Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 19
Mágoa


Notas iniciais do capítulo

Mais de 200 comentários. Ebaaaa. Obrigada gente.

AVISO: Ponto de vista do Stephen no FLASHBACK. (esqueci de avisar no último pdv que teve dele, mas acho que não ficou confuso né?)

Boa Leitura!



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Ste está deitado de lado olhando para mim. Nossas mãos tocando um ao outro. Passo os dedos por seu cabelo, enquanto ele massagea meus braços.

— Isso é prova o suficiente? - pergunto e no momento que faço isso ele abre aquele sorriso. - Aí está o sorriso que tanto senti falta.

— Ele vai sempre aparecer por tanto que você fique ao me lado. Eu não posso te perder, James.

— Você não vai.

— Não podemos ficar mais separados. - Ste fala sério agora.

— Eu sei. Mas temos que ter cuidado. Eu não quero te prejudicar.

— Eu não me importo mais com isso.

— Mas eu sim. - Tudo bem que os pais dele sabem a verdade agora, mas ainda é arriscado na escola. — Acho que você deve se aproximar dos seus amigos de novo.

Ste não gosta de escutar isso e encara o teto.

— Eu não suporto mais o Mike, não depois do que ele te fez. Me admira você querer que eu volte a falar com ele. Isso não é necessário.

— Tudo bem se você não quiser falar com o Mike. Mas e o resto dos seus amigos? A Amanda. - Eu não acredito que estou dizendo isso, mas agora as coisas são diferentes. Eu sei que posso confiar em Ste. - Eles podem desconfiar que algo esteja acontecendo, Ste. E podem acabar descobrindo tudo.

Ele demora para responder. E quando o faz, olha para mim de novo.

— Mas e você?

— O que tem eu? - Não entendo.

— Você está me pedindo para fazer uma coisa, então eu acho que também tenho o direito de pedir.

— O quê? - pergunto, realmente não sabendo o que ele tem de tão importante para me pedir.

— Sobre o seu amigo. - É claro. O Nick. Eu nem tinha pensando nisso. — Eu não me sinto confortável, James. Eu sei que eu já pedi isso, mas antes nada tinha acontecido. Agora é diferente.

Eu sei que ele tem motivos para querer que eu me afaste de Nick, mas mesmo assim, eu não acho que é certo.

— Ste. Nick foi bastante convincente. Não vai acontecer de novo. Foi só um momento.

— Um momento?

— Eu pensei que já tivesse provado que gosto de você.

— E provou. Mas James, se ponha no meu lugar. Por favor.

— Tudo bem. - digo para tentar confortá-lo. Mas a verdade é que eu não tenho certeza se quero fazer o que ele está pedindo. Eu sei que Ste tem esse direito, ainda mais depois do que eu fiz, porém eu não consigo pensar dessa maneira.

— E sua mãe? Você me disse que ela voltou.

— Sim - Fico  aliviado que ele muda de assunto, só quenão mais feliz.

— Ela voltou para te ver?

— Não. É complicado. Mas meu pai não quer que ela se aproxime de mim e nem que eu fale com ela.

— Por quê? Acho que você tem o direito, não? - Não respondo, muita coisa passa pela minha cabeça de uma só vez. — O que foi, James?

— Eu acho que não devia ter dito para o meu pai a verdade. Não agora. Eu acho que eu piorei tudo.

Ste se aproxima mais de mim, envolvendo seus braços no meu corpo nu.

— Eu não acho. Sabe, depois de ter dito que sou gay para os meus pais, mesmo sendo daquela maneira. Eu nem te contei como foi, né? Eu meio que bebi e acabei confessando por raiva.

Eu não acredito que ele tinha feito isso.

— Mas eu não me arrependi, James. Nem por um segundo. Mesmo com o olhar da minha mãe sobre mim e meu pai tentando se convencer de que não era verdade, eu fiz certo. Eu sou o filho deles. E se eles me amam de verdade, se eles realmente me amam, vão ter que me aceitar assim.

