Nova fase' escrita por HungerGames


Capítulo 6
Continuação (Pérola)




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Quando acordo no dia seguinte ainda está cedo mas eu preciso ver Louise então me apresso em trocar de roupa, escovar os dentes e sair logo.
– Aconteceu alguma coisa? – ele pergunta quando acorda e me vê apressada.
– Vou buscar a Louise! - aviso já saindo do quarto.
Quando chego na casa dos meus pais, papai já estava saindo de casa com ela chorando nos braços, eu a pego e assim que me reconhece o choro para, eu sorrio e a beijo várias vezes, papai finge estar magoado por ela chorar com o vovô, mas sorri como um bobo me vendo com ela, eu digo a ele que vou pra casa mas volto pro almoço e pro meu alivio ele avisa que hoje é ele quem vai cozinhar, nós rimos e ele faz sinal de segredo por que se não mamãe irá brigar com ele, volto pra casa e Ian está na cozinha fazendo o café da manhã, ele para quando me vê e pega Louise enquanto eu termino de preparar tudo. Nós vamos almoçar na casa dos meus pais e preciso fugir dos olhares interrogatórios do Pyter, por isso assim que acabamos de almoçar eu invento um cansaço e me despeço deles indo pra casa, Ian faz questão de ficar com Louise até ela dormir e enquanto isso eu aproveito pra lavar algumas roupas, arrumar o quarto e ainda consigo terminar um desenho, quando Ian entra no escritório estou guardando meus lápis.
– Ocupada? – ele pergunta parando na porta.
– Acabei! Ela dormiu? - Finalmente – ele fala mas está com um pequeno sorriso no rosto – Ela tem mais energia a cada dia!
– É, eu sei! Não quero nem ver quando ela começar a andar – solto um riso já cansado e ele também sorri, eu me levanto da cadeira e me aproximo parando encostada na mesa de frente pra ele.
– Você não tem ido ao ateliê – ele fala me olhando curioso.
– O tempo tem passado rápido demais! Quando eu vejo o dia já acabou e ainda tem coisa pra fazer em casa – eu falo dando de ombros.
– E o que você quer provar com isso? – ele pergunta me olhando sério.
– Como assim, o que eu quero provar?
– Você entendeu! Você nunca foi disso e então de repente você resolve ficar em casa, mal vai até o ateliê, pra quê?
– Achei que fosse isso que você quisesse! – eu falo e ele balança a cabeça.
– O problema não é você ficar mais tempo aqui ou no ateliê!
– Então qual é o problema? – pergunto me exaltando um pouco.
– É você! – ele fala e isso me desarma completamente, sinto como se tivesse acabado de levar um soco no estomago, a sensação é tão forte e real que me dói e me tira qualquer pensamento ou palavra, apenas olho pra ele tentando entender se isso não foi algo da minha cabeça, ele esfrega a mão no rosto – Você continua fazendo o que você sempre faz! Você não mudou essas coisas por que concorda comigo ou por que enxergou seu erro, você fez isso pra tentar disputar comigo e conseguir as coisas do seu jeito, como sempre! O que você acha? Que ficando um pouco mais em casa ou lavando mais roupas eu vou voltar atrás? Se você quer continuar com o jogo e ver quem aguenta mais, então vamos continuar... – ele fala dando de ombros.
