.

— Uau, a casa da Amanda é linda - diz Evilyn me fazendo perceber também.

Sua casa parece um hotel chique. Entramos e vamos para uma parte descoberta, onde há uma piscina gigante. Ste me aperta em seus braços quando entramos ali. Deve ser por causa do acidente com a piscina. Os outros alunos estão se divertindo. Alguns já tinham pulado na piscina, outros ficam dançando ao som da música que toca. Alguns apenas conversam em grupo.

— Evilyn? - começa Ste - Eu queria te convidar para ir até Carolina do Sul comigo e com James, nesse verão. Eu ganhei as passagens e a hospedagem do meu pai.

— Sério? - ela parece surpresa.

— Sim. Você quer ir?

— Nossa. - Evilyn sorri, ainda não acreditando. - Bem, eu tenho que falar com o meu pai primeiro. - ela tira o sorriso do rosto. - E não acho que ele vai deixar.

— É só você conversar com ele. - Ste está insistindo e isso me faz perceber que a verdadeira razão para fazer isso é para que meu pai aceite que eu vá com ele.

— Ste o que você está fazendo? - pergunto, depois que Evilyn sai para procurar o banheiro.

— O quê? - Ele não entende.

— Está insistindo para Evilyn ir com a gente.

— James, você sabe por quê. Seu pai foi bem claro, se a Evilyn não for é capaz dele não deixar você ir. Você não quer que ela vá?

— Eu sei o que meu pai disse. Mas não quero que use Evilyn dessa maneira. Ela é minha amiga.

— James, eu não estou usando ela, só estou juntando o útil ao agradável. - Ele segura meu rosto. - Desculpe se você pensou isso. Eu juro que não é assim.

Ele parece estar sendo sincero. Eu sei que o que Ste quer é que fiquemos juntos, mas pensar em Evilyn como uma ajuda não me agrada.

— E aí, estão se divertindo? - pergunta Amanda se aproximando de nós.

— Sim.

— Sua casa é muito bonita. - digo para ela. é estranho falar com Amanda desse jeito.

— Obrigada. - Ela sorri para mim e parece um sorriso sincero. - Você está bem? Stephen me disse que você não se lembra do acidente.

Aceno com a cabeça.

— Eu queria aproveitar para te agradecer. Me contaram o que você fez para me salvar.

Ela encara Stephen surpresa.

— Não fiz nada que qualquer um faria, inclusive você. - diz ela me observando.

— Mesmo assim. Obrigada.

— Não há de quê.

— Licença - diz uma voz masculina e nós nos viramos para ver quem é. Muitas pessoas estão vindo falar conosco. Na verdade deve ser por causa de Stephen. Já que ele é popular. Só que para minha surpresa não é um dos seus amigos populares e sim Henry. - Eu só queria dizer que seu discurso me fez pensar bastante... Sobre as coisas.

Henry está nervoso, mas fico feliz que esteja conversando com a gente, ainda mais sobre isso. Ele finalmente está se aceitando.

— Fico feliz, Henry - Ste sorri. - Não tem nada de errado em amar alguém. - Ste me deu um beijo na bochecha, me pegando de surpresa.

Henry sorri tímido e depois vai embora. Lembro do que Evilyn tinha me dito sobre ele na noite do baile. O que supostamente ele tinha feito. Mas não noto nada enquanto ele fala com a gente. Percebo que algumas pessoas da festa não param de nos encarar. Me sinto estranho com isso, mas por alguma razão, estando ao lado de Ste, as coisas são diferentes agora.

— Não acredito nisso. - Evilyn chega brava depois de algum tempo.

— O que aconteceu? - pergunto.

— O John teve a coragem de vir falar comigo.

— Ele te provocou? - Ste pergunta realmente se importando.

— Queria conversar comigo. Depois de tudo o que ele fez com você. - Evilyn olha para mim. - Até parece.

— Eu não entendo como ele não está preso. - Ste se enfurece. - Como ele está andando solto por aí depois do que ele aprontou?

— Na verdade John está prestando serviço comunitário. - explica Amanda. - Como eu contei para a policia que ele não tinha ajudado a ferir James, fisicamente, foi anunciado que a prisão não era necessária. Meu pai me explicou mais ou menos isso. Como ele cometeu o crime sem violência ou grave ameaça à vítima, vai pagar prestando serviços durante o mesmo tempo da pena corporal do Mike.

Eu não sabia que o pai da Amanda também é advogado. Talvez o pai dela e de Ste se conheçam. E o Mike e o John? Parece que a coisa tinha ficado feia para o lado deles. Porém, como eu não me lembro de nada que tinha acontecido, não consigo sentir prazer ao que estou ouvindo. Diferente de Ste, que parece satisfeito ao escutar como eles devem estar sofrendo.

—-

No dia seguinte Evilyn me liga dizendo que o pai dela não havia deixado ela viajar com a gente. Ligo para Ste para dar a noticia e ele fica chateado.

— James, por favor, convença seu pai.