Aproximo minha boca da sua para poder beijá-lo. Estou tão feliz que tenho ele. Que podemos passar por isso juntos. Ste sobe em cima do meu corpo e aprofunda o beijo. Sua língua dá voltas na minha e começo a sentir aquela sensação de novo.

— Pronto para o segundo round? - ele diz sorrindo na minha boca, voltando a me beijar com prazer.

***

Esperei alguns minutos até James se aproximar do meu carro. O carro estava estacionado o mais afastado do prédio de Herman, mas ainda estava dentro da escola. James entrou no automóvel. 

— Está fantasiado do quê? - perguntei, olhando a fantasia dele tentando não rir.

— Espantalho do Mágico de Oz - James tirou o chapéu pontudo da cabeça, um tanto envergonhado.

— Quantos anos você tem? - disse rindo.

— É Halloween - respondeu ele abaixando a cabeça. - Não creio que exista uma regra de idade.

— Estou brincando. - disse puxando-o para olhar para mim. - Você está uma graça. = Ele ainda estava tímido. — Quer dar uns amassos? - Não esperei a resposta e dei um beijo na boca dele. Depois me afastei para ir para a parte de trás do carro.

— E se alguém nos ver aqui? - perguntou ele ainda sentado no banco do carona.

— Todos estão lá dentro. Vem, James. - O convenci e ele se juntou a mim.

Me aproximei de novo e ele me beijou. James estava mais resistente comigo. Ainda tinha uma certa timidez, coisa que eu queria que ele não perdesse nunca. Eu amava como ele me tocava. Era como se não quisesse me machucar, mas ele não fazia ideia do prazer que me dava.

Segurei sua cabeça aproximando-a da minha, para que nossas bocas se colassem mais. Quando eu movia minha cabeça sentia sua língua e a sensação que dava, toda vez que o nosso lábios se tocavam novamente, era inexplicável. Eu sentia meu corpo tremer e tudo o que eu queria era que nunca parássemos de nos beijar.

Parei de beijá-lo para poder respirar. Mas não tirei minha mão da sua cabeça e nem afastei tanto a boca da sua. Ainda conseguia sentir seu halito.

— Eu preciso dar uma pausa, porque senão você já sabe. - Olhei para ele, esperando que James me dissesse alguma coisa, mas ele só me observou calado.

Toda vez que eu estava perto dele eu queria beijá-lo. Eu não sabia o que acontecia. Mas era sempre assim. Como se eu fosse um vampiro e sua boca fosse um sangue, que eu precisasse desesperadamente provar. Às vezes, enquanto nos beijávamos, sentia um arrepiou dentro de mim, no meu estomago. Era bom.

Voltei a beijá-lo e ele abriu a boca para que nossas línguas se aproximassem. Envolvi meus braços por seu pescoço, obrigando a se aproximar mais de mim. Afastei decidido e comecei a tirar a camiseta branca. A jaqueta eu já havia tirado antes de ele chegar no carro.

— O que você está fazendo? - perguntou James, respirando alto.

— Estou tirando a camiseta.

— Ste, eu não acho que a gente deva fazer isso aqui.

— Tudo bem. Eu só quero sentir sua pele na minha. - Esperei que James tirasse sua fantasia, mas ele não se moveu.

— Eu vou ter que implorar? - perguntei com um tom meio irônico.

Ele finalmente começou a tirar a parte de cima. James teve dificuldades quando chegou na parte da cabeça, então o ajudei a tirar.

— Cuidado, eu aluguei essa fantasia, preciso devolvê-la inteira. - disse ele enquanto eu a colocava no banco da frente.