– Acabou! – eu falo cansada, magoada e segurando o choro o máximo que consigo – Você ganhou, Ian! Você tá certo, eu só sou uma idiota, mesquinha e imprestável, que a única coisa que sabe fazer é humilhar quem tá do lado dela, você tem toda razão... Eu só sou uma riquinha imbecil, mimada, que sempre teve tudo na mão, você tá certo! O jogo acabou, por que quem não aguenta mais isso sou eu! Se é isso que você pensa de mim sinceramente, eu desisto! – ele está me olhando parecendo surpreso, eu fico em pé ainda mais firme e respiro fundo – Mas eu te garanto... Você tá cometendo o maior erro da sua vida! – eu falo encostando o dedo no peito dele, o encaro firmemente, então passo por ele e saio do escritório, subo as escadas e entro no nosso quarto trancando a porta e me deixando escorregar pro chão, abraço minhas pernas e choro deixando que toda essa dor saia junto com minhas lagrimas, mas mesmo depois de passar quase uma hora no chão chorando a dor ainda é tão intensa quanto no segundo que tudo isso começou, meus olhos estão inchados e meu nariz está escorrendo descontroladamente, me arrasto até o banheiro e no reflexo do espelho me dou conta do quanto estou destruída, não só por fora, mas por dentro também, lavo meu rosto e tento me recuperar, paro na porta do banheiro olhando pro quarto e todas as lembranças felizes nossa estão aqui, cada noite em que tudo que precisávamos era de um ao outro, todos os risos e beijos trocadas em cada canto desse quarto e que agora parece impossível de serem repetidos, a dor é incontrolável assim como as lagrimas que ressurgem, o choro da Louise que me faz sair do quarto, vou até ela e consigo acalma-la e ela volta a dormir, me sento na poltrona ao lado do seu berço e volto a chorar enquanto a olho tão pequena e inocente. A noite chega e minhas lagrimas finalmente param, mas não por que a dor passou ou diminuiu e sim por que não tenho mais forças pra chorar, Ian não está em casa e Louise começa a ficar agitada, faço a papinha dela e a coloco no sofá pra conseguir faz ela comer enquanto assiste um dos desenhos que Pietro também gosta, eu não tenho fome por isso fico apenas com ela, levo-a de volta pro quarto e brincamos com o urso e algumas bonecas, as horas passam e depois que eu canto pela terceira vez a canção que ela gosta, ela dorme, meu corpo está tão cansado que também me deito, minha cabeça dói tanto que qualquer movimento parece que irá fazê-la explodir, continuo deitada imóvel até pegar no sono. Acordo cedo no dia seguinte, Louise ainda está dormindo e eu saio do quarto, entro no meu e a cama está intacta, indicando que Ian não voltou pra casa, a dor de cabeça parece ainda pior e preciso de muita paciência quando ela começa a chorar, mas assim que eu a amamento ela se acalma, ainda estou sem fome mas sei que preciso me alimentar então vou pra cozinha e preparo um copo de leite e como uma fruta, depois eu subo e coloco a banheira pra encher, pra alegria de Louise, nós duas ficamos um bom tempo dentro da banheira enquanto ela brinca com seus patinhos de borracha, vendo-a rir e tão animada sinto pelo menos uma parte do meu peito adormecida com a dor e consigo sorrir olhando pra ela e eu passo cada segundo do dia inteiro com ela, com a única parte de mim que ainda está inteira. A tarde estava começando a cair quando a porta se abre, espero por Ian mas quem aparece na sala me faz prender o ar, Pyter vem até o sofá e me olha de um jeito que me diz que meu tempo acabou, Louise está dormindo dentro da cesta abraçada ao urso, ele sorri, se ajoelha a frente do sofá e passa os dedos pelo cabelo dela, depois beija sua bochecha.
– Ela tá enorme – ele fala falando quase como um sussurro, eu sorrio.
– É o que acontece com as crianças, elas crescem – eu tento manter o humor mas minha voz fraqueja tão forte que isso o deixa ainda mais em alerta, ele deixa Louise de lado e se arrasta pra ficar de frente pra mim, ele coloca as mãos nos meus joelhos segurando minha mão.
– O que tá acontecendo? E não me diz que não é nada, por que eu sei que tem coisa...
– Tá tudo bem! Foi só uma briga boba – eu falo com o máximo de confiança que consigo.
– Não foi uma briga boba! – ele fala me olhando com atenção.
– Olha, se foi alguma coisa que você escutou a Hazel falar eu...
– Pérola, eu não preciso ouvir alguém me dizer que você está mal, eu vejo isso – ele me corta sério – Você é minha irmã! Eu te conheço! Você tá diferente, tá triste, quieta, com pensamento longe toda hora e eu não tô escutando você falar sobre como o vestido da Keyse vai estar perfeito... – ele fala e me força um sorriso – Eu te conheço! Agora me diz, o que está acontecendo... – ele exige, eu também forço um sorriso.
