Mais Um Dia Em Segredo escrita por LaisaMiranda


Capítulo 17
Criando coragem


Notas iniciais do capítulo

Gente do céu, pensei que não ia conseguir postar hoje. Meu computador, coitado, tá com uns problemas na tela. Mas Deus existe e ele me me ajudou a conseguir ligar.

Orem para eu conseguir um emprego logo e comprar um computador decente. Esse não pode pifa, Jesus!

Chega de ladainha, vamos ao capitulo, não é mesmo?

Boa Leitura. E ahhhhhhhhh, Amei os comentários, chega o sorriso abriu aos ler todos eles. Muito obrigada gente ♥



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Minha mãe já tinha ido embora quando eu vou para o andar de cima com a minha abuela. Eu preciso conversar com meu pai e o encontro na cozinha.

— Pai? - o chamo e ele se vira para me encarar. Seu olhar é frio. Ele ainda está bem nervoso. Mas eu não posso me intimidar por isso, eu preciso saber o que está acontecendo - Por que ela estava aqui?

— Eu acho melhor não termos essa conversa agora. Não é o melhor momento. - Ele passa por mim.

— Ela é minha mãe. - tomo coragem para dizer. - Eu quero saber.

— Você realmente quer? Tem certeza disso? - ele está jogando a pergunta de um modo como se dissesse que eu iria me arrepender se escutasse o que ele tem para me dizer.

— Ela veio me ver?

— Não. Ela veio atrás de dinheiro.

Não pensei que meu pai fosse ser tão direto e nem que isso fosse me machucar. Então ela nem está aqui para me ver. Por que ela quer dinheiro?

— Eu sinto muito por ter a mãe que você tem, filho. - Continuo parado, sentindo um incomodo tão grande dentro do peito que nem consigo falar mais nada. Meu pai se aproxima de mim e segura meu ombro. — Está tudo bem. Nada mudou.

— Por que ela quer dinheiro? - pergunto, olhando nos olhos dele.

— Você quer mesmo saber, não é? Por quê? Já não basta ela ter ido embora, deixado nós dois?

— Eu não sou mais criança, pai. Você pode me dizer.

Ele respira fundo e acena com a cabeça.

— Senta aqui. - pede ele, também se sentando na cadeira, pousando o braço na mesa da cozinha. - Eu vou te contar tudo.

Aquela conversa foi dura. Saber de tudo, de coisas que meu pai jamais tinha me contado. Ele disse que Mellie, minha mãe, abriu mão de muita coisa, inclusive fazer uma faculdade, que era seu sonho, quando descobriu que estava grávida de mim. Depois que me teve as coisas foram ficando muito mais complicadas por conta de dividas que meu pai tinha feito e ela estava ficando cada mais mais sobrecarregada com isso. Ficou deprimida por um tempo e depois que tudo passou ela quis ir embora.

É claro que meu pai está contando o ponto de vista dele. E não é que ele esteja mentindo. Eu duvido que esteja, mas sua raiva enquanto fala o nome da minha mãe é eminente. Eu também quero ouvir isso dela. Afinal, foi ela que foi embora. Eu quero saber por que ela me deixou.

— Eu quero falar com ela. - peço.

— Não. - Meu pai se levanta nervoso. - Você não vai.

— Por quê? - Não consigo entender.

— Porque eu estou dizendo que não. Não quero você perto dessa mulher.

— Ela é minha mãe. - afirmo novamente, com um pouco de raiva do que antes.

— E eu sou seu pai, e estou dizendo que não. Você não vai vê-la, James.

Abaixo a cabeça. Ele não pode fazer isso. Eu tenho o direito de, pelo menos, escutar o que ela tem para me dizer. Isso se ela quiser.

— Você disse que ela veio atrás de dinheiro. - digo, repetindo o que ele me contou. Eu quero mostrar que aguento. Aguento o que quer que seja que ele queira esconder de mim.

Quando ele volta a falar, já está menos nervoso, mas não olha para mim.

— Ela me ligou mês passado dizendo que viria até Little Rock e queria te ver. Eu disse que não, então ela pediu dinheiro.

Minha mãe pediu dinheiro para que não precisasse me ver?

— E você deu? - pergunto com a voz trêmula.

— James. - Meu pai vira o rosto e me encara. Ele está mais compassivo. - Ela queria isso. Desde o principio. Me ligar e dizer que queria te ver, foi só uma desculpa para que não precisasse pedir o dinheiro logo de cara. E ela sabia que eu não daria, não sem um motivo.

— Para quê ela quer dinheiro? Ela está com problemas?

— Ela não me disse. Mas conhecendo sua mãe. Ela deve estar com dividas.