Me virei e sem esperar mais colei minha boca na sua. Eu estava mais ansioso. Precisava que nossos corpos se encostassem. Agarrei suas coxas finas e puxei até bater nas minhas pernas. James agarrou meus braços e deitei-o no banco, enquanto explorava sua boca. Parei, só para poder beijar seu pescoço, sentindo sua barriga mexer, por causa da respiração alta. James envolveu suas mãos nas minhas costas. Quando voltei a beijá-lo ele voltou uma de suas mãos para o meu cabelo. Aprofundei o beijo, para só depois parar aos poucos, puxando seu lábios com os meus dentes. James puxou meu cabelo quando eu fiz isso. Olhei para seus olhos ainda fechados, quando ele finalmente me encarou, abri um sorriso. Demorei alguns segundos para perceber que estávamos parados nos encarando a mais tempo do que pensei que pudesse ficar olhando para uma pessoa.

Voltei a beijá-lo dessa vez com mais calma. Vi James fechando os olhos, antes de fechar os meus. Depois que desci mais uma vez a boca para seu pescoço, ombro e clavícula, senti suas mãos na minhas costas, me apertando e alisando, me puxando para mais perto, e respirava com dificuldade. Ele já estava tentando não fazer barulho. Encarei ele de novo.

— Adoro te dar prazer, mesmo com um simples beijo. - disse entre os beijos.

— E eu te dou prazer? - sua pergunta tímida me pegou de surpresa.

Abri um sorriso radiante.

— Você não tem ideia. - Eu queria transar com ele. Mas não queria obrigá-lo. Eu desejava que pelo menos uma vez ele me pedisse isso, mas eu não tinha forças para esperar. — Você quer fazer isso? - perguntei, dando pequenos beijos nos seus lábios.

James só ficou me encarando. Eu queria, queria muito que ele dissesse sim. Mas ele não disse, ao invés disso escutei outra voz. Estava se aproximando de onde o meu carro estava estacionado.

— Pára. Pára. - era uma menina. Ela estava rindo, sem graça. Com certeza alguém estava com ela.

— Eu sei que você gosta, Michele. - disse a voz de Mike e eu quase perdi o ar com o susto.

Olhei para James. Ele estava apavorado. Eu disse "calma" devagar com os lábios, sem transmitir som algum. James agarrou meus braços quando escutamos a voz de Mike de novo.

— Que estranho. - disse Mike.

— O que foi? - perguntou Michele. Uma das garotas que Mike estava ficando.

— Nada. Só pensei que Stephen estivesse aqui fora. Mas não está.

— Às vezes ele foi embora.

— O carro dele ainda está aqui.

Escutei a respiração de James mais alta. Olhei para os olhos deles, tentando acalmá-lo. Mas a verdade era que eu estava com medo também.

— Mas ele também não está no carro. - Fechei os olhos quando ouvi Mike dizer isso. Ele devia estar perto da parte de atrás do meu carro. - Pensei que ele estivesse transando com você. Mas pelo visto é outra pessoa.

Michele riu.

— Você sabe que eu gosto dos mais fortes. - ela riu de novo e depois não ouvi mais nada. Eles deviam estar se beijando.

Merda. Como eu saberia a hora de poder levantar sem correr o risco deles me verem ali?

— Parece que Stephen estava falando mesmo a verdade. Ele deve estar transando com umazinha qualquer. Aposto que é feia. Ou é alguém sem importância como ele mesmo me disse. Vamos. Vamos voltar para festa.

James tirou as mãos do meu braço. Ainda não podíamos nos levantar, mas ele parecia ansioso para isso.

Depois de alguns segundos, levantei um pouco e observei o lado de fora. Mike estava voltando para o prédio de Herman, agarrado com Michele. Me levantei e James já pegou sua fantasia para vesti-la. Fiz o mesmo, colocando minha camiseta.

— Essa foi por pouco, hein! - James não me respondeu. Ele foi para a parte da frente do carro. — Está tudo bem, James?

— Acho melhor eu ir, antes que alguém nos veja aqui. - seu timbre de voz estava diferente. Como se ele estivesse chateado com alguma coisa. Será que ele estava assim por causa do que o Mike disse?

— Tudo bem.

Fui para a frente do carro e esperei que ele me desse algum beijo antes de sair. Mas ele não o fez. Apenas desceu do carro e me lançou um olhar. Um olhar diferente.