— Ste, eu não sei se ele vai deixar. Eu tenho certeza que não.

Tenta, por favor.

Ele quer mesmo que essa viagem aconteça. Não posso negar e dizer que não quero ir. Seria legal fazer essa viagem, mas eu sei que seria difícil convencer meu pai.

Depois do almoço de domingo, me sento com ele no sofá e peço para que conversemos. Ele responde que também quer me dizer uma coisa.

— O que é? - pergunto curioso.

— Pode falar primeiro. O que você quer?

— Pai, é sobre a viagem. - estou nervoso. - A Evilyn não vai poder ir.

Ele abaixa a cabeça e quando vou voltar a falar ele me corta. Não grosseiramente do jeito que fazia. Ele está mais doce comigo depois do acidente, mas ainda me diz quando não gosta de algo.

— Então você não vai, James.

— Mas pai...

— Não. Não vai. - ele volta a me encarar. - Você pediu para que eu te aceitasse e eu estou tentando. Mas o que você está me pedindo é muito, James. Deixá-lo viajar sozinho com ele? Eu não posso...

Eu não entendo por quê. Qual é diferença?

— E se eu prometer para você fazer algo nessa viagem? - eu digo depois de pensar rapidamente.

Já faz algum tempo que essa ideia está na minha cabeça, mas eu estou adiando pensar mais sobre ela. Primeiro de tudo, por não saber se teria coragem para fazê-la.

Meu pai pergunta o que é e eu lhe respondo. Lhe conto o que estou planejando fazer antes de entrar na faculdade. A medida que eu vou contando meu plano, mais certeza eu tenho de que aquilo é o certo. Eu não contei o principal, pois teria que pensar sobre isso melhor. Ele não acredita quando termino.

— Não acredito em você. Está me dizendo isso para que eu deixe você ir com ele.

— Não pai, eu estou dizendo a verdade. Eu juro pela minha abuela.

— James...

— Estou dizendo a verdade. Por favor, acredite em mim.

— Eu não entendo. Se você vai fazer isso, para que ir viajar com ele então?

— Eu preciso aproveitar meus últimos momentos. - Ele não gosta de ter escutado isso, mas estou sendo sincero com ele, em todos os sentidos.

— E não vai passar um tempo comigo e com sua abuela antes de ir para a faculdade?

— A viagem só durará duas semanas, eu volto bem antes de ir para Nova Jersey, prometo.

Meu pai respira fundo algumas vezes antes de responder.

— Tudo bem. Mas se tiver mentindo para mim.

— Não estou.

Ele acena com a cabeça e levanta-se do sofá para ir até a mesa encostada na parede. Ele tira duas cartas da cesta do correio.

— Essas duas cartas chegaram para você. - diz ele, voltando a se sentar no sofá.

— De quem são? - pergunto curioso e apreensivo ao mesmo tempo.

— Aqui diz Nicholas Harper. Quem é?

— É um amigo. - Eu não acredito que Nick havia escrito algo para mim.

— Um amigo? - ele me encara desconfiado.

— Sim, pai. Eu também posso ter amigos homens. - Ele me entrega o envelope branco. Fico ansioso para ler o que está dentro, mas esperaria estar sozinho no meu quarto.

— Esse daqui é da sua mãe.

Encaro meu pai com surpresa.

— Da minha mãe?

— Sim - ele fica sério. - Eu liguei para contar o que tinha acontecido com você. Ela é sua mãe e acho que merece saber. Eu disse que não queria que ela se aproximasse de você, mas Mellie pediu que pudesse escrever uma carta. E eu não vi por que não. - Antes de meu pai me entregar a carta ele me olha com atenção. — Espero que esta carta não lhe dê esperanças, James. É provável que ela mande mais, mesmo se você não quiser responder.

Ele me entrega o envelope e eu vejo que está aberta.

— Eu abri só para ter certeza do que ela havia escrito para você. - Meu pai não está envergonhado por isso.

— Eu vou ler então. - Eu não sei o que poderia estar dentro dessa carta. O que ela poderia ter escrito para mim? E meu pai já havia lido. — Pai, um dia vai me dizer o que aconteceu entre o senhor e ela?

— Eu já te contei, James.

— Mas eu sinto que tem mais alguma coisa.

— Não tem. Sua mãe simplesmente quis ir embora. Às vezes eu nem sei por quê. - Vejo tristeza em seus olhos. Ainda machuca falar sobre a minha mãe.

— Eu vou descer então. Para ler. - levanto desengonçado.

Meu pai faz o mesmo e me encara. Ficamos alguns segundos assim, até que quero lhe dar um abraço. Eu não sei se devo pedir por isso. Acho que não. Então acabo pegando-o de surpresa quando me jogo nos seus braços para abraçá-lo. Ele retribui depois da surpresa.

— Obrigado. - é só o que eu digo então me afasto para descer até meu quarto.

Estou ansioso para ler o que havia dentro dessas cartas. Acho melhor começar pela do Nick. Abro a carta e fico  feliz por não estar violada, meu pai não tinha lido.