– Você sabe que eu sou a mais velha, certo? – me inclino e seguro o rosto dele entre minhas mãos.
– Você sabe que eu nunca vou deixar nada te causar mal, certo? – seus olhos estão fixos no meu.
– Eu tô bem, eu juro!
– E eu não acredito em você nem por um segundo! – ele fala e nós ficamos nos olhando – O que ele tá fazendo com você? – seu tom de voz é mais preocupado do que antes.
– Nada! – garanto tentando acalmar ele.
– Pérola, o que ele tá fazendo com você? – ele olha no fundo dos meus olhos daquele jeito que parece ler minha mente, então seus olhos ficam duros e frios, ele fica mais reto e eu não gosto nada dessa reação dele – Por que você tá com medo de me contar?
– Eu não tô com medo, eu só...
– Você tá! E se você tem medo de me contar é por que é grave!
– Pyter, não! Não é nada, eu juro, para com isso, se acalma, por favor...
– Não pede pra ficar calmo, você vai me contar tudo agora e então eu penso se me acalmo ou não – ele exige ficando agitado.
– Pyter, escuta, é coisa de casal...
– Se você não me contar, eu só tenho a minha imaginação e ela tá indo pra um lado que não é nada bom então eu vou te pedir pela ultima vez... Me conta tudo, o que ele tá fazendo? – dessa vez eu sei que ele não está brincando e nem disposto a esperar mais tempo por respostas, por isso eu respiro fundo e conto toda a verdade pra ele, conto sobre o relógio, sobre ele achar exagerado e então todo o começo da briga, em como ele me vê, mesquinha, mimada e superficial. - Você não é nenhuma dessas coisas – Pyter garante segurando minhas mãos e me fazendo olhar pra ele, eu nego.
– Eu não sei... Será que eu não sou mesmo? – pergunto realmente me sentindo confusa, ele abre um sorriso, puxa uma almofada que estava do meu lado, senta no chão em cima dela, ele se aproxima ainda mais das minhas pernas, apoiando a cabeça no meu joelho.
– Eu lembro de um dia que nós tínhamos ido pro lago, a gente já estava voltando pra casa e começamos a apostar uma corrida, você ia ganhar por que estava muito a minha frente, daí eu comecei a reclamar e ia chorar, então você começou a diminuir e disse que estava ficando muito cansada, eu parei de reclamar, voltei a correr e ganhei... Você lembra? – ele pergunta e desencosta a cabeça da minha perna pra me olhar, eu sorrio.
– Você fez o resto do caminho tirando vantagens disso – eu falo e ele ri.
– Teve uma vez também, num natal que a mamãe acabou deixando o peru tempo demais no forno e ele saiu quase torrado de lá, eu só comia o peito e você também, mas só ia dar pra um de nós dois, então eu disse que não ia comer, reclamei, fiquei com raiva, aí você pegou o prato e me deu toda parte do peito dizendo que tinha enjoado e preferia a coxa... Só que... Eu vi quando você cochichou no ouvido do papai e ele passou a coxa pro prato dele! – ele me olha com um sorriso meio nostálgico.
– Eu tava de dieta – falo dando de ombros e ele ri.