— Seu chapéu. - disse pegando o chapéu pontudo e entregando para ele.

— Obrigado.

E com um última olhada ele se virou e foi embora.

***

— Gente, é muito simples. Vocês escrevem o nome e sobrenome das pessoas que desejam ser o Rei e a Rainha do nosso baile de formatura. E depois coloca na urna. - diz Michele que faz parte do comitê do baile. Ela que está organizando tudo nesse ano, com mais duas garotas.

Michele tem os olhos azuis e os cabelos castanhos que batem no ombro. Ele é bem alta. Parece uma modelo. Ouve-se boatos de que ela e Amanda não se dão bem, mas ela também é bem popular entre os garotos. As duas ajudantes de Michele passam pela sala segurando uma caixa de papelão, onde há um furo para enfiarmos os papeis com os nomes. Ou como ela disse, as "urnas".

É a última aula e eu só quero ir para a minha casa, mas eu tenho que esperar por essa baboseira.

— Você votou em quem? - pergunta Evilyn curiosa. Depois que a garota passa pela nossa fileira.

— Fala você primeiro.

— Eu votei em branco - Evilyn sussurra. Eu quase rio.

— Eu devia ter pensado nisso.

— Quer dizer, eu pensei em votar no Sam, mas aí eu pensei melhor e não achei que fosse gostar de vê-lo recebendo o prêmio com outra garota.

— Muito obrigada. - Michele volta a falar. - E as compras dos ingressos vão começar daqui duas semanas. - Ela e suas amigas saem desfilando porta a fora.

— Em quem você votou? - pergunta Evilyn novamente, enquanto nos levantamos e saímos da sala.

— Eu votei... - começo a rir.

— O quê, James?

— Eu votei em você.

— Sério? - ela sorri, como se não acreditasse, e como se isso fosse estranho. Está constrangida, mas lisonjeada. - Isso é fofo, James. Mas não acho que ninguém vá votar em mim.

— O Sam pode votar.

— Mesmo assim. Duvido que eu chegue entre as três colocadas.

— Mas acho que você merecia. Afinal não creio que o termo Rainha seja apenas sobre beleza, não que você não seja bonita, mas... Em termos de comparação ao todo, você ganha com certeza.

Ela sorri para mim.

— Mas e o Rei? Em quem você votou?

— Você precisa mesmo perguntar? - digo tímido, olhando para frente.

— Não. Stephen, é claro. Não duvido que ele ganhe.

— Eu também não.

— Ele quer isso?

— Não sei. Não perguntei. Mas também não creio que ele ligue para essas coisas. - paro de falar quando vejo aquele menino me encarando de novo. - Evilyn?

— O quê?

— Disfarça - peço me pondo na frente dela. Já estamos fora do prédio da escola. - Esquerda. Menino baixo de óculos.

— O que que tem? - ela disfarça bem.

— Ele está olhando para cá?

— Está. - ela diz, mais uma vez, disfarçando.

— Estou percebendo ele me observando e não é de hoje. O que você acha que é?

— Não sei. Mas pensei que você já estivesse acostumado com isso a essa altura.

— Não é que nem as outras pessoas, Evilyn. Ele é estranho.

— Acho que você está exagerando. Mas se isso está lhe incomodando você devia ir falar com ele.

— Ah, claro. E levar uma porrada no processo.

Mike realmente me fez ter medo das pessoas. Da reação delas. Aqui na escola eu estou "protegido" com conta do diretor, mas mesmo assim, eu ainda tenho medo.

— Eu posso falar com ele, se você quiser.

— Melhor não. Eu só preciso tomar cuidado para não andar sozinho em lugares desertos. Vai saber. - Evilyn começa a rir. Ela está me achando paranoico, mas depois de quase morrer espancado eu tenho meus direitos de desconfianças. — Você conhece ele? Não consigo me lembrar.

