Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 2
Conhecendo Stephen


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente gostaria de agradecer pelos comentários. É muito bom saber que tem gente gostando e dando a opinião. Isso sempre me motiva.

Um recado rápido para os leitores. Vou postar a fic de TERÇA e SEXTA okay? Então sexta-feira tem capítulo novinho em folha.



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Lá estou, novamente, batendo na porta da casa de Stephen. Mais uma noite em segredo. Não que eu esteja reclamando, no entanto, não tenho certeza quanto tempo isso vai durar.

Stephen abre a porta alguns segundos depois de eu tocar a campainha. Ele me convida a entrar.

— Seus pais estão em casa? — Procuro por sinais de adultos, mas não consigo ver ou ouvir nada. Quando me volto para ele, recebo um beijo na boca. — Acho que não.

Os pais de Stephen não sabem de nada. Sobre sermos gays. Sobre nós, nossos encontros aqui de vez em quando. Nem o meu pai tem esse conhecimento. Infelizmente, ainda vivemos numa sociedade completamente ignorante. Ninguém entenderia. Talvez Evelyn. Contudo não posso compartilhar isso com ela. Prometi ao Stephen que nunca diria nada. Que manteria isso em sigilo. 

Estive aqui nesta casa tantas vezes que estou me acostumando com ela. Me acostumando com a escada branca com muitos degraus. Com os quadros da Família Reece. Das várias imagens das fases de crescimento de Stephen penduradas no corredor que levava até o seu quarto. O lugar onde estou mais familiarizado. Apesar disso, ainda não me acostumei com o silêncio incomum daquela casa enorme. Se há empregados em algum cômodo quando estou presente, eles não fazem muito ruídos.

A partir do momento em que nos enfiamos no quarto de Stephen a porta é fechada. Sabemos que seus pais não estão em casa, porém, mesmo assim, é mais confortável. E me sinto melhor. 

— Então, como foi a festa? — pergunto, sentando-me na cama que está completamente bagunçada, Stephen realmente não se preocupa em arrumar nada. Deve ser bom não ter pais te monitorando vinte e quatro horas por dia para ver se você compriu suas tarefas diárias. 

A festa à qual me refiro é a que rolou hoje à tarde, para comemorar a vitória do time escolar, onde Stephen faz parte. Ele é o goleiro do time dos Manke. O melhor que Herman já teve. E, obviamente, eu não fui convidado para a festa.

— Um saco. Você não estava lá — Ste se joga em cima de mim, rindo, me fazendo deitar na cama.

— É claro que a festa não seria a mesma sem a minha presença — tento soar irônico, mas isso me deixa tímido, meio tosco, meio nerd de ser. Ste ri de mim.

— Para de fazer isso! — diz ele, estridente. Movendo-se sobre mim, tentando alcançar minha boca. — Uma semana. Tem noção da saudade que eu estou de você? — Ele me beija. Só que desta vez não eu demoro muito para desviar o rosto, o que faz seus lábios irem direto para o meu pescoço. Aquela sensação é boa, muito boa. Mas é sempre o mesmo. Sem diferença. Eu chego. Ele me beija, me possui e depois é como se nem nos conhecêssemos no dia seguinte.

— O que foi? — pergunta Ste, parando o que está fazendo para me observar.

— Nada — minto.

— Você está estranho. Não está gostando?

— Não, eu estou bem. — Não o convenço.

Ste me beija lentamente sem desviar os olhos castanhos dos meus. Ele aperta minha cintura com força, ainda me encarando, com isso fecho os olhos. Ele toma isso como partida para continuar. É nesse momento que me lembro do nosso primeiro encontro depois daquele primeiro beijo.

***

Estávamos exatamente assim. Ele sobre mim enquanto meu corpo estava derramado em sua cama. Eu nunca tinha estado com homem nenhum. Na verdade, com ninguém. Aquilo tudo era novo para mim. Ste me beijava com imenso prazer. Eu sentia meu corpo reagir de maneira única. Nunca havia sentido isso.

“Shiu” Ele cobriu minha boca com a mão. “Minha mãe pode nos ouvir. Ela acha que estamos estudando a língua espanhola, não esse tipo de língua. “Ele lambeu minha boca.”

“Desculpe’’ disse, toda hora eu me desculpava. Ainda não tínhamos feito nada exceto beijar, mas a qualquer momento eu sentia que isso podia acontecer.

Ele voltou a beijar, desta vez meu pescoço. Agarrei a lateral da cama com força, tentando não fazer barulho. Eu não podia ficar…

“Oh meu Deus” exclamou Stephen surpreso.

Fiquei apavorado pensando que fosse eu, pois na minha cabeça imaginei que fosse, mas não era.

“O quê?’’ perguntei assustado. Ele começou a rir. Eu devia estar fazendo uma cara estranha. Senti vergonha e virei o rosto.