– Lembra quando você levou o livro pra casa e mostrou as fotos da mamãe e do papai que tinha e ela acabou surtando? – ele pergunta e é claro que eu me lembro desse dia, mamãe perdeu o controle, gritou, rasgou o livro e jurou que eu jamais pisaria na escola de novo, foi uma das crises mais fortes dela – Depois da confusão, quando ela saiu, eu acabei me cortando, lembra? – ele pergunta levantando a mão que ainda tem uma cicatriz bem fraca – O papai e o vovô levaram a gente pro hospital, desesperados... Quando a médica disse que ia ter que levar pontos e uma injeção eu entrei em desespero também, o papai tentou me acalmar, o vovô me prometeu tudo que podia, mas foi só quando você falou comigo que eu consegui me acalmar, por que você sempre conseguia isso, sempre – ele afirma e me olha mais fixo – Todas as vezes que eu fiz uma das minhas pegadinhas ou me metia em alguma confusão, eu sempre soube que se tudo desse errado eu podia contar com você, mesmo que a gente brigasse todo dia, mesmo querendo um enforcar o outro, mesmo assim eu sabia que tinha você, fosse pra interceder por mim ou fosse pra inventar uma mentira e me ajudar a me safar, o importante era... Você estaria lá! Sempre esteve! – ele se ajoelha e pega minhas duas mãos – Eu poderia passar o resto do dia contando quantas vezes você cuidou de mim e quantas vezes me protegeu, mas... Eu tô ficando meio velho e tá doendo ficar ajoelhado aqui – ele brinca fazendo uma careta, eu acabo rindo mas ele se mantém ajoelhado – EU conheço você, te conheço a minha vida inteira, e não houve um único dia que eu vi você ser mesquinha ou mimada ou querendo ser superior a ninguém, tudo que eu vi foi contrário disso, sempre que eu precisei você esteve do meu lado, colocando a sua vontade em segundo lugar, então sinceramente, se você quer acreditar em alguém, acredite em mim, eu não preciso te elogiar, puxar seu saco ou mentir pra você se sentir bem, acredite, você tem um milhão de defeitos e será um prazer te citar cada um deles... – ele fala fingindo animação, mas volta a ficar sério – Mas não é nenhum desses! Você é a pessoa mais irritantemente correta que eu conheço e eu te amo muito por isso, por que quando eu olho pra você eu quero ser melhor do que eu sou... Mas eu vou negar essa ultima parte se você contar pra alguém – ele finge sussurrar e eu acabo rindo, mas a lagrima escorre junto com o sorriso, ele se aproxima e passa os dedos enxugando-as, então segura meu rosto e me olha daquele jeito que me faz me sentir segura e protegida – Não deixa ele fazer isso com você, não acredita nessas coisas! Sou eu que tô te pedindo, por favor, promete? – ele se inclina e encosta a testa na minha.
– Prometo – eu falo com a voz embargada por causa do choro preso, então ele me abraça e pela primeira vez desde que isso começou eu me sinto realmente acolhida, encaixada em algum lugar, mesmo com a Hazel, mesmo ela sendo a melhor amiga do mundo, ainda parecia que faltava algo, mas aqui nos braços do Pyter, sentindo seu aperto em volta de mim, a maneira como ele acaricia minhas costas e meu cabelo, o som da sua voz me dizendo que está tudo bem, agora sim eu me sinto em casa, me sinto protegida e talvez o choro seja por isso, por me sentir amada tão forte de novo, ele me deixa chorar e não me solta, ele me puxa pro chão com ele e eu afundo meu rosto em seu peito chorando e sendo consolada.
– Ok, já chega! Eu não quero mais você chorando por causa dele! – ele fala me afastando um pouco dele e enxugando meu rosto – Você é uma Everdeen Mellark, filha dos amantes desafortunados, mãe da menina mais linda de toda Panem, irmã do cara mais charmoso de todo Distrito...
– É, o Pietro vai dar trabalho – eu falo implicando com ele, então ele para de enxugar meu rosto e me olha curioso.
– Já tá fazendo piadinha é? – ele pergunta com a sobrancelha erguida, eu sorrio e dou de ombros, então ele faz cocegas na minha barriga, mas quando eu me esquivo rindo ele para – Posso te falar uma coisa? – ele pergunta meio sério, e eu me alerto esperando ele contar – Tô cheio de fome – ele fala e coloca a mão na barriga, eu acabo rindo.
– Alguma vez você não está?
– Quando eu acabo de comer – ele fala dando de ombros – Bem que você podia fazer aquele bolo de chocolate ein... Um tempão que você não faz – ele pede me puxando pela cintura, eu rio mas empurro ele.
– Não tem chocolate! – ele me olha duvidando – Eu não comprei mais nada, desde... Quando tudo isso começou – eu falo sentindo aquela coisa ruim de novo, ele fica sério e seu olhar parece duro, então ele balança a cabeça se distraindo.
– De laranja, pelo menos?