— Ele é um ano mais novo que a gente. E está de reserva no time do Manske. - Então ele também faz parte do time da escola. Eu não devo me lembrar porque ele é reserva. — Você quer ir lá para casa hoje? Vou começar a escrever minha redação para a faculdade. E acho que vou precisar de ajuda.

— Sim, seria ótimo. Eu também vou precisar de ajuda com a minha. - Eu realmente estou receoso com a faculdade, e quem mais do que Evilyn para me ajudar a escrever sobre mim?

Começamos a descer as escadas e acontece algo inesperado. Eu a vejo. Parada do outro lado da rua, me observando. Minha mãe.

— James? - Evilyn me chama e percebo que eu tinha parado de andar. - O que foi?

— Minha mãe. Ela está aqui.

— Onde? - pergunta Evilyn, buscando meu olhar. - Nossa como ela é jovem. E bonita.

Me viro de costas. Eu não sei o que fazer. Começo a ficar nervoso. Meu pai não quer que eu fale com ela.

— Evilyn o que eu faço? - pergunto ainda de costas.

— Não sei. Mas é bom você pensar rápido, porque ela está vindo para cá.

— O quê? - pergunto me virando e vejo que Evilyn disse a verdade.

Eu não posso simplesmente fugir daqu. Resolvo esperar ela se aproximar.

— Olá. - Mellie olha para mim com os olhos brilhando. - James, posso falar com você?

Por que ela está aqui? Meu pai me disse que ela queria dinheiro. Não isso. Então por que ela está aqui?

— Eu sou Evilyn. - Evilyn estende a mão para a minha mãe depois que vê que eu não estou respondendo.

— Mellie.

— É um prazer conhecer a mãe do James.

Mellie sorri. E depois olha para mim de novo.

— Então, James?

Seguro na mão de Evilyn por impulso e minha mãe encara a gente depois disso.

— Eu vou estudar agora. Não dá. - Eu não sei por que eu estou fazendo isso. Talvez eu saiba sim.

Meu pai. A razão é ele. Antes eu queria conversar com ela. Quero dizer, eu ainda quero. Há tantas perguntas. Mas meu pai foi bem claro dizendo que não queria essa aproximação. E ele não está falando comigo. Eu não quero piorar as coisas entre a gente.

— Podemos estudar mais tarde, James. - Evilyn me encara, tento entender o que ela está fazendo, mas não consigo. - Converse com sua mãe. Foi um prazer, senhora.

Mellie sorri para Evilyn antes de ela ir embora. Ao não sentir mais sua mão na minha eu sinto medo. Por que Evilyn fez isso?

— Tem algum lugar onde podemos conversar em particular?

—-

Eu não sei por que eu escolhi justo a lanchonete onde Nick trabalha. Talvez porque ele trabalhe aqui. Alguém que eu conheça, alguém que pode me socorrer caso alguma coisa aconteça.

— Então, aquela garota bonita é sua namorada?

Sua pergunta me pega de surpresa. Talvez ela queira puxar assunto. Por não saber por onde começar.

— Não, é minha amiga.

Mellie assente.

— E você já está namorando? - Apenas aceno com a cabeça. O quê? Agora ela quer saber sobre a minha vida? Por que ela não decidiu ligar e perguntar em todos esses anos? — É mesmo? E como ela é? - Mellie está animada.

— Na verdade é ele. - Não vejo razões para esconder isso dela. Se meu pai já sabe. Não tem sentido nenhum mentir.

— Oh - ela fica surpresa, mas depois abre um sorriso - Eu não esperava por essa. Seu pai sabe?

— Ele soube a pouco tempo.

— Entendo. - ela já não sorri mais. - Conhecendo Adrian, ele deve ter levado um susto. Ele sempre foi tão correto.

Mellie me observa. Como se tentasse ler através de mim.

— E você? O que você acha? - pergunto mais por curiosidade. Não que a opinião dela fosse valer alguma coisa.

— Eu não sei. Eu acho que preciso de um tempo para pensar sobre isso.