“Você é tão fofo” ele ainda riu de mim. “Não acredito que estou fazendo isso.” Pensei que Stephen fosse me beijar novamente, porém ele apenas passou a mão no meu rosto e pressionou levemente seus dedos nos meus lábios inferiores. “Já estive com tantas garotas, mas nunca senti isso. Com você é assim?”

Não consegui responder. Apenas congelei, olhando para ele com a respiração pesada.

Ste sorriu depois que percebeu que eu não confessaria nada, portanto se aproximou para me beijar novamente, mas seu desejoso foi interrompido quando ouvimos a voz de sua mãe do outro lado da porta no corredor:

“Filho?” Ela bateu na porta de novo. Fiquei aliviado por ela estar trancada.

  “O que foi mãe?” respondeu Stephen normalmente, sem se mexer.

‘‘Você não está com fome?”

  “Eu tô” sussurrou Ste, olhando para a minha boca.

  “Venham comer. Seu amigo deve estar faminto.”

“Estamos indo” ele gritou para que sua mãe pudesse ouvir. 

Stephen esperou ela se afastar, só então ele fez o que faria antes dela ter nos interrompido. Ele me beijou de forma demorada, porém sem despregar seus olhos dos meus. 

Eu não sabia o que pensar. Ele agia tão naturalmente com essas coisas. Imaginei que ele tratasse as mulheres dessa forma. E talvez ele só estivesse fazendo isso comigo para ter algum tipo de experiência. Eu não conseguia enxergar outra razão. Quem sabe depois que conseguisse o que queria não largasse de mim? Possivelmente. Então por que eu não ia embora? Talvez porque ninguém faria essas coisas, ou me trataria da maneira que ele me tratava. Sinto-me bem, mesmo me sentindo estranho. Talvez porque tudo é tão novo que não sei exatamente como resistir.

‘‘Então, James... Certo?’’ perguntou a mãe de Stephen. Assenti. “Ste não oferece nada. O que você vai pensar? Que todos nessa casa são mal-educados.”

“Imagina, sra. Reece” expressei-me imediatamente.

“Não precisa me chamar tão formalmente. Assim me sinto mais velha ainda” ela riu e se pareceu com Stephen quando fez isso. Ela também tinha madeixas louras “Pode me chamar de Kane. Quantos anos tem?”

“Dezessete” respondi tímido.

“Stephen fez dezoito, mês passado. Não conta para ninguém, mas ele repetiu um ano.”

  “Mãe!”

  “O quê? Estou falando alguma mentira?” Ela o encarou querendo rir.

  “Não precisa ficar espalhando. O James vai achar que eu sou mais burro do que já aparento ser.”

“Eu não te acho burro” disse sem pensar e logo me arrependi. Aquele momento estranho tomou conta da mesa da cozinha.

“Está vendo” advertiu Kane, como se aquele momento nem tivesse acontecido. Talvez aconteceu, só que na minha cabeça. “Ele acha que tudo o que eu falo é para envergonhá-lo. Então James, você mora com seus pais?”

“Com meu pai e minha abuela” 

Ela não quis saber da minha mãe, fiquei grato por isso. Não queria conversar sobre essas coisas perto de Stephen e muito menos perto da mãe dele.

“E como aprendeu espanhol?” perguntou Kane, parecendo realmente envolvida, comendo um pedaço de biscoito que ela mesma preparou. Oferecendo para nós logo depois.

Olhei para Stephen, ele também parecia interessado em saber sobre isso. Assim sendo expliquei que minha abuela (avó) é latina e que me ensinou a falar desde pequeno.

“Que notável” Kane se virou para pegar algo na pia. “Então você fala duas línguas fluentemente.”

Dei uma mordida no biscoito. Que realmente estava delicioso e crocante.

“E muito bem, devo garantir” Stephen disse isso me observando com aquele olhar malicioso. Engasguei com o biscoito e ele riu. Fiquei vermelho e me encolhi.

Stephen tinha uma facilidade em ser confiante. Não tinha medo de dizer o que pensava. Às vezes queria um pouco dessa segurança.

Voltamos para o quarto meia hora depois. Pensei que ao fechar a porta ele viria para cima de mim, porém ele apenas sentou-se ao meu lado na cama.

“Eu fiz algo errado?” perguntei nervoso, ele apenas sorriu.

“Não, eu só percebi que não conversamos muito. Quer dizer, eu só penso em te beijar e te beijar” ele riu, e pela primeira vez notei um receio.

“Como…” comecei timidamente olhando para baixo. Isso era estranho. “Como soube... que eu era…”

“Eu te observei na escola” Stephen me cortou, olhei para ele desacreditando.

“Me observou?” perguntei desconfiado. Isso não era possível. “Eu acho que sou mais esperto que isso. Acha mesmo que eu vou acreditar que soube o que eu era só porque me viu?”

Não consegui olhar para ele ao enunciar essas palavras dessa forma, porém eu não podia me passar de ingênuo. Sendo que eu não era.