– De laranja eu faço – ele levanta as mãos pra cima fingindo agradecer – Mas você me ajuda! – ele abaixa as mãos e me olha desanimado – Eu deixo você raspar o pote – ele abre um sorriso e aperta minha barriga já se levantando e me levando com ele.
– Você sabe como me convencer – nós ficamos em pé rindo, eu levo a cesta onde Louise ainda está dormindo pra cozinha junto com a gente, coloco em cima da mesa equilibrada e começo a pegar os ingredientes enquanto Pyter abre o pote de biscoitos e começa a devorar todos eles.
– Você tá acabando com os biscoitos! – eu brigo e ele dá de ombros.
– E estão moles!
– Então para de comer!
– Eu tô com fome – ele faz uma careta e joga mais um biscoito na boca. - Então me ajuda batendo essa massa – eu entrego o pote com a colher de pau na mão dele, vejo sua careta antes de me virar e acabo rindo, impressionantemente ele consegue espalhar a farinha do pote por metade do chão da cozinha e quando eu brigo com ele tudo que ele faz é dizer que não leva jeito então me devolve o pote e vai comer o restante dos biscoitos.
– Chega! – eu falo e puxo o pote de biscoitos da mão dele – Você sujou, você limpa – aviso e lhe entrego a vassoura, ele já ia reclamar quando Louise dá um gritinho animado.
– Tô cuidando da Loui – ele fala jogando a vassoura de volta e indo até a cesta e a pegando no colo, eu ia brigar mas quando ouço a gargalhada dela enquanto ele beija sua barriga desisto e eu mesma começo a varrer, enquanto o bolo assa ele brinca com ela e mesmo eu dizendo pra ele não fazer ele pega a raspa da massa e deixa ela comer, ela enfia a mão no pote se sujando toda e depois esfrega no rosto dela, no dele, na roupa e até em mim, confesso que acabamos os três rindo muito e Pyter só me dá ela quando o bolo fica pronto, enquanto ele come o bolo ainda quente eu tento fazer ela não enfiar o dedo no pedaço dele, ela choraminga mas se acalma quando eu lhe dou pequenos pedaços, nós ficamos pelo sofá e eu mal consigo me lembrar da ultima vez que me senti tão bem assim, Pyter pode ser meio irritante e as vezes implicante demais, mas é o melhor irmão do mundo, sempre foi e hoje só me provou que continua sendo, desde pequena eu sempre me sentia protegida com ele por perto, como se nada pudesse me atingir, ele e papai sempre foram meus heróis, os meus homens protetores e é realmente reconfortante o ter por perto, nada me deixa mais segura do que isso.
– Eu ainda prefiro o de chocolate!
– Por isso você só comeu a metade do bolo inteiro? – ele ri e dá de ombros.
– Eu preciso me alimentar bem por causa dos treinos!
– Você treina desde que aprendeu a mastigar? – pergunto com ironia, ele faz uma careta e empurra minha cabeça pro lado – Eu tenho que dar banho nela, por que ela vai mamar daqui a pouco – eu falo quando Louise tenta abaixar meu vestido procurando pelo meu peito, ele sorri, se levanta e a pega do meu colo levantando o mais alto que consegue, a risada dela deve ter sido ouvida até lá da praça. Pyter sobe comigo e me ajuda a dar banho nela, enchendo a banheira e a distraindo.
– É bom ir treinando mesmo – eu falo e ele que estava colocando a meia no pé dela para e me encara, eu sorrio – A Keyse vai querer ter filhos!
– Eu também quero, mas não agora... Quem sabe daqui uns... 10 anos!
– 10 ANOS? - É tem razão, muito cedo! 15 e então nós começamos a pensar...
– Por que esse medo? Você é ótimo com crianças!
– Dos outros! Aquelas que eu posso brincar, rir e devolver pros pais quando começar a chorar – ele fala e eu acabo rindo.
– Não tem como fugir... Te dou um ano! – eu falo e ele me encara.
– A gente ainda nem casou, você pode esperar um pouco!