Eu não acredito no que ele está me dizendo. Eu sempre fiquei imaginando onde ela estaria e quando ela voltaria. Quer dizer, se um dia ela fosse voltar. Sempre pensei que talvez ela quisesse me ver, mas que não sabia como. Que mãe não ia querer? Mas quando a vejo, finalmente quando eu a vejo ela não está aqui por causa de mim. E sim por dinheiro.

— Eu sou seu pai, eu sei o que é melhor para você. Eu sempre vou te apoiar em tudo, mas não me peça para deixar ver sua mãe, James. Porque eu não vou deixar.

Meu pai sai da cozinha, me deixando com meus pensamentos. Ele está nervoso, não é para menos. Minha mãe tinha voltado e ainda está pedindo dinheiro e ameaçando ver o filho, que ele não quer que chegue perto.

Pelo visto meu pai realmente está se preocupando comigo. Ele está tentando me proteger dela. Ou de me machucar por causa dela. Pois ele já tinha se machucado.

"Eu sei o que é melhor para você. Eu sempre vou te apoiar em tudo"

Essa frase me pega de surpresa. Será? Será mesmo que ele me apoiaria em tudo? Em tudo mesmo? Será que eu devia aproveitar esse momento que tivemos, de conversar um com o outro, e dizer a verdade sobre mim? Sobre o que eu sou?

Saio da cozinha e o vejo sentado no sofá, já assistindo televisão.

— Não vai mais trabalhar hoje? - pergunto.

— Vou entrar depois do almoço - ele não presta atenção em mim quando diz isso.

— Pai? - Ele perguntou o quê, sem olhar para mim. Será que eu teria coragem? Eu preciso fazer isso. - Pai, eu... eu preciso te contar uma coisa.

— O quê? - ele pergunta ainda encarando a televisão.

— Lá dentro você disse que me apoiaria em tudo, então eu quero saber se é verdade.

— Do que você está falando? - pergunta ele, me observando dessa vez. - Fala, James. - Ele fica curioso. E percebe que eu estou nervoso. Eu não posso mais voltar atrás. Eu tenho que dizer.

— O que está acontecendo aqui? - pergunta minha abuela, ao entrar na sala e perceber o clima estranho.

— James vai me contar alguma coisa. - meu pai responde para ela. Minha abuela já sabe do que se trata e fica apreensiva. Meu pai nota seu receio. — O que está acontecendo? - pergunta ele novamente, encarando minha abuela e eu. - Madre?

— Pai eu... - tento mais uma vez. Fala James.

— Eu o quê? - pergunta ele, vendo que algo está estranho.

Minha abuela se aproxima de mim e segura na minha mão. Aquilo me dá coragem. Então fecho os olhos e digo:

— Eu sou gay.

Não abro os olhos para ver a expressão que ele faz. Eu ainda não tenho coragem. Minha abuela aperta a minha mão com força. Me protegendo. Eu sei que ela me protegeria se meu pai resolvesse partir para cima de mim.

Abro os olhos devagar, sentindo meu corpo todo tremer. Ele está de pé, encarando minha abuela e depois à mim. Está zangado, do jeito que estava quando minha mãe estava aqui mais cedo. Ele apressa o passo em minha direção, pensei que viria até mim, mas ele passou reto.

Olho para a minha abuela e ela me abraça.

— Pensei que fosse esperar.

— Não pude mais. Não depois do que ele me disse. - Tento controlar as lágrimas que surgem nos meus olhos, mas não é possível. - Eu vou falar com ele.

— James. Acha mesmo que é uma boa hora?

— Eu preciso, abuela. O pior eu já disse, agora eu preciso ouvir o que ele tem para me dizer.

Eu não sei da onde está vindo essa coragem toda. Não é necessariamente uma coragem, mas uma necessidade, de querer saber o que meu pai vai me dizer. Entro no corredor e paro na frente do quarto dele. A porta está aberta e ele encontra-se sentado na cama colocando o sapato.

— Pai?

— Saí daqui, James. Eu tô nervoso - ele diz isso com a voz baixa, mas o tom não é menos assustador.

Se eu quisesse sairia correndo dali, mas eu preciso ficar.

— Eu só queria explicar...

— Por quê? - pergunta ele se levantando - Por que você está fazendo isso? Por que está me punindo? Hã? Depois de tudo o que eu fiz. Do jeito que eu te criei. Por que está fazendo isso comigo?

— Eu... - Não consigo dizer, ele me interrompe, mas eu também não sei se conseguiria continuar. Meu pai está magoado comigo.