Ela me encara e volta a sorrir. Eu não consigo enxergá-la como a mãe que eu me lembrava. Que me carregava no colo. Que me botava para dormir. Apesar de parecer a mesma. Só o cabelo tinha mudado. O rosto é exatamente igual. Ela é diferente.

— Boa tarde. - A voz de Nick quase me fez levar um susto. - O que vão querer?

— Ah, eu nem tive tempo de olhar o cardápio. O que vocês tem sem gordura? Ou não vende nada sem gordura aqui? - Mellie olhou para o cardápio.

— Temos um sanduíche natural. É o mais perto sem gordura. A não ser água é claro. - Nick responde educadamente.

Mellie ri, e se eu não a conhecesse diria que está sem graça na presença de Nick.

— Pode ser.

— E você, James? - pergunta Nick. Mellie olha para mim depois que percebe que nos conhecemos.

Demoro para responder. Percebo que é a primeira vez que estamos nos falando depois do nosso beijo.

— Nada. Obrigado.

— Tem certeza, filho?

— É sua mãe? - pergunta Nick surpreso.

Apenas confirmo. Não pode ficar mais embaraçoso?

— Eu sou Mellie. - ela se apresenta.

— Nicholas.

— Vocês se conhecem de onde? - pergunta ela. E achei aquilo estranho.

— James vem bastante aqui com sua amiga.

Nick percebe, por alguma razão, que não pode dizer a verdade. E fico agradecido por isso.

— É claro. - Mellie ri sem graça. Como se não tivesse pensado no mais óbvio.

— Vou buscar o pedido de vocês.

— Ele é bonito. - Mellie ri, depois que Nick se afasta.

— Por que você está aqui? - pergunto sem rodear mais. Mellie fica surpresa com a minha atitude. Fica desconfortável. - Por que você precisa de dinheiro?

— Então seu pai te contou.

— Não o motivo.

— Eu não acho que você precise saber disso. - ela respira fundo. - Eu vim aqui para tentar te conhecer melhor.

Por mais que ela diga isso, não parece ser verdade.

— Eu sempre sonhei com esse dia e não está chegando nem perto do que eu imaginei. - digo secamente.

— Sinto muito.

— Eu só quero te perguntar uma coisa. Acho que é a unica coisa que eu preciso saber.

— Por que eu fui embora?

— Não.

Não me importo mais por que ela foi embora. Meu pai já tinha me dito e agora eu acredito nele. Eu tenho 100% de certeza que ele não havia mentido para mim. Não sobre isso.

— Você falaria comigo se não tivesse me visto em casa aquele dia? Quer dizer, você já tinha o dinheiro, não tinha? Meu pai já tinha te dado.

Mellie abaixa a cabeça e respira fundo mais uma vez. Eu só preciso saber isso. É só isso que importa.

— Eu não vou mentir para você. Eu não pensava em te ver. Porque se eu visse, eu faria exatamente o que estou fazendo agora. Tentaria me aproximar. Te conhecer.

— "Conhecer o seu próprio filho". O que será que tem de errado nessa frase?

Eu não sinto nada vindo de dentro de mim. Nada daquela emoção que sempre imaginei que fosse acontecer quando eu falasse com a minha mãe de novo. Eu só consigo sentir mágoa. Eu preferia que ela jamais tivesse voltado. Eu preferia não tê-la visto nunca mais.

— Acho que foi um erro vir até aqui. - ela parece arrependida.

— Meu pai não queria que eu visse você.

— Você devia ter escutado ele.

— Foi você que foi atrás de mim, na minha escola...

— Eu sei. E me desculpa. Eu tenho essa crise de ansiedade e faço as coisas por impulso. Me desculpa, James. Eu realmente queria ser uma mãe melhor para você. Mas acontece que eu não sou. - Sinto uma pontada enorme no coração. Como se o vazio imenso que ela tinha deixado no meu peito tivesse formando uma bola e ela enche cada vez mais, machucando meu coração. — Adeus. - Ela me lança um olhar de piedade antes de se levantar.