– Só um pouco – termino de arrumar Louise e me sento na poltrona, começo a lhe amamentar, Pyter esvazia a banheira e coloca a roupa que ela estava no cesto pra eu lavar depois, então fica parado encostado na parede do banheiro nos olhando, pensativo e sério demais – Posso te pedir uma coisa? – ele indica que eu fale – Não faz nada tá? Eu tô bem! Não quero que você faça nada, eu só te contei por que você é meu irmão e é um cabeça dura que não ia desistir mesmo né – eu tento parecer engraçada mas ele não sorri, apenas continua sério, sem demonstrar muita coisa – Eu vou resolver isso e eu vou ficar bem! NÓS vamos ficar bem – eu falo passando a ponta dos dedos no cabelo da Louise – Eu tenho vocês, eu já tenho muita sorte! – garanto sinceramente, então ele anda na minha direção, se ajoelha e afunda o rosto na barriga da Louise ela para de mamar por um segundo mas logo volta, ele inspira o perfume dela, beija as pernas descobertas pelo vestido, passa os dedos pelo seu cabelo, seu rosto e braço, coloca um outro beijo na sua perna e então me olha – Promete! – eu peço passando a mão pelo rosto dele, ele segura minha mão e coloca um beijo na palma dela, então respira fundo fechando os olhos alguns segundos, quando os abre parecem preocupados mas doces.
– Eu amo você, sabia? Vocês duas merecem o melhor e nada, absolutamente nada a menos que isso! Ouviu?
– Pyter...
– Eu tenho que ir! – ele fala, se levanta e beija minha testa – Te amo – ele repete e se afasta indo pra porta do quarto.
– Você não prometeu – eu falo e ele para e se vira pra mim.
– Eu sei que não! – ele olha nos meus olhos e assim que ele se vira de novo eu sei que ele não vai deixar essa história assim, eu o conheço e sei que não existe nada capaz de impedir ele de fazer as coisas do seu jeito, então mesmo preocupada e um pouco ansiosa, eu apenas volto a amamentar a Louise, seja lá o que ele resolver fazer eu confio nele e as vezes é bom se sentir defendida. A noite aparece e Louise dorme, aproveito pra tomar um banho e estender um pouco mais do que os dois minutos que eu geralmente tenho, eu visto o roupão e quando abro a porta do banheiro Ian está sentado na poltrona olhando Louise, ele está com a testa encostada na grade do berço e sussurra algo bem baixo e que eu não consigo entender, eu os observo alguns segundos mas antes que essa cena me comova eu respiro fundo e ando pra dentro do quarto, ele percebe minha presença e se vira pra mim e é nessa hora que eu levo um susto, sua camisa branca está suja com gotas de sangue, além de estarem bastante amassadas, seu olho esquerdo está vermelho e começa a inchar, eu nem preciso de uma explicação, sei exatamente o que aconteceu.
– Encontrou o Pyter? – pergunto e ele se levanta.
– Ele me encontrou! – ele fala e passa o dedo pela boca onde um corte ainda está sangrando um pouco.
– Eu não pedi que ele fizesse isso!
– Pois deveria ter pedido – ele fala e me olha fixamente, nós apenas nos olhamos em silencio e então ele se aproxima de mim.
– Melhor limpar antes que piore – eu aviso apontando pra boca dele, ele dá de ombros.
– Não me importo!
– Deveria, por que vai ficar horrível amanhã se você não fizer nada – falo o mais duro que consigo, ele dá mais um passo pra perto de mim e pega na minha mão.
– Me perdoa! – ele pede olhando nos meus olhos.
– Por que? Por que o Pyter te deu uns socos e você tá com medo dele? – eu pergunto puxando minha mão.
– Não! Por que eu fui um babaca com você! – mesmo parecendo sincero eu balanço a cabeça negando.
– Eu já falei com ele e vou falar amanhã de novo, isso não vai se repetir!
– Eu não me importo se ele vai ou não me bater de novo, a única coisa que me importa é que você me perdoe! – ele fala e levanta a mão pra tocar meu rosto, mas eu a seguro e impeço – Eu não sei o que eu estava fazendo, eu te amo! Amo você do jeito que você é! Todas aquelas coisas que eu disse... Eu... Eu estava com problemas e descontei em você!