“Tá bom. Na verdade eu escutei uma conversa, sem querer, entre você e aquela menina de cabelo cacheado…”

“Evelyn.”

  “Sim. Ela. Ouvi ela mencionar que você era gay.”

“Eu sempre peço pra ela falar baixo” comentei, já pensando em matá-la na próxima vez que a visse.

“Na hora eu fiquei surpreso. Quer dizer eu nunca tinha visto uma pessoa assim.”

Quis perguntar: Assim como? No entanto ao olhar para o rosto dele não achei as palavras. Stephen parecia distante dali.

“Eu sempre senti essa atração por garotos, mas achava que isso era normal. Que todo mundo passava por essa fase, que todo mundo experimentava isso. Mas então eu percebi que não. Meus amigos começaram a se interessar por garotas e eu decidi fazer o mesmo. Sai com várias. Não vou dizer que não foi bom. Foi ótimo, descobri minha personalidade e acho que por isso as meninas sempre estão ali. Porque eu as faço estarem ali.”

 Ele respirou fundo e depois voltou a olhar para mim.

“Mas eu sempre senti que faltava algo. E quando escutei aquela menina dizendo aquilo de você eu não pude pensar em outra coisa... a não ser tentar. Ver o que acontecia se eu experimentasse.” Ele deu um meio sorriso, constrangido pela primeira vez. “Com você também foi assim?”

“Não.

“Imaginei que não. Quer dizer. O que mais me intrigou foi o fato dela saber sobre você. E ela não disse a palavra… gay... com desgosto. Era como se fosse normal. E me peguei admirando você por ter coragem de ter dito isso para alguém. Por alguém saber quem você é. “Ele abaixou a cabeça. “Deve ser bom, né? Ser quem você é perto de alguém que você goste tanto.”

Naquele momento me peguei surpreendido por aquele menino. Aquele cara popular que todos idolatram na escola. Ele carregou esse segredo quase a vida toda. Eu não sabia o que era isso. Evelyn descobriu sobre minha atração por garotos quase no mesmo instante que eu. Ela não me julgou e sempre se manteve junto à mim, como igual. Como se eu não tivesse nada de distinto.

Stephen estava olhando para baixo esse tempo todo, então quando pude ver seus olhos novamente de perto, eles brilhavam. Ste abriu um sorriso largo.

  “Então, agora me fala um pouco de você.”

***

Levanto-me da cama já vestindo a roupa novamente. Ainda estou sentindo aquela sensação de ter Stephen dentro de mim, do seu corpo roçando no meu, mas tento jogar esse sentimento pra fora, eu precisava voltar para casa.

— Aonde você vai? — pergunta Ste esparramado na cama, ainda nu, apenas o lençol cobria suas preciosas partes íntimas.

— Vou para a casa, já está tarde.

Eu termino de por a última peça de roupa que falta e sento na cama para colocar o sapato. Ele se aproxima de mim, ainda em cima da cama.

— Você está estranho. E não vem me dizer que não, porque está. Eu fiz alguma coisa? — Ste me obriga a encará-lo. Está atordoado.

— Não. Você não fez nada.

Me coloco de pé. Eu não quero conversar sobre isso. Já tínhamos tido essa conversa milhares de vezes e nunca adiantava nada.

— Sabe no que eu fiquei bom? — Stephen desce da cama e se põe de pé. O lençol cai, revelando um corpo perfeito. Musculoso. Bronzeado. Cheiroso. Tento me concentrar em seus olhos. Presto atenção no que ele está dizendo. — Em saber quando você está chateado ou confuso com alguma coisa. Por que não me conta?

— Porque não tem nada para contar.

— Eu te conheço, James — ele espera uma resposta. Abaixo a cabeça. — É por causa da Amanda? Eu não estou transando com ela. É só boatos, você sabe, não é?

— Sei. Eu sei — Ainda não consigo olhar para ele. 

Eu sei que Ste está dizendo a verdade. Esses boatos não são nem ele quem os espalha, apenas aparecem, embora nem ele e Amanda contradizem. 

— Você está cansado de saber que eu não durmo mais com nenhuma garota. Eu não…

Beijo ele. É o único jeito que eu conheço de calá-lo. Ele gosta, já que eu não costumo ter esse tipo de iniciativa. É sempre Ste que começa. Eu apenas agi assim porque não estou com vontade de falar sobre nada no momento. Ou acabaríamos brigando. Me afasto depois que ele envolve seus braços na minha cintura. Não posso dar o luxo de permanecer mais tempo em seus braços, ou eu acabaria ficando.

— Preciso ir, meu pai pode ficar bravo. — O convenço com isso.

— Está bem. Eu te levo até a porta.

— Não precisa.

Ele me dá um selinho demorado e sorri. O convenço de que está tudo bem. Pelo menos por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Espero por comentários, pois amo ver o que vocês estão achando. Sexta tem o próximo capítulo. Até lá.

PS: Se tiver algum erro (geralmente sempre tem) vou arrumar depois!