— Não fala! Eu já disse! - ele grita e depois respira fundo e se vira de costas, falando mais consigo mesmo do que comigo. - Isso não pode ser verdade. Meu filho não! Meu filho não! - Ele começa a murmurar alguma coisa que não consigo entender. - Eu estava achando estranho, mas agora tudo faz sentindo.

A essa altura eu já estou chorando. Do que ele está falando? Será que os rumores de que eu sou gay já haviam se espalhado pela cidade? Quer dizer, os alunos sabiam, eles podem ter contados para os seu pais que contou para os seus amigos e assim vai.

Meu pai de repente volta a olhar para mim.

— Saí. Saí do meu quarto.

Não consigo me mexer. Eu só quero que ele me aceite. Eu ainda sou o mesmo. O seu filho. Meu pai se aproxima depressa. E segura no meu braço com força.

— Eu disse para você sair! - grita ele, me jogando para fora do seu quarto e batendo a porta na minha cara.

Não posso segurar mais o choro na garganta e quando vejo já estou de joelhos no chão. Minha abuela se aproxima me levantando.

— Ele me odeia.

— Ele está confuso. Você o pegou de surpresa, James. Sua mãe primeiro e agora isso.

Não consigo dizer mais nada, apenas a abraço e deixo o choro vir. Eu já não sei mais se fiz a coisa certa.

***

— Verdade ou consequência?

Estávamos jogando esse jogo a mais de meia hora. Era noite, dia de Halloween e estava rolando uma festa dentro de Herman. A festa estava acontecendo dentro da escola, mas tínhamos fugido com uma galera para o campo de futebol. Todos estávamos fantasiados.

Amanda estava vestida de Cher Horowitz do filme "As Patricinhas de Beverly Hills", um sucesso desse ano, esse filme foi uma febre entre as garotas. Ela estava toda de amarelo. Saia e blazer xadrez e uma meia branca até o joelho.

Mike estava vestido de Marty Mcfly de "De Volta Para o Futuro", com a camisa xadrez, jaqueta jeans e o colete vermelho. Confesso que ri quando o vi fantasiado assim, mas era Halloween.

— Olha quem fala. E você é o que? - perguntou Mike depois que comecei a zoar a fantasia dele.

— John Travolta em "Grease - Nos Tempos da Brilhantina"

Eu não queria me fantasiar esse ano, ainda mais que depois iria me encontrar as escondidas com James. Mas se não fosse fantasiado eles iam ficar me enchendo o saco, então escolhi esse personagem. Era o mais simples. Nem tive que comprar a fantasia. Apenas coloquei uma calça e uma jaqueta de couro preta por cima da camiseta branca e taquei gel no cabelo para fazer o penteado.

— Ele era moreno no filme. Deveria estar com uma peruca. - criticou Mike, ainda com raiva por eu ter rido da cara dele.

— Você está gato, Stephen - disse Amanda sorrindo para mim.

— Obrigado. - disse, encarando Mike com cara de "Está vendo? Ela me achou gato". O que o deixou mais nervoso ainda.

— Verdade ou consequência, Amanda? - perguntou Erick para a Amanda.

— Verdade. - ela respondeu.

— Você já disse três verdades. Agora só pode escolher o desafio - disse Erick.

— Então por que perguntou verdade ou consequência?

— Porque é o jogo.

— Tá, fala logo. - disse ela impaciente.

— Eu te desafio a encarar a pessoa com quem você transaria aqui e agora. - Todos riram. Haviam mais ou menos 15 pessoas sentados em circulo.

Amanda estava com vergonha. Era a primeira vez que a via sem graça daquele jeito. Ela demorou para encarar quem quer que fosse, e então fiquei surpreso quando ela olhou para mim. Seu olhar não era de sensualidade. Ela estava constrangida de revelar que queria transar comigo, aqui e agora.

— Uauuuuuuuu. - gritou Mike, fazendo o maio fuzuê, levando todos a imitarem ele.

O jogo continuou, até que Mike decidiu falar.

— Agora é minha vez. Stephen. - Eu sabia que estava ferrado. Ele ainda estava com raiva e descontaria no jogo. — Então, verdade ou consequência? - ele me encarou com satisfação.

— Verdade. - Até parece que eu ia dizer consequência. Eu não era maluco.

— Quando foi a última vez que você transou com alguém? E com quem foi?

— Isso são perguntas. Duas perguntas.

— Que você tem que responder com a verdade.

— O jogo não funciona assim.

— O jogo funciona como a gente quiser.

Eu sabia que ele estava certo. No nosso jogo a gente fazia de qualquer jeito. Tudo valia. Por isso era divertido. Mas a razão de eu não querer responder é porque eu sabia o motivo de Mike fazer aquela pergunta. Já fazia um tempo que ele desconfiava que eu estava saindo com alguém. E queria saber quem era. Mas eu não podia dizer que era James.