– Quantas vezes eu te perguntei se estava tudo bem? Alguma vez eu virei as costas pra você, alguma vez eu não quis ouvir seus problemas? – ele nega imediatamente.
– Você sempre me apoiou! SEMPRE! – ele afirma e volta a tentar pegar minha mão.
– Você não tinha o direito de fazer tudo que você fez comigo – afirmo e saio passando por ele e indo direto pro nosso quarto, ele me alcança.
– Eu fui um babaca, um idiota... Eu... Eu nem tenho palavras pro que eu fiz! Você é a pessoa que eu mais admiro, que eu mais sinto orgulho, sempre senti...
– Então porque Ian? POR QUE? – eu exijo uma resposta, ele desvia os olhos do meu parecendo tomar coragem.
– Por que eu fui um fraco, idiota, eu... A verdade é que eu não sei o que seria de mim sem você, tudo que eu sou, tudo que eu tenho é por você, eu só... Fiquei apavorado com a possibilidade de não ter mais você!
– E então você me acusa, tenta me culpar e me deixar mal? – pergunto realmente sem entender.
– Eu... Eu dei ouvido a pessoas erradas!
– Eu sou a sua mulher, Ian! É em mim que você deveria confiar e apostar e não em qualquer um!
– Eu sei, eu sei! Eu só... Pérola, você é incrível, você é... A mulher mais incrível que eu conheço, a mulher que qualquer um quer ter! E cada dia que passa você faz mais sucesso, você está mais independente, mais admirada e eu amo isso em você também só que...
– Só que? Isso te incomoda? Eu seguir meu sonho, trabalhar, querer ter uma vida boa?
– Me assusta! Eu vejo você todo dia melhor do que o dia anterior, eu ouço todo mundo caindo aos seus pés e eu só não consigo entender por que eu? Por que você escolheu a mim? – ele confessa completamente desarmado – Você tem tudo Pérola e está colhendo tudo que você ainda merece, eu só... Você pode ter tudo, pode ter qualquer um...
– Como você é burro! – eu falo interrompendo ele – Você é um completo imbecil! Eu NÃO QUERO qualquer um! Eu quero você! Sempre quis e sempre foi você! – eu confesso e ele fecha olhos como se estivesse sentindo alguma dor, quando ele os abre estão com lagrimas – Eu nunca dei motivo pra você pensar isso, Ian! Eu sempre te amei, você é quem me faz querer tudo isso! É por você, pela nossa vida, pela nossa família, que eu quero colher tudo que eu conseguir e eu sempre quis você comigo nisso, sempre te quis crescendo junto comigo! Eu só não consigo entender o por que você fez tudo isso!
– Eu ouvi as pessoas erradas, me deixei levar por quem só queria estar no meu lugar, por que assim como eu e o resto do mundo, ele sabe exatamente o quanto você é incrível!
– Ele? – pergunto confusa e curiosa.