Não aguento segurar e as lágrimas que começam a surgir nos meus olhos. Por quê? Por que eu tinha que ter uma mãe assim?

— Sua mãe foi no banheiro? - ouço a voz de Nick e tento esconder meu rosto ao me levantar.

Vejo que Nick está com a bandeja na mão.

— Não vou precisar mais disso. Desculpa. - Saio depressa. Eu só quero ficar sozinho.

— James? - ouço ele gritar meu nome, mas saio da lanchonete sem olhar para trás. Então de repente sinto alguém puxar meu braço com força me fazendo virar. Nick me olha espantado. Não consigo o encarar por mais tempo. Por alguma razão sinto conforto perto dele. Assim como com Evilyn. Então desabo e ele me abraça.

— O que foi? - Envolvo meu braços nas suas costas, apertando com força sua camiseta e enterro meu rosto no seu avental. Deixo o choro sair. Eu não sei se eu estou chorando de raiva, ou desapontamento, dor. Ou tudo isso ao mesmo tempo.

Sinto a mão de Nick na minha cabeça e nas minhas costas. O que eu estou fazendo? Eu não posso mais ficar tão perto dele assim. É errado com Stephen. Mas porque não parece errado para mim? Me afasto devagar secando meus olhos, ainda não tenho coragem de olhar para ele.

— Quer me contar o que aconteceu?

Apenas faço não com a cabeça, encarando os meus pés. Mas isso não dura muito tempo. Acabo olhando para ele ainda com os olhos marejados. Sua expressão mostra que está preocupado comigo. Mas eu não posso ficar mais conversando com ele. Não mais. Não sobre essas coisas. Eu tenho Stephen agora, ele pode me ouvir. Mas por que isso só parece meras palavras e não é como se eu achasse isso de verdade?

— Eu precisava falar com você. - diz Nick, me fazendo ficar curioso. - Estou vendo que agora não é uma boa hora. Mas será que você pode passar na minha casa mais tarde?

Passar na casa dele? Para quê?

— Não sei. - respondo a primeira coisa que vem na minha cabeça. Eu não consigo entender o que ele quer. - Eu preciso estudar para as provas e também tem a entrevista da faculdade. - Nick só fica me observando, enquanto eu falo sem parar. Tentando encontrar uma desculpa. — Na verdade era para eu estar fazendo isso. Mas decidi vir aqui falar com ela.

— James, você não está assim por causa do nosso beijo, né? Porque isso seria muito infantil.

— Não. Não estou. - Uma parte é verdade. Eu estou realmente tentando evitar, mas por causa de Ste. Pelo menos eu estou tentando me convencer disso.

— Que bom. Então tem como você ir?

— Não sei se eu posso hoje. Mas quando der eu apareço lá sim.

Não quero que Nick pense que eu sou uma criança que não sabe como agir. Eu ainda não tenho certeza se devo ir até a casa dele, mas também não posso dizer não agora.

— Tudo bem. Eu preciso voltar agora. Você vai ficar bem?

— Vou. Obrigado por isso. - quis dizer pelo abraço.

— Não tem de que. - ele sorri e dá  meia volta para entrar na lanchonete.

E agora? O que eu vou fazer?


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Notas finais do capítulo

Percebi que alguns de vocês andam meio sumidos. Comentem, quero saber o que estão achando. Por favor, tá!!!

Estou bem cansada gente, mas estou tentando fazer o meu melhor com a fanfic. Espero que você ainda estejam gostando como antigamente. Já sabem, críticas são muito bem vindas e espero por elas para sempre ir melhorando. Às vezes fico muito ansiosa para que "aquela" coisa aconteça logo e os capítulos antes disso não ficam tão bons. Eu sou muito critica comigo mesma, então é sempre bom saber se você estão gostando do que estou escrevendo, porque tem vezes que não acho que ficou muito bom.

É isso. Um beijo e até terça