— Faz dois dias - respondi por fim.

— Quem é?

— Não posso responder.

— Mas faz parte do jogo, Stephen. Você tem que dizer.

— Sim, mas você fez duas perguntas. Eu respondi uma. Acho que é o suficiente.

— Você está transando com alguém que eu estou pegando? - perguntou Mike nervoso, já saindo do clima da brincadeira. - Porque eu acho que essa é a unica razão para você não me dizer quem é.

— Não. Você sabe que eu não faria isso.

— Eu acho que eu não sei não.

O clima ficou estranho depois disso, mas a brincadeira continuou.

Por que será que Mike estava agindo assim? Depois que cansamos do jogo fui falar com ele.

— Cara, por que você está assim? - perguntei enquanto voltávamos para a festa do lado de dentro, antes que algum professor percebesse que tínhamos fugido e viesse nos buscar.

— Assim como? Desconfiado? - Mike parou de andar, e o grupo foi na frente sozinho. - Você nunca foi de esconder suas transas, por que agora?

— Não é ninguém importante - disse para ele. - Quer dizer. A pessoa não quer que ninguém saiba. Mas eu juro que não é ninguém que você tá transando.

Mike ficou me observando por alguns segundos.

— Okay, Stephen. Okay.

Eu sabia que ele não estava convencido disso, mas eu não podia fazer mais nada a respeito. Afinal eu jamais teria coragem de contar a verdade. Mike não me aceitaria como eu sou de verdade.

***

Depois da conversa com meu pai, me tranco no quarto e fico deitado na cama. Tentando ser forte. Não chorar, mas é difícil. Apesar de sempre imaginar que a reação dele não seria diferente disso, ou seria até pior, eu sempre tive esperanças que ele me aceitasse. Ainda mais depois de tudo o que aconteceu hoje. Mas infelizmente as coisas não foram assim.

— James? - ouço a voz da minha abuela, mas não quero me virar. Prefiro  ficar encarando a parede. Não havia mais nada que ela pudesse me dizer para que eu me sentisse melhor. - Querido, a Evilyn está aqui.

Viro-me quando escuto o nome de Evilyn. Minha amiga está preocupada ao me ver desse jeito.

— James - Evilyn se aproxima e dou um abraço nela.

— Vou deixá-los mais a vontade. Qualquer coisa estou lá em cima.

— Fiquei tão preocupada que você não apareceu na escola hoje. Ainda mais nessa época de reforços para a faculdade. O que aconteceu? - Ela se afasta para me olhar. Eu já começo a chorar de novo por conta do seu abraço. - É por causa do beijo ainda?

— Não.

— O que aconteceu?

— Meu pai não me aceitou, Evilyn.

— Você contou para ele? - ela não está acreditando. - Eu pensei que fosse esperar.

— Não depois que minha mãe voltou.

— Sua mãe voltou? Espera, não estou entendendo nada.

Explico a história toda. Que cheguei em casa e minha mãe estava aqui. Que tentou falar comigo, mas meu pai não deixou. E depois contei da conversa que tivemos e como decidi dizer a verdade. E como ele reagiu.

— Meu Deus, James. Bem que você estava sentido seu pai estranho. Não sei nem o que te dizer.

— Ele não me aceitou, Evilyn.

— Você sabia que seria difícil, não é? Talvez ele precise de um tempo para raciocinar isso tudo.

— Eu vi nos olhos dele. Ele ficou magoado por eu ser gay. Como se fosse minha culpa, como seu eu tivesse feito isso de propósito.

Começo a me emocionar de novo e Evilyn me abraça.

— Estou aqui, James. Estou aqui com você. Não fica assim.

Me agarro à isso. Eu pelo menos tenho Evilyn e minha abuela comigo. Me pego pensando em Stephen. Ele não tinha me dito sobre sua mãe ainda, mas o fato como a tratou depois que eu fui embora já diz tudo. Eu preciso apoiá-lo também. Não é o momento para ficarmos separados. Eu tenho que ficar ao seu lado nesse momento tão difícil.

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Notas finais do capítulo

Gente, esse capítulo ficou menor do que os outros que tenho postado. Mas realmente não dava para por mais coisas. E então o que acharam? Pensavam que seria essa a reação de Adrian?

Espero ansiosa pelos comentários.

PS: Tô precisando de DICAS PARA OS FLASHBACKS (tanto de James ou de Stephen. Dos dois também). Algo que vocês acham que pode ter acontecido com eles já. Pode ser coisa "quente". haha. Sejam criativos e me ajudem.

Beijos e até Terça. Bom final de semana e feriado