– Eu fui um idiota! Fui cego, fraco e muito burro! – ele confessa e segura minha mão, dessa vez eu deixo que ele segure – Eu tô disposto a passar o resto da minha vida me redimindo e te pedindo perdão, por que nada do que eu disse, nenhuma palavra era verdade... Eu até quis acreditar nisso, quis muito, só pra não me sentir tão miserável e baixo como eu sabia que estava sendo, mas por mais que eu me esforçasse nem por um segundo eu acreditei e isso só me deixava com mais raiva ainda, por que eu sabia que a culpa não era sua, sabia que tudo que eu falava, que eu tentava acreditar não era a verdade e é completamente vergonhoso reconhecer isso... Reconhecer que você não merece a pessoa que está do seu lado, que ela é realmente superior a você, mas não do jeito metido ou esnobe que eu acusei, mas do jeito mais puro, doce e inocente possível! – lagrimas escorrem dos olhos dele e sinto elas nos meus olhos também – Você, de todas as pessoas, foi a que mais me apoiou em cada segundo da minha vida, eu lembro de todas as madrugadas que você passou acordada do meu lado me ajudando a estudar pra conseguir a vaga no trabalho, me lembro de você lendo e relendo os trechos do livros mesmo que você não entendesse nada, mas só pra continuar ali do meu lado, me ajudando, me incentivando, eu lembro quando eu fiquei doente que eu mal conseguia levantar da cama e embora todo mundo falasse que era exagero e mesmo você dizendo isso também, não houve um segundo em que eu tenha olhado pro lado e você não estivesse ali, me lembro de todas as vezes que eu cheguei em casa com raiva, irritado ou contrariado com alguma coisa e você escutou cada palavra que eu tinha pra dizer, você odiando as pessoas que eu estava odiando e ao mesmo tempo me fazendo pensar se não era apenas um dia ruim e talvez eu estivesse exagerando... E eu sinto sua falta! Sinto falta de ver você chegando em casa no fim da tarde junto comigo e correndo desesperada por que não fez o jantar enquanto conta como o ateliê estava cheio e você mal terminou um único desenho, sinto falta de brigar com você pra ver quem lava a ultima louça, sinto falta de você puxar o meu lençol na cama, sinto falta da geleia de laranja que você sempre compra mesmo eu reclamando que ela é muito cara e já tem queijo em casa, sinto falta de chegar em casa e ver a cortina nova, as almofadas trocadas, de abrir o guarda roupa e ver que o vidro de perfume reserva está lá, sinto falta de você pulando na cama animada pra me mostrar o novo sapato completamente deslumbrante que você viu e não pôde deixar de comprar, sinto falta de eu começar a reclamar e você pular em cima de mim me fazendo esquecer qualquer reclamação, eu... Eu sinto a SUA falta! A falta da Pérola que eu me casei, que eu fui, sou e sempre serei completamente apaixonado – ele fala lentamente e olhando nos meus olhos, então seus dedos correm pela lateral do meu rosto, ele coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e acaricia meu rosto, sem desviar os olhos dos meus – Eu te amo! Eu te amo completamente e loucamente! Eu não sei o que seria da minha vida sem você, sem cada mania sua! Você é a mulher da minha vida! – ele afirma e beija minha mão, então se ajoelha na minha frente segurando minha mão e olhando nos meus olhos – Eu posso passar o resto da minha vida ajoelhado aos seus pés, contanto que você me perdoe! Por que não tem nenhum sentido ficar sem você! – vendo ele assim na minha frente, ouvindo tudo que ele me disse, por mais que eu estivesse magoada e com raiva dele, eu não consigo manter isso por muito tempo, por que eu também não vejo nenhum sentido em continuar sem ele do meu lado, por isso eu puxo sua mão fazendo ele ficar em pé, ele me olha ansioso e nervoso, mas quando meus dedos tocam seu rosto, seu queixo ele abre um pequeno sorriso de alivio, ele segura minha mão e coloca vários beijos nela – Eu te amo, eu te amo, eu te amo! – ele repete a cada beijo. - Eu também te amo! – confesso um dos sentimentos mais fortes que eu tenho, ele para o rosto de frente pro meu, a poucos centímetros e o segura com as duas mãos.
– Eu amo tudo em você! – ele garante e então quebra nosso espaço e me beija, quando nossas bocas se encontram é como se a ultima semana eu estivesse morta e só agora eu revivi, a sensação é tão forte que meu coração bate descontrolado como se tivesse perdido o próprio ritmo, minha respiração é ofegante como se eu estive horas debaixo d’água, meu corpo se desperta e cada pedaço meu grita pelo nome dele, o beijo avança, ele me envolve nos seus braços e a cada segundo sinto cada pedaço meu se encaixando de novo e é nesse momento que eu sei que aconteça o que for ele sempre será o meu grande e único amor, por que nada consegue me deixar tão completa, viva e satisfeita quanto ele, eu não o amo só com todo o meu coração ou com todos os meus sentimentos, eu o amo com cada pedaço do meu corpo, por isso quando as mãos dele desabotoam meu vestido eu não preciso pensar em mais nada, eu só o quero tanto quanto eu sei que ele quer a mim, o vestido é abandonado no chão, assim como a camisa dele, quando alcançamos nossa cama nada mais importa, somos apenas eu e ele.


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