"Olá James.

Eu disse que escreveria quando estivesse em algum lugar fixo e é o que estou fazendo.

Primeiramente queria dizer que sinto saudades das nossas conversas. De te dar conselhos principalmente."

Sorrio quando leio isso, imagino ele rindo.

"Você não tem ideia, mas me ajudou muito nesse pouco tempo que conversávamos. Eu me sentia só e quando estava com você esquecia-me dos meus problemas.

Agora finalmente as coisas estão caminhando bem. Eu estou indo bem nessa nova editora e não tive problemas por ser quem eu sou. E isso é o melhor de tudo. Saber que minha chefe me aceita como qualquer um de seus empregados. Sinto que estamos evoluindo e isso me deixa feliz.

Eu queria poder conversar mais com você, por telefone talvez, mas as coisas estão à mil vapores, e não teria tempo. E também sei que você vai entrar para faculdade, você não me disse, e nem precisou, porque acredito em você e sei que você conseguiu. Só não se esqueça nunca de quem você é. E se agarre nas coisas boas. Pois elas, sempre vão te ajudar a seguir em frente.

Se quiser me escrever pode enviar por esse endereço do remetente. Há algo novo chamado e-mail. Serve para mandar mensagens pelo computador. Eu ainda não tenho, mas quando fizer eu te aviso. Acho que ficará mais fácil para nos comunicarmos.

Não sei quando vou ter tempo para te enviar outra carta, afinal você vai estar na faculdade. Mas se caso isso não acontecer quero lhe desejar felicidades e muito sucesso. Você foi um grande amigo e nunca vou te esquecer.

Um grande beijo.

Nicholas."

Que carta bonita. Eu estou feliz por Nick ter se lembrado de mim, e mais ainda por as coisas estarem dando certo para ele. Pois ele merece isso.

Eu escreveria uma carta para ele, respondendo. Mas deixaria isso para depois, antes que eu viajasse para Nova Jersey. Agora eu preciso ler a carta da minha mãe. Estou mais nervoso ainda.

Abro a carta sentindo minhas mãos tremerem.

"James, meu filho. Sei que nossa última conversa não foi a das melhores. Eu sei que te decepcionei e sinto muitíssimo, mas acho que faz parte da minha personalidade decepcionar as pessoas próximas à mim, aconteceu isso com seu pai.

Mas não estou escrevendo para falar sobre mim e Adrian. E sim para dizer o quanto fiquei preocupada por saber sobre o seu acidente. E furiosa por saber o motivo disso ter acontecido.

A vida é realmente injusta e espero que você cresça sabendo disso. Às vezes vamos conseguir o que queremos, às vezes não.

Estou feliz que você está bem e que nada de ruim lhe aconteceu.

Eu te amo, apesar de você achar que não.

Sua mãe. Mellie Moore."

Termino de ler a carta e fico alguns minutos encarando-a nas minhas mãos.

Eu havia lido duas cartas e elas são tão diferentes. Eu sinto alegria lendo uma e tristeza lendo a outra. As duas são completamente diferentes. E não só por causa das letras, mas pelo conteúdo que havia dentro.

Escuto minha abuela descer as escadas. Eu sei que é ela, pois seu passo é devagar e quase silencioso. Ela caminha até a cama e senta-se ao meu lado.

— Seu pai me disse que você recebeu uma carta da sua mãe. - Aceno ainda olhando para a carta. - Você está bem?

Abraço a minha abuela. Eu só quero sentir seus braços protetores em volta de mim e seu cheiro de menta.

— Te quiero mucho, abuela. Mucho

— Tambien te quiero, mi amor.

Me afasto para poder olhar em seus olhos.

— Obrigada por tudo, por sempre estar comigo. Tu eres mi mamá. Siempre fuiste.

Ela passa a mão delicadamente no meu rosto, fecho os olhos com seu toque doce e volto a deitar a cabeça em seu ombro. Fecho os olhos e é como se tivesse voltado a ser criança.

Eu sempre me queixei de não ter uma mãe perto de mim, mas minha abuela sempre esteve ali, me apoiando em tudo. E esteve do meu lado no momento mais importante da minha vida. Ela nunca me julgou, nunca sequer me olhou com desgosto e é por isso que eu amo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Último capitulo está chegandoooo. Que tristeza. Espero que vocês estejam curtindo cada minuto final dessa história. Há surpresas vindo no último capitulo. Porque vocês me conhecem e sabem como eu sou né??

Queria pedir para vocês me indicarem fanfics, estou pedindo agora porque senao eu esqueço. Como essa vai terminar é possivel que eu queria ler agora, então me indiquem uma. Pode ser hetero, yaoi, qualquer coisa, por tanto que seja boa. Estou pedindo para vocês porque já sei que vocês tem bom gosto, já que leram a minha fic (aquelas).

Muito obrigado por tudo gente, e espero pelos comentários. Terça feira tem o último capitulo, com mais de 5 mil palavras. Beijos